quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco

Sinopse:
  
"Amor de Perdição" é uma história que nos relata o choque romântico entre os representantes de duas famílias, através de duas gerações, a dos pais que se odeiam - Tadeu de Albuquerque e Domingos Botelho - e se orgulham dos títulos de fidalguia; e a do jovem casal - Teresa e Simão - que apenas aspira aceder às asas de liberdade da arrebatadora paixão que os une. Perante a oposição paterna, toda a história do casal de "desgraçados" é uma luta tenaz e sem tréguas.
A trama desta história de amor desfecha-se de forma trágica, bem ao estilo «shakesperiano» de Romeu e Julieta.


Opinião:

Finalmente li este clássico da Literatura Portuguesa. É importante conhecer e ler o que é nosso, para não falar sem conhecer e para ter uma opinião consciente e estruturada, justificada com conhecimentos. Mas não li o livro apenas por tal motivo, mas sim pela imensa curiosidade com que andava a seu respeito.
Gostei bastante, não é muito descritivo (como até estava à espera), lê-se bastante bem, de modo fluido. As personagens são interessantes e o enredo está bem elaborado e descrito (história verídica, por isso não foi inventado, tendo sido mostrado de forma bem elaborada).

A história de amor de Teresa e Simão é muito bonita, muito trágica e romântica. A meu ver este é um livro muito mais romântico que "Os Maias", que também gostei bastante. Talvez o compare, em alguns momentos, ao "O Monte dos Vendavais", devido às imagens que são apresentadas, ao aspeto sombrio e melancólico deste amor.

Simão, filho mais novo (dos rapazes) de um casal praticamente da nobreza (mãe dama da Rainha D. Maria I e pai corregedor), vê-se estudante em Coimbra, onde luta pelos ideais da Revolução Francesa, pelo fim da Monarquia e por mais Liberdade, lutando de modo incerto e sozinho, uma vez que nem todos o seguem. É um jovem que gosta de lutar, de brigar e de arranjar confusão. Porém, numa visita à casa de seus pais, em Viseu, Simão descobre Teresa, filha de um homem cuja amizade pelo pai de Simão foi desfeita por motivos de Justiça. Ambos são proibidos de falar, mas mesmo assim continuam e a amizade dá em amor, um amor que leva à perdição de ambos.
Depois de lutas, tiros e perseguições, Teresa e Simão vêm-se afastados um do outro. Aparece Mariana, filha do ferreiro que tem muita estima ao pai de Simão e que o acolhe. Mariana apaixona-se por Simão, mesmo sabendo que nunca há-de ser dela. Mariana cuida dele e começa a amizade entre os dois. Simão sente grande afeto por ela, e começa a desconfiar que ela o ama.

É uma bonita história de amor. Gostei do romance entre as personagens, sendo que o ponto alto foi mesmo o final, que gostei bastante. Estava à espera que tivesse mais ação, mas o final foi muito bom. Imagens bem descritas, que fazem com que seja possível visualizar o que está a acontecer.
Não é um romance lá muito feliz, tal como diz o título, mas é bem bonito, um romance como aqueles de antigamente. Um amor eterno.

Gostei bastante. A escrita de meados de 1800 não é idêntica à dos dias de hoje e é sempre bom relembrar como era dantes. Um bom livro, uma história bonita. Recomendo!

- "A casinha, defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves. Passeavas comigo à margem do Mondego, à hora pensativa do escurecer. Estrelava-se o Céu, e a lua abrilhantava a água. Eu respondia com a mudez do coração ao teu silêncio, e, animada por teu sorriso, inclinava a face ao teu seio, como se fosse o de minha mãe... De que Céu tão lindo caímos... A tua amiga morreu... A tua pobre Teresa... E que farias tu da vida, sem a tua companheira de martírio?... Onde irás tu aviventar o coração que a desgraça te esmagou... (...) Mariana..." (pág. 190)

NOTA (0 a 10): 7

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um Dia, de David Nicholls

Dexter virou a cabeça para olhar para Emma, e subitamente havia qualquer coisa a mexer-se entre eles, qualquer coisa viva e a vibrar no peito dele.
Emma encostou-lhe a mão.

- É o teu coração?

- É o meu telemóvel.
pág. 306


Sinopse

Podemos viver toda uma vida sem nos apercebermos de que aquilo que procuramos está mesmo à nossa frente.

