domingo, 27 de outubro de 2013

"Taliesin - O Ciclo Pendragon", de Stephen Lawhead

Sou uma grande admiradora da história do Rei Artur e de Merlim, mas nunca antes tinha lido nada sobre ambos. Já vi vários filmes, vi a série da BBC, mas leituras nunca. Foi por isso que decidi ler este livro, para ler algo sobre esta lenda que tanto me fascina. E tenho a certeza absoluta que não podia ter começado por outra melhor.

Stephen Lawhead mostra-nos o que está antes da vida destas personagens, mostra-nos o contexto anterior às suas vidas, algo sempre importante para conhecer bem as histórias e as personagens. Mesmo não sendo esta a verdade da lenda, tal nunca vai ser possível saber e este não é um romance somente histórico, tendo também algo de fantástico, se bem que muito do que acontecia naquela altura possa ser visto por nós hoje em dia como fantástico. Naquela altura não o era. Havia de facto druidas e outros conhecimentos que hoje estão esquecidos e que naqueles tempos eram normais.

Pois bem, "Taliesin" é o primeiro livro do Ciclo Pendragon, uma saga que conta a história de Artur, Merlim, Morgana e outras personagens que fizeram parte desta história. Mas há mais para além da lenda. Vejamos.

A narrativa é apresentada por duas grandes personagens (principais): Charis e Taliesin.

Charis, filha de Avallach e Briseis, reis de Sarras na Atlântida, é uma jovem rapariga forte, corajosa e persistente, que se vê a braços com a terrível destruição do seu mundo, lutando por salvar-se a si e aos seus. Consegue escapar da destruição da Atlântida, acabando por chegar a uma terra desconhecida: Llyonesse. Segue depois para Ynys Witrin, acabando por se estabelecer lá com os que conseguiram escapar, nomeadamente o seu pai, Avallach; a mulher deste, Lile; a filha, Morgana; e Annubi, amigo de Charis e vidente.
Charis acaba por tornar-se uma mulher solitária e triste, procurando por algo na sua vida, algo que não sabe sequer nomear.

Taliesin, filho adotivo de Elphin e Rhonwyn, foi encontrado por Elphin aquando de uma pescaria nas caniçadas do salmão, dentro de um saco de pele de foca, não se sabendo de onde veio nem de quem era. O rapaz é criado pelos pais adotivos e por Halfan, o bardo e druida de Caer Dyvi, conselheiro do pai de Elphin e depois de Elphin também. Taliesin acaba por tornar-se aluno de Halfgan, tornando-se no maior bardo que jamais existiu, de grande sabedoria e belo dom para a criação musical. Logo cedo começou a compor as suas canções, criando uma enorme fama como cantor e druida.

Todo o que acontece até à reta final é importante para todo o enredo; nada é ao acaso. As guerras, as intrigas, as paixões, as traições, as viagens...tudo vai culminar no final que está descrito no livro. Este é o início da vida de Merlim e de como é que ele foi feito, como nasceu e como isso foi um ato com grandes consequências. É a história da profecia da vinda de alguém que faria frente à Idade das Trevas, tempos em que os bárbaros avançaram pelo antigo Império Romano, saqueando, lutando e conquistando. É a história do início do Cristianismo na Grã-Bretanha, terra pagã. É a história da luta entre o passado e o futuro, entre as trevas e a luz. É a história de Morgana e de como ela começou a sua vida e a sua passagem por este mundo, semeando um caminho perigoso. 


Este é o início da lenda da casa Pendragon, segundo Stephen Lawhead, e já me conquistou.

As personagens são muito ricas, complexas. Todas elas, mesmo as mais secundárias. É possível acompanhar a sua evolução, compreender os seus sentimentos e emoções. É possível compreender as suas vidas.
As descrições dos locais e dos ambientes são soberbas e tão bem feitas que, ao ler, é como se estivesse mesmo lá. É possível cheirar, respirar, ver, ouvir, percorrer os caminhos das personagens.

Através das canções dos bardos é possível ficar a conhecer mais sobre a História da Grã-Bretanha e das suas lendas. É possível ficar a conhecer mais sobre os modos de vida deste tempo, dos druidas e das pessoas em geral, que viveram neste Tempo.

O contexto histórico está muito bem elaborado, sendo possível fazer um paralelo com o que aconteceu de verdade: a presença romana, as invasões bárbaras, a chegada do Cristianismo e como se desenvolveu na Grã-Bretanha, nomeadamente nos locais apresentados na obra.

