domingo, 29 de junho de 2014

O Segredo de Sophia, de Susanna Kearsley



Este é um livro que junta o passado com o presente e a ficção com a realidade histórica. Foi com grande expectativa que iniciei a leitura, uma vez que as opiniões lidas bem como a sinopse deram-me uma visão de uma possível história que eu iria gostar muito. Logo no início senti-me atraída pela história.

A história é narrada por Carrie McClelland, escritora de romances históricos, que está a escrever uma história sobre a tentativa de restaurar o rei Jaime no trono escocês em 1708, tendo em conta a perspetiva do coronel Nathaniel Hooke, tendo em conta o ambiente francês, da corte de Saint-Germain. No entanto, numa visita à sua agente, Jane, na Escócia, Carrie sente-se completamente atraída para lá, principalmente para o castelo de Slains e para Cruden Bay. Depois de compreender que tinha de estar ali para escrever o seu livro, ela muda-se para uma pequena casa de praia alugada e começa a escrever. Porém, a escrita começa a tornar-se demasiado fluente, intensa, e a afastar-se do seu proposto inicial, passando a centrar-se numa personagem fictícia, Sophia Paterson, inspirada numa sua parente da época. No entanto, Carrie começa a descobrir que muito do que escreve não é apenas ficção, mas algo mais, quando começa a confrontar o que lhe parece ser o produto da sua imaginação com factos históricos que nunca antes tinha lido durante as suas pesquisas. Assim, Sophia torna-se em algo mais do que uma mera personagem inventada, mostrando que há mais para descobrir do que aquilo que parecia no início.

Não é o primeiro livro que leio que tem por contexto a revolta jacobita, em que os escoceses tentaram restaurar um rei no trono da Escócia. Li A Rosa Rebelde, de Janet Paisley, e Outlander – Nas Asas de Tempo, de Diana Gabaldon. Passam-se em diferentes tempos, mas ambos mostram as diversas tentativas escocesas de restaurar a independência face à Inglaterra, voltando a colocar um rei no trono, rei esse que tinha sido exilado em França: Jaime VIII da Escócia e III de Inglaterra e, anos mais tarde, Carlos Eduardo, filho de Jaime. E devo dizer que é sempre com grande prazer que leio sobre este período histórico. Gosto muito da Escócia e da sua História. Penso que este gosto vem de há vários anos atrás, da primeira vez em que vi o filme Braveheart, era ainda criança. Desde aí já o vi várias vezes e, cada vez que o revejo, é como se fosse a primeira. 

Gostei imenso da história. As personagens são fantásticas, muito bem delineadas e com carater. Tanto as do presente como as do passado estão muito bem, todas diferentes e com personalidades muito próprias. De realçar que praticamente todas as personagens que fazem parte do passado (da história que Carrie escreve) são reais, existiram de verdade e há bastante informação sobre a maior parte delas. Gostei muito das personagens do presente, especialmente de Carrie, Graham e Stuart, que fazem um trio bastante engraçado e que dá bastante cor há história. Porém, senti uma maior emoção pelos destinos das personagens do século XVIII, principalmente por Sophia e John Moray, um par que me emocionou bastante ao longo da narrativa e que me proporcionou uns belos sustos e alegrias ao longo da leitura.
O detalhe histórico está excelente. A autora escreveu com enorme rigor e, no final, apresenta uma nota muito bem escrita, concisa e coerente sobre a parte histórica do livro. As descrições também estão muito boas, permitindo ao leitor a possibilidade de se imaginar nos locais por onde passam as personagens, tanto no presente como no passado. Também a descrição do ambiente emocional está bastante boa, conseguindo criar climas de grande tensão, bem como climas descontraídos. Ou seja, há um equilíbrio bastante estável entre estes dois fatores.

Gosto de histórias que me digam algo; que me façam sonhar; que me conquistem e que me emocionem. Aqui está uma história que me proporcionou tudo isso. E, como é uma espécie de “história dois em um”, senti que estava presente em dois momentos, no presente e no passado, como uma viajante do tempo. Senti que, tal como Carrie, podia ter acesso ao passado de Sophia, estar presente ao longo de um período decisivo da sua vida e viver as suas aventuras com grande intensidade.

