terça-feira, 30 de agosto de 2016

Star Trek - Além do Universo

Saiu na semana passada o terceiro filme Star Trek, desta vez chamado Além do Universo. Tendo visto os dois anteriores e alguns episódios da série original, estava bastante curiosa para ver este filme, uma vez que sou grande fã destas aventuras. 



Neste filme a história começa com o Capitão Kirk a tentar entregar um artefacto muito antigo a uma raça de seres, acabando por ser atacado por estes. Posto de parte o artefacto, a Enterprise continua as suas missões, tendo como objetivo chegar até a Yorktown, um posto avançado da Federação. Ao chegarem à estação são "atacados" por uma nave desconhecida, onde vem uma jovem capitã com um pedido de ajuda para resgatar a sua tripulação, que fora atacada numa região desconhecida. Kirk e os seus companheiros decidem ajudá-la e partem na missão, rumo ao desconhecido. 

Gostei muito do filme. Gostei bastante dos outros, em especial do segundo, com Benedict Cumberbatch como Khan. Mas também gostei muito deste! 

O enredo está muito interessante: começa com uma situação que situa bem a história, dando logo o mote para os perigos que vão ser encontrados pelas personagens ao longo da história. A ida a Yorktown é bastante boa, mostrando novos contextos e novos locais, o que cria uma coerência excelente para todo o universo do filme e das personagens. Existem os habituais "duelos" de personalidades a bordo da Enterprise, em especial entre Kirk, Spock e Bones, se bem que certos acontecimentos fazem com que isso se altere. Tem uma excelente linha de acontecimentos, o que mostra a excelente narrativa dos acontecimentos. O vilão é muito bom, com um belo passado e um motivo forte para as suas atrocidades. Toda a intriga está bem delineada e existem momentos de grande tensão e emoção. E claro, existem imensas aventuras e momentos mais descontraídos, que são outros dos pontos fortes destes filmes.



As personagens continua maravilhosas. Kirk continua cheio de charme, engraçado, com garra, mas cada vez mais preocupado com os seus amigos e com todos em geral, sempre pronto para ajudar e salvar quem precisa. Spock também continua no seu melhor. Neste filme não aparece tanto, se bem que quando aparece rouba toda a cena às outras personagens e aos outros atores. O seu romance com a Tenente Uhura continua presente, se bem que sempre naquela tensão por causa da personalidade e maneira de ser única de Spock. Neste filme ele encontra-se em vários apuros, o que se torna interessante tendo em conta a sua forma de resolver as questões e de pensar e também de se relacionar com os outros. As outras personagens também estão bem, tal como as novas, em especial Jaylah, que trás uma grande personagem feminina para o filme, forte e cheia de humor. 

É um filme sem medos, que vai a fundo nos temas que quer mostrar, nas aventuras que acontecem e nos relacionamentos entre as personagens. Gostei bastante da forma como todas as pontas foram sendo entrelaçadas ao longo do filme.



Também gostei imenso dos efeitos especiais e de toda a cinematografia presente no filme. Para além dos brilhantes efeitos (que aparecem sem exageros, normalmente), toda a imagem, os cenários, o guarda roupa, tudo está excelente. Há uma preocupação com a harmonia e a beleza de imagem presente no filme que muito me agradou, tal como a sua banda sonora, que continua a ser excelente. Michael Giacchino continua a ser o compositor (ainda bem!) e continua a fazer um trabalho maravilhoso, enquadrando de forma maravilhosa todas as músicas e todos os sons, de modo a criar uma constante emoção. Também de referir que a música da Riahnna para o filme (Sledgehammer) está muito boa e com um clip bastante visionário. 

Em suma, aqui está um excelente filme, que de certeza vai agradar aos fãs da saga, mas também a todos os que gostam de um bom filme de aventuras e ação. Excelente! 




NOTA (0 a 10): 10

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A Amiga Genial, de Elena Ferrante

Sinopse:

A Amiga Genial é a história de um encontre entre duas crianças de um bairro popular nos arredores de Nápoles e da sua amizade adolescente.

Elena conhece a sua amiga na primeira classe. Provêm ambas de famílias remediadas. O pai de Elena trabalha como porteiro na câmara municipal, o de Lila Cerullo é sapateiro.