Gostei muito do livro e é com grande interesse que vou ler os seguintes, esperando que sejam tão bons ou melhores do que este!
Recomendo vivamente. 

Charis já o ouvira falar muitas vezes da sua visão, mas agora ele cantava acerca dela, e, pela primeira vez, descrevia o rei que habitaria esse reino sagrado: um rei nascido para governar não pela força ou pelo título mas pelo amor da justiça e dos direitos; um rei nascido para servir a verdade e a honra, para conduzir o seu povo na humildade e para defender a sua terra em nome do Deus Salvador.
Ao ouvi-lo, Charis ficou com a impressão de que tudo o que Taliesin pensara ou dissera acerca desse reino imaginário estava a materializar-se na sua canção, ideias que se agrupavam em sons vigorosos, palavras que se formavam ao ser proferidas, carne a envolver o esqueleto filosófico.
E pensou: "O Reino do Verão nasceu esta noite, tal como a criança que tenho nos braços se fez carne e nasceu. Os dois foram feitos um para o outro. São apenas um."
Baixou os olhos, fitando o bebé que lhe sugava o seio.
- Estás a ouvir, Merlim? - perguntou-lhe num suave murmúrio. - O teu destino chama-te para lá do futuro. Escuta, meu filho. Esta é a noite em que o teu pai, cantando, deu uma nova forma ao mundo. Ouve e recorda. pág. 574.

NOTA (0 a 10): 10

domingo, 13 de outubro de 2013

"O Último Adeus", de Honoré de Balzac

Encontrei este livro na biblioteca da Faculdade e trouxe-o para ler. Com apenas 80 páginas, pequenas dimensões e uma capa bem bonita, achei-o excelente. Não pesa nada e é de fácil transporte. Também já há algum tempo que queria ler algo deste autor.

Este pequeno conto é uma delícia. Fiquei completamente maravilhada com a paixão presente na obra. A paixão e o amor que nela se apresentam é de uma pujança que faz estremecer o coração.

Este conto conta um episódio da vida de Phillipe de Sucy, um major francês que esteve na guerra da França contra a Rússia, no período de Napoleão, em 1812.
Em 1820, Phillipe vai com o seu amigo D'Albon, pelo meio de uma floresta, quando encontram uma bela casa, do género de um ermitério abandonado, coberto de trepadeiras e com ares de abandono. Porém, aquando se aproximam, vêem uma estranha mulher, de longos cabelos negros revoltos, pele pálida, olhos negros e parados e um longo vestido negro. Pensando tratar-se de algo sobrenatural decidem aproximar-se ainda mais, descobrem outra estranha mulher. Enquanto fazem perguntas à estranha mulher, parecida com uma índia, a outra aproxima-se, curiosa. Ao vê-la de perto, Phillipe tem um ataque e cai desmaiado.

A história retrocede no passado e é nos apresentado a vida de Phillipe na Rússia, tentando salvar a sua amada e o esposo desta, a condessa de Vandrières, que desaparece para sempre depois desse episódio. Anos depois, Phillipe reencontra Stéphanie naquela casa antiga e abandona e faz tudo para reviver o seu amor.

O que aqui se nos apresenta é um romance trágico e melancólico, bem ao estilo dos grandes romances do período Romântico. Todo o ambiente de melancolia, amor ardente, paixão, loucura, drama, tristeza e degradação da condição humana e posterior desilusão, é-nos aqui apresentado. Este pequeno conto consegue ter todos estes ingredientes. Fez-me relembrar "O Monte dos Vendavais", de Emily Bronte, em vários momentos; livro esse que foi um deleite para a minha imaginação e emoção. Não podia deixar de dar nota máxima a este pequeno conto, pois de facto a história narrada nas suas páginas é de extrema mestria e beleza, com personagens fortes e memoráveis.


Um conto que recomendo sem reservas!

NOTA (0 a 10): 10

sábado, 12 de outubro de 2013

"O Ladrão da Tempestade", de Chris Wooding

Não sabia nada sobre este livro quando o adquiri. A sinopse é bastante interessante e reveladora e eu interessei-me pelo que nela está escrito. O título também é bastante sugestivo.

