quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"Os Filhos de Krondor - O Corsário do Rei", de Raymond E. Feist

Sinopse:

Tudo o que um fã de fantasia poderia esperar. Este é um livro a ler mesmo para quem não leu a saga anterior.

Há muito recomposto da guerra da brecha, a terra e o povo do reino das ilhas floresce. Nicholas, o filho mais novo do Príncipe Arutha, é um jovem inteligente e dotado, mas foi sempre protegido pela vida na corte, em Krondor. Para que aprenda mais sobre o mundo para lá das paredes do palácio, Arutha decide enviar Nicholas e o seu irreverente escudeiro, Harry, até à rústica Crydee, onde Arutha cresceu. É tempo de mostrar uma vida sem privilégios.

Mas poucas semanas após a chegada deles, Crydee é brutalmente atacada. O castelo fica reduzido a ruínas, os cidadãos são chacinados e duas jovens nobres – amigas de Nicholas – são raptadas.

Ao aventurar-se para longe das paisagens familiares da sua pátria em perseguição dos invasores, Nicholas compreende que está em jogo algo mais do que o destino das suas amigas, e mais até do que o destino do Reino das Ilhas, pois por detrás dos piratas assassinos esconde-se uma força bem mais poderosa que põe em perigo todo o mundo de Midkemia. E apenas ele poderá vencer essa terrível ameaça… ou perder o reino por inteiro.
(IN GOODREADS)

Opinião:
Depois de ler "Príncipe Herdeiro", tinha de ler "O Corsário do Rei".
Tendo em conta os quatro outros livros de O Mago, e como já referi na review de "Príncipe Herdeiro", não fiquei muito arrebatada pelo Príncipe e por isso estava com um pouco de receio de também não o ser pelo Corsário, uma vez que gostei bastante dos livros de O Mago e gosto de reviver boas histórias, onde me sinta arrebatada pelas personagens e pelo enredo, algo essencial para o gosto pelo livro em questão.

Pois bem, posso afirmar que, sem dúvida! ... Este é melhor do que o anterior. Gostei muito mais deste do que do Príncipe. Em "O Corsário do Rei" é possível assistir ao amadurecimento da personagem principal, o filho mais novo de Arutha, Príncipe de Krondor (e uma das minhas personagens favoritas das sagas de Feist): Nicholas, de seu nome, é enviado pelo pai para Crydee, para se juntar ao seu tio Martin (que aparece em O Mago) para ser seu Escudeiro, de modo a crescer em bravura. Nicholas tem um problema e isso faz com que ele tenha alguns cuidados e que outros os tenham com ele, o que Arutha teme que o prejudique na vida adulta. Nicholas nasceu com uma deficiência no pé esquerdo (não se formou totalmente) e vive constrangido em sociedade, sendo vítima das atrozes bisbilhotices e "bocas" de outros jovens e da compaixão e pena dos adultos (nunca em público, mas pela calada). Arutha dá assim uma oportunidade ao filho para melhorar a sua auto-estima e também o seu desenvolvimento enquanto homem, junto de outros homens e num ambiente mais campestre e rústico, também para conhecer outras realidades que não só a de Krondor (mais rica e citadina). O que Arutha não imaginava é que ia enviar o seu filho para o centro de uma nova estratégia dos Pantathianos, o povo da serpente e adorador de Alma-Lodaka, uma das Valheru, e que já antes tinham aparecido em "Trevas em Sethanon". Sendo assim, Nicholas vê-se numa jornada pelo Mar Azul, rumo a um destino que desconhece mas que tem de enfrentar para seu bem e de todo o Reino de Midkemia, uma vez que as forças obscuras que assolaram Midkemia há uns anos atrás estão de volta e só um dos herdeiros da Luz do Ocidente pode por fim aos seus planos.