Lila é bravia, sagaz, corajosa nas palavras e nas acções. Tem resposta pronta para tudo e age com uma determinação que a pacata e estudiosa Elena inveja.

Quando a desajeitada Lila se transforma numa adolescente que fascina os rapazes do bairro, Elena continua a procurar nela a sua inspiração.

O percurso de ambas separa-se quando, ao contrário de Lila, Elena continua os estudos liceais e Lila tem de lutar por si e pela sua família no bairro onde vive. Mas a sua amizade prossegue. 

A Amiga Genial tem o andamento de uma grande narrativa popular, densa, veloz e desconcertante, ligeira e profunda, mostrando os conflitos familiares e amorosos numa sucessão de episódios que os leitores desejariam que nunca acabasse. (in Goodreads)



Opinião:

Não podia ficar indiferente aos excelentes comentários que andei a ler sobre este livro e decidi lê-lo. Uma premissa diferente, uma narrativa extensa em detalhes do quotidiano, uma amizade de infância. Tudo aspetos que me aguçaram a curiosidade.

Este é o primeiro volume de quatro e é aqui que tudo começa. Depois do desaparecimento de Rafaella (Lila), já em idosa, Elena (Lenú) vê-se de novo rodeada pelas memórias da sua infância e de como se começou a relacionar com Lila, na época da primeira classe.

Lila é o oposto de Lenú. Enquanto Lenú é gentil, aplicada, boa menina, Lila é maldosa, irreverente e estranha. Lenú cedo começa a sentir uma grande atração por Lila, essencialmente porque é o seu oposto e também porque gostaria de ter a capacidade de afirmação e de irreverência de Lila, que acaba por se mostrar muito mais inteligente e esperta do que todas as outras crianças do bairro, incluindo Lenú. O ambiente pobre, pós segunda guerra, violento e também relacionado com a máfia, faz com que a história de vida e de amizade de ambas seja uma verdadeira delicia, uma vez que a forma completamente natural e real com que Lenú conta a história é simplesmente surreal. Gostei imenso de ambas as personagens. Lila é sem dúvida especial e interessante, se bem que Lenú também tenha a sua magia única, apesar de nem sempre se mostrar tão brilhante como a de Lila. 

O contexto em que tudo acontece também é fundamental para a compreensão do enredo, como referi no parágrafo anterior. Um bairro social de Nápoles, onde os ódios e as vinganças imperam, algumas delas com a mão da máfia nelas, outras com acontecimentos muito antigos mas que não foram perdoados nem esquecidos. É pintado um cenário bastante negro da vida social e económica das personagens, cenário esse faz com que os comportamentos violentos, por vezes horríveis das personagens estejam contextualizados e coerentes com o seu meio, apesar de nada justificar muito do que é contado no livro.

A narrativa é feita na primeira pessoa e os acontecimentos vão surgindo espontaneamente, de forma ordenada, mas um tanto caótica na sua apresentação. Por vezes o que foi referido há algumas páginas volta para justificar outros acontecimentos e noutras vezes as justificações só aparecem muito depois. Isso faz com que a leitura seja especial e atenta. É uma escrita e uma história que puxa constantemente pelo leitor, tanto a nível mental como da própria curiosidade. O que acontecerá? O que aconteceu? E depois? Estas são apenas algumas das questões que vão sendo colocadas pelo leitor enquanto está a espreitar a vida daquelas raparigas e de todo o bairro. 

Existem questões bastante interessantes que vão sendo abordadas ao longo da narrativa. Os sentimentos das personagens, em especial de Lenú, enquanto narradora, estão em especial destaque. A capacidade de autoanálise dela é incrível. As justificações para os seus atos e pensamentos, as justificações para os seus medos e inseguranças, tudo está extremamente bem apresentado e tratado ao longo da história. O amor, o ódio, a amizade, a inveja, a intriga, a paixão, o medo...todos os sentimentos passam pela avaliação de Lenú, muitas vezes servindo de comparação com outras personagens, em especial Lila. 

