quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O Herói das Eras - Parte I, de Brandon Sanderson

Após a leitura dos anteriores volumes não podia deixar de ler a continuação. Tendo em conta o desenvolvimento a nível da narrativa e das personagens que aconteceu no segundo volume (muito melhor do que no primeiro, a meu ver), foi com grande expectativa que comecei a leitura da primeira parte do terceiro livro da trilogia. 



Sinopse:

Para pôr fim ao Império Final e restaurar a harmonia e a liberdade, Vin matou o Senhor Soberano. Mas, infelizmente, isso não significou que o equilíbrio fosse restituído às terras de Luthadel. A sombra simplesmente tomou outras formas, e a Humanidade parece amaldiçoada para sempre.

O poder divino escondido no mítico Poço da Ascensão foi libertado após Elend e Vin terem sido ludibriados. As correntes que aprisionavam essa força destrutiva  foram quebradas e as brumas, agora mais do que nunca, envolvem o mundo, assassinando pessoas na escuridão. Cinzas caem constantemente do céu e terramotos brutais abalam o mundo. O espírito maléfico libertado infiltra-se subtilmente no exército do Imperador Elend e os seus oponentes. Cabe à alomante Vin e a Elend descobrir uma forma de o destruir e assim salvar o mundo. Que escolhas irão ser ambos forçados a tomar para sobreviver?
( in Edições Saída de Emergência)


Opinião:

Uma vez que o livro foi dividido em dois é sempre um bocadinho difícil fazer uma opinião sobre a obra, no entanto existem aspetos que são fáceis de apresentar. 

A nível do enredo, este volume apresenta a mesma consistência dos anteriores, tomando mais a linha do segundo, o que é normal, tendo em conta os acontecimentos passados nesse livro. Vin e Elend, agora também Alomante, continuam fantásticos. E, apesar de não aparecerem tanto como seria de esperar, são sempre uma dupla maravilhosa. Já gostava de Elend antes, agora que é Alomante ainda gosto mais, porque tornou-se muito mais perspicaz e complexo. Também as questões políticas ajudaram a que ele tivesse mudado o seu comportamento e as suas atitudes, alterando substancialmente a sua forma de ser e de tratar os outros. Mesmo que essa alteração o tenha modificado por vezes para pior pessoa, acaba por ser uma alteração bastante real tendo em conta o contexto das personagens. Em relação a Vin, continuo a gostar dela e continuo a gostar cada vez mais, tendo em conta que está em completo desenvolvimento ao longo da narrativa. Como referi anteriormente nas opiniões relativas a esta história, Vin não foi uma das personagens que mais me disseram nesta história. Comecei por gostar mais de Kelsier do que de Vin, por exemplo. Achava-a um bocado "chata" e insonsa, bastante indecisa. Portanto foi com grande alegria que pude acompanhar o desenvolvimento dela, que muito me agradou. 

Depois, existem várias outras personagens que aparecem ao longo da história, nossas conhecidas dos outros livros, principalmente, e novas personagens, que muito me agradaram. Gostei muito do arco narrativo do Susto, tendo sido dos momentos que mais me agradaram ao longo da leitura. E depois há aquela personagem que aparece na parte final! Excelente entrada em cena e melhor parte para cortar o livro em dois, muito bem! E também o aparecimento de uma outra...ou será reaparecimento? Não quero estar a contar nada de relevante!

Depois, também gostei do contexto da história em si. Depois de Vin ter feito o que fez no Poço da Ascensão, só podia ter acontecido algo do género. Ruína está livre e a cinza mais presente do que nunca, bem como as brumas. Todas as teorias e ideias em relação a estes aspetos estão bastante bem desenvolvidos neste livro e são muito mais explorados, o que faz com que seja possível conhecer mais detalhes deste mundo que Sanderson criou, o que é sempre agradável. Todos os momentos em que existem explicações históricas ou de certos fenómenos foram para mim momentos de extremo interesse, porque o mundo que Sanderson criou aqui é fascinante e merece bastante relevo. 