15 de Julho de 1988. Emma e Dexter conhecem-se na noite em que acabam o curso. No dia seguinte, terão de seguir caminhos diferentes. Onde estarão daqui a um ano? E no ano depois desse? E em todos os anos que se seguirão? Vinte anos, duas pessoas, um DIA.

Opinião

Maravilha. Um livro muito bom, um enredo bem construído, coeso, forte, com sentido. Personagens fortes, marcantes, humanas. Um enquadramento histórico bem desenvolvido, bem delineado e arquitectado. Uma história de amor muito bela e por vezes tão triste...

Vi primeiro o filme. Com dois atores que gosto muito (Anne Hathaway e Jim Sturgess), foi uma história bem bonita, bem romântica. Estava com algum receio que o livro não fosse como o filme (o filme não fosse como o livro), pois tinha gostado muito do filme. Mas não aconteceu. "Um Dia" é um livro muito, muito maravilhoso. É como escrevi acima. Bem elaborado, cativante. Retrata 20 anos de forma muito convincente e estruturada: acontecimentos politicos, históricos, sociais, mundiais, europeus... um retrato histórico que fica entrelaçado com a história de Emma e Dexter.
O filme está muito fiel ao livro. Uma excelente adaptação, a meu ver.

O facto de não ser um romance muito convencional, com uma ideia interessante (contar um dia das vidas de Em e Dex durante os 20 anos em que se conheceram) foi algo que me cativou, por ser original e por estar bem feito.

Emma e Dexter são antigos colegas de faculdade (não de curso) que se encontram no dia da formatura. Nesse dia passam a noite juntos e depois disso começam a dar-se um com o outro, estabelecendo uma relação de grande amizade ao longo dos anos. Há medida que vão passando pelos anos, muito vai acontecendo e eles vão mudando. E há medida que o tempo passa, ambos continuam a ser amigos. É uma história de amizade e amor, que não vou pormenorizar mais pois não quero spoilar ninguém! 

Emma é o contrário de Dexter, mas o seu amor por ele é grande, apesar dela não o confessar. É na amizade que tem por ele e ele por ela que ela sustenta o seu amor e a sua alegria. Dexter, um jovem mais virado para a fama, para a ribalta e para alguns comportamentos arriscados, é praticamente o oposto de Emma. O que ele parece não querer ver é a necessidade que tem dela para conseguir estar bem.  Será que ele vai conseguir perceber?

Com alguns laivos de critica à sociedade e a alguns comportamentos (fama, bebedeiras, drogas, sexo, questões politicas), David Nicholls leva-nos numa viagem desde 1988 a 2007, deixando-nos espreitar a vida de Emma e Dexter ao longo destes anos, sempre no dia 15 de Julho, o dia em que tudo começou.

É uma bonita história, com momentos muito sentimentais. Emma e Dexter são muito interessantes, à sua maneira, um muito diferente do outro. E depois existem as outras personagens que vão aparecendo e que dão corpo à história. É uma história inteligente e bem contada.

Gostei muito, não costuma ser o género de livro que leio mais, mas fiquei muito bem surpreendida. É bastante bom e já está nos meus favoritos.
Recomendo a todos! 


- Pensei que te tinha perdido! - exclamou ele, desacelarando até andar normalmente, de cara vermelha e sem fôlego, procurando recuparar um pouco de compustura.

- Não, estou aqui.
(pág. 449) 

NOTA (0 a 10): 10

sábado, 26 de janeiro de 2013

Cinder, de Marissa Meyer

Uma história promissora; grandes expectativas; personagens interessantes.


 Sinopse:

Com dezasseis anos, Cinder é considerada pela sociedade como um erro tecnológico. Para a madrasta, é um fardo. No entanto, ser cyborg também tem algumas vantagens: as suas ligações cerebrais conferem-lhe uma prodigiosa capacidade para reparar aparelhos (autómatos, planadores, as suas partes defeituosas) e fazem dela a melhor especialista em mecânica de Nova Pequim. É esta reputação que leva o príncipe Kai a abordá-la na oficina onde trabalha, para que lhe repare um andróide antes do baile anual.

Em tom de gracejo, o príncipe diz tratar-se de «um caso de segurança nacional», mas Cinder desconfia que o assunto é mais sério do que dá a entender.

Ansiosa por impressionar o príncipe, as intenções de Cinder são transtornadas quando a irmã mais nova, e sua única amiga humana, é contagiada pela peste fatal que há uma década devasta a Terra. A madrasta de Cinder atribui-lhe a culpa da doença da filha e oferece o corpo da enteada como cobaia para as investigações clínicas relacionadas com a praga, uma «honra» à qual ninguém até então sobreviveu. Mas os cientistas não tardam a descobrir que a nova cobaia apresenta características que a tornam única. Uma particularidade pela qual há quem esteja disposto a matar.


