domingo, 21 de junho de 2015

A Música do Silêncio, de Patrick Rothfuss

Mais um bom livro que leio deste autor. Fiquei completamente apaixonada pela sua escrita e pela narrativa de Kvothe em O Nome do Vento e depois em O Medo do Homem Sábio e foi com grande gosto que esperei pela leitura deste A Música do Silêncio.

Sinopse:

Sob a Universidade há um lugar escuro. Poucas pessoas sabem da sua existência: uma rede descontínua de túneis antigos, corredores serpenteantes e salas abandonadas. Ali, no meio desse local esquecido, situado no coração dos Subterrâneos, vive uma jovem.

O seu nome é Auri, e é uma jovem cheia de segredos.


A Música do Silêncio é um vislumbre breve e agridoce da sua vida, uma pequena aventura só dela. Ao mesmo tempo alegre e inquietante, esta história oferece-nos a oportunidade de ver o mundo pelos olhos de Auri. E dá-nos a oportunidade de conhecer algumas coisas que só ela sabe...


Neste livro, Patrick Rothfuss leva-nos ao mundo de uma das personagens mais enigmáticas da série A Crónica do Regicida


Repleto de segredos e mistérios, A Música do Silêncio é uma narrativa sobre uma jovem ferida a tentar viver num mundo destruído. (in Goodreads)

Opinião:

Em A Música do Silêncio, encontramos Auri como personagem principal. Aquela rapariga estranha e diferente que habita os telhados e os subterrâneos da Universidade aparece aqui como o grande personagem e somos apresentados à sua forma de ver o que a rodeia, o que é bastante interessante. Auri é diferente; parece não bater certo e ter um comportamento estranho; a sua forma de estar e de interagir é muito particular; e é isso tudo que a torna tão interessante e misteriosa. Eu gostei muito de ler este pequeno livro e de ficar a conhecer algumas das particularidades do dia a dia de Auri e da parte subterrânea da Universidade: a Subcoisa.

Gostei muito da história e da belíssima forma como está composta. Mais uma vez encontrei uma certa magia na escrita do autor, que já tinha encontrado nos outros seus livros, e que me deixa sempre agradada e satisfeita. No entanto, existe um certo desconforto na história, que é propositado: o dia a dia de Auri é praticamente igual; as suas tarefas são iguais ou semelhantes durante o período de tempo mostrado na história. E mesmo que isso seja fundamental para um bem maior, como é referido brevemente e misteriosamente, acaba por quebrar o ritmo da narrativa, em parte. E é o único ponto menos positivo que tenho a referir sobre esta obra. 

Fiquei contente por voltar à Universidade e ao mundo de Kvothe e apesar de ele não aparecer, ele acaba por ser parte integrante da história. Também gostei de ficar a conhecer melhor Auri, que é tão interessante e tem tanto para oferecer, com um passado que promete uma boa história. 

Achei muito interessante o facto do autor ter escrito uma nota introdutória e uma nota final. Estão ambas fantásticas e contextualizam perfeitamente a história. O autor faz uma auto-avaliação muito correta da sua obra e põe todos os "pontos nos ís" em relação ao que escreveu e a possíveis comentários sobre a obra.

Recomendo vivamente, principalmente para quem já leu os outros livros do autor. Talvez não seja grande ideia começar por este se ainda não leram os outros, por causa da contextualização desta história em relação às outras. Portanto, se ainda não leram O Nome do Vento e O Medo do Homem Sábio, façam-no e depois leiam este, que é um mimo e que serve de complemento à história principal. Se gostam da Auri, aqui têm uma boa história. Se não gostam, aqui têm uma boa história sobre a Universidade e os seus mistérios. Esta é mais uma excelente obra do autor!

NOTA (0 a 10): 9

terça-feira, 16 de junho de 2015

O Passo Constante das Horas, de Justin Go

Este é o livro de estreia do autor Justin Go e desde que li a sua sinopse e vi a capa fiquei encantada. Quando pesquisei no Goodreads encontrei-o com uma pontuação um bocado baixa e com reviews não muito positivas, mas decidi arriscar, porque acredito que cada um gosta do que gosta e o que um pode não gostar, outro pode gostar e vice-versa. E ainda bem que arrisquei; até agora foi uma das melhores leituras do ano! 


Sinopse: 

Em 1924, o Ashley Walsingham morre ao tentar escalar o Evereste, deixando a sua fortuna a Imogen com quem teve um romance mas a quem não vê há sete anos. A herança nunca chega a ser reclamada. Em 2004, Tristan recebe uma carta de uma firma britânica que levanta a hipótese de ser ele o herdeiro direto da imensa fortuna de Ashley. Se Tristan conseguir provar que é descendente de Imogen, a herança será sua. Mas tem apenas algumas semanas antes que o prazo legal para o fazer.