Assim, este é um romance um pouco diferente. Tem uma mistura de viagens no tempo, mas não é sobre isso e o que acontece não é realmente nada disso. É um romance bem rico, cheio de todos os ingredientes que um bom romance deve ter. Não é de modo algum lamechas, nem por sombras. Tanto Sophia como Carrie são mulheres bem interessantes e complexas, nada simples nem corriqueiras. E o mesmo se passa com os homens. Principalmente na parte de Sophia, o enredo é mais complexo, tem mais intrigas politica, mais momentos de tensão. Foi nessa parte que mais me emocionei, principalmente nos momentos mais para o final. Depois, na parte de Carrie, não há tanta tensão, mas há o mistério em torno do que provoca o conhecimento daqueles factos todos e também os relacionamentos de Sophia com Graham e Stuart, que são irmãos, e também gostei dessa parte, que por momentos pensei que se ia tornar um pouco mais densa, mas que ficou bem como ficou, deixando a tensão que poderia ter sido criada para o lado de Sophia.

Em suma, é um livro muito bom. Um romance histórico bem escrito, com tudo o que deve ter: rigor, uma escrita interessante e apelativa, muitas peripécias e a dose certa de todos os ingredientes. Sem dúvida, um dos melhores romances históricos que já li, onde a ficção se mistura com a História de um modo perfeito. Aconselho vivamente, a todos, sem exceção. Uma história muito bonita e está muito bem contada, o que promove uma leitura bem recheada de bons momentos.

Algumas citações:

- Então, como vês, o meu coração está preso para sempre a este sítio - disse ela. - Não posso partir.
Não posso partir.
p.26

Quando terminou, Moray pôs o braço em torno dela para a manter perto de si e ela pousou o rosto sobre o tecido fino da camisa dele, sentindo as batidas do seu coração bem junto ao ouvido. No céu, uma gaivota pairava ao sabor do vento, com as asas abertas aparentemente imóveis. A sua sombra solitária movia-se na areia ao lado de ambos. p.252

- Disseste-me uma vez - afirmou ele - que o vosso coração me pertencia.
- E pertence.
- E o meu coração pertence-vos a vós, Sophia. - Colocou uma mão sobre a dela e encostou-a ao seu peito, para que ela pudesse sentir o bater do seu coração. - Não viajará comigo através das águas. Onde estiverdes, ele estará convosco. Não ficará sozinha. E eu nunca mais estarei completo, até ao momento em que regressar
.
p.296

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 17 de junho de 2014

Leviatã, de Scott Westerfeld

Este é o primeiro livro da trilogia de Scott Westerfeld: Leviatã (Leviatã, Besta e Golias). É um livro juvenil, ou assim está catalogado, com grande contexto steampunk. Já há bastante tempo que o queria ler e não fiquei minimamente dececionada. Excelente livro, com excelente contexto.

Leviatã começa por contar duas histórias aparentemente paralelas: a de Aleksander de Hohenberg e Deryn Sharp. Alek é um príncipe do Império Austro-húngaro, filho do Arquiduque Francisco Fernando e de Sofia Chotek, tendo como tio-avô o Imperador Francisco José. Devido à ascendência plebeia de Sofia, Alek não tem direito a nada da herança do pai, sendo por isso um mero príncipe sem direito ao trono. Aos quinze anos, numa noite de junho de 1914, vê-se sozinho com um conde (Volger) e o melhor mecânico (Kopp) do pai, dentro de um marchador, em fuga pelo Império, para fugir dos assassinos dos seus pais, com destino à Suíça. Nessa mesma noite, na Inglaterra, Deryn prepara-se para entrar na Força Aérea, disfarçada de rapaz, com a ajuda do seu irmão (Jaspert), que também faz parte da Força Aérea. O maior sonho de Deryn é voar nas maravilhosas fabricações (animais fabricados através de um processo parecido com a mutação/transformação genética) da Força Aérea e tornar-se num oficial. Depois de se ter metido em apuros na primeira audição para se tornar aspirante, Deryn (ou Dylan) vê-se abordo do Leviatã, uma aeronave-baleia (uma baleia que voa a hidrogénio) e que é uma das forças de guerra da Força Aérea Inglesa. Depois de várias aventuras, Alek e Deryn encontram-se e começa assim uma amizade inicialmente titubeante, mas que se vai tornando forte. Com a guerra a começar, as alianças são importantes e os interesses, muitos.