Tendo em conta que o livro abrange um grande período de tempo (infância e adolescência), é extremamente interessante observar e constatar as diferenças que vão acontecendo tanto nas atitudes, como na própria forma de narrar de Lenú. A visão da sua infância, do que lhe aconteceu, dos seus medos e das suas atitudes está descrita e narrada de forma quase infantil. É como se a Lenú criança estivesse a narrar a sua vida, mas sem ser criança, pois a autoavaliação que faz é constante. O que Lenú faz de perfeito é colocar-se, enquanto adulta, no papel exato de quando era criança e conseguir transmitir todos esses sentimentos infantis. 

Quando o livro passa para a parte da adolescência, também a narrativa muda, uma vez que as personagens cresceram, apesar de Lenú narrar tudo enquanto adulta. A preocupação pelo amor, pela paixão, a descoberta da sexualidade, da violência, do ciúme, do ódio amoroso, tudo está presente e aparece constantemente, por vezes tudo ao mesmo tempo, tal não é a violência com que os acontecimentos se vão dando ao longo da narrativa. As preocupações infantis são postas de lado e aparecem outras, mais prementes, mais perigosas. Os grupos e a pertença a estes é o grande foco, bem como as relações amorosas entre as personagens. Os rapazes da história começam a ter um destaque diferente, maior, e começam a aparecer e a ter bastante relevo, pois passam a ser o centro das atenções das raparigas. Também as questões laborais vão tendo mais destaque, bem como uma visão realista e crítica da sociedade, economia e política, que até então não aparecia na narrativa. 

Ao ser um livro com poucos diálogos (mas fortes e poderosos), há quem possa não apreciar muito. Não o façam. Apostem na leitura destes livros, porque é uma leitura diferente, que enche o leitor e que o faz ver as coisas à sua volta com outros olhos, com um olhar mais crítico, mais duro. É fácil para quem está a ler identificar-se com as personagens, com as suas atitudes, sentimentos e angustias. Pode não ser uma leitura fácil e muitas vezes tem passagens bem negras e drásticas, mas é de facto uma obra prima, que mexe com as emoções e que nos faz querer saber mais, estar sempre a par da vida destas personagens. Tem um timing perfeito, ou seja, os acontecimentos conseguem ser narrados do tempo perfeito, no instante mais preciso, mais fundamental, de modo a que o leitor se exalte, se arrelie e se encha de vários sentimentos, que poderão ser contraditórios. Recomendo vivamente e tenho muita curiosidade para ler os próximos.

NOTA (0 a 10): 10 

sábado, 20 de agosto de 2016

Sonho de Cetim, de Loretta Chase

Sinopse: 

Todas as palavras, todas as frases da prosa de Chase cintilam de malícia e charme.

Uma inocente de olhos azuis por fora, mas feroz tubarão por dentro, a modista Sophia Noirot até conseguiria vender areia a beduínos. Vender os deslumbrantes vestidos da Maison Noirot a damas nobres é um pouco mais complicado, especialmente porque um recente escândalo de família criou um inimigo que, por acaso, é um dos líderes da sociedade da moda.

Transformar um escândalo numa lucrativa vantagem para a botique requer todo o talento de Sophia, deixando-a com pouco paciência para o devasse Earl de Longmore. Este idiota desajeitado não consegue ter mais do que uma ideia na cabeça, e ultimamente tem estado apenas loucamente fixado em despir Sophia! 

No entanto, quando a irmã de Longmore, a cliente mais rica e mais adorada da boutique, foge da cidade, Sophia não pode deixar Earl procurá-la sem ajuda. Numa demanda escaldante com o único homem ao qual não resite, Sophia deixa-se levar pela tentação do desejo... (in Edições Saída de Emergência)



Opinião: 

Este é o segundo volume das histórias de Loretta Chase sobre as irmãs Noirot. Depois de ter lido o primeiro e de ter gostado bastante, tinha de ler o segundo e posso adiantar que também gostei. 