Dos arquivos de Londres aos campos de batalha do Somme e aos fiordes da Islândia, passando por Berlim e sul de França, Tristan tenta juntar as peças da história por detrás da fortuna por reclamar: um intenso romance dias antes de Ashley ser enviado para a Frente Ocidental e uma ousada expedição ao cume incógnito da montanha mais alta do mundo. Seguindo um rasto de pistas pela Europa, Tristan é consumido pela história de Ashley e Imogen. Mas ao aproximar-se da verdade, percebe que talvez ande à procura de algo mais do que uma fortuna
. (in Goodreads)

Opinião:

Este livro narra uma das mais belas histórias de amor que eu já tive a oportunidade de conhecer através da leitura. Dei por mim a abrandar o ritmo da leitura, apesar de ser um livro que se lê fluentemente, para poder degustar e prolongar os momentos em que estava a lê-lo. É uma história maravilhosa, bastante real, simples, bela e forte. 

A história é narrada por Tristan, que parte para a Europa em busca de provas e da história de Ashley e Imogen, que acaba por ser a história da sua família. Tristan é um excelente narrador, que consegue ir aos pontos fulcrais, deixar de lado o que não é relevante e imprimir na narrativa um compasso veloz, por vezes vertiginoso. A paixão com que ele se entrega à procura e o caminho a que ela o leva faz com que a história de Ashley e Imogen ainda se torne mais bela e significativa. 

Intercalada com a narrativa de Tristan, encontra-se a narrativa, na terceira pessoa, sobre a história de Ashley e Imogen, desde que se conheceram até ao desaparecimento dele no monte Evereste. Esses momentos não apresentam tanta fluidez, porque há mais pormenores e mais descrições, principalmente a nível do ambiente e das batalhas, que estão descritas de uma forma bastante crua, sem sentimentalismos, real e um tanto chocante sem o ser. Porque não se pode esperar lirismos e eufemismos nestas descrições e nestes contextos. Achei os momentos da guerra muito bem conseguidos, perfeitos, até. E também gostei muito da escalada ao Evereste. O detalhe riquíssimo como a história é contada faz com que seja possível evocar as personagens, os lugares e os percursos.

Também ao longo do texto, vão aparecendo algumas das cartas escritas por Ashley e Imogen, que vão ajudando Tristan na sua demanda e que dão ao leitor a perspectiva das realidades destas duas personagens, que vamos descobrindo cada vez mais profundamente ao longo da história. Gostei muito das cartas, porque ajudaram a criar laços mais emocionais com as personagens, principalmente com Imogen, que aparece menos e que é a personagem mais misteriosa da história.

Encontrei nas personagens uma realidade e uma complexidade perfeitas. Tanto as personagens do presente (Tristan, os advogados, Mireille...), como as do passado (Ashley, Imogen, familiares, amigos...). O romance entre Ashley e Imogen é pouco convencional, principalmente devido à personalidade de Imogen, que é uma feminista e uma rapariga cheia de ideias modernas para a sua época (início do século XX). Mas é um romance muito belo e muito trágico. Também o contexto social deste período histórico está muito bem conseguido, realista e sem floreados. 

Não há nada que me tenha desiludido neste livro. Quando cheguei à parte final pude compreender as opiniões menos positivas de outros leitores e talvez pudesse ter ficado desiludida, mas, de uma história com estes contornos, não se pode esperar um final com outras características. Toda a história percorre um caminho agridoce, onde as personagens procuram, acima de tudo, respostas para as suas próprias perguntas, perguntas essas que por vezes ainda não conhecem na totalidade. Há uma profunda reflexão que é feita por cada personagem ao longo do seu percurso narrativo. Tristan tem as suas perguntas, tem as suas próprias buscar para além daquelas que os advogados lhe pediram; Ashley tem as suas próprias dúvidas e questões; Imogen também. A procura maior é pela personalidade de cada um e pela sua própria história e lugar no mundo. Não é uma história cor de rosa, nem tem nenhuma espécie de aspectos fofos. É sim uma história bastante forte, repleta de personagens complexas e em que há algumas mensagens implícitas. Penso que não há uma forma única de compreender o final. O autor permite que cada leitor faça a sua ideia da história e do que acontece às personagens, o que me agrada. Aqueles detalhes das características físicas de Tristan e Mireille...cá para mim...! Só lendo é que é possível compreender a beleza desta história.

