segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Passatempo - A Traição de Ariadne, de Bruno Perpétuo-Tavares (Chiado Editora)

Olá a todos!

Está aberto o novo passatempo de O Imaginário dos Livros, em parceria com a Chiado Editora.

O livro que será oferecido é:


Sinopse:

Tudo se passa depressa, talvez demasiado depressa para o carácter circunspecto de André. O tio moribundo faz uma revelação que descobre um segredo enterrado no passado. De súbito, tudo aquilo que conhecia se transfigura à sua frente e o mundo revela-se irreversivelmente alterado. Hesitante, o rapaz inicia uma viagem para esclarecer o segredo. Mas todos os segredos exigem um preço a pagar…
Narrada na primeira pessoa e num estilo intimista, a história desdobra-se em diversas cenas - finamente ligadas por um fio invisível - povoadas de personagens que se vêem confrontadas com as suas próprias fragilidades e que se debatem com uma desoladora solidão.
(conforme site da Chiado Editora)
Para participar é necessário ser seguidor do blogue e seguidor deste no Facebook. Podem encontrar a página aqui.

As regras do passatempo são:

- participar até às 23h59 de 6 de Outubro  de 2014;
- ser seguidor do Blogue aqui E no Facebook;
- ser residente em Portugal;
- só são aceites uma participação por pessoa/morada;
- apenas haverá um vencedor, que será apurado através do site: random.org.


sábado, 20 de setembro de 2014

Novidades Marcador - O Rei de Ferro e a Rainha Estrangulada, de Maurice Druon

À venda a partir de 3 de setembro, este é um livro que promete ser muito bom! Tem recomendação do George Martin e tudo. 
Sinopse:

O Rei de Ferro – Filipe, o Belo – é frio, cruel, silencioso, e governa o reino sem hesitações. Apesar disso, não consegue dominar a própria família: os filhos são fracos e as esposas, adúlteras, ao mesmo tempo que a sua filha de sangue, Isabel, é infeliz no casamento com o rei inglês – que parece preferir a companhia de homens.
Empenhado na perseguição aos ricos e poderosos Templários, Filipe sentencia o grão-mestre Jacques de Molay a ser queimado na fogueira, atraindo sobre si uma maldição que vai destruir o futuro da sua dinastia. Morre nesse mesmo ano, deixando o reino em grande desordem.
O seu filho é nomeado rei, mas com a esposa presa e acusada de adultério, é incapaz de gerar um herdeiro e de garantir a sucessão.
Enquanto a cristandade espera um papa e as pessoas estão a morrer de fome, as rivalidades, intrigas e conspirações vão despedaçar o reino e levar barões, banqueiros e o próprio rei a um beco sem saída, ao qual só parece ser possível escapar pelo derramamento de sangue.

Dados editoriais:

Título: O Rei de Ferro e a Rainha Estrangulada | Autor: Maurice Druon | Editora: Marcador
Nº de Páginas: 504 | Formato: 15,5x23,5 cm | PVP 19,95€ | ISBN: 978-989-754-077-6

Oscar e Lucinda, de Peter Carey

Decidi ler este livro após ter visto o filme, do qual gostei muito. Gostei por causa da história em si, mas também por causa dos atores que retratam Oscar e Lucinda, que eu aprecio bastante: Ralph Fiennes e Cate Blanchett.

Oscar e Lucinda conta a história destas duas personagens, pela voz do bisneto de Oscar, 120 anos depois. O bisneto começa por contar alguns dados sobre a sua família mais próxima para depois passar a contar a história de Oscar e, depois, a de Lucinda.

Oscar, nascido em 1841, é um jovem solitário e introvertido, filho de um naturista e religioso da Ordem de Playmouth e de uma mulher muito bela e interessante, que vive em Hennacombe, Inglaterra. Depois de esta morrer, o pai de Oscar, Mr. Theophilus Hopkins vê-se a braços com a solidão e a tarefa de criar o filho sozinho. Sendo ele um bocado fanático em relação à sua religião e vendo todas as outras como perigosas e blasfemas, cedo começa a privar Oscar de muitas das coisas da Vida, como pudim de passas de Natal, que, a seu ver, é um produto do Mal. Quando Oscar, às escondidas do pai e com a ajuda das empregadas, come um bocado de pudim, percebe que a Vida podia muito ser muito mais interessante se pudesse fazer o que as outras pessoas das outras religiões fazem. Assim, começa a pensar a que outra religião cristã pode pertencer, através de um jogo adivinhatório com pedras e símbolos, acabando por lhe calhar como símbolo a Igreja Anglicana. Deste modo, Oscar abandona o seu lar e parte para casa do reverendo Stratton. Este influencia-se com o gosto do rapaz pela religião e principia-o nos preceitos anglicanos a fim de o enviar para Oriel para se tornar reverendo. Mais tarde, Oscar segue para Oriel e torna-se reverendo e viciado em jogos, principalmente em corridas de cavalos. Continua também a ser um “inadaptado” para a sociedade, um ser estranho e demasiado bondoso e esquisito (sendo esta a sua alcunha na faculdade).