O que me fez gostar mesmo mais deste livro é o facto de estar repleto de aventuras, de amadurecimento das personagens, de introspecção das mesmas sobre as suas ideias, atitudes e ambições e do reviver de acontecimentos, locais e personagens da saga de O Mago. Tendo em conta o meu apreço pelo terceiro e quarto livro de O Mago, era de estranhar se não ficasse rendida a este volume, que volta a retomar a trama desses dois volumes. Para mim este livro tem o que falta ao Príncipe. Além da intriga que existe em ambos, este tem os ingredientes que já mencionei nas linhas anteriores, bem como mais ação e magia. Pug regressa e com ele muitos atos interessantes para com Nicholas e para com outros. Há conversas muito interessantes entre Pug e várias personagens, como Nicholas e Nakor. Nakor é deveras uma personagem muito interessante! Gostaria mesmo de saber mais sobre ele e de saber se certas afirmações que ele fez a uma certa personagem são verdadeiras! Voltamos a ver a Ilha do Feiticeiro, local que eu acho fantástico. Ficamos a saber o destino de várias personagens que encontrámos em O Mago e ficamos a conhecer novas personagens bem interessantes!, como é o caso de Anthony, jovem mago ao serviço de Martin, e Calis, filho de Tomas e Aglaranna, a rainha de Elvandar.

Feist consegue retomar os enredos terminados em Sethanon de um modo muito interessante, pois não é cansativo nem rebuscado, mas sim curioso e que nos faz querer saber mais sobre o mundo de Midkemia (e os mundos que existem neste Universo, pois são imensos e ricos em história).
Um dos aspetos que mais relevo me apresenta ao ler livros de Fantasia é o facto da história por detrás dos acontecimentos principais ser ou não rica. Feist mostra-nos que a sua História é rica em factos: temos os Valheru, as Guerras do Caos, os Panthatianos, o Reino, Novindus, os Eldar e todas as outras raças. Temos um Universo com background e não algo oco. Tokien também nos dá esse background e de que maneira! E Martin, em As Crónicas de Gelo e Fogo e, claro, Robin Hobb. Isto em termos de Universos que não existem.

É por isso que gostei tanto deste livro: é uma História, bem narrada e bem pormenorizada, onde é possível encontrar factos sobre este Universo e é isso que faltou no livro anterior e que talvez não tenha conseguido logo perceber o que lhe faltava de mais necessário. Pug, Tomas (não entra neste, mas está bem presente) e Arutha sempre foi o que mais me fascinou e toda a história de Feist, bem como os locais e lendas e histórias. E aqui, pude reviver esses momentos. Muito bom.

Recomendo a todos os fãs de Feist. Diz na contracapa que é possível ler o livro sem ter lido os anteriores, mas não o façam...vão perder grande parte da magia da leitura se o fizerem, pois saber algo pela metade não é saber o todo e mais vale lerem a saga do Mago. É mesmo boa e assim ficam com um background muito mais forte para lerem este. Força! Vão para Midkemia e divirtam-se =) !!! 


Podem encontrar as seguintes opiniões sobre estes livros em:

NOTA (0 a 10): 9

terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Em Nome da Memória", de Ann Brashares

Testemunhei a beleza em inúmeras coisas. Apaixonei-me, e ela é quem subsiste. Matei-a uma vez e morri por ela muitas outras e ainda assim nada tenho que o demonstre. Procuro-a sempre; recordo-me sempre dela. A minha esperança é que, um dia, ela se recorde de mim... pág. 10

Nota: não há a sinopse pois faço, na presente opinião, a minha própria sinopse. As ilustrações são sobre episódios da história, nomeadamente em 1918.

Aqui está um livro pelo qual eu não estava à espera. Não estava à espera de o ler, nem estava com grandes expectativas, uma vez que o descobri através de uma lista aqui do Goodreads, sobre romances sobre viagens no tempo. O livro não é sobre viagens no tempo, mas ainda bem que está na lista, pois se não estivesse eu não o tinha encontrado e provavelmente não o teria lido.

