quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Ilha dos Amores Infinitos, de Daína Chaviano



Comecei a ler este livro sem grandes expectativas, pois não sabia muito sobre ele. Fiquei bastante agradada com a história que se me deparou pela frente à medida que lia este livro. Ao princípio não fiquei logo agarrada, mas a partir do encontro entre Cecilia e a anciã Amalia, fiquei muito curiosa. A história começou a adensar-se, as personagens a crescer, a multiplicarem-se e a expandirem as suas raízes e o tempo foi passando. Passaram-se muitos anos para as personagens, as famílias foram-se alterando e as relações entre estas começaram a tecer-se com grande mestria. A juntar a isto, começou a aparecer referências a casas-fantasma e a espíritos, dando um ambiente bastante misterioso à trama. 

O livro começa na década de 90 do século XX. Cecilia é uma jovem jornalista cubana que vive em Miami. Vive uma vida pacata, mas demasiado solitária. Certa vez vai a uma casa de espetáculos/bar com os seus dois amigos e acaba por conhecer uma anciã, Amalia. Curiosa, pergunta à senhora o que está ela ali a fazer, ao que Amalia responde que está à espera de alguém. Cecilia mostra-se interessada e começa a perguntar por quem é que ela está à espera; a idosa responde que responder a isso demoraria tempo. Cecilia pede à senhora que lhe conte a história e esta começa a contar. Durante a sua narrativa, Cecilia fica a conhecer três famílias de origens diferentes: chinesa, africana e espanhola. As personagens de cada família vão vivendo as suas vidas, acabando por partir para Cuba, em determina altura, devido a diferentes motivos. À medida que Amalia conta a história, Cecilia vai conhecendo as personagens, descobrindo as suas vidas e os seus passados, bem como a história do seu país. Também vai vivendo a sua vida, nomeadamente, a busca de informação sobre uma casa-fantasma que aparece e desaparece nas ruas de Miami, para escrever um artigo. Assim, Cecilia vai vivendo a sua própria história à medida que conhece os passados das personagens da história de Amalia, personagens de carne e osso, com histórias de luta, sofrimento e amor.
Gostei bastante da narrativa. A autora fez um trabalho notável na criação das relações entre os membros das três famílias, recriando um facto histórico e o que este causou: as migrações para Cuba, no final do século XIX (e antes, desde a sua descoberta), levaram à mistura das culturas e das etnias, criando uma cultura e uma etnia únicas, que não é possível dizer que é apenas uma, mas sim o conjunto de todas as que se juntaram ao longo dos tempos. Isso está muito bem trabalhado neste livro. 

As personagens são muito ricas, com um passado cheio de acontecimentos interessantes e marcantes, o que me agradou muito. Gostei muito da forma como algumas delas foram tomando as suas decisões ao longo da narrativa. São histórias fortes, nem sempre felizes, mas onde o amor está sempre presente e onde este é o moinho que faz mover o vento das suas vidas.

Também gostei do contexto histórico. Ao longo do livro, e uma vez que a história acontece ao longo de várias décadas, é possível acompanhar a “evolução” de Cuba, mais especialmente de Havana. As migrações, a escravatura, o fim desta, a prosperidade, a queda dos governos, as revoluções, as questões políticas, as “intervenções”, o medo dos habitantes, as fugas e a crescente destruição do que poderia ter sido uma espécie de sonho, são aspetos muito bem apresentados ao longo da história e que lhe dão um cariz tremendamente desolador, mas muito rico. De referir que há personagens reais, que existiram de verdade, e que estão muito bem enquadradas na narrativa. 

Depois, a autora também optou por criar um ambiente onde o místico está sempre presente. É uma história em que este tema é apresentado com destaque, mas sem grande alarido. É algo natural para as personagens ao longo da história, estando presente como outro qualquer fator. As crenças de cada cultura também estão bem presentes, definindo as personagens e a trama em si mesma. São aspetos que a autora explorou e interligou de uma forma interessante, acabando por dar um ar de mistério ao enredo, em especial na parte de Cecilia.