A história tem uma grande base imaginativa no seu âmago. Scott Westerfeld conseguiu criar uma história muito boa, com um contexto em parte real, em parte fantástico/ficcional. O assassinato do Arquiduque e da sua esposa é um facto real e foi o que levou à Primeira Guerra Mundial, tal como acontece no livro, apesar de, no livro, os assassinos serem diferentes, possivelmente. As potências aliadas também são as mesmas. Várias personagens são reais, mesmo que alguns dos seus traços sejam diferentes. Alek e Deryn são personagens ficcionais, mas tudo o que envolve os pais de Alek é real, tirando um ou outro aspeto (que não vou referir para não contar detalhes importantes).

Há uma mistura clara do passado com o futuro, misturando factos históricos (o tempo, o espaço, o ambiente, algumas personagens) com invenções futuristas (fabricações e armamento móvel de metal, parecido com robôs gigantes). Assim, é importante compreender as potências que se opõem. Os ingleses são uma potência Darwinista, ou seja, as suas armas são à base de fabricações naturais, como o Leviatã ou o Huxley (uma espécie de alforreca gigante que serve como uma espécie de balão a hidrogénio que serve como posto de observação aéreo), bem como outras como lagartos falantes, que transmitem mensagens, morcegos que se alimentam de frutos e espigões, acabando por libertar os espigões de metal sobre os inimigos, falcões que atacam os inimigos, farejadores (espécie de cão com seis patas que tem como missão detetar fugas de hidrogénio), entre outros seres. Os Austríacos (bem como os Alemães) são uma potência Clanker, ou seja, as suas armas são feitas à base de instrumentos de metal, com grandes potências geradas através de mecanismos e motores. Marchadores (espécies de robôs que andam), couraçados, espécies de cavalos metálicos, e outros instrumentos

Gostei muito do livro. Tudo o que estive a referir nos parágrafos anteriores justifica o meu grande interesse por esta história. Toda a imaginação existente ao longo da história (o que se refere aos Darwinistas e aos Clankers, principalmente), fez-me ficar apaixonada por este mundo. É como se tudo o que eu soubesse sobre a Primeira Guerra se expandisse de modo a abarcar esta nova realidade: os meus conhecimentos entrelaçaram-se com os acontecimentos narrados, dando um novo lado à Primeira Guerra, um lado extremamente mais fantástico e grandioso (apesar da guerra nada ter de grandioso ou fantástico). É uma história alternativa para este acontecimento real do nosso mundo, que aconteceu há 100 anos.

Mas não foi só a parte criativa que me fez gostar da história. Também as personagens foram importantes para isso. Deryn é uma personagem feminina extremamente interessante. Não é nada estereotipada, não é uma “bonequinha”, nem “uma querida”, mas sim uma “badass”, uma rapariga que se faz passar por um rapaz para conseguir o que quer, para alcançar o seu sonho e que tem uns comportamentos muito engraçados. É uma aventureira, muito bem-disposta, esperta e inteligente. Por seu lado, Alek é mais reservado. É um excelente rapaz, que sofre bastante ao longo da narrativa, mas que tem um desenvolvimento bastante interessante. Um tanto tímido, mas também um pouco convencido, em alguns momentos, Alek mostra ser um rapaz de nobres sentimentos, altruísta e muito amigo do seu amigo. Também as personagens secundárias são muito interessantes. Gostei especialmente da Dra. Nora Barlow, a inspetora que vai a bordo do Leviatã. Esperta, inteligente, misteriosa e com um excelente sentido de humor, Barlow “rouba a cena” em vários momentos da narrativa.