Este é um romance que pode ser lido de duas formas: através da imaginação e fantasia ou através da ideia de que a alma é a mesma, voltando a reencarnar ao longo dos tempos, em corpos diferentes, e em locais diferentes. Se uma pessoa que acredite na reencarnação ler este livro, vai ter uma leitura diferente do que uma que não acredite. Não tenho uma ideia muito definida sobre este assunto; não consigo dizer se acho que assim acontece ou não. Mas compreendo e por isso não levei o livro para o reino da fantasia. Este livro não é um romance fantástico, nem com personagens com poderes sobrenaturais. 

No verso da capa está uma referência a alguns casais intemporais, como é o caso de Cathy e Heathcliff (O Monte dos Vendavais); também refere o Edward e a Bella, de Crepúsculo e menciona que fãs desta saga poderão gostar deste livro. Não querendo ofender os fãs da saga (eu li e vi quase todos os filmes), parece-me que é um insulto a este livro ser comparado à saga do Crepúsculo. Não tem nada a ver e tal nota poderia ter feito com que eu não apostasse na sua leitura. Ainda bem que ignorei tal nota, pois teria perdido uma bela e grandiosa história de amor.

Porque é o que nos conta a história deste livro: uma bela e grandiosa história de amor entre duas almas que se vão encontrando ao longo dos tempos, mas de uma forma descoordenada. Daniel nasceu com uma espécie de dom: ele tem a Memória, conseguindo lembrar-se de todas as suas vidas. Na sua primeira vida, quando chegou ao momento de morrer, ele morreu e voltou, algum tempo depois, sempre a recordar a vida anterior e todo o processo da passagem da morte à vida. E neste ciclo, Daniel sempre se foi recordando e recordando. Tem também a capacidade de conhecer as almas das pessoas: quem foram em vidas anteriores. Daniel nasceu (a sua primeira vida) em Antioquia, em 520 (aproximadamente) d.C. Nessa vida foi soldado, juntamente com o seu irmão mais velho, Joaquim. E foi nessa vida que, no ímpeto da juventude e fanatismo pela guerra, pegou fogo a uma aldeia, juntamente com o seu irmão e mais alguns camaradas. Enquanto fazia tal tarefa, deu-se conta que aquela aldeia não era inimiga e foi aí que, de uma das casas por ele incendiadas, saiu uma rapariga, que ele tentou salvar, mas que não conseguiu, acabando ela por voltar para a casa, para junto do choro de um bebé. Daniel nunca mais ficou descansado e relembrou-se sempre de tal acontecimento. Em todas as suas novas vidas, a primeira memória que tinha era a da rapariga a sair da casa e a voltar. Decidiu então procurá-la para lhe pedir perdão e assim expiar a sua culpa. Em todas as vidas, a sua missão era encontrá-la, e tal aconteceu muitas vezes, mas nem sempre o conseguiu fazer.

Certa vida, em Pérgamo (773) (zona na atual Turquia), Daniel (que sempre pedia para ser chamado assim pelos pais) reconheceu no seu irmão mais velho o seu irmão Joaquim. E foi nessa vida que ele teve mais um momento decisivo para o seu futuro e para o da rapariga. A rapariga, agora Sophia, era esposa do seu irmão mais velho nessa vida. Era maltratada e agredida. O irmão mais velho levou a família à ruína. Daniel, não podendo vê-lo a maltratar Sophia e, certa vez, agrediu o seu irmão. Para conter a raiva dele, Daniel fugiu com Sophia para o deserto e deixou-a numa aldeia numa escarpa, na Capadócia, junto de uma mulher que ele conhecia, e que tinha sido sua mãe noutra vida anterior. Durante a viagem, Daniel reconheceu o seu amor por Sophia e ela começou a apaixonar-se por ele, não havendo nada entre ambos, para não traírem o outro. No entanto, Daniel prometeu a Sophia que um dia a iria buscar e ficar com ela. Tal aconteceu, mas foi noutra vida de Daniel, que fora morto pelo irmão, depois de ter deixado Sophia e regressada para a família. Daniel voltou a ir ter com Sophia, mas era uma criança e ela não o reconheceu nem ele disse nada para não a perturbar. Quando ela mais velho, voltou, mas ela tinha morrido. Ele voltou a jurar encontrá-la noutra vida e assim foi vivendo ao longo dos tempos.