No entanto, acabei por sentir por várias vezes que a história merecia mais detalhe. O livro é pequenino, tem cerca de 300 páginas. Podia ser maior, o que permitiria um maior detalhe e trabalho em redor das vidas das personagens. Gostei tanto delas que fiquei a sentir uma espécie de pena por a autora não se ter detido mais em cada personagem. Passa-se por várias gerações das famílias de um modo, a meu ver, um tanto apressado. E as personagens mereciam mais. A história merecia mais conteúdo. O livro poderia ter ficado maior, mas a história teria ficado mais sumarenta. Ela já é rica, mas poderia ter ficado ainda melhor. 

Ao ler o livro lembrei-me de outro livro em que é contada uma história a uma personagem do presente sobre o passado. Estou a referir-me a O Regresso, de Victoria Hislop, que tanto gostei. 

Em suma, foi uma experiência muito boa. Um livro que me agradou bastante e que recomendo vivamente. O título adequa-se perfeitamente, uma vez que faz todo o sentido tendo em conta a narrativa de Amalia e a vida de Cecilia. Também gostei muito do facto do livro vir munido das árvores genealógicas das famílias, o que permite uma maior atenção às relações entre os membros destas e também às datas. É um livro com uma escrita fluída, que se lê num ápice e que nos dá a conhecer um pouco da história de Cuba, numa perspetiva um tanto diferente, recorrendo a fatores não tão usuais. Um romance muito bom!


NOTA (0 a 10): 8

Divulgação Marcador - Os Apanhadores de Conchas e As Cinco Coisas Que Não Podemos Mudar

A Editora Marcador tem mais dois livros prontos a sair no dia 6 de agosto. São eles Os Apanhadores de Conchas, de Rosamund Pilcher e As Cinco Coisas Que Não Podemos Mudar, de Dr. David Richo. 

Fica uma pequena sinopse de cada um:

Os Apanhadores de Conchas

 
Um livro de laços e ligações: de uma família, das suas paixões, das mágoas e desgostos por ela vividos durante três gerações.
Um enredo de pessoas reais - mães e filhas, maridos e amantes -, inspirado em valores e ideias tangíveis que tocam verdadeiramente todos os leitores.
O fio condutor do romance é uma famosa pintura a óleo intitulada «Os Apanhadores de Conchas», criação do pai de Penelope, e que atinge um valor fabuloso no mercado. O destino deste quadro, que para Penelope simboliza a ligação da família e o elo entre várias gerações, pode tornar-se, afinal, o motivo fundamental para a sua definitiva separação.

Preço: 17,50 euros
Páginas: 432


As Cinco Coisas Que Não Podemos Mudar 



Existem algumas coisas sobre as quais não temos qualquer controlo. As nossas vidas são feitas de reviravoltas inesperadas, finais indesejados e desafios complicados. 
Neste livro, o Dr. David Richo afirma que, na realidade, o nosso medo e a nossa luta contra o inevitável são a verdadeira fonte dos nossos problemas. Assim que aprendemos a aceitar e a compreender estes factos, apercebemo-nos de que eles são exatamente aquilo de que precisamos para ganhar coragem, compaixão e sabedoria e assim encontrar a verdadeira felicidade.    

Preço: 15,50 euros 
Páginas: 256

domingo, 27 de julho de 2014

Divulgação - Encontro em Itália, de Liliana Lavado (Editora Marcador)

Mais uma novidade Marcador!

Sinopse:

Encontro em Itália revela a história de dois amigos de Infância. Henrique e Sara que pouco têm em comum, para além de uma paixão por livros e uma amizade que ambos já deram como perdida.
Após vários anos afastados, ele é agora um estudante finalista de Literatura Inglesa que olha com receio os dias fora das paredes seguras da Universidade e ela uma aspirante a escritora que se esvanece no tumulto de um grupo de amigos problemáticos.
Durante uma viagem a Itália, que tem tudo para ser perfeita, vão encontrar um livro misterioso, um gato com um estranho sentido de humor e uma inesperada aventura que os volta a juntar no mesmo caminho. Henrique e Sara podem ter encontrado um no outro o pretexto que tanto procuravam para adiar decisões e contornar o futuro.
(conforme o texto presente no site da editora)

Notas Editoriais: 
Autor: Liliana Lavado
Editora: Marcador
Nº de páginas: 488
Preço: 17,50 euros

Para mais informações, visitem o site da editora.