Lucinda, também nascida em 1841, é uma jovem órfã que se vê a braços com uma fortuna bastante grande e sem saber como geri-la. Grande apreciadora de vidro, ao chegar a Sidney, vinda de Parramatta (também na Austrália), decide investir numa antiga fábrica de vidro, que estava à venda. Depois de se informar de quem a poderia ajudar, descobre o reverendo Hasset, também um apreciador de vidro, com o qual inicia uma amizade. No entanto, criada por um casal um tanto excêntrico para a época e para a região (a mãe era a favor do trabalho feminino e das fábricas da sua saudosa Londres e o pai era um amante a natureza e da bondade) e um tanto afastada das cidades, Lucinda descobre que os seus modos não são os mais “corretos” perante uma sociedade de gente empedernida e falsa. Sem mais do que dois ou três amigos, sozinha e jovem, começa a interessar-se pelos jogos, acabando por se viciar neles.
O destino de ambos cruza-se numa viagem de navio para a Austrália, quando Lucinda vem de um ano de estadia na Inglaterra e Oscar vai para a Austrália como penitência pelos seus vícios de jogador. Depois de se encontrarem e de se conhecerem, descobrem que os seus interesses são comuns e que a sua excentricidade e diferença em relação aos outros membros da sociedade pode muito bem ajudar a criar um laço bem grande entre ambos. Assim, tornam-se bons amigos.

Mais tarde, acabam por estabelecer entre eles uma aposta que tem tudo para mudar o curso das suas vidas.

Gostei bastante da história, das personagens, dos ambientes, das descrições e do sarcasmo e ironia presente ao longo de todo o enredo. Personagens distintas, ricas, complexas e que têm muito para oferecer ao leitor, fazendo com que este, durante a leitura, possa refletir sobre o que está a ler de uma forma mais ampla. Oscar é muito interessante, bem como Lucinda. São personagens que, mesmo que possam parecer excêntricas aos olhos das outras personagens, acabam por não o ser, sendo apenas “elas próprias” todo o tempo, estando sozinhas ou acompanhadas. Não têm vergonha dos seus comportamentos nem dos seus sentimentos e por isso são extremamente genuínas. É a sua genuinidade que leva Oscar e Lucinda a serem vistos como “estranhos, esquisitos e até depravados” por uma sociedade falsa, corrupta, assassina e maldosa, que esconde a sua maldade e velhacaria através de comportamentos e atitudes aparentemente corretos e moralmente aceites. Isso faz com que a história acabe por ser uma crítica bastante aguçada a esses comportamentos da sociedade, a essas falsidades que abundam por aí. É uma história intemporal por isso mesmo.

Depois, também gostei do sarcasmo com que o narrador aborda os temas contextualizadores da história, como a forma como certos assuntos, nomeadamente a religião, está presente na forma como as decisões dos mais diversos aspetos do dia-a-dia são tomadas. Não só a religião, como as “normas sociais”, o medo, a euforia, a falta de reflexão, a reflexão em excesso, o amor, o ciúme, as paixões, o desejo e o interesse pessoal. Por exemplo, Oscar está sempre a conter os seus sentimentos, os seus desejos, com medo de ser punido divinamente ou com medo do que lhe poderá acontecer se tomar alguma decisão mais brusca, sem reflexão prévia. Foi a sua educação que o fez assim (também em relação a Lucinda), o que também serve de crítica à forma como a educação molda o individuo. É essa contenção que provoca tudo o que acontece ao longo do enredo.