Lucy, já na atualidade, é uma jovem americana que frequenta o liceu e está apaixonada secretamente por um rapaz, Daniel. Ela não sabe quem é ele de verdade, mas ele sabe que ela é Sophia, tendo medo de a espantar com a sua história.

O que eles vão viver é uma verdadeira história de amor, sacrifício, alegria, angústia e perseverança, em que tudo fazem para se voltarem a juntar. O que para além de tudo ainda existe é Joaquim, que também tem os seus poderes (e a Memória), podendo apoderar-se de corpos, matando pessoas e reencarnado nos corpos. Daniel tem também como seu aliado Ben, um rapaz que conheceu em navio, em 899, e que tem uma Memória muito maior do que a de Daniel, sendo ele muito mais velho e antigo do que Daniel. Daniel acha-o deveras estranho e até mágico e eu também, chegando a compará-lo ao Bobo, dos livros de Robin Hobb, por causa das suas respostas e enigmas. 



- Um dia serás livre. Nessa altura encontrar-te-ei e seremos tão felizes quanto agora. (Daniel)

- Como poderá tal ser verdade?
(Constance/Sophia)

- Poderá demorar muito tempo, mais do que possas imaginar, mas um dia seremos felizes. (Daniel)

- Prometes? (Constance/Sophia)

- Prometo. (Daniel)
pág. 101



Com um desenlace vertiginoso, que culmina num final inesperado, este foi um dos romances mais belos que eu li até hoje. Todas as personagens são fantásticas, em especial Daniel, Lucy e Ben. Também gostei de Joaquim, não pela sua personagem, que tanto terror causou, mas como catalisador dos acontecimentos finais. Foi necessário à história em todo o seu percurso, a meu ver. Não estava à espera do final que a história teve, não é um final esclarecedor de tudo, muito fica em aberto. No entanto, parte da magia da história está também aí, na incógnita do final, que deixa o leitor a pensar no que de facto aconteceu às personagens, principalmente a Daniel.

Este é um livro com uma história bonita, por vezes cruel, mas também fantástica e delicada e misteriosa, onde o passado anda de mãos dadas com o presente e com o futuro. Não temos viajantes do tempo, mas temos o Tempo e a Vida e o Amor, factores tão presentes e imprescindíveis à existência da Humanidade e de todo o Universo. Não é um romance cor de rosa, nem "amoroso". Não esperem por isso com este livro. Este é um livro que não é leve, nem fútil. Este livro faz-nos pensar. Faz-nos pensar na realidade e na hipótese; faz-nos pensar na Vida e no que há para além do que vemos no momento, tanto para trás como para a frente, como também para os lados. Faz-nos ter uma perspectiva mais alargada da nossa existência, levando-nos a pensar "o que teria eu sido? o que teria acontecido?". É um livro pequeno, lê-se muito bem, não é confuso. A autora fez um trabalho muito bom ao tornar claro, através dos pensamentos das personagens e das suas ações, as relações entre vida/morte, entre o amor e a existência através do Tempo, as almas e as suas marcas nos corpos: a história do individuo enquanto alma "eterna".

Mas com isto não pensei que há no livro alguma espécie de moral ou de idealismo. Como já referi, é um romance visto desta perspectiva. E é de facto um excelente romance.

Um dos melhores romances que já li. Soberbo e encantador. Recomendo sem reservas. =)



- Quero ir para onde tu vais. Não tenho medo de morrer. Quero que permaneçamos juntos e regressemos juntos. Tu próprio disseste que as almas aderem umas às outras. Quero ficar contigo.