Por tudo isto, recomendo vivamente a leitura desta maravilhosa obra literária, e não tenham receio por causa de opiniões menos positivas ou de pontuações. Cada um tem um gosto diferente e nem todos gostamos do mesmo, por isso, se quiserem ler este livro, vão com uma mente aberta, sem grandes expectativas e deixem-se levar nesta bela viagem, deixem-se cativar e deixem que as personagens dialoguem convosco, porque é uma história onde isso é possível. Excelente! 

Citações:

Tu és a origem e a medida de todas as coisas bem; mesmo na trincheira miserável em que me encontro, sei que a minha felicidade vem de ti. - Ashley sobre Imogen
p. 110

NOTA (0 a 10): 10

sábado, 6 de junho de 2015

A Canção dos Maoris, de Sarah Lark

Depois de um fantástico primeiro livro, que acabou por ser o melhor livro lido no ano anterior, foi com grande expectativa que comecei a ler o segundo volume desta trilogia. Quero também agradecer à editora Marcador, por me ter dado a oportunidade de ler este livro!


Sinopse:
Elaine e Kura movem-se entre as suas raízes britânicas e o apelo ao povo Maori, forjando o próprio destino ultrapassando as circunstâncias da vida numa terra paradisíaca.

Esta é a história de duas primas completamente diferentes, mas com uma coisa em comum: a sua força interior. Aquela força que emerge nos mais fortes face às circunstâncias adversas que a vida coloca no seu caminho.


A relação entre as duas mulheres não é a melhor porque Elaine inveja a beleza e a arte de sedução de Kura. Mas a vida dá muitas voltas e acabam por partilhar uma vida de luta e conquista numa pequena cidade mineira isolada do mundo.
(in Goodreads)

Opinião:

Este é mais um maravilhoso livro de Sarah Lark. É com enorme alegria que posso dizer que mais uma vez encontrei uma boa história, boas personagens, um bom contexto e muita emoção. No entanto, há que referir que gostei ligeiramente mais do primeiro do que deste volume, por causa do caminho que a história levou e porque este tem uma base mais romântica do que o primeiro, onde há mais aventuras, acção, drama e bastantes reviravoltas e segredos. Neste não temos tanta aventura, nem drama, nem reviravoltas. Pode dizer-se que é mais linear e que não oferece tantos momentos inesperados. O final é o esperado. E também não há tanta diversidade de personagens e momentos de grande tensão. 

Senti a falta desses momentos e dei por mim a comparar as duas histórias, mas não é por isso que a história deixa de ser maravilhosa, que é. Penso que podia ter havido um maior desenvolvimento da história, com mais ramificações, mais complexidade, durante um maior período de tempo, uma vez que no primeiro livro temos uma história que percorre cerca de vinte anos da vida das personagens e neste são cerca de cinco, se não estou em erro.

Gostei muito das duas primeiras, se bem que Kura irritou-me bastante e só na reta final consegui encontrar-lhe alguma "amizade". Penso que este era o objetivo da autora ao criar Kura como criou, o que reflete que conseguiu alcançar o seu objetivo: Kura é bastante irritante. Gostei muito mais de Elaine, a filha de Ruben e Fleurette; tem uma história mais rica, mais densa e muito mais interessante, do ponto de vista em que acontecem mais peripécias no seu percurso do que no de Kura, que, como está tão obcecada pela música, acaba por se tornar um bocado "estagnada" no seu percurso. Apreciei bastante a forma como Elaine conseguiu encontrar o seu caminho no meio de tudo o que lhe aconteceu e de Tim. Gostei muito de Timothy Lambert, o jovem engenheiro das minas, que começa a interessar-se por Elaine, e que acabou por ser a minha personagem favorita. 

Foi com alguma nostalgia que revi Helen e Gywneira, porque gostei muito de ambas no livro anterior e gostaria de ter podido encontrá-las mais ao longo deste livro, se bem que não trouxessem muito ao enredo, uma vez que este é mais centrado nas duas primas. 

Mais uma vez fiquei apaixonada pela Nova Zelândia e pela sua História, paisagens e formas de vida. É um país de que não se fala muito, mas deve ser muito belo e majestoso. Foi com alegria que voltei a percorrer os seus caminhos. 

Assim, não fiquei completamente arrebatada, como aconteceu no primeiro, mas fiquei satisfeita e espero que esteja para breve o terceiro cá por Portugal, porque esta é uma das mais belas trilogias literárias, repleta de momentos bastante fortes e marcantes, com personagens complexas e ricas. Recomendo totalmente! 

NOTA (0 a 10): 9,5