Outra crítica bastante presente é a forma como Lucinda é tratada num mundo de homens, por ser mulher. Dona de uma fábrica, bastante moderna em relação às convenções sociais, ela vê-se posta de lado pelos homens e pelas mulheres por querer ser ela mesma. Os operários não a aceitam na fábrica, pois pensam que ali não é lugar para mulheres. No entanto, ela é uma excelente gerente e quando ela não está presente, o negócio, tomado nas mãos dos seus amigos homens acaba por quase definhar. Pode-se ver-se que o autor explora aqui a forma como a mulher se tenta afirmar numa sociedade masculina, como é posta de parte tendo mais capacidades do que eles, pois é uma afronta por causa da sua inteligência, da sua intelectualidade e conhecimentos.

No entanto, houve um aspeto que não me agradou muito. Compreendo a originalidade na escolha do autor, mas acho que isso não beneficiou grandemente o enredo. Refiro-me à sequência narrativa. O narrador, ao contar a história, vai acrescentando informações por vezes bastante diversas daquilo que estava a contar, apesar de serem relevantes para os acontecimentos. Isso faz com que a narração, por vezes, se disperse um pouco e haja alguma falta de coerência. Também levou a que, a meu ver, a história tivesse um começo bastante mais completo do que a parte final, que acabou por ser um tanto rápida e mais coerente. A parte mais final (a partir, mais ou menos, das páginas 300) acabou por ser mais coerente e linear do que o início da narrativa. Fiquei a pensar que, se toda a história tivesse sido assim, teria sido mais interessante, mais coesa e direta.

O que acabei de referir não faz com que o livro deixe de ser uma excelente história. Muito bonita, um tanto trágica e bem melancólica. É final que fica na memória e que deixa um sensação de vazio, que marca o leitor e o deixa a pensar que tudo poderia ter sido diferente se as atitudes das personagens tivessem sido outras, se … se… aquela palavra que revela um ato que poderia ter sido e que não foi, ou que foi e poderia não ter sido.

Fico com a sensação que gostei mais do filme. O final está ligeiramente alterado, mas a alteração que fizeram no filme vai mais ao encontro ao meu gosto e é por isso que fico com esta sensação. Os atores estão perfeitos e representaram na perfeição as personagens, transmitindo todo seu carisma e pujança. Tanto Ralph Fiennes como Cate Blanchett fizeram um brilhante trabalho. Aconselho vivamente a que vejam o filme, pois é muito bom e bonito, tanto visualmente como a nível da beleza da história; aquela beleza inerente que aparece nas pequenas coisas. 


Também aconselho a leitura do livro, claro. Muito bom! 

Citações:

Ao fundo da grandiosa escada escorregadia que levava ao convés superior, abandonou silenciosamente a ruidosa companhia e sentiu-se como uma criatura triste e feia num conto de fadas, para sempre exilada da luz e compelida a ocultar-se, pálida e de olhos arregalados, reluzente de suor nas escuras regiões de aço das profundezas. p.260 


NOTA (0 a 10): 9

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

The Gospel of Loki, de Joanne M. Harris

The Gospel of Loki é o terceiro livro da autora Joanne Harris que tem como contexto a mitologia nórdica. Depois de ler A Marca das Runas e A Luz das Runas, não podia deixar de querer ler este! 


Neste livro, Loki é o narrador e é ele que conta a sua história e a do começo dos mundos até ao Ragnarok, tendo em conta o seu ponto de vista. Com uma linguagem muito fluída, irónica e bastante sentida, Loki vai contando a sua história, à qual chama de Gospel of Loki (traduzido livremente por mim como O Hino de Loki, ou algo do género). É como que uma explicação pelo que fez durante a sua estadia em Asgard.

No início, Loki começa por introduzir o contexto da sua narrativa, explicando como começaram os mundos de acordo com a História: o Caos (fogo) entrou na Ordem (gelo) por meio de erupções subterrâneas que derivaram na existência de vida (temperaturas tépidas na superfície gelada geraram vida). Vida essa que teve como primeiro ser um gigante de nome Ymir e depois uma vaca (Audhumbla), que quando lambeu o gelo pôs a descoberto o primeiro Aesir, Buri. Buri foi pai de Bor que foi pai de Odin, Vili e Ve. Estes três acabaram por matar o gigante Ymir e, dele, fizeram os elementos dos mundos (o sangue deu origem ao mar, a carne deu origem à terra, o cabelo deu origem à vegetação, o cérebro deu origem às nuvens e o crânio deu origem ao céu). Depois de várias batalhas pela conquista dos mundos, acabou por se chegar à conclusão de repartir as terras pelas diferentes raças, que entretanto apareceram: povo do gelo, povo das rochas, humanos, Vanir, bruxas, feiticeiros, monstros. Os Vanir, nascidos de ligações entre os do Caos e os humanos, acabaram por ganhar mais magia do que os Aesir, uma vez que a magia era um dos poderes do Caos. E com a magia, vieram as Runas, que Odin acabou por cobiçar.