Opinião:

O meu interesse por histórias com robots, cyborgs, e enredos a derivar para o Steampunk é algo que tenho vindo a notar ao longo destes últimos tempos. Não que já tenha lido muitos livros do género, mas os poucos que li gostei e conseguiram satisfazer as minhas expectativas. Pois bem, não aconteceu em Cinder.

Estava realmente desejosa de ler o livro. Não hesitei em comprá-lo. Por vezes ando várias vezes a ver o livro antes de o querer... tal não aconteceu aqui. Estava certa que ia gostar. Fiquei um pouco desiludida.

Estava à espera de uma história diferente, mais confusa, mais difícil. Achei-a um pouco básica. O enredo não foi o que eu estava à espera. Não senti pena pelas personagens. Não me emocionei com os acontecimentos decorridos ao longo da história.

Dou-lhe três estrelas e não duas porque de facto, a originalidade da história merece as três estrelas. Continuo a achar a história interessante. O que penso é que não foi explorada exponencialmente. Podia ter sido mais densa, mais madura, mais adulta. Pode ser algo que não fosse propósito de ser. É só a minha opinião. De tudo, o que mais gostei foi mesmo do facto de Cinder ser um cyborg.
Tudo acontece muito depressa. A imagem de Cinderela podia ter sido melhor explorada, a meu ver. Também acho que existe uma mistura de Branca de Neve pelo meio, com a rainha Levana.
O príncipe não me suscitou muito interesse; é apenas interessante. Penso que faltou um pouco de mais caracterização das personagens, física e psicológica (tirando a Cinder, que foi bem explorada).
Estava à espera de mais ação. Só praticamente na parte final é que achei a ação interessante.

O livro é bom. A história continua a ser promissora. Apenas penso que podia ter sido melhor explorada, sendo menos óbvia. Gosto de ser surpreendida enquanto estou a ler. Gosto de formar teorias e que por vezes falhe. É sinal que a história não é óbvia, é densa e faz pensar, pensar. Não aconteceu aqui. Talvez não seja esse o intuito da autora. Pode ser.
Os locais também podiam ter sido melhor explorados, bem como as suas descrições. A cultura também. A peste também. A interação entre Cinder e Kai também.
Com uma capa linda e uma história sedutora, a história não me surpreendeu. Penso que é essa a sensação. Não surpreendeu. Não deixa de ser interessante e bem estruturada. É um livro interessante. Pode ser que os próximos sejam mais surpreendentes.

Recomendo a todos os que gostam de histórias de fantasia futurista. 

NOTA (0 a 10): 5,5

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado

"Gabriela, sempre Gabriela..."

Sempre ouvi falar de Gabriela. A novela de Sónia Braga como Gabriela sempre fez parte do grupo de novelas faladas cá em casa. Um exemplo de novela, interessante. A primeira grande novela. Ora, a curiosidade começa a nascer.

Quando começou o remake de Gabriela, terminado no Domingo passado, logo assisti. Vi todos os episódios. Sou fã de algumas das novelas brasileiras, e esta foi muito boa. Gostei imenso. Um enredo interessante, personagens engraçadas e bem construídas, os atores a representar bem, vários ingredientes, desde romance a intriga politica. Muito bom!

Ora, não podia deixar de ler o livro.
Um livro bonito, com uma prosa muito bem elaborada. Gostei muito do facto de estar em Português do Brasil, nunca tinha lido nenhum assim e acho muito bem que não o tenham "passado" para Português de Portugal, o que iria desvirtuar a história.
A escrita/prosa/narrativa de Jorge Amado parece um poema. Dei muitas vezes por mim a ler como que declamando (para mim mesma, não costumo ler alto quando leio os livros) um poema. Muitas palavras rimam, têm música própria. Parecia uma cantiga, muito bonita e melodiosa. Maravilha!

É uma obra a recomendar a todos os leitores que se interessem por Literatura. É uma obra literária.
Mas estava à espera dos acontecimentos que se deram na novela. Muitos deles estão presentes, até com os diálogos iguais...mas as minhas personagens favoritas e tramas favoritas nem sempre estiveram presentes. Pensava que ia ficar a saber mais sobre algumas das personagens...fiquei, mas não como estava à espera.