Neste livro encontramos Sophia, uma das irmãs Noirot, a braços com vários problemas, principalmente depois do casamento da sua irmã com o conde de Clevedon (no primeiro volume), uma vez que tal casamento fez várias nobres deixarem de se vestir na Casa Noirot, por puro preconceito contra o casamento de uma modista com um conde. Sophia faz tudo para manter a loja aberta e a produzir, tentando cativar o maior número de clientes e manter as que já têm, em especial Clara, irmã de Longmore, anterior prometida do duque de Clevedon. Com um escândalo à mistura e um noivado à força, Clara foge, deixando Sophia preocupada com os negócios da família, pois Clara é a sua maior e mais prestigiada cliente. Assim, parte com Longmore para encontrar Clara, e a química implícita no primeiro volume entre Sophia e Longmore aparece explicitamente neste, fazendo-os um casal muito engraçado. 

Sophia é uma personagem bastante forte, uma mulher interessante e cheia de truques. Longmore é um homem charmoso, um tanto bruto e engraçado. O romance começa a pairar e a dança entre Sophia e Longmore é bastante interessante de se acompanhar e de torcer pelo seu sucesso, uma vez que fazem um casal muito bom. As situações em que se vão encontrando ao longo do enredo também são bastante engraçadas e bem planeadas, tal como os planos de Sophia para resolver os problemas. Gostei muito da forma como a autora desenvolveu a narrativa através das várias situações que se vão desenrolando e de como as personagens desempenharam os seus papéis. Gostei muito do casal e gostei de rever as outras personagens. 

A nível de narrativa, a autora mantém a linha apresentada no livro anterior, se bem que neste existam mais aventuras e situações perigosas e interessantes por serem mais engraçadas e repletas de aventuras, ao contrário das do livro anterior que eram mais sérias. Em parte, tal fez com que não existisse um cariz tão sério como no livro anterior, o que não significa que este não seja tão bom como o outro. É diferente. As personalidades das personagens são diferentes, logo as situações e as respostas às situações são diferentes. Gostei bastante de forma inteligente como a narrativa foi progredindo, criando um enredo bastante interessante e misterioso.  

Os detalhes continuam primorosos. As descrições dos vestidos continuam perfeitas, permitindo ao leitor visualizar plenamente os vestidos, acessórios, penteados e situações onde estes se encontram. Também a nível de outras descrições está muito bem, tanto a nível dos espaços como dos acontecimentos, em especial a nível das cenas românticas, que têm grande destaque neste volume. 

Quanto à escrita, também se mantém ao mesmo nível, o que é o mesmo que dizer que está muito bem. Engraçada, fluída, electrizante...a autora escreve de modo a que o livro seja devorado. 

Em suma, mais uma excelente aposta da Saída de Emergência a nível de romances. Aconselho a todos os que gostam de um bom romance, cheio de sensualidade, romantismo e paixão, mas que não dispense uma bela dose de aventura, intriga e escândalo social! Porque a ironia continua sempre a estar presente nestes livros e o que a sociedade vê como maravilhoso e correto, nem sempre é verdade, tal como casar com ilustres nobres em vez de simples modistas. 

NOTA (0 a 10): 9

domingo, 14 de agosto de 2016

A Grande Revelação, de Julia Quinn

Sinopse:

O coração de Penelope Featherington sofre por Colin Bridgerton há...não pode ser!??... mais de dez anos? Sim, essa é a triste verdade. Dez anos de uma vida enfadonha, animada apenas por devaneios apaixonados. Dez ingénuos anos em que julga conhecer Colin na perfeição. Mal ela sabe que ele é muito (mesmo muito) mais do que aparenta... 

Cansado de ser visto como um mulherengo fútil, irritado por ver o seu nome surgir constantemente na coluna de mexericos de Lady Whistledown, Colin regressa a Londres após uma temporada no estrangeiro decidido a mudar as coisas. Mas a realidade (ou melhor, Penelope) vai surpreendê-lo... e de que maneira! Intimidado e atraído, Colin vai ter de perceber se ela é a sua maior ameaça ou seu final feliz. 

PS: Este livro contém a chave do segredo mais bem guardado da sociedade londrina. (in Goodreads) 



Opinião:

Depois de ler os três primeiros livros da série Bridgerton e de ter ficado fã, foi com grande entusiasmo e curiosidade que comecei a ler este livro. E foi o que estava à espera, foi ao encontro das minhas expectativas! 