Divulgação - O Espião Que Devia Ter Morrido, de Agente Kasper e Luigi Carletti (Editora Marcador)


Está à venda há algumas semanas!


Sinopse:


«O Inferno existe e eu estive lá.». É com estas palavras que o Agente Kasper ‒ um ex-carabiniere que se tornou agente dos serviços secretos italianos e, depois, do ROS (Raggruppamento Operativo Speciale), o único órgão policial em Itália com competência para investigar o crime organizado e o terrorismo ‒ começa a contar a sua história a Luigi Carletti.
O que o Agente Kasper descobriu com a sua investigação meticulosa era demasiado importante e demasiado grave: milhões e milhões de dólares em notas de 100, impressas fora do território americano. As supernotes.
O Espião Que Devia Ter Morrido é narrado com o ritmo e a força de uma fulgurante história de espionagem que tece e revela páginas inéditas da história recente.
(conforme sinopse presente no site da editora)

Notas Editoriais: 

Autores: Agente Kasper e Luigi Carletti
Editora: Marcador
Nº de páginas: 390
Preço: 18,50 euros

Para mais informações, podem consultar o site da Marcador.

sábado, 26 de julho de 2014

No País da Nuvem Branca, de Sarah Lark

Este livro foi uma excelente surpresa. Desde que a Editora Marcador o deu a conhecer, fiquei encantada com a sua sinopse e com a capa, que a meu ver é bastante bonita. Assim, depois de ter estado na estante durante uns tempinhos, decidi lê-lo. Obrigada Marcador! E posso dizer que fiquei muito, muito satisfeita. No País da Nuvem Branca é um romance muito interessante. É uma saga familiar, que abarca um período de cerca de vinte anos da vida das personagens. 


Tudo começa quando Helen Davenport, professora particular na casa dos Greenwood, lê um anúncio no jornal da igreja em que se propõe a ida de jovens casadoiras para a Nova Zelândia, a fim de formar família e, assim, ajudar a colonizar as ilhas. Helen decide arriscar e quando um homem lhe envia uma carta muito bem escrita, através da responsável pela “expedição das noivas”, Helen decide partir para conhecer o seu futuro esposo. Noutra perspetiva, Gwyneira Silkham, uma jovem nobre, filha de um cavalheiro fazendeiro exportador e criador de ovelhas e cães-pastores, vê-se a braços com a ida “forçada” para a Nova Zelândia, depois do comprador de ovelhas de visita à mansão da família ter jogado blackjack com o seu pai e de este ter apostado a mão da sua filha em casamento com o filho do comprador, Gerard Warden, pai de Lucas Warden. Assim, Gwyn, jovem e aventureira, parte com esperança de conhecer o seu amor, na espera de este ser também um homem dado à aventura. Mas as duas mulheres cedo descobrem que o que elas acreditavam ser uma maravilhosa oportunidade acaba por se tornar numa rede de acontecimentos que para sempre vão mudar as suas vidas e as daqueles que as rodeiam. Tanto Helen como Gwyn ficam amigas a bordo do barco que as leva para a sua nova terra (o Dublin), mas a sua amizade não pode acontecer porque os homens a que pertencem são inimigos de longa data. Howard O’Keefe, noivo de Helen, e Gerard Warden, futuro sogro de Gywn têm uma contenda muito grande que mais cedo ou mais tarde tem tudo para explodir e por as duas famílias em perigo. 