- Voltarás a apaixonar-te. E talvez tenhas filhos e envelheças e morras quando chegar a tua altura. E talvez olhes para trás e te recordes de mim uma vez ou outra. E, quando regressares, estarei à tua espera. Encontrar-te-ei.
pág. 187

- Alguma vez pensaste que não estávamos destinados a ficar juntos?

O rosto dela espelhava seriedade, mas ele não conseguiu conter um sorriso.

- Não. O nosso destino é ficarmos juntos. estamos é destinados a querê-lo com todas as nossas forças.
pág. 317/8 

Sob a água, debaixo da luz mosqueada do Sol, ela virou o rosto para trás para olhar para ele. Não era um sorriso, mas algo semelhante a uma sorriso. Não era uma expressão de medo. Era uma expressão de fé, mais do que qualquer outra coisa. Tinha fé nele e nas coisas que ele lhe prometera. Confiava nele.
Aquilo era ser amado.
pág.324

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 13 de agosto de 2013

"Da Terra à Lua", de Júlio Verne

Um observador dotado de uma visão infinitivamente penetrante, e colocado nesse centro desconhecido em torno do qual gravita o Mundo, teria visto miríades de átomos vagueando pelo espaço na época caótica do Universo. Mas, progressivamente, com o avançar dos séculos, produziu-se uma mudança; manifestou-se a lei da atracção, à qual obedeceram os átomos até então errantes; estes átomos combinaram-se quimicamente ... pág.43


Sinopse:

Com o fim da guerra da Secessão, os Estados Unidos vivem um período de paz. Porém, um grupo de especialistas em balística não vê com bons olhos ficar de braços cruzados. Assim, decidem enfrentar um novo desafio: construir um gigantesco canhão que irá disparar um projétil cujo objetivo é chegar à Lua. A notícia espalha-se depressa por todo o mundo e eis que surge um voluntário disposto a embarcar em tão perigosa viagem. E assim, em vez de uma bala de canhão, será uma cápsula tripulada que irá partir à descoberta do solo lunar e, quem sabe, estabelecer contacto com os habitantes da Lua… Escrita em 1865, cento anos antes da chegada do homem à Lua, esta é talvez a mais visionária das obras de Júlio Verne. (in WOOK)

Opinião:
Nova leitura de Júlio Verne! É sempre com uma boa surpresa ler os livros de Júlio Verne, que apesar de ainda só ter lido "A Volta ao Mundo em 80 Dias" e agora este, é um escritor que muito me agrada, pois a sua escrita é muito interessante, uma vez que que tem uma forma bastante sucinta de explicar os factos, de descrever situações, sentimentos, locais ou objetos e personagens, acompanhando-se sempre de uma certa ironia e sarcasmo.

Em "Da Terra à Lua", acompanhamos a construção de uma bala para alcançar a Lua. O cenário para esta história é a América do Norte, onde a balística teve o seu grande desenvolvimento. Acompanhamos as jornadas do Gun Club, um clube de canhões e armas de fogo, que findas as guerras (depois de vários anos, e agora no período de 1860), encontra um lapso de atividade. O que fazer sem guerras? Não há utilidade para as armas, para as invenções por eles feitas! Que desperdício! Então, o presidente do clube, Barbicane, tem a peregrina ideia de construir uma bala para disparar para a Lua, de modo a estabelecer contacto com os possíveis habitantes selenitas (da Lua) e para dar relevo à América, enquanto nação que primeiro foi à Lua. O alvoroço é total; todo o Mundo fica maravilhado. O que ninguém poderia imaginar é que houvesse alguém suficientemente audaz para se enfiar dentro da bala e ir à Lua. Ora, tal ato cabe a um francês, Michel Ardan. 

Assim, o livro conta a jornada deste grupo de homens e de toda a excitação mundial e americana aquando dos acontecimentos precedentes, no momento e posteriores à empresa.

