terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A Rapariga Que Roubava Livros, de Markus Zusak

Depois de ter visto o filme era impossível não ler o livro.

Foi com grande entusiasmo que iniciei esta leitura, uma vez que gostei muito do filme e também porque queria muito ler o livro há já algum tempo.

A Rapariga Que Roubava Livros conta a história de Liesel Meminger. A história é narrada pela Morte e apresenta um período da vida de Liesel, desde 1939 a 1945 e depois um bocadinho mais. É contada através das páginas deixadas por Liesel e pelo que o narrador conhece. Passa-se na Alemanha, numa pequena rua de Molching, a rua Himmel (Céu). Uma rua na parte pobre de Molching, onde há fome.

Liesel, quase com dez anos, é levada para a casa 33 da rua Himmel, para ser acolhida por um casal de meia idade, os Hubermann. No caminho para Molching, Liesel vê o seu irmão morrer. Iam no comboio quando tal aconteceu e é nessa primeira vez que o narrador encontra Liesel. Filha de comunistas, Liesel (e o irmão, Werner, também era para ter ido) é entregue pela mãe para ser acolhida por outras pessoas, no desejo de que tenha um futuro melhor, um futuro livre de sofrimento, pelo menos de um menor sofrimento. Apesar de Liesel compreender isso, custa-lhe acreditar e assimilar tal facto. Quem queria mal à sua família? O que poderia estar a causar aquilo?
Depois de algum tempo de adaptação, Liesel começa a amar aquele casal: Rosa e Hans. Os dois diferentes, mas com bons corações. Começa também a gostar do lugar e dos seus amigos, nomeadamente Rudy Steiner, seu vizinho da casa ao lado.
Rudy é um rapaz de cabelo cor de limão, praticamente da mesma idade de Liesel e é ele quem começa a amizade, pensando em, um dia, ter algo mais com Liesel. Pede-lhe por diversas vezes um beijo, quase sempre derivado de alguma aposta ou feito ("Que tal um beijo, Saumensch?"). Começa por defendê-la na escola e nos jogos de futebol e também por picá-la para outras atividades. Rudy é, também, um rapaz de enorme coração, pronto para tudo. É um bom ouvinte, bom amigo, bom a guardar segredos. É ainda irmão de mais cinco jovens, rapazes e raparigas, e muito bom aluno. É ainda um grande atleta, cujo sonho era ser como Jesse Owens, o que na Alemanha nazi era estranho, podendo levar a bastantes "reprimendas".
Liesel não sabia ler quando chegou à rua Himmel. Nem escrever. Roubara um livro no funeral do irmão e é a partir desse livro que Hans a ensina a ler e a escrever, adaptando a cave da casa para servir de dicionário (as paredes depressa ficam cobertas de palavras) e para servir de oficina de escrita. Liesel acaba por se apaixonar pela leitura e pela escrita e começa a roubar livros, pois não tinha outra forma de os obter, apesar de ganhar alguns no Natal.
Mais tarde, aparece na sua vida e na vida dos Hubermann um jovem judeu: Max. Aparece para ser acolhido e escondido, devido a uma promessa antiga de Hans, feita na Primeira Guerra ao pai de Max. Liesel e Max começam por criar um laço tímido, mas esse laço começa a expandir-se e a amizade nasce de forma bem bonita e ele alimenta ainda mais o amor de Liesel pela escrita e pela leitura.

A história acompanha um período da vida de Liesel, mas não só. Acompanha o início e o fim da Segunda Guerra. Acompanha algumas pessoas de uma rua pobre da Alemanha. Através da vida destas pessoas é possível seguir o decorrer da guerra e das políticas de Hitler: Juventude Hitlariana, as marchas de judeus, as perseguições, os campos de concentração, a repressão pública, a injustiça, a crueldade, a mesquinhez, a repressão da bondade nos corações e as consequências dessa bondade, acima de tudo.

Ao longo deste livro é mostrado um outro lado da Alemanha. Um lado pobre, onde muitos se veem na necessidade de roubar comida para não ter fome. Um lado em que há pessoas que estão contra Hitler, mas que não o podem mostrar, se não vão sofrer por isso. Em que há quem sofra pelo mal que o seu país faz. Claro, na panóplia de personagens, também há quem esteja de acordo com tudo o que se faz de mal, mas essa é a realidade. Há sempre os dois lados e há sempre quem apoie os dois lados. A diferença está em que, um lado pode mostrar (e deve) todo o seu esplendor e apoio e o outro só pode esconder o que sente para não sofrer por isso. Várias são as vezes e as personagens que sofrem consequências por se oporem ao sistema e isso é uma das coisas que mais dói ao ler o livro. Porque foi assim, é verídico. Apesar de ser uma história de ficção, a realidade foi assim. É assim. E há que fazer tudo para que não se torne assim novamente. Há lugares no Mundo aonde ainda é assim. Vai sempre haver, infelizmente, e o narrador confronta-se e confronta os leitores com isso: os humanos são assim.