A ação é constante. Há mistério, grandes descrições de batalhas e aventuras, momentos de cortar a respiração, humor e vários perigos. O enredo está bem construído, sendo que tudo está interligado. Não um único momento “parado” na narrativa. Também gostei bastante dos diálogos entre as personagens, nomeadamente entre Deryn e Alek. Espero que eles se entendam! E que o Alek descubra que o Dylan é a Deryn (como será que vai ser?! ^^ ). A relação destes dois tem um começo fantástico (melhor era impossível) e torna-se um dos eixos da história, a meu ver.

Também é de referir as maravilhosas ilustrações da ilustradora Keith Thompson. Estão magníficas e dão uma dimensão muito boa ao livro. O facto de ter ilustrações tão boas faz com que não seja necessário uma descrição muito pormenorizadas por parte do autor, em relação a determinados aspetos, como por exemplo: as fabricações e as máquinas dos Clankers. As ilustrações são, a meu ver, fundamentais neste livro. E são lindas.
               
Assim, posso afirmar que o livro é fantástico. Tem tudo o que um bom livro deve ter. Mesmo que não haja uma grande complexidade a nível das personagens e do enredo, tudo está bem construído. As máquinas e as fabricações são fantásticas. As personagens são interessantes. O contexto está muito bem construído e a relação realidade/ficção está perfeita. Dos melhores livros steampunk que já li! Estou muito curiosa para ler o seguinte, pois tudo o que aconteceu neste foi muito bom e o final deixou-me bastante curiosa.
metálicos e mecânicos são a grande força dos Clankers, que odeiam os Darwinistas, afirmando que estes são um bando de hereges que tentam imitar a Vida através das suas fabricações (que advêm da teoria evolucionista de Darwin, que, na narrativa, descobriu como manipular os “fios da vida”, de modo a criar novas espécies (como se fosse o ADN)).

Algumas ilustrações de Keith Thompson:


O site da ilustradora é fantástico! Consultem aqui.

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 10 de junho de 2014

O Olho do Mundo - A Roda do Tempo, de Robert Jordan


Depois de ter iniciado este livro em maio e de tê-lo deixado em pausa para ler A Filha da Floresta, eis que o terminei!

Este é o primeiro de muitos livros, de uma saga que dura há muito tempo e que em Portugal deixou de ser publicada a partir do quarto livro, se não estou em erro (A Sombra Alastra, é este o título). Por ser o primeiro livro, muito está ainda em aberto e não há respostas para todas as questões que aparecem ao longo da narrativa, nem para muitas das iniciais, como é óbvio ou não seria uma saga.

Neste primeiro livro, são apresentados Rand al'Thor, Matrim Cauthon, Perrin Aybara, três amigos oriundos de Dois Rios, bem como outras personagens que estão ligadas a eles: Egwene, Nynaeve, Tom Merrilin, Moiraine e Lan, sendo estes dois últimos uma Aes Sedai e um Guardião (espécie de feiticeira e o seu guarda). Depois de a aldeia de Dois Rios ser atacada por grupos de Trollocs e Semi-Homens, Rand e os amigos descobrem que eles estão a ser perseguidos pelo Tenebroso (o Senhor das Trevas), através de Moraine, que lhes oferece proteção para a sua jornada até Tar Valon, a sede das Aes Sedai, onde poderá dar-lhes respostas mais precisas sobre a sua situação e sobre sua importância na Renda do Tempo fiada pela Roda do Tempo. Pelo caminho, várias são as peripécias que acontecem aos companheiros e a luta pela sobrevivência torna-se tudo o que lhes resta, bem como alcançar o seu objetivo: chegar a Tar Valon e descobrir quem são e qual o seu destino. Porém, a sua jornada acaba por se tornar ainda mais complexa, levando-os por caminhos nunca antes pensados por eles.