O amor de Nacib por Gabriela, contado em grande detalhe, satisfaz as curiosidades dos leitores/espectadores da novela que queiram saber mais sobre este belo casal. A intriga politica está sempre presente ao longo da história. Bom livro, boa história, boa escrita.
Sem dúvida, recomendo com muito gosto! 

O amor não se prova, nem se mede. É como Gabriela. Existe, isso basta - falou João Fulgêncio. - O fato de não se compreender ou explicar uma coisa não acaba com ela. Nada sei das estrelas, mas as vejo no céu, são a beleza da noite. (pág. 409)

NOTA (0 a 10): 8

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cloud Atlas - Atlas das Nuvens, de David Mitchell

Este é um livro como nunca tinha lido. Podem ouvir aqui a música.

É bastante singular. A sua estrutura, as suas personagens, a sua mensagem. Tudo é singular e brilhante.

Cloud Atlas, ou o Atlas das Nuvens, conta-nos a história de Adam Ewing, Robert Frobisher, Luisa Rey, Tomothy Canvandish, Sonmi - 451 e Zachry.

Todas estas personagens têm as suas histórias dentro da grande história que é o Atlas das Nuvens.
O livro inicia-se com a história de Adam Ewing, passando para Frobisher, Rey, Cavandish, Sonmi e Zachry. Terminando a história de Zachry, temos Sonmi, Cavandish, Rey, Frobisher e Adam Ewing. Ora vejamos!


Passei esta quinzena na sala de música, trabalhando os meus fragmentos com vista a um "sexteto para solistas imbricados": piano, clarinete, violoncelo, flauta, oboé e violino, cada um com a sua própria linguagem, com a sua clave, escala e cor. Na primeira parte, cada solo é interrompido pelo seu sucessor; na segunda, cada interrupção é completada pela mesma ordem. (pág. 518)

Só a própria estrutura por si demonstra uma criatividade, um requinte, que logo me seduziu.
Cada personagem vive numa época distinta, desde o século XIX até um futuro distante (depois da Queda da Civilização). Ao longo das histórias das personagens vão aparecendo certas ligações que as unem. Algumas ligações são perceptíveis de imediato, outras estão mais ocultas, puxando pela mente do leitor.

As histórias que as personagens nos contam são o pano de fundo para algo maior; algo que está sempre presente e algo que pode levar a graves problemas.

Cloud Atlas fala-nos dos perigos da ganancia, da sede de poder, das atitudes e ações para com os outros que geram algo no futuro. Cloud Atlas dá a entender que as personagens vão reencarnando umas nas outras, sendo as mesmas ao longo da história.

É verdade, os Antigos dominaram doenças, dominaram as sementes e fizeram acontecer milagres, mas não dominaram uma coisa: uma fome nos corações humanos, sim, uma fome de MAIS! (pág. 326)

Ao longo das histórias é possível observar a sociedade. O que está presente na história de Adam Ewing está também na de Zachry, muitos séculos depois. O mal, as más ações, vinganças, terrores, crueldade, ganancia, leva, em Cloud Atlas, à extinção da Civilização e ao recomeço das tribos e do canibalismo. Ou seja, é como se tudo por que a Humanidade tenha lutado ao longo dos tempos fosse destruído por essa mesma Humanidade, que se consome a si própria através das suas ações que despoletam algo no presente e no futuro, algo que a destrói.

Não sei se agrada a todos, mas eu gostei muito. Não é uma leitura fácil. David Mitchell consegue criar personagens muito diferentes, com características diferentes, mesmo a nível de escrita e de linguagem, que levam a que seja necessário estar com atenção às nuances e subtilezas da riqueza destas características.

Toda a história é uma critica à sociedade. É uma critica ao que a Humanidade tem vindo a fazer na Terra. Existem muitas histórias sobre catástrofes e acontecimentos dantescos. Esta história não é sobre nada disso, mas sim sobre uma possível realidade, que poderia acontecer com o passar do tempo. Os avanços científicos, as questões governamentais, o Poder, o dinheiro, as mudanças sociais, o consumismo, tudo isso está presente ao longo da história e tudo isso é real. Esta história é sobre as ações do Homem sobre si mesmo. É como que um ciclo que se renova; como que um sistema. É possível encontrar isso na subtil referencia à reencarnação e também noutras partes da história, onde a renovação da matéria está presente (matéria física, espiritual e ideológica/mental).

As histórias são muito boas, bem construídas. Personagens bem construídas, também. Uma música, um mapa das nuvens.