As imagens da história são vividamente contadas e "pintadas". São narradas com pormenor e delicadeza e mostram todo o esplendor que têm para mostrar. Esta é uma história onde há esperança, pelo menos em alguns momentos, onde a guerra está sempre presente, a pairar, mas que não a mostra diretamente. É o pano de fundo, mas há mais do que isso. Há amor, amizade, esperança, palavras, livros...há roubos. Muitos tipos de roubos. Roubos de vários géneros, humanos e materiais. As palavras são outro dos panos de fundo desta história. Tudo gira à sua volta, até a guerra. O que é a guerra senão um ato nascido de palavras? Palavras proferidas por alguém, num determinado momento, num determinado lugar. Tudo é palavra. A palavra está em todo o lado. Se se disser uma palavra que não queira ser escutada, que não possa ser proferida, são logo ditas outras palavras e quem disse a palavra proibida é afastado, é punido. Este é um livro que transmite a força que as palavras têm em todo o lado e em especial na sociedade. As palavras são vida e geram vida, geram atos que as tornam vivas, que as tornam em algo bom e/ou em algo mau. Em algo que acolhe, acarinha e acalma ou em algo que destrói, mata, sufoca.

A forma como o autor compreendeu e expôs esta ideia é genial. Markus Zusak fez aqui um trabalho esplêndido e maravilhoso. Não poderia ter feito melhor, a meu ver. Consegue transmitir completamente o sentido subjacente a toda a guerra, a tudo o que aconteceu. Consegue dar um lado ingénuo da guerra, um lado em que há quem acredite na bondade dos seres humanos e tente por ao de cima essa bondade.

A parte gráfica do livro, a organização dos capítulos, títulos e discurso, é bastante boa e complementa muito bem a história em si. Faz parte da história. Existem ilustrações e histórias dentro da história principal que são uma delícia; são mágicas e belas.

É muito interessante poder acompanhar a vida destas personagens, especialmente de Liesel e Rudy, e observar a sua distância face à guerra em si, até dado momento, e depois o seu ódio para com Hitler e para com tudo o que a guerra trouxe às suas vidas. Duas crianças que passam a adolescentes e que tentam ser diferentes num sítio onde não o podiam ser. Acolher, amar e alimentar judeus, querer ser como alguém que não é ariano, mas sim negro, ter orgulho em ser bom e em ser contra o sistema, dar algo a quem não tem, mesmo quando nada se tem para dar. É uma mensagem muito bonita que é aqui passada. Uma mensagem diferente da guerra e do que ela provoca nas pessoas.

Mesmo que o final seja como é e que haja uma tremenda melancolia e tristeza nesses momentos, esta é uma história de bondade e esperança. É uma história em que o bem prevalece, apesar de tudo. Mesmo que seja um bem invisível e sussurrado. Há coragem nas palavras e elas podem muito. É só preciso usá-las para as coisas certas, para o bem.

Gostei muito do livro. É fantástico. Todos o deviam ler, pois há palavras nele inscritas que precisam de ser lidas e assimiladas. Precisam de ser postas para fora. Palavras de coragem e de História. Muito bom. Excelente. Recomendo sem reservas. 

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade, de Carina Portugal

Sinopse:

Em pleno séc. XVI, a Inquisição lavra as terras de Inglaterra. Numa aldeia remota, um inocente amarrado à fogueira amaldiçoa todos aqueles que o condenaram à morte. As suas palavras acordam os espíritos da Natureza, e as gémeas Alaina e Leanora pressentem-no. Contudo, o que poderão fazer duas curandeiras para os deter? Além disso, ambas escondem um segredo que as poderá matar ‒ o seu próprio amor. (in Goodreads)


Opinião:


Este é o segundo conto que leio da autora Carina Portugal. Depois de ter lido Coração de Corda, decidi participar na leitura conjunto do grupo do Fiacha no facebook. Desse modo, tive de ler o conto proposto para a atividade, que foi este, Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade.