Neste volume, o irmão Bridgerton em destaque é Colin, tendo como personagem feminina em destaque Penelope Featherington, que tinha já aparecido nos anteriores sem muito destaque, mas de modo interessante. Colin e Penelope fazem uma dupla fantástica! 

O galã cheio de charme e popular e a que ninguém acha graça, solteirona e que está sempre à parte. Mas como as aparências enganam, nem Colin é perfeito e cheio de garra, nem Penelope é um patinho feio, antes pelo contrário, é uma das mais inteligentes personagens femininas que já apareceu nesta série. Já nos livros anteriores tinha ficado com essa ideia e gostei de ver que assim é. Penelope é uma excelente personagem, dinâmica, complexa, sonhadora, inteligente e subtil, que persegue os seus maiores sonhos. Gostei bastante dela e gostei do seu desenvolvimento, que foi enorme. Quanto a Colin, também gostei imenso dele. Nos livros anteriores tinha ficado com a ideia que iria gostar bastante dele e assim foi. Um homem interessante, digno e muito realista. Também gostei de encontrar as outras personagens, que continuam a dar um contexto e uma coerência fantásticos às histórias da autora. 

A juntar ao belo casal e às personagens já conhecidas, temos ainda um dos maiores mistérios para resolver: a identidade de Lady Whistledown (a cronista da alta sociedade que não tem medo de criticar seja quem for), que depois de uma aposta de Lady Danbury fica a ser o grande mistério da temporada e da narrativa em si. 

Sem sair muito do esquema narrativo dos livros anteriores, Julia Quinn consegue criar mais uma bela história de amor, emoção e intriga. Todas as descrições estão perfeitas, sem serem nada massudas, antes pelo contrário, são muito inteligentes e divertidas, tal como a própria linguagem das personagens e a escrita em si. Julia Quinn dá uma grande dose de humor à própria narrativa e não só às atitudes das personagens e aos seus diálogos ou situações. Quinn consegue narrar todos os acontecimentos, até os mais sérios, com uma boa dose de sarcasmo. As próprias situações em que as personagens se veem estão muito bem conseguidas e muito engraçadas. As personagens não têm medo de expor os seus problemas, medos e dúvidas, nem são vistas como perfeitas, nem nas suas ações nem nas suas decisões e situações. Existem momentos bastante engraçados e outros bastante intrigantes e ainda os momentos de romance, porque não seria um belo livro da Julia Quinn sem uma boa dose de romance. 

De todos os livros lidos da autora até agora, este é aquele onde há mais intriga, se bem que o anterior também tinha. Porém, a intriga neste é muito maior, bem  como o mistério, devido à busca pela identidade da mais atrevida cronista da sociedade. Foi uma lufada de ar fresco esta decisão da autora em enveredar pelo mistério da identidade de tal personagem quase mítica. 

Não consigo dizer que tenho um livro favorito da autora, até agora. São todos bons, com enredos interessantes e que, apesar de não fugirem muito ao esquema narrativo, conseguem todos ter algo de novo, de único e de especial. 

Assim, uma escrita fluída, fresca, despojada, divertida e muito atrevida é mais uma vez a chave do sucesso, bem como a personalidade forte das personagens e do contexto onde estão. Recomendo a todos aqueles que gostam de um belo romance, repleto de aventura, amor, intriga, ironia e amizade. Outra bela razão para ler estes livros é porque, no fundo, a autora está sempre a dar na cabeça do alta sociedade e a ridicularizar aqueles que só sabem rebaixar os outros e os seus livros servem como uma bela crítica social, que se aplicava na perfeição ao contexto da época em que são narrados (século XIX), mas que também se aplica nos dias de hoje.

NOTA (0 a 10): 10 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

O Aprendiz de Gutenberg, de Alix Christie

Sinopse: 

Um romance extraordinário que relata a vida no século XV e as mudanças que transformariam para sempre a Europa.