Não há forma de resumir a história de modo a não contar detalhes importantes, por isso este pequeno resumo é suficiente. Existem vários acontecimentos que alteram o curso da narrativa e esses acontecimentos têm muito mais interesse se o leitor ler o livro numa perspetiva de descoberta.

Gostei muito do livro. A história é rica, complexa, bem contextualizada. Fez-me lembrar várias outras que já li, principalmente a nível d' O Senhor dos Anéis. Também achei interessante ver nomes de personagens que têm algumas parecenças com personagens de lendas (Tom Merrilin, que é um jogral, tem um nome bastante parecido a Merlin, que é bardo e feiticeiro; Artur Paendrag Tanreall, Rei de cognome Asa-de-Falcão, além do nome, tem várias parecenças com o Rei Artur e com a sua história, pois também Paendrag tentou unir todos os reinos, acabando envenenado e levando a uma guerra de sucessões e mortes, denominada A Guerra dos Cem Anos). Achei isto bastante interessante, pois deixa ver de onde vêm as bases do escritor, em parte. A história, como estava a referir, tem um contexto bastante bem desenvolvido. O mundo de A Roda do Tempo tem uma história própria, muito rica. Toda a sua construção e visualização está perfeita. Há muito conteúdo para além da narrativa central (a jornada do grupo), sendo que o início do livro é precisamente uma parte do passado das personagens e deste mundo; o que levou aos acontecimentos do "presente narrativo". É sempre bom ler um livro cujo universo é imaginado e construído de raiz com uma perfeição total, com grande detalhe e um calibre muito elevado. Por vezes, o problema dos livros fantásticos é mesmo o universo criado não apresentar um contexto suficientemente rico e forte, onde não haja falhas e coisas que ficam por compreender devido à falta de detalhes. Isso não acontece de forma alguma neste livro. Se o primeiro é assim tão bom, os próximos ainda serão melhores, a meu ver!

As personagens são bastante ricas e complexas e vão-se desenvolvendo muito ao longo da narrativa. As relações entre os amigos e companheiros vai-se tornando cada vez mais forte, criando autênticos momentos incríveis de leitura. Gostei bastante da parte de Rand e Mat. Talvez tenha a sido a que mais gostei, para falar assim em personagens e acontecimentos. A relação dos dois e o que lhes aconteceu ao longo desse percurso foi fundamental para futuros desenvolvimentos. Também gostei muito de Moiraine e de Lan. Também a ação é muito boa. Está sempre a acontecer algo importante, algo que não está ali por acaso, mas por um motivo. No entanto, as descrições são um pouco abundantes de mais. Achei mais descritivo do que Tolkien, bem mais. Mas isso é importante ao criar novos universos. 

Fiquei agarrada à história e o final é extremamente curioso, deixando antever novas e espetaculares aventuras no próximo livro. É um livro de Fantasia muito bom, com aventuras maravilhosas e milhares de perigos. As personagens são fantásticas, bem como o universo criado. E no final há um glossário interessantíssimo! Em suma, um excelente início de uma saga que promete muitas aventuras, uma leitura rica e personagens fascinantes. Um mundo a descobrir e a acompanhar! Obrigada a todos os que me sugeriram esta leitura. 

NOTA (0 a 10): 9

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Maléfica


Sempre gostei da fada má da história da Bela Adormecida, mais do que da própria Bela Adormecida. Maléfica tem muito mais estilo do que a Aurora. Assim, foi com grande entusiasmo que fiquei a saber que iam adaptar a história da Maléfica para o cinema, no ano passado. Agora, fui ver o filme.