Aconselho vivamente. Pelo prazer da leitura, pelo prazer de algo mais filosófico e critico. Pelo prazer de ler um bom livro: diferente, original e muito, muito bom.

Não conhecia este livro. Vi primeiro o filme, como já postei aqui no Blog
É um filme muito bom, bastante estonteante e até complexo, que tem uma beleza infinita. 
É ligeiramente diferente do livro. Gostei imenso, imenso do livro, no entanto existem certos momentos da história em que prefiro o filme, talvez por ser mais visual, talvez por ter gostado muito das imagens do filme. Sinceramente não compreendo como pode não estar nomeado para os Óscares. Provavelmente por causa da mensagem que transmite.  O trabalho fotográfico e da maquilhagem é fantástico. Os atores estão muito bem "disfarçados". É fabuloso. Há diferenças no desenrolar dos acontecimentos entre o livro e o filme, não que as considere negativas. Não são muitas as vezes em que tendo a achar que o filme é um pouco melhor. Acontece isso com Cloud Atlas. Também acontece com a Invenção de Hugo. Em ambos, penso que tal acontece, tal como disse, por causa do efeito visual. 


Os sábios encontram movimentos nas histórias e formulam esses movimentos como regras que governam a ascensão e a queda das civilizações. Eu, pelo contrário, penso que a história não admite regras, mas só efeitos. 
O que é que causa os efeitos? Ações más e ações boas.
O que é que causa as ações? As convicções. 
A convicção é ao  mesmo tempo o prémio e o campo de batalha, dentro do espírito e no espelho do espírito que é o mundo.

(...)

E só com o teu último suspiro é que hás de perceber que a tua vida não é mais que uma gota num oceano sem limites!

E, contudo, o que é o oceano senão uma profusão de gotas?
(pág. 590)

NOTA (0 a 10): 10

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os Miseráveis

Fui ver este maravilhoso filme.
Já tinha visto a versão de 1998, que muito é do meu apreço. O facto e ir ver este filme como sendo um Musical deixou-me muito curiosa, uma vez que não é um género que me fascine, apesar de gostar imenso de Música. 
Neste filme, posso dizer que o facto de ser Musical só lhe dá mais graça, força, tornando-o épico. Poderei dizer que este é um filme épico? Não sei, mas para mim foi.

Todas as músicas são fantásticas, bem enquadradas e bem cantadas. Os atores cantam e interpretam muitíssimo bem. Todos eles. De especial destaque Hugh Jackman e Anna Hathaway. Também gostei muito de ouvir o Eddie Redmayne, que me fascinou. 

Todas as partes do filme são boas, bem apresentadas. Os cenários são fantásticos, bem como o guarda-roupa. De dar relevância à fantástica cena da barricada e também a mítica cena:

Do you hear the people sing?
Singing a song of angry men?
It is the music of a people
Who will not be slaves again!
When the beating of your heart
Echoes the beating of the drums
There is a life about to start
When tomorrow comes!


Ver todas as pessoas a cantar, a manifestar-se, exaltando um desejo comum e grandioso, foi algo que me emocionou. Achei fantástico. E as cores... garridas e vibrantes... dão uma ideia de coragem, audácia e beleza que me fascinou.
Depois existem outras partes igualmente interessantes. Penso que todo o filme é interessante. Até agora foi o melhor Musical que eu já vi. Em segundo lugar está o Sweeney Todd, de Tim Burton, que foi o primeiro Musical que vi. 

Recomendo a todos. Mesmo que não gostem muito de Musicais, não desperdicem a oportunidade de ver um bom filme, bonito, adaptado de um livro bom e grandioso. É uma obra que engrandece o espírito. Ainda não li o livro, mas espero ler em breve, para poder fazer um paralelo entre ambos.  

NOTA (0 a 10): 10 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Os Dragões do Assassino, Robin Hobb

E assim terminei a leitura desta maravilhosa história. Comecei a ler as aventuras do Assassino do Rei já lá vão aí quase cinco anos, aproximadamente.
Acompanhei todas as suas aventuras, todos os seus amores e desgostos. Todas as suas maluquices, todos os seus anseios, todos os seus perigos. 

Robin Hobb escreve de uma forma que nos leva para o interior da história e ainda mais, para o interior do Fitz. É como se eu fosse alguem que andava com ele, como que invisivel, sempre com ele e visse tudo o que lhe ia acontecendo. Mais! Que conseguisse entrar na sua mente e ler-lhe os pensamentos. 
Estabeleci uma ligação extremamente forte com o Fitz. Por tudo o que lhe aconteceu, por ser ele a narrar a sua história ao longo das duas sagas, por tudo, tudo, acho que a ligação que estabeleci com ele foi diferente da que estabeleci com outras personagens que também gosto muito.