Comecei por achar a história boa, mas não muito expetacular. Um escrita agradável, fluente; descrições boas e personagens boas... mas nada que pudesse dizer: "Maravilha! Aqui está um mundo arrebatador." Não posso esperar que todos os livros me façam pensar assim, como é óbvio. Mas aos poucos fui ficando mais apegada à história e ao desenrolar dos acontecimentos até que, na reta final, fiquei absolutamente contente com o facto de estar a ler o livro. É, de facto, um livro muito bom, com um desenlace que reflete toda a obra, todo o seu teor e alma. É um bom final para a história, e o que acontece até lá é muito bom. A parte final é muito, muito boa e foi isso que me fez dar quatro estrelas a este livro.


Fazendo um pequeno resumo:

"O Ladrão da Tempestade" conta a história de Rail e Moa, dois adolescentes dum gueto da cidade de Orokos, uma cidade fortificada, no meio do oceano: uma ilha. Os habitantes de Orokos vivem uma vida sossegada e tranquila que só é afrontada aquando das tempestades de probabilidades. Aquando dessas tempestades, a cidade é modificada, há sempre mudança. Pessoas mudam de figura, alteram-se, podem ficar doentes, podem ficar saudáveis, podem ir parar a outro ponto qualquer da cidade; os cursos do rio alteram-se, as casas e os locais. Tudo pode mudar numa tempestade dessas. E também aparecem os Invasores, que são uma espécie de espectros de energia: éter. Os Invasores atacam pessoas, matando-as suavemente e apoderando-se dos seus corpos, passando estes a designarem-se por Capturados. Os Capturados dedicam a sua existência a atacar e destruir edifícios do Protetorado e também a matar possíveis rivais. Ou seja, os Capturados são Invasores incorporados em corpos de pessoas.

Orokos é governada pelo Protetorado. Esta entidade é o poder absoluto, governado pelo Patrício, um humano "mascarado" com uma máscara negra, para ocultar o rosto e uma bata tipo cirurgião, preta também. Quem mantém o governo é a Polícia Secreta, que manda no Exército. A grande função deste orgão é manter a cidade: a ordem e a harmonia.
Essa ordem e harmonia passa por sectarizar a população, sendo que os mais pobres, doentes e/ou criminosos são postos em guetos, de onde não podem sair, sendo todos tatuados com um código. Nesses guetos abundam as organizações de ladrões.
Outra função do governo (exército) é dar caça aos Invasores e Capturados, tentando aniquilá-los.

A cidade foi fundada há muito muito tempo, no meio do oceano. Existe factos que comprovam a existência de uma sociedade anterior, que era muito mais avançada tecnológica e cientificamente. Mas, não se sabendo bem porquê, essa sociedade acabou, marcando-se cronologicamente esse período como: Extinção. Então, o tempo atual em Orokos é depois da Extinção. Em Orokos não há forma de medir o tempo.
Por fim, existe a lenda de que as tempestades são obra do Ladrão da Tempestade, que tem como seus ajudantes os Invasores, que o servem e alimentam com os humanos e com o que destroem. Eles geram o caos numa sociedade que procura a todo o custo uma ordem (mesmo que irreal e imperfeita, feita à custa dos mais necessitados que são vistos como escumalha e como desordeiros e a causa da falta de ordem).

É nesta trama que vamos encontrar Rail e Moa, dois adolescentes dos guetos: ladrões que acabam por descobrir um misterioso artefacto. Na expetativa de ficarem com ele, ambos fogem da ladra-chefe, que envia Finch atrás deles para os matar e obter o artefacto.
Pelo caminho encontram Vago, um golem (penso que cyborg seria mais adequado?), que está perdido e cujo seu maior desejo é encontrar o seu passado e o seu criador. No meio de toda essa aventura, Moa tem um sonho: o sonho de sair de Orokos. Ela acredita que existe mais para além do horizonte do oceano.

Ora, não foram as personagens que me fizeram vibrar com a história, apesar de ter gostado delas. O que me fez vibrar foram as descrições dos espaços, as reviravoltas, a história de Orokos e o desenlace. Toda a história é um hino à liberdade, à perseguição dos nossos sonhos e ao não desistir de os alcançar. É uma história de redenção e coragem, de amizade e luta. A luta pela sobrevivência foi outro facto que me agradou ao longo da narrativa. Está muito bem contada e refletida.
Talvez possa caracterizar esta obra como dystopia. Comparei bastante a "Incarceron", de Catherine Fisher e um pouco a "Os Jogos da Fome". Este género de obras deve ser lido com uma atitude reflexiva. Não são meros livros para ler por divertimento (também o são claro!). Estas histórias têm uma moral: a ganância humana, os interesses humanos, o interesse e a maldade, a segregação da população e a descriminação têm um preço, que tem de ser pago a qualquer custo. Devemos ler estas histórias pensando: "o que posso refletir com isto?". É um exercício interessante e educativo. Ter uma ideia das atitudes e das suas consequências é importante.