Como o tema de Coração de Corda é mais do meu interesse, fui para a leitura a pensar que porventura não iria gostar tanto. Pois bem, de facto gostei mais de Coração de Corda, pelo tema e pelo ambiente em si, bem como pelas personagens. No entanto, Duas Gotas de Sangue e um Corpo para a Eternidade não se lhe fica nada atrás e em alguns momentos é lhe superior. Estou-me a referir aos momentos de suspense finais do conto. Gostei bastante do final, aliás foi a minha parte favorita, porque fez todo o sentido.

É um conto mais dark do que Coração de Corda, com um ambiente mais real na medida em que houve mesmo a Inquisição. Gostei do enredo e das personagens, bem como das descrições de sentimentos, atos e ambiente. A autora consegue descrever, sem entrar em grandes detalhes que por vezes podem tornar-se cansativos, com grande pormenor e relevo fazendo com que o leitor consiga observar e absorver o que está a ler como se ele mesmo estivesse lá dentro da história, sendo também uma personagem ... assim como o Harry no Pensatório do Dumbledore ou no Diário do Tom Riddle, sabem o que quero dizer!

A coerência histórica também está bastante bem relacionada com o contexto do conto. Era assim naquele tempo e não vale a pena tentar mascarar com meias palavras o que aconteceu, mas sim fazer melhor e não repetir. O desenlace foi bem resolvido, da melhor forma aliás, tendo em conta todo o contexto e características das personagens e do ambiente mágico que a autora criou. Tem ainda momentos com bastante emoção, o que é interessante.

Gostei muito e recomendo, pois tem todos os ingredientes que fazem com que um conto seja bom! 

NOTA (0 a 10): 8

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Coração de Corda, de Carina Portugal

Sinopse:

Um sorriso doce pode esconder o segredo mais obscuro. Philip Reeve é um artesão reconhecido e Angelique uma frágil bailarina francesa que, no Teatro Dark Forest, o encantou com a sua arte . Quando a dama o visita na loja de brinquedos, Philip não consegue esquecer a cena presenciada nos bastidores, nem o medo que vê nela. Contudo, é incapaz de imaginar a magnitude da tempestade que se adivinha. (in Goodreads)
 

Opinião:
 
Este é o primeiro conto que leio da autora Carina Portugal. Despertou-me o título, a capa e o tema em si, uma vez que gosto muito do género Steampunk, em todas as suas vertentes artísticas.

Foi com bastante agrado que li Coração de Corda. Com um elenco de personagens simples, mas bastante diferentes e de personalidade, este conto remeteu-me para outras obras que também tem alguns dos ingredientes aqui apresentados, obras essas que são do meu agrado.

Não podia deixar de ler um conto deste género, que é um dos meus favoritos, escrito por uma autora portuguesa. É sempre de apoiar autores portugueses, uma vez que nem sempre são apoiados devidamente e também porque é um orgulho existirem. Faz-nos ver que também há cá no nosso país muita imaginação e muita criatividade.

Gostei bastante do desenrolar da narrativa. Teve um final inesperado, que muito me agradou. Tem ação, personagens interessantes, um ambiente Steampunk muito bem contextualizado (a referência à Rainha Vitória está excelente!), desde os instrumentos, aos veículos, passando pelas invenções mecânicas tanto a nível de objetos como de partes do corpo, e também intriga e sentimento, emoção. Muito bom!

Talvez a parte do ataque à central pudesse estar um pouco mais desenvolvida, bem como as intenções das personagens para tal acontecimento. É o único reparo que posso dizer, já que tudo o resto está ótimo. E claro, este aspeto também não tira de modo nenhum a magia ao conto. Nada lhe tira, sendo apenas um pormenor.

Em relação às personagens, gostei bastante do Nicholas e do Philip. Era interessante haver mais contos com estas personagens (e as restantes) ou até mesmo uma narrativa mais extensa. Penso que é um bom conselho: escrever mais neste ambiente, com estas personagens! Eu leria.

Em suma, recomendo a todos os que gostam deste género de literatura.

