Depois de vários anos há espera, consegui ler este livro. Já
era para o ter lido há muito tempo, mas optei por comprar outro e o tempo foi
passando e quando fui para comprar este livro descobri que estava esgotado,
havendo apenas os dois seguintes da trilogia. Assim, encetei uma demanda para
encontrar o livro e procurei em várias lojas mais pequenas e nas bibliotecas.
Acabei por encontrá-lo numa biblioteca e foi com grande prazer que o trouxe
comigo. Finalmente, podia lê-lo!
A Filha da Floresta é a história de Sorcha, a sétima filha
de um sétimo filho, irmã de seis rapazes, filha de Lorde Colum, governante de
Sevenwaters, e de Niamh, sua amada esposa, que morreu depois do parto Sorcha. Sevenwaters
fica em Erin (Irlanda). Sorcha é a narradora da sua história e da dos seus
irmãos, Liam, Diarmid, Cormack, Conor, Finbar e Padriac. Criada praticamente
pelos irmãos, na fortaleza e na floresta de Sevenwaters, Sorcha foi-se tornando
numa menina independente, autónoma, inteligente, astuta, de grandes
conhecimentos sobre ervas e curas, acabando por tornar-se curandeira. O seu pai
parecia não lhe dar grande valor e isso fazia com que ela ainda sentisse mais
amor pelos seus irmãos. Muito unidos, os sete filhos protegiam-se mutuamente e
preservavam a memória da mãe, indo frequentemente junto ao seu vidoeiro, que
tinha sido plantado por eles no momento da morte dela. Lá, refletiam, pensavam,
brincavam e procuravam ajuda e conselho.
Mas a guerra e as invasões de dinamarqueses e bretões, não
dava descanso e as intrigas da guerra começaram a fazer os seus estragos na
vida dos irmãos. À medida que cresciam iam juntar-se aos homens de armas e
tinham de continuar o ódio contra os bretões, principalmente, que tinham, muito
tempo atrás, conquistado as três ilhas mágicas dos irlandeses, começando assim
uma luta sem tréguas durante muitas e muitas gerações. Quando um misterioso
bretão é apanhado e levado para a fortaleza, Finbar, que era contra a guerra e
contra a injustiça do não-diálogo entre os povos, pediu ajuda a Sorcha para
ajudar a libertar o rapaz bretão. O plano acaba por vingar, mas Sorcha vê-se
precisa perto do rapaz e parte para o ajudar. Acaba por simpatizar com ele,
contando-lhe histórias e lendas. No entanto, os seus irmãos aparecem, tempos
mais tarde, para a levar devido a um novo acontecimento: o noivado de Lorde
Colum. Sorcha parte triste por abandonar Simon e, quando chega a sua casa, vê
que o pior estava para vir. A madrasta dela, Lady Oonagh, acaba por revelar-se
uma autêntica bruxa, cheia de ódio, acaba por transformar os seis rapazes em
cisnes. Sorcha consegue fugir e mais tarde é visitada pela Dreidre, a Dama da
Floresta, que lhe comunica a tarefa que tem pela frente: para conseguir trazer
os seus irmãos de novo para a forma humana, terá de tecer e coser seis
camisolas de morugem (uma planta espinhosa) e, quando todas tivessem
terminadas, teria de as colocar aos pescoços dos cisnes. Durante todo o
trabalho não poderia falar, nem gritar, nem chorar em voz alta. Não podia
contar a sua tarefa por nenhum meio. E, durante esse tempo, poderia estar com os
seus irmãos, em forma humana, apenas duas vezes por ano, no solstício de verão
e no de inverno, durante o anoitecer e o amanhecer.
E assim começa a provação, a jornada, o terror, a tristeza,
o silêncio, a espera, a tortura, a privação. Assim começa a demanda de Sorcha
pela liberdade dos seus irmãos, pelas suas vidas e pela sua própria vida.
É uma história muito bonita, triste em muitos momentos, mas
muito bonita. A sua beleza reside na simplicidade de Sorcha, na sua
determinação, na sua força de vontade, na sua angústia. É uma grande demanda,
uma grande viagem cheia de perigos, intrigas, terrores e provações, mas é
também uma história de amor, de coragem, de amizade, de perseverança, de
virtude e de paciência. Emocionei-me por várias vezes, porque a história é
muito comovente. Há momentos de grande brutalidade, de grande tristeza. E
também me fez sorrir várias vezes. Porque nem tudo é escuro e a luz brilha onde
menos se espera, onde por vezes nada é visível, onde por vezes a escuridão é
total, quase eterna. Esta é uma história que nos diz que a luz está onde menos
se espera, que é importante acreditar, continuar, não desistir, ter coragem
para alcançar o que é necessário, mesmo que o caminho para lá chegar seja o
mais tortuoso, mais hediondo, mais triste ou mais assustador. Sorcha é uma
rapariga muito corajosa, que acompanhei desde pequena até aos 16 anos. Pude
acompanhar um período extremamente rico da sua vida, um período cheio de
desespero, mas também belo e alegre. Porque nada do que ela alcançou poderia
ter sido alcançado sem o sofrimento do caminho por que teve de passar. Vi-a
crescer, tornar-se mulher, vi como teve de se transformar, como foi doloroso,
como foi confuso e como esteve sozinha. Vi como nunca deixou de acreditar, de
lutar, de seguir em frente (sempre a caminhar...um pé à frente do outro...,
como refere várias vezes). Mas não foi apenas Sorcha que me comoveu. Também me
senti muito comovida com Finbar e Red, personagens tão ricas e profundas que me
fizeram sentir uma grande empatia por elas.