A luta pela liberdade, presente ao longo do livro, é extremamente comovente. O desejo de fuga, de descobrir uma saída, de ter uma vida melhor, mais digna são desejos que fazem parte da Humanidade. Vê-los retratados nas obras é sempre bom e faz pensar. Também o desejo de redenção, aceitação e amor é uma marca desta história. Vago, o golem, é uma personagem bastante complexa e interessante por isso mesmo. Moa e Rail também, pelo desejo de fuga e paz. Há outras personagens muito interessantes ao longo da obra, como Lelek, que habita um quadro, sendo uma personagem deveras misteriosa e maravilhosa. Também gostei de Finch, que é bastante esperto e manhoso.
A lição a tirar da história é rica e faz pensar nos nossos comportamentos em sociedade e da sociedade perante os seus indivíduos. A ordem e o caos, a segurança e a insegurança, a liberdade e a prisão: dicotomias presentes que são factos essenciais à vida humana e que devemos ter em atenção.
Há ainda um aspeto a referir e que se prende com as descrições dos espaços. O autor tem uma capacidade imaginativa bastante bem desenvolvida e rica. Os detalhes são bem encontrados!

Recomendo =) 

NOTA (0 a 10): 8,5

domingo, 6 de outubro de 2013

"A Estalagem das Duas Bruxas", de Joseph Conrad

Gostei bastante deste livro. É um conto, com apenas 72 páginas, mas é muito interessante. Decidi lê-lo pelo título e pela sinopse, pois apela bastante a mistério e suspense.
Não fiquei nada desiludida, pois foi um momento bom de leitura. A história faz-nos ficar um pouco apreensivos em alguns momentos e é isso que se espera de um livro que à partida tem por objetivo ser um pouco assustador.


Não há muitos detalhes, não há muita caracterização, mas há emoção.
A história é contada pelo narrador, que começa por apresentar o objeto da sua história: uma resma de papéis que encontrara numa caixa velha que comprara a um velho alfarrabista, juntamente com alguns livros. Esses papéis contavam a história (na primeira pessoa) de uma aventura vivida em 1813, por um jovem oficial inglês de vinte e dois anos. Esse jovem conta um episódio em que ele o o seu fiel companheiro de mar, Tom Corbin, foram a terra para falar com os seus apoiantes (o contexto é a guerra de Napoleão, as Invasões Francesas) em terras de Espanha, uns guerrilheiros espanhóis das Astúrias. Ao desembarcarem, veem-se num local ermo, uma aldeola pobre com pessoas assustadas. Sem haver montadas na estalagem para fazer o percurso pelas montanhas até ao acampamento dos guerrilheiros, Tom decide ir a pé, sozinho, mandando Edgar Burne (o oficial) à corveta para avisar sobre o percurso pelas montanhas.
Depois de se separar de Tom, Edgar encontra-se com um estranho homem, que lhe diz que o seu companheiro, Tom, corre perigo pelas montanhas e também que o estalajadeiro tinha mentido pois havia um jumento na estalagem. No meio da conversa, diz que no meio das montanhas há uma estalagem, que antes pertencia ao zarolho estalajadeiro da aldeia, mas que agora é só das duas tias do velho estalajadeiro, velhas bruxas hediondas, afirmando que muitos viajantes haviam desaparecido por aquelas bandas. Pede a Edgar ajuda para reaver o jumento, rogando-lhe para ir atrás de Tom, pois dois sempre são mais do que um por aqueles caminhos.
Edgar não aceita a proposta e parte para a corveta, para contar ao capitão. Os dois acabam por achar tudo muito estranho e Edgar volta a terra e vai atrás de Tom, acabando por chegar à estalagem das velhas. Aí vai enfrentar momentos e puro terror e estranheza.

É um conto simples, sem floreados e com uma escrita direta. Alguns termos são mais antigos e denotam a época em que foi escrita (1913), sendo interessante reviver tais épocas por estes meios.
O conto tem todos os ingredientes para dar lugar a um sentimento de suspense ao leitor, principalmente antes de Edgar chegar à estalagem e durante o tempo que lá está. É de fácil leitura, bastante rápida.
Não muito mais a dizer, por isso termino com um elogio ao conto, recomendando a sua leitura. 