A história apresenta todos os ingredientes que já nos tinha habituado anteriormente: ação, suspense, intriga, alomância, mistério e batalhas, principalmente. Os diálogos são fortes e bem desenvolvidos, o que é sempre bom. Nada é referido à toa e tudo faz sentido, o que é outro fator de relevo em relação à qualidade da história. Aliás, a qualidade é altíssima. Um mundo criado de raiz, bastante diferente de todos os outros que por aí existem (que eu saiba, pelo menos), com personagens que são bastante complexas, e com questões bastante densas, só tem de ser apresentado ao mundo e referenciado para mais pessoas o conhecerem. Sanderson fez um excelente trabalho. 

Agora é esperar pela segunda parte deste volume, que tem tudo para ser fenomenal! Espero que a Saída de Emergência continue a apostar no autor e que os leitores também o façam. Não receiem as divisões ou o tamanho dos dois primeiros livros. Não receiem nada. Leiam e desfrutem desta maravilha fantástica que por cá foi publicada e que merece o nosso apoio e a nossa leitura. Divulguem junto dos vossos amigos, porque há mais livros passados neste contexto e que podiam ser editados por cá. 

Em suma, mais um excelente livro! E continua com um design de capa e de interior bastante belo, o que também é muito bom. 

NOTA (0 a 10): 9

domingo, 11 de outubro de 2015

O Rei de Ferro e a Rainha Estrangulada, de Maurice Druon

Mais uma bela surpresa da Marcador! Depois de ter ficado bastante curiosa sobre o livro devido à sua sinopse e às suas críticas, não pude resistir a lê-lo...e ainda bem que o fiz, porque é excelente! E como é a grande referência para a obra de George Martin (As Crónicas de Gelo e Fogo), não podia mesmo deixar de ler, uma vez que sou fã.



Sinopse: 

O Rei de Ferro - Filipe, o Belo - é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês - que parece preferir a companhia de homens.
Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem.
O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão.
Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.
(in Marcador)

Opinião:

Este é o primeiro livro da saga dos Reis Malditos e que narra acontecimentos verídicos passados nos finais da Idade Média, na Europa, principalmente entre França e Inglaterra. Este volume é a introdução, praticamente, ao início da Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, e está muito bom. O autor é fantástico. A sua escrita...a própria narração é única. Existe um certo humor em vários momentos e em certas expressões ao longo da obra, que são como que comentários às ações das personagens que me fizeram por várias vezes sorrir e até dar algumas gargalhadas. Esse foi um dos aspetos que me fez gostar imenso da história. Aliás, desfrutei completamente deste livro, deu-me bastante prazer lê-lo por isso e também porque é um dos Romances Históricos lidos até agora que mais se pareceu com uma aventura épica e um autêntico evento de conspiração e ação. Excelente!

Outro aspeto que me fez gostar muito foi o facto do contexto estar excelente. O autor fez um grande trabalho de pesquisa que culminou em algo mais do que narrar os acontecimentos históricos. Maurice Druon conseguiu pegar nas informações históricas e dar-lhe vida própria. Por vezes parece que até não é um livro que retrata factos verídicos, mas sim um livro de ficção, tal não é a forma fantástica de contar, mais do que narrar os acontecimentos históricos, do autor. 

Em relação às personagens, posso afirmar que é uma maravilhosa e única panóplia de indivíduos. Desde o Rei de Ferro, Filipe, o Belo, que é uma personagem bastante carismática, até ao seu filho e sucessor, Luís, o Teimoso, que me fez várias vezes ficar admirada com a sua forma de reinar e tomar decisões (pois é ridícula e deveras medíocre, especialmente em relação ao sei pai), as personagens estão tão bem caracterizadas e reais que parece que estão vivas e que saem das páginas do livro para dialogarem e agirem à nossa frente, como que num plano em três dimensões. Não posso dizer que tenha havido uma personagem da qual gostei mais (porque são todas excelentes e bem elaboradas, todas distintas umas das outras) , se bem que Guccio Baglioni acabou por ser aquele que mais me agradou, bem como o seu amor por Maria Cressay, talvez pelo cariz mais romântico do casal e aventureiro da parte dele, tal como o relevo das suas ações para o desenrolar dos acontecimentos.