O filme conta a história da fada mais poderosa dos Moors, que um dia se apaixonou por um rapaz humano, Stefan, e como sofreu às mãos dele, anos mais tarde, devido à sua ambição para chegar rei. Depois de se ver confrontada com o que Stefan lhe fez, Maléfica decide vingar-se e torna-se assim na fada má que é conhecida nas histórias. Toda a história de Aurora se entrelaça na de Maléfica tendo em conta este aspeto: Aurora é filha de Stefan. E, no dia do batismo da bebé, Maléfica decide fazer-lhes uma visita, oferecendo à princesa o dom da graciosidade e da beleza e, também, uma maldição: no dia do seu 16 aniversário, Aurora irá picar o dedo numa roca de fiar, ficando para sempre a dormir, um sono de morte, para todo o sempre. O rei Stefan, desolado e enraivecido, implora-lhe que quebre a maldição, ao que Maléfica responde dizendo que, a maldição poderá terminar se aparecer alguém que dê um beijo a Aurora, um beijo de amor verdadeiro. Deixando o castelo em grande alvoroço, Maléfica parte para o seu reino, esperando e observando o crescimento de Aurora, que acaba por ser enviada para o meio do bosque com as três fadas (durante 16 anos e um dia), enquanto todas as rocas são destruídas. 


Gostei muito do filme. A história é muito boa, o enredo é simples, mas muito interessante, muito mais interessante do que o da história tradicional. Maléfica é a personagem principal e é uma personagem muito rica: complexa, que se vai desenvolvendo ao longo da narrativa de uma forma bastante interessante. Angelina Jolie está fantástica. Provavelmente, se tivesse sido outra atriz a desempenhar o papel, não teria ficado tão bem. Maléfica é o centro do filme, é a sua "alma", o seu maior interesse. Tudo o resto anda à sua volta. O filme dá-nos a conhecer uma vilã diferente, uma vilã com os seus sentimentos e ações justificados plenamente. Ela praticamente deixa de ser vilã, para passar a ser uma espécie de heroína! É fantástico. A história que nos faz gostar de uma das melhores vilãs da Disney (e eu já gostava). É muito interessante poder ver esta "vilã" por esta nova perspetiva. Os vilões são quase sempre as personagens mais complexas das histórias, se houver detalhes suficientes para compreender o porquê de serem vilões. No filme da Disney, o filme animado, isso não está explorado. No entanto, neste está. E está muito bem. Tudo o que acontece a Maléfica explica perfeitamente porque é que ela se tornou a "maior fada má". Sem dúvida. Acho bem isto acontecer, uma vez que explora a complexidade da personagem. Por exemplo, em Thor, também temos isso. O Loki não é mau apenas porque sim. Ele tem motivos e, visto de outra perspetiva, ele até nem é assim tão mau (apesar de ser). Vilões com estilo. E fazem um belo par (já estou a divagar!).

Também gostei das reviravoltas entre as personagens e no próprio enredo. Há muitas diferentes entre a esta história e a dos desenhos animados ou do conto (A Bela Adormecida é um conto de Perrault, de 1697, adaptado também pelos Irmãos Grimm). É muito mais interessante este filme, sem dúvida. Os aspeto visual também é maravilhoso, de cortar a respiração em vários momentos. As cores, os seres mágicos, todo o ambiente envolvente (guarda-roupa, castelo, decorações...)...tudo é deslumbrante e magnífico. Um banquete visual excelente!



O filme é muito bom. Um dos melhores da Disney, na minha opinião. Tem todos os ingredientes necessários para uma boa história e há sempre um clima de suspense ao longo do filme. É muito bom ver o desenvolvimento da relação de Maléfica com Aurora e como isso altera o curso de toda a história. É um estudo sobre a personagem, que está extremamente bem feito. Noutro filmes da Disney tinha achado que a conclusão dos acontecimentos tinha ficado um pouco "forçada" ou até estereotipada, coisa que neste não aconteceu. A conclusão é muito boa e adequa-se perfeitamente a todo o enredo. Não estava à espera de metade dos acontecimentos e fiquei surpreendida pela positiva. A acrescentar a tudo isto, a banda sonora também é fantástica, ajudando o clima da história e ao próprio ambiente visual, criando uma atmosfera poderosa.


Excelente filme! Recomendo a todos.