Gullveig-Heid, representante dos Vanir e uma das mais poderosas, foi até Asgard para negociar, mas os Aesir tentaram matá-la por três vezes no fogo, ao que ela conseguiu renascer e fugir, incentivando o seu povo e outros povos à guerra contra os Aesir. A guerra alastrou-se, até que Odin tentou mais um esquema: trocar reféns com os Vanir. Mandou-lhes Mimir e Honir e em troca ficou com Njord e os seus filhos (Frey e Freyja), na medida que os dois Aesir contribuíssem com ensinamentos de estratégia de guerra e os três Vanir contribuíssem com ensinamentos das runas. No entanto, Mímir e Honir tinham um esquema para dar informações falsas, o que levou à decapitação de Mímir, cuja cabeça voltou para Asgard com Honir. Odin acabou por preservar a cabeça com runas e transformou-a num oráculo, que guardou para si. Tempos depois, com novas ameaças dos povos do gelo e das rochas, os Aesir e os Vanir acabaram por se juntar em Asgard e, no final da guerra, uniram-se.

Com o tempo, Odin acabou por compreender que o que lhe fazia falta era alguém que fizesse os “trabalhos sujos” que ajudariam os Aesir a continuar no poder e depois de muito procurar (com a ajuda dos seus dois corvos Munin e Hugin), acabou por encontrar Loki, ainda na forma de Fogo Selvagem, um filho do Caos, filho de Laufey (uma chama) e de um monte de paus.

Loki, curioso por natureza, também andava à procurar de Odin. Andava à procura dos Aesir e dos Vanir através do Sonho, para descobrir quem é que andava a usar as runas e a magia, um dom do seu povo. Sonhava também ser livre, algo que não era no Caos, sempre subjugado por Surt, o Senhor do Caos. Assim, nas margens do rio de Sonho, Loki e Odin encontraram-se, este chamando pelos nomes de Loki de modo a trazê-lo para o seu lado. Loki mudou para o aspeto humano e acabou por se deixar seduzir pelo pedido de Odin: Loki seria um dos deuses, moraria em Asgard, seria estimado e bem tratado, estaria sob proteção de Odin, que seria seu irmão de sangue, trabalharia para Odin e não mais poderia regressar ao Caos. Para isso, como marca de aliança, marcou-o com a runa Kaen (runa do fogo) e levou-o para Asgard. Lá, Loki só encontrou ódio e rancor por parte dos outros Aesir e Vanir, exceto Idun (que não tinha sentimentos negativos por ninguém) e Sygin (que se apaixonou por ele).

A partir daí, Loki conta como foi a sua vida no meio dos deuses, como se deixou encantar e deslumbrar, como acabou por encontrar nada mais do que traição e ódio, como se tornou mais humano do que criatura do Caos, como se sentiu envolto em sentimentos e sentidos que o atormentaram, como encontrou algo parecido com Amor, com família, com amizade, e como acabou por perder tudo, restando-lhe apenas a vingança como arma contra aqueles que o acolheram com sentimentos de raiva e medo, contra aqueles que poderiam ter sido a sua família e que acabaram por se revelaram nada mais do que carrascos. Assim, Loki vai narrando a sua história e como esta se entrelaça com a história dos mundos, com o seu inícios e os seus finais.

Gostei muito do livro, mais do que dos outros dois. Apesar de gostar imenso de A Marca das Runas e de A Luz das Runas, The Gospel of Loki, ultrapassa-os, na minha perspetiva. Isto porque: tem o Loki como narrador e suprema personagem principal (ele é o meu favorito destes livros); tem uma linguagem mais adulta, mais assertiva, mais irónica; tem como cenário Asgard e outros locais míticos; os deuses estão mais presentes; existem momentos de pura melancolia e até bastante tristes, que estão muito bem doseados com momentos de puro riso; é uma boa forma de ficar a conhecer melhor a mitologia nórdica e, em especial, Loki e o seu papel nesta.