Peter Schoeffer é um jovem ambicioso à beira de alcançar o sucesso como escriba em Paris quando o seu pai adotivo, o rico mercador Johann Fust, o convoca à cidade de Mainz para conhecer um homem extraordinário. Gutenberg, inventor de profissão, criou um método revolucionário - há quem diga blasfemo - de produção de livros: uma máquina a que chama prensa. Fust está a financiar a oficina de Gutenberg e ordena a Peter que se torne seu aprendiz. Ressentido por ser forçado a abandonar uma carreira tão prestigiante como escriba, Peter inicia a sua aprendizagem na "arte mais negra". 

à medida que as suas habilidades crescem, assim cresce também a admiração por Gutenberg e a dedicação a um projeto ousado: a impressão de cópias da Bíblia Sagrada.

Mas quando forças extremas se alinham contra eles, Peter vê-se num dilema entre os velhos costumes e as novas criações  que ameaçam transformar o mundo. Conseguirá ele encontrar uma forma de superar os obstáculos numa batalha que poderá mudar a História? (in Saída de Emergência)



Opinião:

É sempre bom ler um Romance Histórico, e quando se lê um Romance Histórico de grande qualidade, então é perfeito. Desde já, o meu obrigada à Saída de Emergência por me ter proporcionado esta leitura, que tanto me agradou e ensinou. 

Gutenberg, o inventor da prensa. Todos conhecem Gutenberg, ou grande parte das pessoas o conhecem. O que poucos conhecem é a verdadeira história por detrás da invenção da prensa e da impressão do primeiro livro, conhecido hoje em dia como "A Bíblia de Gutenberg". Portanto, este livro explora a relação de Gutenberg com os seus homens, especialmente com Peter Schoeffer (seu aprendiz), escriba e filho adotivo de um grande comerciante, Johann Fust, que lhe deu créditos para financiar a invenção e impressão de livros. 

O leitor segue as pisadas de Peter, desde a sua chegada a Mainz a pedido de Fust, até à publicação da Bíblia, de uma forma bastante descontraída, inteligente e dinâmica. Peter é uma excelente personagem, integro, complexo e bastante humano. Apesar da narrativa não ser na primeira pessoa, o leitor vai desbravando a história pelo olhar de Peter, que vai narrando a sua história e a história de Gutenberg e da prensa, ao abade Trithemius, posteriormente, já em 1485, sendo que as aventuras durante o aprendizado e a edição da Bíblia datam de um período entre 1450 até 1455. 

Ora, Peter, como já referi, é uma excelente personagem, mas as outras também têm a sua magia. Gutenberg é muito denso, sombrio, complexo. Por vezes entusiasmado, companheiro de equipa, amigo, outras vezes quase louco, inquieto, sem se saber se se pode confiar ou não. E é fantástico poder observar o desenrolar da personalidade e atitudes de Gutenberg ao longo da história, o que acaba por ser um dos pontos fortes desta. Gutenberg continua a ser para mim uma personalidade enigmática depois da leitura do livro e acredito que seja essa a intenção da autora quando o caracterizou da forma como o fez e como o trabalhou. Depois, Johann Fust, o seu irmão, a sua esposa, , o pessoal da equipa da prensa, as personagens relacionadas com a Igreja, Anne...entre tantas outras, formam um leque imenso e muito bem articulado, que faz com que o enredo se torne riquíssimo e repleto de intriga. 

A forma como as personagens vão crescendo, como as suas mentalidades e atitudes se vão alterando está feita de tal maneira tão inteligente que o leitor vai crescendo com elas e acompanhando-as plenamente, podendo fazer o seu próprio juízo. Gostei imenso. 

Também gostei muito de todo o contexto histórico. As descrições de Mainz e de todo o espaço circundante estão excelentes. Não conheço muito sobre a Alemanha medieval e é com gosto que leio sobre tal, uma vez que me ajuda a compreender melhor este país e a conhecer o seu passado. Também aprendi factos interessantes sobre a invenção da prensa e sobre a edição da Bíblia neste formato. Toda a intriga entre Gutenberg, Peter e Johann Fust, bem como todo o sigilo e mistério em seu redor e das guildas todas, era para mim algo desconhecido e que assim pude ficar a saber. 