NOTA (0 a 10): 9

A Imperatriz e a Rosa, de Placídia Amaral

Sinopse:

Aelia Galla Placidia, Imperatriz de Roma no século IV da nossa era, foi uma das poucas mulheres que governou de facto o lado ocidental do mundo, durante os 12 anos da menoridade do seu filho, o Imperador Valentiniano III. Esta Senhora do Ocidente, como lhe chamou o monge Jerónimo, teve uma vida cheia e aventurosa, que repercutiu nos quatro cantos do mundo conhecido à sua época. Vestindo a pele da Imperatriz, a autora faz aqui o retrato duma vida intensa e cheia de desafios, que desempenhou um importante papel na política do Império Romano Ocidental, na fase crítica inicial do seu declínio.
No limiar dessa derrocada, com o início das invasões bárbaras, e nos primórdios da sedimentação dos poderes espirituais e temporais da igreja católica, esta Senhora viveu as suas ambições, os seus amores e as suas contradições. Como se fora por sua própria mão, se deixa aqui contar o que viveu, e preencher assim lacunas históricas que têm suscitado a curiosidade e a imaginação de numerosos historiadores e biógrafos.
Citando Stewart I. Oost, Professor de História Antiga da Universidade de Chicago, no seu Ensaio Biográfico sobre Galla Placidia Augusta, sabe-se que
«muitos dos acontecimentos externos da vida de Galla Placidia Augusta são tão impressionantes e peculiares, que a nossa curiosidade é espicaçada, para além do que é habitual, a descobrir tudo o que possa ser conhecido sobre ela». (in Chiado Editora)

Opinião:


Este é o primeiro livro que leio da Chiado Editora e também aquele com que iniciei a parceria. 

A Imperatriz e a Rosa conta a história da Imperatriz Galla Placídia, filha de Roma, esposa de Ataúlfo, rei dos Godos, e depois, esposa do Imperador Constâncio III. Viveu entre 392 d.C. e 450 d.C. e a sua vida foi repleta de contratempos, jogadas de poder e o leve equilíbrio entre a guerra e a paz, uma vez que este foi um período da História bastante conturbado, em que o Império Romano já estava a ver o seu apogeu a definhar, devido às Invasões Bárbaras. É também neste período que o Cristianismo começa a ser a religião universal em detrimento de outras, nomeadamente dos cultos pagãos e do misticismo. É uma época de guerras políticas, religiosas e geográficas e esse é um aspeto bem presente ao longo de todo o livro.

Galla Placídia (in Wikipedia)

A história da Imperatriz é contada através dos seus manuscritos e também de uma parte dos manuscritos da sua criada, na parte inicial do livro. Ao longo desses manuscritos o leitor tem oportunidade de conhecer a vida de Galla nos seus detalhes públicos e privados e especialmente nos porquês das suas decisões. Tem também a oportunidade de se confrontar com a Escola da Rosa, grupo místico cujos conceitos religiosos abrangem várias filosofias, nomeadamente as mais místicas e transcendentes. Galla faz parte desta Escola e tal influencia a sua vida em todos os aspetos. 

Gostei de ler este livro especialmente devido aos conteúdos históricos nele presentes. No entanto teria sido mais interessante se a história fosse uma narrativa e não um conjunto de manuscritos, apesar da ideia dos manuscritos ter bastante valor e interesse histórico. Estou a referir-me à ação que todos os acontecimentos têm e que podia ter sido potenciado se o texto tomasse a forma de uma narrativa. Também achei interessante o facto de ter aparecido Merlin, relacionado com a Escola da Rosa. Pude comparar algumas teorias aqui presentes com as que já li nos livros de Stephen Lawhead, em o Ciclo Pendragon: questões do Outro Mundo e dos druidas fazem parte desta filosofia ou algumas questões semelhantes. 

Outro aspeto que me agradou foi o facto da escritora ter tido atenção aos detalhes históricos e a toda a vida das personagens envolvidas na trama. Placídia Amaral conseguiu criar um ambiente, contexto e pormenor bem credível e inteligente, mostrando saber histórico (algo importante para a escrita deste género de obras literárias). As relações entre as personagens estão bem apresentadas, bem como o conjunto global do que é apresentado ao longo do texto.

O livro contém um mini dicionário de termos romanos e de contexto da época, logo no início, o que é extremamente útil durante a leitura. No final, está uma cronologia dos acontecimentos históricos presentes ao longo da obra,  o que também tem interesse e utilidade para contextualizar melhor e relembrar o que aconteceu de mais relevante naquele período de tempo.
Quanto ao ritmo de leitura, este mostrou-se ser bastante fluído.

Gostei de ler este livro e recomendo a todos os que gostam de romance histórico. 