NOTA (0 a 10): 10

sábado, 7 de junho de 2014

A Ilha de Melquisedech, de Vera de Vilhena

Novo livro, enviado pela Chiado Editora. Espero gostar =) 


Sinopse:

Nesta narrativa fantasiada, com um pé na realidade, o leitor irá conhecer Mnemon, o rapaz que não dorme; Oto, o gigante ciclope; Rigoletto, o Repórter; Organtina, a ninfa do lago; Eloque, o Orador; Ratatosk, o corcunda; Furfuris, o duende doméstico…e muitos outros seres tornados extraordinários, no dia em que Melquisedech os subtraiu ao Outro Mundo, para lá do Mare Ignotum, e os levou para a Ilha de Sono, onde ninguém entra e de onde ninguém sai. Encerrados na sua própria idade pela magia deste druida feiticeiro, usam o talismã que os mantém protegidos, numa frágil cúpula, a salvo de angústias e maldições. Habitam um lugar limpo e sedutor e têm a profissão no nome. Ninguém nasce, ninguém morre. As mulheres usam a lã de ouro dos rebanhos para esfregar tachos e escudelas. Cristalina, a Árvore do Esquecimento, é o freixo que amadurece cristais multicolores, a moeda de troca que as cuique suums entregam em cada casa. Conseguirá Melquisedech manter este mundo perfeito, onde todos parecem viver felizes? (in Chiado Editora)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido

Gosto bastante de certos filmes de "super heróis" da Marvel e aqueles em que os X-Men aparecem são uns deles. Nem sempre acompanhei a serie, tenho apenas visto apenas The Last Stand, isto sobre os "anteriores", ou seja, aqueles anteriores ao filme de 2011, X-Men - First Class. Foi com grande interesse que vi este Dias de Um Futuro Esquecido, uma vez que gostei muito do anterior (muito mesmo). 


Neste filme, encontramos os X-Men, aproximadamente em 2023, depois dos acontecimentos passados no First Class, num futuro em que todos os mutantes são perseguidos e mortos, tal como os humanos que os ajudam e/ou cujas descendências podem vir a ter genes mutantes. Assim, os restantes mutantes encontram-se a combater as Sentinelas (criaturas construídas com informações de ADN mutante e com a capacidade de se utilizar qualquer capacidade mutante consoante o mutante que esteja a enfrentar (por exemplo: contra o Iceman, o Sentinela usaria poderes de fogo): Iceman, Blink, Bishop, Colossus, Sunspot, Warpath, Kitty Pryde, Storm, Logan (Wolverine), Magneto e o Professor Xavier. Quando tudo parece desmoronar-se e significar a perda total, chega-se à conclusão de que a única maneira de salvar a raça e a vida é enviar alguém atrás no tempo e impedir a génese do problema (com a ajuda dos poderes de Kitty Pryde), uma vez que não há forma de vencer as Sentinelas. Assim, Logan é enviado atrás no tempo, para 1973, pois é o mais forte de todos e tem capacidades regenerativas, com a missão de encontrar Charles Xavier e Magneto (Erik) e fazer com que, juntos, consigam dissuadir Mystique da ideia de matar Bolivar Trask (o cientista criador do projeto Sentinela, que admira tanto os mutantes que o seu maior desejo é fazer experiências com eles, matá-los e criar as Sentinelas para os matar, unindo assim os povos "não mutantes" contra a raça mutante) , o criador do projeto Sentinela, uma vez que esse foi o momento em que o projeto Sentinela foi para a frente (a morte de Trask às mãos de Mystique, provando-se assim a maldade dos mutantes para com os "não-mutantes"). Uma vez que o futuro não para, nem o passado, Logan tem uma missão complicada, "contra relógio". 

Muitas são as aventuras que acontecem, tanto no futuro como no passado, e os perigos vão-se tornando cada vez maiores e de vária ordem, o que faz com o enredo se torne mais denso, complexo e um tanto obscuro.