A obra é muito visionária. Escrita em 1865, dá-nos a perspectiva de Júlio Verne quanto as viagens estelares. Visionou a ida à Lua, e ainda mais, pelos americanos! Sendo ele francês, não se limitou a fazer com que estas ideias acontecessem na França, o que seria mais comum. Não. Sendo um francês, Michel Ardan, a ter a ideia de ir na bala (cápsula), foi dos americanos a ideia de construir todo o mecanismo e a ideia base. Ora, acabou por acontecer que foram os americanos a construírem a Apollo 17. E agora, entrando no campo da idealização/ironia, teria sido por terem conhecimento do livro, tendo sido induzidos a seguir as ideias nele descritas? Ou, e agora é mais para um livro comentário da minha parte, teria Júlio Verne estado a bordo da TARDIS? 

Que grande visionário foi ele! Acredito que muito do que vemos hoje em dia de ficção científica seja inspirado em aspetos das obras deste excelente autor. Os mecanismos usados para a construção dos mecanismos, e das decorações presentes, especialmente do edifício do Gun Club, são extremamente bem feitas, com toques de steampunk e grandes arrebatamentos mecânicos e de engenharia. Excelente!

Também ao longo da obra é nos permitido saber mais sobre a Lua, sobre os descobrimentos a ela inerentes e sobre outras invenções e descobrimentos científicos e tecnológicos, tais como o telescópio e a luneta, bem como mitos relacionados com estes assuntos, em especial sobre a Lua e o que nela existe, bem como sobre a sua influência para com a Terra e os seus habitantes. É uma obra bastante didática!

Mais um livro para recordar, cujo final é bastante sonhador e inesperado. Dá um lado poético e romântico a este livro pelo qual não estava à espera e que me deixou a pensar. Como tenho vindo a relatar, vale bem os momentos de leitura, e lê-se muito bem, pois mesmo as descrições das atividades industriais dos mecanismos e engenhos são muito, muito interessantes e simples.

Recomendo! 

NOTA (0 a 10): 8

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

"Ivanhoe", de Sir Walter Scott

Sinopse:
 
Hailed by Victor Hugo as "the real epic of our age," Ivanhoe was an immensely popular bestseller when first published in 1819. The book inspired literary imitations as well as paintings, dramatizations, and even operas.
In the twelfth century, Sir Wilfred of Ivanhoe returns home to England from the Third Crusade to claim his inheritance and the love of the lady Rowena. The heroic adventures of this noble Saxon knight involve him in the struggle between Richard the Lion-Hearted and his malignant brother John: a conflict that brings Ivanhoe into alliance with the mysterious outlaw Robin Hood and his legendary fight for the forces of good.
"Scott's characters, like Shakespeare's and Jane Austen's, have the seed of life in them," observed Virginia Woolf. "The emotions in which Scott excels are not those of human beings pitted against other human beings, but of man pitted against Nature, of man in relation to fate. His romance is the romance of hunted men hiding in woods at night; of brigs standing out to sea; of waves breaking in the moonlight; of solitary sands and distant horsemen; of violence and suspense." For Henry James, "Scott was a born storyteller. . . . Since Shakespeare, no writer has created so immense a gallery of portraits." "From the Hardcover edition.
(in Goodreads)


Opinião:


Um livro que sempre me pareceu ser do meu agrado e que há muito que queria ler. Foi por estes dias que tal aconteceu, pois sendo eu uma grande admiradora da Idade Média e do Romance Histórico, achei que já era muito o tempo passado sem ler esta obra clássica.

Este é um romance de Cavalaria, onde todas as nobres atitudes cavalheirescas são exaltadas. Toda a história acontece em redor de feitos de Cavalaria medieval, onde os cavaleiros eram aqueles que defendiam os mais fracos, que praticavam boas ações, que participavam nas justas e nas lutas pela fama, pelo valor, pelo amor de alguma dama, pelo seu nome ou para ganhar nome. Cavaleiro era aquele seguia as normas da Cavalaria, que era criado para o ser, seguindo o código com aprumo e fielmente. Como estes são tempos que já lá vão e que gostava muito de ter conhecido, foi com muito gosto que saltei para dentro das páginas deste livro, o qual segui com o maior entusiasmo, tendo até grandes expectativas sobre a sua história.