Uma vez que, já nos outros livros, Loki tinha-se revelado um eixo fundamental e um pilar de estruturação da história, isso é exponenciado aqui, sendo o narrador e a personagem principal. Também é possível, ao ler nas entrelinhas, descortinar o papel que ele teve em todos os momentos, especialmente nos momentos finais, que servem de ligação para alguns dos acontecimentos dos outros dois livros, principalmente do primeiro. Este livro é como que a base para tudo o que se desenvolve nos seguintes, porém, não significa que seja mais interessante lê-lo antes dos outros. Mesmo porque a ordem de escrita foi: A Marca das Runas, A Luz das Runas, The Gospel of Loki. Este livro é como que a chave para algumas pontas desatadas de algumas partes dos enredos dos outros dois livros, ou pelo menos para quem não é tão conhecedor da mitologia nórdica. Porque sim, o livro é uma espécie de reconto de alguns episódios desta mitologia, mas a forma como é narrado é soberba.

Mais uma vez, Joanne Harris volta a encantar com a forma como desenvolveu mais um capítulo desta história com base nos mitos nórdicos. Para mim, este supera os outros dois. E é pena que, em princípio, seja um standalone, dada a forma como terminou. Por falar nisso, esta é a prova que é possível escrever histórias boas, com um enredo rico, complexo, fantástico, sem ser necessário recorrer a vários livros. Neste pequeno livro (cerca de 300 páginas), acontecem mais episódios do que em qualquer dos outros dois livros passados neste contexto.

Não podia deixar de mencionar outro facto que muito me agradou: a final do livro. Ao longo do livro, o narrador vai-nos dando pistas sobre o final (e todos os que leram os outros dois livros, ou apenas um, ou que conhecem alguns episódios desta mitologia) e eu já sabia o final, pelo menos, a parte mais visível do final. Porém, a mestria com que ele narra a história, a forma como ele utiliza as palavras e as usa para criar os significados subtis que pretende mostrar ao leitor, faz com que o final seja muito mais do que aquilo que se estava à espera. Este é, simplesmente, brilhante, bem como em certa medida, bastante triste. Como referi à pouco, existem momentos de puro riso porque a forma como ele narra e alguns dos episódios que são narrados, permitem que o leitor dê várias gargalhadas. No entanto, Loki mostra ser um ser que também é capaz de refletir, de sentir, de se angustiar e sofrer, de tal modo e de tal forma que faz com que certos momentos do livro se tornam bastante melancólicos. Refiro-me em especial aos momentos com os filhos dele e àqueles em que ele é traído.

É uma história mais adulta do que as dos outros livros. Existem diversas batalhas, com excelentes descrições que me fizeram imaginar lá dentro, o que é muito bom. Existe ação, drama, alegria, amor, magia (muita magia), intriga e dualidade. Estão presentes todos os ingredientes que promovem uma boa história, com um enredo forte e perfeito. Existe um excelente equilíbrio destes ao longo da narrativa. As personagens estão excelentes, muito diferentes umas das outras, muito bem caracterizadas e definidas. Todas elas têm o seu papel determinante para o global da história. Nada aparece por acaso e tudo o que é narrado é importante…tudo está ligado. E essas ligações são bastante expostas pelo narrador, que, enquanto narra a sua história, faz também uma reflexão sobre a sua vida, sobre as suas escolhas e sobre tudo o que poderia ter tido ou feito, pesando todo o seu passado em busca de uma espécie de redenção. Não há apenas um lado nele, não há apenas maldade ou gosto por enganar, por trair. Não. Esta história dá a conhecer um Loki muito mais complexo, um Loki que sempre foi mal-entendido pelos seus pares, que não foi aceite e que por isso se viu votado ao abandono e sem ninguém. E, no fundo, o que ele mais queria era alguém. Da sua maneira, mas alguém.


Um livro maravilhoso. Ainda não está traduzido para português, mas penso que alguma editora (a ASA, talvez…uma vez que traduziu os outros dois) o irá fazer. Espero que leiam e que gostem tanto como eu gostei. Recomendo a todos.


Podem encontrar mais informações no site da autora, aqui

Algumas citações:

Words, like names, are powerful things. Once given, there's no taking them back without risking serious consequences. p. 235

Or was this the scenario she'd always secretly wanted - to have me to herself for good, helpless and in her power?
"I brought some fruitcake for later," she said "If you like I'll cut you a slice."
"Cake," I said. "You brought cake?" p. 243

History spins its yarn, breaks threads, spins again, like a child's top, going back to the beginning. The Oracle knew that. That's what those last stanzas mean; a new world, rising from the ruins of the old. p. 294

NOTA (0 a 10): 10