quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

The Fiend and the Forge, de Henry H. Neff

Depois de ter lido os dois primeiros livros desta saga (A Tapeçaria, em Português) há já alguns anos, esperei que a Presença traduzisse o terceiro. Mas a espera estava a ser demasiado longa e cerca de três anos depois decidi lê-lo em Inglês. Ainda bem, porque é excelente.


Sinopse:

Max McDaniels, depois dos acontecimentos passados durante o Cerco de Rowan, vê-se a braços com uma realidade diferente. Os feiticeiros perderam a sua batalha contra os demónios e estes conquistaram a Terra, alterando-a e impondo as suas regras. Prusias, um dos demónios, chega a Rowan e funda uma sede para controlar a escola e põe todos sob as suas ordens. Mas, quando Max, depois de tentar fazer tudo para não perturbar o equilíbrio entre esses seres e os humanos (quebrar as regras seria a destruição para Rowan), descobre que o seu pai afetivo foi morto por Vyndra (outro demónio), jura vingar-se e parte para Blys, a terra de Prusias. 

Opinião:

Dos três primeiros livros desta saga, este é aquele que apresenta um enredo mais adulto, mais detalhado, mais trabalhado e mais escuro. Deixamos de ter alunos numa escola de feitiçaria, deixamos de ter conversas normais entre adolescentes e deixamos de ter aspetos superficiais e não muito relevantes. Max torna-se naquilo que não tinha sido, pelo menos para mim, nos outros livros: o protagonista da história. Mais crescido, mais maduro e mais terrível, Max faz jus a toda a sua fama que conquistou ao longo da história. Agora sim, parece realmente ser aquilo que dizem que ele é, filho de Lugh, um dos deuses da mitologia celta.

Em relação às personagens, o que referi sobre Max tenho a referir sobre todas as outras. Fiquei um bocadinho desapontada pelo facto de o David não aparecer tanto como nos livros anteriores, mas sempre que apareceu, esteve sempre no seu melhor...e também se percebe muito bem porque é que ele não está tão presente ao longo da história, uma vez que o que anda a fazer é segredo. Existem novas personagens, muito bem desenvolvidas e muito bem encontradas. E aparecem personagens que vão fazer grande diferença nos próximos livros, o que é ainda melhor.

Quanto ao enredo, este acompanha o crescimento das personagens. O autor não teve o mínimo problema em "chocar" os seus leitores, tendo em conta o público mais juvenil da saga. Existem momentos de grande emoção e de grandes descrições que, à primeira vista, não seriam para este género de livro e idade. Ainda bem que Neff optou por não ir por um caminho suave e cor de rosa, porque isso ia fazer com que as aventuras de Max e David não tivessem o mesmo interesse. Gostei do tom mais sério e mais adulto deste livro, em comparação com os anteriores, porque o desenvolvimento do enredo neste é muito mais denso e complexo. Existe uma maior complexidade e uma maior contextualização do próprio mundo em si, o que é muito interessante.

Também tenho de referir as maravilhosas ilustrações do autor, que acompanham o leitor ao longo da obra e dão sempre um ar de mistério e beleza. Gosto sempre de encontrar ilustrações nos livros e sou da opinião que deviam haver mais, em todos os géneros e para todas as idades. Quando pego num dos livros de Neff, a primeira coisa que faço é ver as ilustrações...tanto para as apreciar como para tentar desvendar algo. É uma atividade que gosto muito e que penso que muitos dos leitores que gostam de ilustrações também o sentem.

Portanto, é uma pena que a Presença não continue a apostar nesta saga. Editou os dois primeiros e ficou por aí...talvez lá mais para a frente volte a editar, mas já o devia ter feito, porque esta é uma história de enorme qualidade, que apenas não foi bastante divulgada. Penso que em vez de estarem sempre a compará-la a Harry Potter, as pessoas deveriam divulgá-la e dar-lhe o devido valor. Pode ter parecenças com os livros do Harry, mas tem muito de diferente. Aliás, é muito diferente e ambas as sagas são excelentes. Vou continuar a querer acompanhar as aventuras destas personagens! Espero que voltem a ser editadas em português.

NOTA (0 a 10): 10

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

A Revolução da Mulher das Pevides, de Isabel Ricardo

Decidi apostar neste livro para a leitura conjunta no Cantinho do Fiacha, leitura essa que está a ser fantástica, e acho que fiz bem em fazê-lo, porque foi uma experiência muito boa! Não vou escrever spoilers sobre a história, uma vez que a leitura ainda está a decorrer, se bem que na fase final, mas serve este texto para clarificar a minha opinião em relação a esta obra. 

 

Sinopse:

Os exércitos de Napoleão ocupavam Portugal. Uma mulher, armada apenas da sua beleza e argúcia, vai despoletar a revolução para os expulsar.


Perante os canhões e as balas dos exércitos franceses, Ana Luzindra só tinha uma arma: a sua beleza. Mas a beleza também pode ser mortal.