"Ivanhoe" foi publicado em 1820, ou seja é um livro bastante antigo, com um vocabulário não tão utilizado hoje em dia. Isto em nada retirou prazer à leitura, conferindo-lhe por sinal uma maior beleza e graça, uma vez que era muito mais comum a linguagem nela contida (na obra), nos diálogos entre as personagens, do que a de hoje em dia. E mesmo que tal não seja completamente verdade, pois em 1820 já se comunicava de outros modos (a Língua já tinha sofrido mudanças) que entre 1157 e 1199 (reinado de Ricardo I, e período histórico em que se passa a Ação, mais precisamente no ano de 1194) não o eram iguais, mesmo assim a Linguagem presente está mais perto da falada no tempo da narrativa do que a dos nossos dias o está. Este foi um ponto que muito me agradou.

Não teve um começo fácil. Não é a primeira vez que leio romances começados com prefácios e cartas de introdução, mas não estava à espera e tal foi um pouco maçador, pois queria começar a ler a história, mas não passando essa parte que familiariza o leitor com o que vai ler. Passando essas partes, a leitura da narrativa em si começou e foi extremamente agradável. E isto devido a vários factores!

Dois deles já mencionei nos períodos anteriores e os outros prendem-se sobretudo com aspetos da história em si. Primeiro, as personagens estão muito, muito interessantes. Sendo algumas delas reais, como é o caso do Rei Ricardo I e do Príncipe João, e de outras que aparecem em inúmeras histórias, como Robin dos Bosques e Frei Tuck, tal, a meu ver, fez com que a história se tornasse ainda mais real e bem engendrada, uma vez que utilizar personagens reais em histórias pode nem sempre dar grande resultado. Pessoalmente, eu acho fantástico e muito bom para o enredo, dando-lhe mais realidade e veracidade.
Em relação às outras personagens, todas são muito ricas e complexas, sendo os seus diálogos e pensamentos intrincados com toda a narrativa, fazendo com que todas as personagens sejam necessárias e relevantes para o enredo.

Ivanhoe, um bravo cavaleiro amigo do Rei, tudo faz para voltar para casa vindo da Palestina, para junto do pai, Cedric, o Saxão, que o tinha deserdado e afastado por ele se juntar ao rei, normando e por querer desposar a protegida de Cedric, Lady Rowena, descendente de Alfredo, o Grande, que deveria casar com Athelstane, descendente dos primeiros reis saxões de Inglaterra, de modo a criar uma aliança para repelir o Reino Normando, que havia conquistado a Inglaterra. O seu desejo é também combater e vencer o torneio de Ashby, que consegue mas a grande custo, ficando ferido. Ivanhoe é seguido no torneio por um cavaleiro andante desconhecido, apodado de Cavaleiro Negro, devido à sua armadura.

Pelo meio existem outras personagens, de vários estratos sociais e nações, dando uma multiculturalidade muito grande ao enredo. É também o que mais confusões vai trazer às personagens, bem como as políticas seguidas pelas mesmas e que as vai por em graves sarilhos ao longo do enredo.

Não vou contar a história, pois não é esse o meu objetivo, tendo sido o que foi escrito apenas para elucidar alguns aspetos da narrativa, que englobam o quadro geral da mesma.

Depois, toda a história em si, a ação, as aventuras, o romance, a intriga política, os diálogos muito inteligentes entre as personagens e que muitas vezes dão para rir, são ingredientes saborosos e que deliciaram a minha leitura.

Foram estes os aspetos que me agradaram, não havendo nenhum assim que me causasse desagrado. Uma boa obra, que todos os fãs de romance histórico deveriam ler e mesmo de fantasia, uma vez que tenho na minha ideia que foi através deste e de outros livros do género que muitos momentos em outras histórias foram baseados.

Maravilhosa leitura, que recomendo vivamente!!!

NOTA (0 a 10): 9