A narrativa segue o seu caminho natural, indo beber às fontes históricas nos momentos necessários e crescendo espontaneamente. A autora fez um trabalho excelente, usando uma linguagem descontraída, informal, fluída. Deixa sempre o leitor na expectativa com o enredo e com o que as personagens escondem atrás das suas atitudes e ações, deixando sempre um ar de mistério no ar. 

Recomendo vivamente, tanto àqueles que gostam imenso de Romance Histórico, como àqueles que querem ler um livro de qualidade, como àqueles que querem aprender mais...enfiam, a todos os que apreciam uma história real, escrita de forma fluída e com personagens interessantes e uma narrativa bem contextualizada e coerente. Uma excelente aposta da Saída de Emergência, que está de parabéns por mais um excelente livro, com um excelente design! 

NOTA (0 a 10): 10

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O Amor é Vermelho, de Sophie Jaff

Sinopse:

Três mulheres são encontradas mortas com a pele gravada por sulcos de desenhos arcaicos e de significado intrincado. Isto abre a contagem de uma longa lista de vítimas do mais recente assassino em série que vagueia pelas ruas da cidade.

Quando, no clima de ansiedade desencadeado pelos misteriosos assassinatos, Katherine conhece David, a química entre os dois é imediata. David não é apenas bonito, é também culto, educado e atencioso. Mas Sael, o seu melhor amigo, é enigmático e contrastante: frio, hostil, e com uma intensidade perturbante.

Sem se aperceber, Katherine vê-se envolvida num jogo de sedução em que as aparências não podem ser levadas em conta. Com o número de mortes a crescer, a cidade é tomada por uma psicose, e as raízes de uma história muito antiga estreitam-se em torno de Katherine e dos dois homens que lhe confundem o coração.

O Amor é Vermelho é um thriller escrito de forma brilhante. O leitor vai dar por si a levá-lo para todo o lado até chegar à última página. (in Marcador)



Opinião:

Em primeiro lugar quero agradecer à Editora Marcador por me ter enviado este livro, que muito me agradou! Desde que saiu por cá que andava com ele de olho: uma capa chamativa, um título interessante, uma sinopse curiosa...tudo ingredientes que podem fazer um livro excelente!

De facto, o livro é interessante. A história é contada em duas vozes: da perspectiva de Katherine (perseguida) e da perspectiva do assassino. Só isso cria um contexto diferente e que deixa o leitor na expectativa, para tentar relacionar o assassino com todas as outras personagens que vão aparecendo ao longo dos capítulos pertencentes a Katherine. 

A autora teve o cuidado de criar um mistério denso e estranho, com laivos de sobrenatural e complexo. Existem momentos de grande tensão, que estão muito bem conseguidos. No entanto, a parte sobrenatural tem algumas partes em que podia estar melhor. Podia estar melhor explicada.

As personagens são complexas, e a relação que existe entre elas, principalmente entre Katherine e o assassino, está muito densa. Gostei do entrelaçar entre estas personagens no presente e no passado (Idade Média). Logo de início compreende-se que há algo mais entre estas duas personagens. Não é um simples assassino que mata mulheres, é algo mais. Ele quer uma mulher especifica, uma mulher sua conhecida, de há muito tempo atrás. Em relação às outras personagens, também estão bem contextualizadas, e fazem aumentar o suspense.

O suspense em si é muito bom. Se a parte sobrenatural estivesse melhor explicada, principalmente para a parte final, seria um thriller perfeito. Assim é um thriller excelente!

A história tem momentos de romance, ação e suspense bem distribuídos. Também gostei das partes referentes ao manuscrito sobre a estranha dama, uma vez que são uma boa pista para todo o mistério. Gostei da forma como o enredo foi conduzido e de como aconteceu o desenlace. Segundo o site Goodreads, este é o primeiro volume de uma trilogia, que espero que continue a ser publicada por cá. No entanto, este volume serve bem como standalone. Vamos ver como será! 

Em suma, aqui está um excelente thriller, com um enredo bem construído, personagens fortes, muito mistério, romance à mistura e uma boa dose de sobrenatural. Ainda bem que a Marcador apostou nesta história! Recomendo vivamente e espero que gostem deste thriller arrojado.