A Revolução da Mulher das Pevides transporta-nos para os anos de terror das invasões francesas. A morte e a crueldade marchavam lado a lado com os exércitos veteranos de Napoleão. E enquanto a Família Real fugia para o Brasil, o povo ficava para suportar todo o tipo de humilhações.


Na vila da Nazaré, Ana Luzindra é parteira de profissão e uma mulher simples. Para fazer frente aos canhões e balas dos franceses só tem uma arma: a sua estonteante beleza. Atraindo-os, um a um, para a morte na calada da noite, a jovem inspira toda uma comunidade e pegar em pedras e paus para expulsar os invasores.

A Revolução da Mulher das Pevides, expressão da Nazaré que significa “algo insignificante”, foi tudo menos isso: pelo sobressalto que pregou aos franceses, e pela posterior vingança desproporcionada que estes praticaram sobre a Nazaré, acabou por ser um dos momentos mais importantes da invasão, e inspiraria o longo e árduo caminho dos portugueses e aliados até à derradeira vitória sobre as tropas do temível Napoleão.


Recorrendo a uma pesquisa exaustiva, Isabel Ricardo oferece-nos um bilhete para um dos períodos mais importantes da História de Portugal.
(in Edições Saída de Emergência)

Opinião:

Este é o segundo livro que leio da autora (o primeiro foi O Último Conjurado, também para leitura conjunta) e devo dizer que gostei de ambos. Tendo em conta o contexto histórico, acabei por gostar mais do O Último Conjurado, uma vez que gosto mais dessa época, mas em relação à narrativa em si, gostei muito dos dois! 

A autora fez um excelente trabalho com este tema. Pegou num título que é bastante curioso e criou uma história completamente envolvente e real, uma vez que é verídica em praticamente todos os momentos. O contexto histórico (início das Invasões Francesas em Portugal) está maravilhosamente trabalhado, o que faz com que se aprenda, de facto, algo sobre a nossa História, algo que não se aprende na escola. Mas este não é um livro maçudo ou cheio de descrições, antes pelo contrário. Isabel Ricardo baseou-se na história dos seus antepassados, pesquisou bastante, deu vida a personagens reais e cheias de personalidade, e escreveu uma história cheia de ação, mistério, romance, humor e momentos de grande tensão, tudo de acordo com um perfeito tratamento do contexto histórico. Os meus parabéns à autora por ter feito um excelente trabalho, por ter escrito esta maravilhosa narrativa e por nos dar a conhecer esta história. 

Em relação às personagens, encontrei em todas um carácter diferenciador entre si, o que é sempre bom. Gostei bastante de Junot, não dele, mas da forma como a autora o retratou, porque acho que a ela conseguiu caracterizá-lo muito bem, pois era assim que o imaginava quando estava nas aulas de História a aprender sobre esta época. Gostei muito de todas as personagens do núcleo do Sítio da Nazaré, que também foi o local que mais curiosidade me despertou em relação aos diversos espaços presentes ao longo da narrativa. Também gostei muito de Rodrigo e do seu amigo Diego, que proporcionaram uns belos momentos de humor e também de emoção. 

Outro aspeto que muito me agradou foi o facto de a autora ter escrito as falas das personagens da Nazaré de acordo com a fonética/sotaque das personagens. Encontrei nisso bastante sentido e gostei muito, porque deu mais carisma à história e também uma certa força, que muito me agradou. 

Voltando ao contexto histórico, gostava de refletir sobre a aprendizagem que fiz em relação a este tema ao longo da leitura da obra. Uma vez que não me é desconhecida esta parte da nossa História (e não é das que mais me fascina), foi com bastante curiosidade que me vi a mudar de opinião em relação a algumas ideias que tinha antes de de a ler. Ou seja, até à data da leitura do livro, sempre tinha achado que a fuga da família real tinha sido um ato cobarde e de abandono do povo às mãos dos invasores. No entanto, depois de ler o livro, fiquei com outra ideia, que é a que a autora aborda: a saída da família real acabou por ser uma forma de salvaguardo o reino e a si mesma enquanto independente, uma vez que, se D. João tivesse seguido as ordens de Napoleão, tinha ficado sem o seu reino, uma vez que a capital (Lisboa) tinha ficado para Napoleão. Assim, como a capital mudou para o local da família real, Napoleão não ganhou o que mais queria. Gostei de refletir sobre este aspeto enquanto lia o livro. 

Aqui está mais uma prova de que o Romance Histórico é dos géneros literários mais ricos, mais densos e mais sábios da literatura, porque servem diversos propósitos, como o prazer de ler e o prazer de aprender. 

Em suma, mais uma excelente aposta da Saída de Emergência, que fez um excelente trabalho gráfico com o livro, mais uma vez. Muito bom! Os meus parabéns à autora por ter partilhado esta histórica com os leitores e pelo excelente trabalho que fez. Espero que a história continue, porque tem tudo para isso! 

NOTA (0 a 10): 10