Também gostei das descrições, que são na medida certa e só aparecem quando extremamente necessárias para a compreensão do contexto. A ação e a complexidade política e conspiratória são os grandes ingredientes desta narrativa, tal como aconteceu na realidade. 

Fiquei a saber mais sobre este período históricos e também sobre a História da França, que, confesso, só ter mais conhecimentos após a Revolução Francesa. Os Romances Históricos que leio com mais frequência são sobre Inglaterra, talvez porque também é o reino que mais me fascina (expeto o nosso) e foi com grande prazer que pude ler este sobre França (se bem que a Inglaterra também está bem presente...ou não seria a Inglaterra e a França um par sempre ligado em factos históricos). 

Em relação ao facto de ter sido nesta saga que George Martin se inspirou, em parte, não pude deixar de tentar fazer comparações e encontrei algumas, que não vou aqui referir. Prefiro fazer com que os leitores de Martin fiquei curiosos e vão ler este livro!

Em suma, um excelente Romance Histórico que recomendo totalmente. Espero ler os próximos volumes brevemente porque fiquei muito curiosa com o que se passou a seguir, uma vez que o final do livro promete muitas mais conspirações e aventuras.

NOTA (0 a 10): 9
O Rei de Ferro – Filipe, o Belo – é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês – que parece preferir a companhia de homens.

Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem.

O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão.

Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.
- See more at: http://marcador.com.pt/contents/view/143#sthash.Hlmu9rui.dpuf
O Rei de Ferro – Filipe, o Belo – é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês – que parece preferir a companhia de homens.

Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem.

O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão.

Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.
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O Rei de Ferro – Filipe, o Belo – é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês – que parece preferir a companhia de homens.

Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem.

O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão.

Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.
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sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Guerra e Paz Vol. II, de Lev Tolstoi

Foi com grande satisfação que recebi o segundo volume desta obra clássica e logo comecei a lê-lo, para ficar a conhecer os destinos das personagens que tinha ficado a conhecer no primeiro volume.



Sinopse:

Edição comemorativa dos 150 anos da publicação do melhor romance de sempre.


A Rússia continua a ser devastada pelos exércitos de Napoleão, e as mortes e tragédias sucedem se, ligando-se indelevelmente às vidas das personagens. Estamos no início do século XIX, um dos mais conturbados da história da Rússia, e as vidas de homens e mulheres cruzam-se num tecido narrativo deslumbrante. Ainda assim, apesar de a felicidade parecer algo impossível de ser vivido em tempos de guerra, há bailes e casamentos, aventuras e diversões, festas e grandiosos momentos.
Guerra e Paz é um verdadeiro clássico da literatura universal, e aqui chegamos ao seu último volume. Eis uma obra intemporal que condensa toda a condição humana, simultaneamente romance histórico, bélico e filosófico, e propõe acutilantes reflexões sobre os temas que nos movem e comovem: a vida, o sacrifício, a liberdade, a justiça, o amor e a honra.
(in Saída de Emergência)

Opinião:

Depois de ter lido o primeiro volume e de o ter achado um pouco descritivo e sem muita ação, foi com alegria que constatei, ao começar a ler este e lá mais para o meio, que o enredo se estava a compor. Mais ação, mais drama e mais emoção são os três ingredientes que aparecem a mais neste volume e que me agradaram bastante. 

A guerra está mais cruel, as personagens começam a deixar de viver num mundo de bailes e festas e começam a ver que todo aquele espetáculo não é mais do que uma farsa e que o cerne da questão real é muito mais vasto e obscuro. Começa a haver a luta de classes e as classes mais baixas têm o seu papel, vital para a mudança de muitas das personagens principais. As personagens masculinas, que andam pelos cenários de guerra, começam a ter mais lutas entre si. Gostei bastante do destaque que Peter continua a ter e das peripécias por que passou ao longo deste segundo volume e que o fizeram crescer enquanto ser humano. 