O Fitz é uma personagem singular. Não é um herói, mas é um herói. É um herói humano, fiel e tão sozinho, que me despertou logo carinho. É carinho o que sinto por ele. É uma personagem que sofre imenso. Só consigo compará-lo ao Frodo Baggins. Mesmo sofre a níveis psicológicos que não acontecem ao Frodo. 
A amor por Moli é para mim uma as facetas mais belas da história e confesso que foi o que mais depressa me despertou a atenção na primeira saga. Saber o que ele pensava, como agia, porque agia assim. Descobrir com ele os resultados dos seus atos e dos seus enganos e também das suas alegrias, foram momentos únicos. 
E esperei, esperei, esperei pelo seu encontro. 

Mas depois do amor deles começaram a aparecer pontos também interessantes. Toda a intriga, o Bobo. 
E fui lendo, avidamente, a vida de Fitz.
Depois de uma saga que para muitos teve um final um bocado estranho, esta saga tem um final completo. Tudo se explica, apesar de ficar uma sombra no ar, uma sombra que pairará para sempre tanto na vida do Fitz como naquelas de quem leu a sua história. E essa sombra prende-se com o Bobo. 

O Bobo, essa personagem tão interessante, tão estranha, enigmática. A sua história, principalmente neste livro, é surpreendente. É a parte mais forte do livro, se não da saga. Os momentos de assombro passados pelo Fitz e pelo Bobo neste livro são de completo êxtase. Quem gostar de emoções fortes na literatura vai decerto gostar.

Este é um livro com uma forte dose de emoção, aventuras, e encaixe de finais. Tudo flui para algo que fecha um ciclo. Depois de toda a conversa do Bobo sobre mudança e o ciclo do Tempo, este livro abre muitas portas e fecha outras, mostrando-nos a beleza que existe ao longo da narrativa. 

Esta narrativa, de ambas as sagas, é uma narrativa que considero bela. Tem a dose certa de todos os ingredientes. As descrições são oportunas, as personagens também, tudo se encaixa.
E tanta coisa acontece. 

É um final muito bonito para uma história que tanto me fez gritar pelo Fitz. Vivi verdadeiros momentos de suspense e emoção por causa dele. Um final que se adequa às duas sagas. Sempre achei que aquele final da primeira saga não era um final completo. Por favor, quem ficou perturbado pelo final da primeira saga e por isso não experimentou a segunda, volte a trás e dê uma oportunidade ao Fitz. Para quê ficar a meio? Fique a saber a história completa! 

É verdadeiramente uma das minhas sagas favoritas. Não sei decidir qual das duas gosto mais, mas este foi o meu livro preferido desta saga, se não das duas. 

São personagens que irão ficar para sempre no meu coração. 

Recomendo a todos, sem excepção!


"Ainda está nela. Puseste lá as memórias que não suportavas recordar e as emoções que não querias permitir-te sentir. Deste-lhe a tua mãe a abandonar-te, o facto de nunca teres conhecido o teu pai. Deste-lhe o tormento que Majestoso te causou nas masmorras. Deste-lhe, acima de tudo, a dor de perder Moli e a tua filha para Castro, entre todas as pessoas. Puseste nela a tua fúria e a tua dor e a sensação de seres traído." Bobo
  
"(...) Dar-te-ei todos os teus sonhos, se voltares para trás!" O meu sonho estava morto nos meus braços. Continuei a andar. Mulher Pálida e Fitz
  
E Moli...como pudera eu banir o seu cheiro e o seu sabor, mel e ervas, e o modo como o seu riso ressoara como campainhas quando eu perseguira praia fora as saias vermelhas que chicoteavam violentamente as suas pernas nuas enquanto ela corria, ou a sensação do seu cabelo nas minhas mãos, as suas pesadas madeixas a emaranhar-se e prender-se na pele áspera das minhas palmas? ... Fitz 

"Lembro-me de ti de saia vermelha. Subias as falésias à minha frente e eu vi-te os tornozelos nus e cheio de areia. Julguei que o coração me ia saltar do peito." Perguntei a mim próprio se ela sequer se lembraria do distante piquenique em que eu nem me atrevera a beijá-la. Fitz

 "Nas costas," disse eu e, contra a minha vontade, a voz tremeu-me. Ela parou e olhou-me. Fitz

Nota (0 a 10): 10