As personagens também mostram algum desenvolvimento, principalmente aquelas que são mais relevantes e aquelas que apareceram no First Class. Charles Xavier está bastante diferente do que era, mais sombrio, calado e um pouco estranho. Magneto continua a parecer aquele "menino do coro", com aquela carinha de bom rapaz, mas que lá no fundo não é nada disso, e é dos que mais surpreende ao longo do filme, apesar de se estar sempre com a pulga atrás da orelha com ele. A relação entre estes dois continua a ser um dos pilares do enredo e um pilar muito interessante, tal como no First Class. Tenho de ressalvar o brilhante desempenho de James McAvoy e Michael Fassbender, cujo "embate" é formidável e bastante rico, tornando o filme ainda mais interessante. Também Logan, ou Wolverine, está bastante bem. É uma personagem muito carismática, cheia de estilo e o ator está fantástico no papel, como tem vindo a ser durante todos os filmes em que aparece. Hugh Jackman é um excelente ator, muito versátil. Mystique tem bastante destaque ao longo do filme, uma vez que dela depende o futuro dos X-Men e de todos os mutantes e Jennifer Lawrence está bem, também. Peter Dinklage está excelente com o Bolivar Trask! Enfim, todos os atores estão bem no seus papéis. Ah! E não me posso esquecer de referir a uma personagem que eu achei extremamente relevante e engraçada: Quicksilver, o super rápido rapaz que ajuda o trio (Logan, Xavier e Hank) a libertar Erik do Pentágono, sendo a cena em que ele salva o trio uma das que mais gostei, sem dúvida.





Em relação ao enredo, este é bastante intrincado e, como disse James McAvoy na conversa com Jimmy Fallon (no Tonight Show), "bastante sofisticado". Gostei da solução encontrada para o problema, a viagem no tempo, pois acho tais acontecimentos apelativos devido à sua complexidade, mas também devido ao lado engraçado que tais coisas suscitam, por exemplo quando o Logan acordou em 1973 ou quando foi ter com Xavier para o fazer mobilizar para deter Mystique e para encontrarem Erik. E também devido à ideia de reescrever o passado, presente e futuro em si. Há sempre um clima de perigo durante todo o filme, que faz com que se esteja sempre atento ao que está a acontecer no ecrã. Mas também há humor e vários momentos engraçados, bem arranjados. O que podia parecer simples a Logan num primeiro momento, quando foi chamar Xavier, logo muda, e ele descobre que a sua missão não é nada fácil, não apenas devido aos problemas práticos mas também aos problemas emocionais das personagens, principalmente de Xavier, que não está nada bem. A sua relação com Mystique e Erik continua a assombrá-lo, aqueles momentos cruciais do filme anterior estão sempre presentes para fazer frente à sua mente. E ele é essencial na demanda. Existem vários momentos com um clima emocional bastante intenso, principalmente entre o trio (Xavier, Erik e Mystique), e também nos momentos do futuro quando as Sentinelas estão a atacar fortemente o Mosteiro e naquele espectacular voou do estádio de futebol e o que se sucede depois.



Enfim, é uma excelente continuação do filme anterior. Ainda não consegui decidir de qual gostei mais...talvez tenha gostado de ambos igualmente, no entanto fico com a sensação que gostei ligeiramente mais do First Class. São histórias diferentes, com algumas personagens diferentes. Este é mais obscuro do que o anterior e eu gostei bastante disso, tal como de tudo o resto no filme.


A banda sonora também está apropriada e gostei bastante da que foi utilizada na cena do Quicksilver (Time in a bottle, de Jim Croce).

Também gostei dos detalhes históricos, a contextualização: a guerra do Vietnam, questões políticas, o presidente Nixon, o Pentágono, a Casa Branca, as roupas das pessoas, as máquinas de filmar e de tirar fotografias, enfim, todos os detalhes estão excelentes e fazem com que a contextualização esteja perfeita, tal como no filme anterior. E não podia deixar de mencionar os efeitos especiais, que estão muito muito bons! Claro que sem eles, o filme não seria o que é.

Em suma, é um excelente filme, que diverte, emociona e faz-nos estar atentos a todos os acontecimentos que se estão a passar na história. O forte, a meu ver, é o enredo, os efeitos especiais e a dinâmica das relações entre as personagens.


Muito bom!

NOTA (0 de 10): 10