NOTA (0 a 10): 8

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Highlander - Para Além das Brumas, de Karen Marie Moning

Sinopse:

Um Laird fascinante
Ele era conhecido por todo o reino como Açor, lendário predador de campos de batalha e alcovas. Não havia mulher capaz de recusar o seu toque, mas mulher alguma lhe fizera jamais estremecer o coração — até uma vingativa fada trazer Adrienne de Simone, aos trambolhões, da Seattle dos tempos atuais para a Escócia medieval. Cativa num século que não era o seu, ousada até mais não, sem papas na língua, ela era um desafio irresistível para o conquistador do século XVI. Coagida a casar-se com Açor, Adrienne jurou mantê-lo à distância — mas a sua doce sedução devastou tal resolução.

Uma prisioneira no tempo
Ela tinha um perfeito "não" nos seus perfeitos lábios para o famigerado laird, mas Açor jurou que ela haveria de sussurrar o seu nome com desejo, implorando a paixão que ele ansiava por inflamar dentro dela. Nem mesmo as barreiras do tempo e do espaço o deteriam na conquista do seu amor. Apesar da sua incerteza quanto a seguir os impulsos do seu coração apaixonado, as reservas de Adrienne não igualavam a determinação de Açor em mantê-la ao seu lado…
(in Goodreads)


Opinião:
 
Terminada a leitura deste livro não posso dizer que fiquei maravilhada. Não tenho nada contra este género de história, apesar de apreciar algo com mais enredo à volta das situações amorosas. Acho que em parte esse é o principal fator que me fez não gostar muito da história. Senti que houve uma grande preocupação em focar as relações e pensamentos das personagens principais e pouco contexto. Já li outros livros com situações parecidas e que me deram muito mais interesse, por terem uma história à volta, por terem um contexto mais abrangente, com mais personagens, intriga e enredos paralelos com variados assuntos. Não aconteceu aqui. As personagens também não me convenceram totalmente.

Houve aspetos positivos, nomeadamente em relação aos Roma e aos Fae. Gostei de ler sobre as tradições dos Romani presentes no livro e da sabedoria destes sobre os Fae. Aspetos da Escócia Medieval também tiveram bastante interesse e podiam ter aparecido mais ao longo da história. A questão das viagens no tempo também é interessante, apesar de poder estar mais desenvolvida tal como a parte do passado das personagens, que podia ter sido mais explorada. Em suma, podia ter tudo mais desenvolvido.

A parte do desenlace foi a melhor, sem dúvida. Não tem um enredo muito elaborado nem complexo. É um livro engraçado para se ler naquela da descontração. É uma leitura leve e descontraída, que não me convenceu totalmente. No entanto, tem o seu interesse. 

NOTA (0 a 10): 5

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A Rapariga Que Roubava Livros - Filme

A adaptação do livro A Rapariga Que Roubava Livros, de Markus Zusak já chegou aos cinemas há algumas semanas. Tenho o livro para ler, mas ainda não o fiz. Primeiro quis ver o filme, pois prefiro ver os filmes antes de ler os livros, para as comparações não serem tão avassaladoras. Fiquei muito agradada com o que vi.

Durante o filme vamos acompanhando a vida de Liesel Meminger, uma jovem rapariga que vai ver com um casal devido a factos políticos da sua família. Liesel e o seu irmão iriam viver com o casal Huberman, no entanto o irmão de Liesel morre pelo caminho e a rapariga fica sozinha. Liesel vê-se na Rua do Céu, com Hans e Rosa. Depressa trava amizade com Rudy, um rapaz simpático que mora perto dos Huberman. Logo no primeiro dia de aulas de Liesel na nova escola, fica assente que ela não sabe ler e escrever, sofrendo às mãos de alguns colegas por causa disso. Em casa, Liesel não consegue esconder a sua tristeza por não saber ler e escrever e Hans começa a ler com ela, ajudando-a a progredir. Apresenta-lhe um dicionário na cave da casa, onde as paredes têm todas as letras do alfabeto, de modo a que ela consiga construir um dicionário com as novas palavras que vai descobrindo nas leituras. 


Certo dia aparece em casa um jovem judeu chamado Max, doente e perseguido por ser judeu. Devido a uma promessa feita por Hans ao pai de Max durante a 1ª Guerra, os Huberman aceitam e guardam o jovem na sua casa, cuidando dele até ficar bom. Liesel começa a travar amizade com Max e os dois começam a partilhar o amor pela escrita e pela leitura.