O sarcasmo e a ironia, bem como a filosofia, continua a ser um marco bastante forte desta obra. Tolstoi é um mestre do sarcasmo e isso ajudou-me a gostar da história porque contribui para atenuar a grande quantidade de momentos descritivos e mais parados, que apesar de serem em menor número neste volume, continuam a existir. 

Gostei mais de como a história se desenrolou nesta parte. As personagens estão mais interessantes, cresceram muito mais e já não estão tão fúteis, principalmente as personagens femininas. Existe uma humanização das personagens, dos seus atos e das suas ideias. Também aparece mais vezes Napoleão, o que é interessante.

Este livro vem uma parte final apenas sobre questões para debate relacionadas com temas pertinentes, sociais e filosóficos que podem interessar ao leitor. Eu li com gosto para compreender melhor a mente do autor e achei interessante a sua presença no final da obra, uma vez que esta é uma grande narrativa sobre questões complexas, sociais, morais, económicas, humanas. Esta obra será eterna por isso mesmo. Não porque a história seja maravilhosa ou extremamente bela, que até não o é, mas porque a sua base é verdadeira, real e eterna. Questões como a luta de classes, a alienação dos problemas reais da sociedade, as guerras, o amor, o perdão, as rivalidades...todas essas questões são parte constituinte do ser humano e nunca o abandonarão. Por isso é que esta obra vai continuar a ser lida e a ser amada através dos tempos, pelas grandes questões que levanta e que aborda.

Em suma, aqui está uma bela conclusão para uma obra de relevo mundial. Um clássico soberbo e muito bem escrito, repleto de sarcasmo e ironia, repleto de sentimento e emoção. Uma obra eterna que todos deviam ler e refletir. Quero, novamente, elogiar o design da capa e do interior, que continua excelente!

NOTA (0 a 10): 7

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Contos Misteriosos e Fantásticos, de Mary Shelley

Comprei este livro numa Feira do Livro porque estava a um preço bastante acessível e porque gostei muito de Frankenstein e por isso decidi apostar nele. Depois de alguns meses na estante, peguei nele e não foi bem aquilo de que estava à espera. Existem três contos: Transformação, O Mortal Imortal e O Mau-Olhado. O livro começa por uma breve biografia da autora.


Sinopse:

Mary Shelley é recordada sobretudo pela obra "Frankenstein". Este livro concede aos leitores, seguidores da Literatura fantástica e admiradores do período romântico inglês, uma imagem mais completa e complexa desta escritora fabulosa, ao enfatizar a completa variedade e significado da sua escrita. Um livro obrigatório para compreender a narrativa de Shelley, que trouxe uma visão inovadora que deu expressão à imaginação criadora, às inquietudes, reflexões, descobrimentos e avanços da ciência, e às possíveis transformações sociais que abalaram a concepção tradicional da orbe. Transgrediu os limites dos espaços familiarizados do mundo, infringiu o tempo conhecido por todos nós (presente e passado histórico) e, abriu a porta à especulação de outras dimensões e elementos da realidade, a par da luz e da sombra, do Belo e do Feio, do Bem e do Mal. Mary Shelley advertiu-nos que todas as ambivalências são humanas, sendo necessário contemplá-las de modo amistoso. Sob o prazer heterodoxo declarou-nos que a fealdade não é medonha, pelo contrário, pode ser maravilhosamente sedutora; somente a ambição desmesurada nas diversas áreas funcionais do ser humano e a repressão são valores não desejáveis.Estes contos misteriosos e fantásticos, traduzidos pela primeira vez para português, comprovam o talento e a actualidade desta autora quando no século XXI procuramos aparentar aquilo que afinal não somos, como na obra-prima da Literatura gótica: "Transformação", conto macabro e sinistro. (in Goodreads)

Opinião:

Estava à espera de mais Mary Shelley do que o que encontrei aqui. Estava à espera e contos mais sombrios e mais góticos e não foi bem isso que encontrei. Encontrei três contos relativamente simples e sem grande densidade, em que muitos dos elementos presentes em Frankenstein não estão presentes. Apesar de ter gostado dos contos em si, principalmente do conto do meio (O Mortal Imortal), não senti nada de gótico ou de terror em nenhum deles. São contos leves, em que se levanta um pouco o véu sobre assuntos como a imortalidade e a transformação entre o bem e o mal, mas em que não há verdadeiramente um cariz assustador ou em que o ambiente seja descrito de forma a criar emoções fortes ou até a incomodar o leitor. O terceiro conto até é bastante diferente do que estou habituada a conhecer referente à autora. 

Transformação
Em relação ao primeiro conto, Transformação, posso afirmar que gostei, principalmente dos momentos iniciais, quando a personagem principal anda nas suas deambulações juvenis e dos seus dilemas amorosos e mundanos. No entanto, achei-o um pouco morno e não senti nada em relação às personagens. Está bem estruturado e bem escrito, o ambiente está bem descrito, mas não transmite muita emoção.

NOTA (0 a 10): 6 


O Mortal Imortal

Este foi o conto que mais gostei, porque gostei das personagens, bem como das relações estabelecidas entre elas e dos acontecimentos da narrativa. A sequência dos acontecimentos também está bem elaborada e faz sentido. Tem um cariz mais sombrio, mais ao estilo encontrado em Frankenstein, e isso também me fez gostar mais deste conto. Tem também mais ação e dilemas mais interessantes do que o primeiro e o terceiro contos. 

NOTA (0 a 10): 8


O Mau-Olhado

Neste conto a autora muda um bocadinho de cenário e de cultura e isso sentiu-se bastante no conto. Realmente não parece um conto de Shelley e sim um conto de aventuras de outro autor menos na vertente do gótico e do romântico. Em relação ao enredo e às aventuras é interessante.

NOTA (0 a 10): 5

Em suma, uma pequena antologia, que tem o seu interesse, mas da qual esperava mais emoção. Recomendo aos interessados em Mary Shelley para conhecer mais alguns dos seus contos. Um livro interessante, com três contos pequenos e que se leem muito bem.

NOTA GLOBAL (0 a 10): 6

sábado, 3 de outubro de 2015

A Filha da Profecia, de Juliet Marillier

Depois de ter lido os dois volumes anteriores durante o ano passado, foi com grande entusiasmo que peguei no terceiro volume desta fantástica história sobre a família de Sevenwaters. Não é novidade o meu apreço pela autora e pelas suas histórias, por isso era difícil eu não gostar deste livro. 



Sinopse:

Fainne foi criada numa enseada isolada na costa de Kerry, com uma infância dominada pela solidão. Mas o pai, filho exilado de Sevenwaters, ensina-lhe tudo o que sabe sobre as artes mágicas. Esta existência pacífica será ameaçada em breve, e a vida de Fainne jamais será a mesma, quando a avó, a temida feiticeira Lady Oonagh, se impõe na sua vida. Com a perversidade que a caracteriza, a feiticeira conta a Fainne que tem um legado terrível: o sangue de uma linhagem maldita de feiticeiros e foras-da-lei, incutindo nela um sentimento de ódio profundo e, ao mesmo tempo, a execução de uma tarefa que deixa a jovem aterrorizada. Enviada para Sevenwaters, com objectivo de destruí-la, vai usar todos os seus poderes mágicos, para impedir o cumprimento de uma profecia. (in Goodreads)

Opinião:

Não sei se não será um dos livros mais belos que li da autora. Não é tão grandioso como o primeiro (A Filha da Floresta), talvez porque há uma doçura e uma ingenuidade enormes nesse livro, mas gostei muito deste por ser o oposto. A personagem principal, Fainne, é mais complexa, mais obscura, e está sob a malvada influência da sua avó, Lady Oonagh, a feiticeira que transformou os irmãos de Sorcha em cisnes e que causou todos os danos possíveis no primeiro livro. Filha de Ciarán e de Niamh, irmã de Liadan (ambos exilados de Sevenwaters), Fainne é criada em Kerry, longe da família, com o seu pai, tornando-se aprendiz de feiticeira. Ela é bastante modesta e tímida, uma vez que apenas convive com o seu pai e com o seu amigo de infância, o nómada Darragh. É diferente das outras narradoras da saga: mais reservada, mais obscura e mais secundária, Fainne é tudo o que nem Sorcha nem Liadan eram: heroínas perfeitas e cheias de força. Desta vez a personagem principal tem tudo para ser a grande vilã da história, uma vez que a sua avó e o seu pai a enviam para Sevenwaters, com a suposta missão de destruir a família e a fazer com que a profecia referente às Ilhas não se concretize. Gostei muito de Fainne por isso mesmo; pela dualidade que representa, uma vez que está sempre com um pé no lado negro e com outro no lado bom; pela complexidade da sua história; por ser diferente das outras raparigas dos livros anteriores. Apesar de não deixar de ser forte, Fainne consegue trazer à tona uma outra realidade, uma realidade mais ambígua, que até agora não tinha aparecido muito nos livros que li da autora; e isso está relacionado com o facto de ela poder ser muito bem a grande vilã da história.

Em relação às outras personagens, posso afirmar que foi um prazer revê-las a todas, especialmente ao grupo de Liadan e a Finbar, que sempre foi uma das minhas personagens favoritas desta história. Gostei bastante de conhecer as filhas de Sean e os de Liadan e gostei muito de Darragh. Comprovei também o meu interesse e a minha ideia sobre Ciarán, que também tinha sido uma das minhas personagens favoritas no segundo livro; aqui provou toda a sua personalidade e poder. Existe em todas as personagens um certo cariz mais negro e mais taciturno, isto também por causa da guerra que se vai aproximando à medida que a história ocorre. Todos estão mais maduros e isso nota-se bastante. Também gostei de reencontrar Eamon, apesar de ser das personagens que mais asco me suscitou. Outro aspeto em relação às personagens que me agradou foi o facto de Lady Oonagh  ter aparecido em todo o seu esplendor neste volume, uma vez que tinha sido sempre relegada para segundo plano, apesar de tudo estar relacionado com as suas ações. 

A história é novamente fantástica. A autora comprova mais uma vez a sua mestria e magia enquanto contadora de histórias. É sempre um prazer ler um livro de Marillier, porque é como que uma poderosa história ancestral e cheia de magia e significado. Todo o conceito que está subjacente às histórias pode ser sentido com grande detalhe e emoção enquanto se lê os seus livros. E isso sente-se mais uma vez neste volume.

Neste livro há uma dimensão sobrenatural maior. A magia está mais presente, principalmente em relação ao volume anterior. Também conhecemos os Anciãos e algo mais sobre as Criaturas Encantadas, o que é excelente, uma vez que, para mim, toda a contextualização e toda a história em que Sevenwaters assenta é motivo de interesse. Fico sempre satisfeita por ficar a saber mais um bocadinho da história do passado de Erin e de Sevenwaters.

Gostei das descrições, sempre muito bem elaboradas, sem serem demasiadas e escritas na perfeição, de modo a ser possível ao leitor se imaginar nos locais. Gostei da forma como a narrativa foi conduzida. A parte final foi apoteótica e muito bem conseguida. Um dos "melhores" finais dos livros da autora que li até agora.

Não há pontas soltas, pelo menos explicitamente. Tudo fica com uma resposta. Dei por mim a prolongar a leitura para fazer render a história, mas não o consegui fazer muito mais, porque a curiosidade também era grande e valeu a pena.

Agora é ler o seguinte ou outro da autora, que consegue sempre encantar com as suas palavras magnificamente trabalhadas de modo a criar histórias únicas e extremamente belas. Recomendo totalmente, a todos os leitores.

NOTA (0 a 10): 10