NOTA (0 a 10): 7,5

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

"O Véu Pintado", de Somerset Maugham

Este é o primeiro livro de Somerset Maugham que eu leio. Decidi lê-lo porque gostei da sinopse, porque queria ler uma obra deste escritor e porque quero ver o filme. No final da leitura posso dizer que gostei bastante da escrita e da mestria com que aborda os sentimentos humanos e as suas dicotomias e agonias, dando-nos a compreensão dos vários pensamentos das personagens, com principal destaque para Kitty, a personagem principal, ao longo da evolução das mesmas.

Este livro conta a história de Kitty Fane, uma mulher fútil e bastante básica na maneira de ver a sua vida em sociedade. Educada numa família inglesa, com posses, sempre teve como único objetivo o casamento com um homem de renome. Kitty era a irmã mais velha de duas raparigas e mais bela, tendo a incumbência de ser a primeira a casar. No entanto, tal não aconteceu (as suas relações com homens baseavam-se em namoros e sorrisos) e ela viu-se a ser passada à frente pela sua irmão, que ficou noiva antes dela. Não querendo que tal acontecesse, decidiu aceitar a proposta de casamento de Walter Fane, um rapaz tímido que a amava já há algum tempo, nunca demonstrando os seus sentimentos, com receio de ser ridicularizado e negado por Kitty. Uma vez que ele era bacteriologista, vê-se com a missão de ir para a Hong-Kong, como investigador e Kitty vai com ele, depois de casarem. Mas Kitty, fútil e superfula, não compreende o amor calmo e reservado de Walter e ao conhecer Charlie Townsend, um alto representante do governo inglês na China, começa a ter um caso com ele. O que eles não sabiam era que Walter ia descobrir, ia propor que Kitty fosse com ele para Mei-tan-fu, uma cidade onde a cólera era rainha, e que ia por Kitty numa situação desagradável: ou ia com ele ou ele divorciava-se litigiosamente dela, obrigando-a a casar com Charlie, tendo este de se divorciar a mulher, Dorothy. Walter ia para lá para substituir um médico missionário que morrera da doença.
Temendo pela vida, Kitty vê-se obrigada a seguir o marido, acabando por encontrar algo de que não estava à espera e que mudaria a sua forma de ver a vida: uma paz interior e uma alteração da sua visão do mundo e da sociedade.

Gostei do livro, a história é bastante boa, com um enredo interessante e personagens bem caracterizadas. A evolução psicológica de Kitty é bastante evidente e bem descrita e refletida, dando gosto acompanhar a sua evolução. Porém, e gostando eu de alguma ação nos enredos, o enredo ficou um pouco aquém do que eu estava à espera.

O grande objetivo desta história, parece-me, é levar o leitor a acompanhar a vida de Kitty e a perceber a sua evolução, passando de alguém supérfluo e até mesquinho, para alguém com outra visão mais complexa e mais real do mundo em que vive. A visão da cólera, a visão da pobreza, da simplicidade da vida, da busca de um bem maior e mais belo, mais útil à vida, da busca da paz e do amor, faz com que Kitty comece a rever a sua mentalidade e as suas prioridades, acabando por tentar ser alguém melhor. Num plano mais íntimo da leitura, penso que o autor pretendia que o leitor, ao longo da leitura, refletisse também na sua vida e nas suas atitudes e prioridades, acabando por fazer um paralelo com as de Kitty (não em todos os planos e consoante cada experiência do leitor).

É um livro que, lendo-se muito bem, devido à escrita concreta e fluída, acaba por não ser simples. A história que nos apresenta é bastante complexa no plano do pensamento, dos sentimentos e emoções que estão presentes na história e que vão aparecendo no leitor à medida que lê a obra. O leitor acaba por ficar incomodado com algumas passagens e com o comportamento de Kitty e de outras personagens.

O caminho espiritual presente ao longo da história é também uma forte componente, apontando para um caminho de paz e amor que deve ser procurado e seguido, da forma possível ao alcance das personagens.
Existe uma riqueza muito grande neste plano e a meu ver foi bem desenvolvido.

Em suma, é um livro interessante e recomendo-o! 

NOTA (0 a 10): 7