NOTA (0 a 10): 8

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Nove Mil Dias e Uma Só Noite, de Jessica Brockmole

Sinopse:

Março de 1912. A jovem poetisa Elspeth Dunn nunca saiu da remota ilha escocesa de Skye, onde vive, e é com grande surpresa que recebe a primeira carta de um admirador do outro lado do Atlântico. É o início de uma intensa troca de correspondência que culminará num grande amor. Subitamente, a Europa vês-e envolvida numa Guerra Mundial, e o curso normal das vidas é abruptamente interrompido. 

Junho de 1940. O Velho Continente vive mais uma vez o tormento de um conflito mundial e uma nova troca epistolar incendeia os corações de dois amantes,  desta vez o de Margareth, filha de Elspeth, e o do jovem piloto da Royal Air Force por quem se apaixonou. Cheio de glamour e de pormenores de época, este romance faz a ponte entre as vidas de duas gerações - os seus sonhos, as suas paixões e esperanças -, e é um testemunho do poder do amor sobre as maiores adversidades. 
 (in Goodreads)


Opinião:

Este é um livro diferente daqueles que costumo ler. Aliás, foi o primeiro livro escrito de modo epistolar que li. Não decidi apostar nele assim que saiu por causa disso mesmo, mas ainda bem que o decidi fazer agora, porque o livro é maravilhoso. 

A obra está dividida em partes cujo contexto é a 1ª Guerra Mundial e outras em que se está na 2ª Guerra Mundial, partes essas que vão interligando as personagens.

A forma como começa, todo o ambiente que se estabelece logo no início, o modo como as personagens nos apanham e nos agarram até ao fim e mais além, é absolutamente brilhante. 

Tudo começa com uma carta de David Graham, um jovem estudante universitário americano, admirador de Elspeth Dunn, poetisa da ilha de Skye, em março de 1912. A correspondência que se estabelece entre ele e Elspeth cedo começa a derivar para algo mais, que de qualquer modo não está explicito logo. Tudo começa por ser bastante casual e ligeiro, para depois passar para algo muito sério e até devastador, tendo em conta todo o contexto de ambos e a ida de David para a guerra. 

No contexto da 2ª Guerra, temos Margareth, filha de Elspeth, que se corresponde com o seu amado, piloto da força aérea inglesa. Depois de um bombardeamento, Margareth vê a sua mãe fugir e levar com ela todo um passado de cartas misteriosas, apenas deixando uma para trás, de um estranho (David). Margareth decide então descobrir mais sobre o passado da sua mãe, para assim poder descobrir o seu paradeiro. 

A história é muito bonita. Existe sempre um certo véu a cobrir os acontecimentos, deixando antever o que vai ser ou o que poderia ser, véu esse que acaba por ser destapado apenas no final e que faz com que o leitor esteja até ao fim na expectativa. O que esconde Elspeth? O que terá acontecido entre ela e David? Como terá sido a sua história? Onde estará ela, vinte e tal anos depois? E ele? Todas essas perguntas, que o leitor vai pondo ao longo da leitura, e a falta de respostas até ao final, faz aumentar muito a tensão emocional desta leitura. 

As personagens são espetaculares. É como se fossem mesmo reais, como se estivessem ali, a corresponder-se. E para o leitor, é como se se estivesse de fora, a observar, a intrometer-se numa história privada, linda e nostálgica. Gostei de todas as personagens, especialmente de Elspeth e David, por estão muito bem trabalhadas, muito humanizadas, muito complexas. São bastante reais, tal como os seus sentimentos e emoções. 

Quanto às descrições e à escrita, também só tenho a atribuir elogios. Estas estão escritas/descritas de uma forma maravilhosa, uma vez que a escolha de palavras está excelente e extremamente musical e poética. Aliás, os próprios sentimentos e emoções estão descritos de forma tão coerente e real que são muito belos e quase que são poesia em prosa. 

Em suma, esta é uma leitura muito bonita, que enaltece a alma e faz com que o leitor esteja sempre na expectativa. O contexto está muito bem trabalhado, a escrita é magnífica, as personagens são complexas e delicadas, ao mesmo tempo. É de grande beleza, uma obra prima. Recomendo sem reservas. 

NOTA (0 a 10):  10