Todas as personagens são excelentes e as centrais, bastante
complexas e interessantes. Gostei muito de Sorcha, de Finbar, de Conor, de
Padriac, de Red e de Simon, principalmente. Também gostei dos outros irmãos,
mas senti mais empatia com estes. Todas as personagens vão sofrendo uma
evolução bastante grande, o que dá força ao enredo. Como principais vilões,
Lorde Richard e Lady Oonagh estão muito bem, apesar de não terem sido assim uns
“super vilões”, não daqueles que por vezes me fazem odiar profundamente ou até
gostar. Claro que odiei Lady Oonagh e também Lorde Richard, mas o forte da
história não são os seus vilões, a meu ver, o forte da história é a sua magia,
o amor e amizade entre Sorcha e os irmãos, a força da família, a coragem, a
sobrevivência, o amor e a amizade, a força de acreditar e de não desistir, de
lutar sempre e de continuar, independentemente do que aconteça. A força desta
história é a sua mensagem, a beleza da história de Sorcha, dos seus irmãos, de
Sevenwaters, de Harrowfield. A força da união, da descoberta do íntimo de cada
um, a descoberta dos sentimentos, das emoções, da Vida. É aí que a história é
verdadeiramente boa. É linda e é uma boa história para contar. Sorcha e outras
personagens contaram muitas histórias e o poder das histórias, das lendas, é
também muito forte ao longo da história. Muitos são os paralelismos entre
histórias contadas pelas personagens e a própria história das personagens ao
longo da narrativa. E é também muito parecida com um conto tradicional, pois
têm vários elementos que fazem lembrar histórias de princesas e infelizes
raparigas com tarefas para fazer e perigos para ultrapassar. Esta é uma
história que poderia ter sido verdadeira, uma história que se tornaria numa
lenda, uma lenda celta, cheia de magia, de beleza, de misticismo. Uma balada,
tão perfeita, tão esplendorosa. Sim, A Filha da Floresta é uma maravilhosa
balada celta, uma balada cheia de sentimento e de emoção.
Outro aspeto que me agradou bastante foi o contexto da
história. O contexto histórico. Sendo uma narrativa com grandes laivos
fantásticos, o contexto é muito real, está muito bem definido e faz todo o
sentido. É uma história de fantasia, cujo contexto é real: Irlanda e Bretanha,
no tempo das invasões bárbaras. A autora aliou uma história de magia com
acontecimentos reais. E, todos sabemos que naqueles locais havia magia de
verdade. Quem pode dizer que não havia? Por isso, a parte fantástica da
história também se mistura com a realidade, o que é muito interessante.
Gostei do ambiente. As descrições são soberbas, cheias de
vida, e permitem que o leitor se imagine lá, onde Sorcha está, perto dela.
Senti várias vezes que estava lá com ela. Penso que senti isso durante toda a
narrativa.
Não é o primeiro livro que leio da autora. Já li O Espelho
Negro, Danças na Floresta e O Segredo de Cibele. Destes três, o que mais gostei
foi Danças na Floresta. E agora A Filha da Floresta passou-lhe à frente, se bem
que por pouco espaço. Há várias semelhanças entre os livros da autora, mas essa
é a sua magia. Se Juliet escrevesse um livro com outros temas, todos nos espantaríamos
e até podia não ser tão maravilhoso como os que a autora tem escrito.
E este é o primeiro livro de Sevenwaters. Vê-se
perfeitamente que é apenas o começo e espero que o que vem a seguir continue a
ser tão bom, ou, quem sabe, melhor.
Sorcha é uma maravilhosa narradora. Penso que, até agora,
ainda só li poucos livros cujos narradores me encantaram muito. Os do Fitz, do
Kvothe, Óscar, em Marina, de Zafón, e este. Um bom narrador faz maravilhas, e
Sorcha convenceu-me completamente. Penso que ela seria uma mulher à altura de
FitzCavalaria Visionário. Sim! Pensei várias vezes neles juntos, ao longo da
leitura.
Pois é, A Filha da Floresta entrou para o meu grupo de
favoritos e poderá ser um dos melhores do ano. É o começo de uma história,
trilogia ou mais, e é um bom começo, um começo forte e marcante. Agora é ler os
seguintes.
NOTA (0 a 10): 10