Esta história é um tanto diferente das que tenho lido e isso agradou-me bastante. Não tenho muitos livros que tenham como base uma saga familiar, pelo menos no plano real (não da fantasia). É uma história que, não sendo verídica, podia muito bem ter acontecido, e é ancorada num contexto histórico bastante interessante e rico: a colonização da Nova Zelândia e as relações entre colonos e maoris (o povo indígena do país). Todo o contexto histórico está bem descrito e bem fundamentado. Não conhecia muito sobre este país e foi uma excelente forma de me iniciar nos conhecimentos sobre a História da Nova Zelândia, mesmo não sendo um romance histórico com personagens verídicas. Fiquei muito interessada e curiosa com os costumes dos maoris e com forma como os colonos se estabeleceram e como o país foi evoluindo. Uma vez que a história abarca um período de vinte anos, a evolução está bastante presente e é visível: desde a caça à baleia e às focas, até à produção de gado ovino, passando para bovino, e depois, a febre do ouro. A construção das cidades, como começaram por ser terrinhas com algumas habitações de madeira até se tornarem cidades importantes; tudo está muito bem retratado. 

As personagens também são excelentes e a sua evolução é enorme. Não são personagens simples e planas, mas sim complexas e bastante reais. São personagens com motivos reais e nada nelas é forçado. Não há personagens estereotipadas ou com comportamentos fúteis. Tudo o que as move tem um motivo e esse motivo é sempre plausível, compreensível e complexo. Este aspeto é um dos que mais me agradou: personagens humanas, nada fúteis e com motivos interessantes e que se tornam mais complexos, com o passar do tempo e com o que lhes vai acontecendo ao longo da trama. Gostei muito de Helen e de Gwyn. Ambas são bastante distintas e muito bem caracterizadas. A respeito dos homens, também gostei de todos, principalmente na medida da complexidade das suas vidas e personalidades. Não há propriamente vilões ou personagens “boazinhas”; há sim personagens fortes, com passados fortes e com histórias que se vão construindo ao longo do tempo, entrelaçando e ramificando, tornando-se cada vez mais complexas e interessantes. Nenhuma personagem está lá só para estar: todas fazem falta e todas têm um papel a desempenhar. 

Todo o cenário é maravilhoso. Muito bem descrito, sem exagero. A ação é total. É um romance cheio de ação, aventura, tragédia, amor, amizade e luta. Não é uma história “cor-de-rosa”, nem por sombras! É uma história com bastante “sumo”. Tem um conteúdo muito forte, que me agradou bastante. Não tem nada de “lamechas”, coisa que não gosto de encontra nas histórias. Quando me proponho ler um livro, principalmente um romance, espero encontrar uma história forte, que me agarre, que me faça alegrar, sofrer e viver com as personagens, que me faça querer saber mais, querer ler até saber o final. E este livro proporcionou, sem dúvida, tudo isto. 

As reviravoltas são muitas, nada fica parado. É um dos melhores livros que li este ano e vai ficar no meu coração e no meu pensamento durante muito, muito tempo. Gostava muito de ver esta história passada para o grande ecrã, pois teria tudo para ser um grande filme. É uma história arrebatadora, com momentos de grande ternura, com outros de grande tensão e com alguns de descontração. Recomendo sem reservas! Leiam, porque é maravilhoso. Uma saga familiar espetacular. Excelente aposta da Marcador. Espero que editem os restantes, pois este é o primeiro.

Algumas citações:

 Será possível que já nos tenhamos encontrado nos nossos sonhos? p. 58 

- Amo-te, até amanhã! - disse-lhe o rapaz em voz baixa.
- Só até amanhã? - respondeu-lhe ela, a sorrir.
- Não, até ao céu. E um par de estrelas mais longe ainda!
p. 486

- Cuida dele! - sussurrou à égua. - E traz-mo de volta!
Ruben montou com esforço, mas conseguiu inclinar-se para dar um beijo a Fleurette.
- Amas-me quanto? - perguntou em voz baixa.
- Amo-te daqui até ao céu e um par de estrelas mais longe.
p.499


NOTA (0 a 10): 10