Tendo como contexto o início da 2ª Guerra e o seu período até à ocupação americana, esta é uma história bastante rica em acontecimentos emotivos e fortes. A amizade entre as personagens, bem como o amor, a coragem, a perseverança, a necessidade de sobreviver e de guardar segredos a todo o custo são constituintes sempre presentes ao longo do filme. Todo o medo que as personagens vivem ao longo do período de tempo apresentado é bastante intenso, fazendo com que o espectador esteja várias vezes a torcer e a temer pelas personagens. No entanto, o medo não é o grande sentimento presente, mas sim a amizade e o amor. Amizade e amor em vários sentidos, nos seus variados sentidos o que torna tais sentimentos bastante diversos, bonitos e completamente entrelaçados em todas as atitudes tomadas. 


Este não é um filme leve. É um filme que retrata a vida de um grupo de alemães durante a 2ª Guerra. Pessoas normais, comuns, com vidas próprias, interesses, amizades, amores, medos e sonhos, que lutam por conseguir viver num período aterrador. É um retrato diferente, que mostra o ângulo de uma população pequena, em especial de Liesel e dos seus. Retrata o crescimento emocional dessas pessoas.  É um filme complexo, que prende o espectador. Com a banda sonora de John Williams é possível sentir cada nota, cada momento musical presente ao longo do filme. A banda sonora está completamente bem integrada no filme, dando ênfase a certas passagens e guiando noutras. Está sempre presente e é suave e forte ao mesmo tempo, de uma maneira que só as bandas sonoras poderosas conseguem ser. 


Algo que me fascinou, além de outros aspetos, foi a amizade entre Liesel e Rudy. O nascer e crescer da sua relação é algo mágico de ser ver de tão bonito, puro e genuíno que é. Amizade por amizade. Amor por amor. Confiança e segurança sem nada pedir em troca. A amizade idílica que tem como possível 
desenvolvimento um amor forte e poderoso. 


Excelente filme. Nomeado para melhor banda sonora. Quem já viu? O que acham?

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

TAG Namorados Literários

A Patrícia do Blogue Chaise Longue criou uma TAG com este tema e eu achei excelente! Por isso, vou responder também =D



Beija-me!

Qual o beijo literário que te fez derreter bocadinho a bocadinho?
O primeiro entre o Locke e a Sabetha, em jovens, e depois em adultos...vários anos depois =)



Na Cama

Qual foi a cena mais escaldante que já leste?

As cenas entre Gelina e Conn. Praticamente todas, mas com especial destaque aquelas mais arrojadas.


O Melhor é fazer as Pazes

Eles só discutem mas cada vez que se vêem é fagulhas por todo o lado! Nomeia um casal assim.
Catherine e Heathciff. O casal que mais discutiu ao longo de toda a sua vida! E que amor eles tinham =)


O Fruto Proibido 

Qual a relação proibida porque torces de qualquer jeito?
Robb Stark e Jeyne Westerling. Não são precisas mais palavras, não é?



  

Suspiros, suspiros

Qual é o casal mais fofo da literatura?
Daniel e Sophia. Não é bem fofo fofo, mas fez-me suspirar bastante por causa da questão do amor para a eternidade.




 Felizes para Sempre

De todos os casais sobre os quais já leste, qual deles significa para ti a perfeição?
Beren e Luthien Tinuviel. A entrega, amor, procura e partilha entre os dois é perfeito e muito belo.

 



Queres Casar Comigo?

Qual foi a troca de alianças que te deixou nas nuvens?

O casamento em Torre do Cervo. Não podia deixar de ficar nas nuvens, depois de tudo o que aqueles dois viveram!



 Amo-te!

Vá, conta-me lá... Qual é aquela declaração de amor?
Do Jem Carstairs para Tessa Gray. Um dos meus romances favoritos devido às características do contexto e de ambas as personagens =)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

The Republic of Thieves, de Scott Lynch

Este é o terceiro livro da saga dos Cavalheiros Bastardos. Li o primeiro em Português, o segundo e este em inglês uma vez que ambos não se encontram editados em Português. Como fiquei apaixonada pelo primeiro e depois pelo segundo, não estive para esperar mais e decidi avançar para a leitura do terceiro. E que espectáculo!


Depois de ter deixado o Locke num estado bastante complicado no final do segundo livro (Red Seas Under Red Skies), foi com grande entusiasmo e curiosidade que iniciei esta leitura. No final do segundo livro, Locke e Jean veem-se a mãos com apenas um frasquinho de uma dose de antídoto contra um veneno latente e produto de alquimia negra. Jean acaba por tomar o antídoto sem saber (invenção do seu amigo)e quando vão discutir quem é que toma o quê, Locke informa-o que já o tinha tomado, uma vez que Locke o tinha misturado no copo de vinho do amigo. Deste modo, Jean vê-se na situação de tentar encontrar uma cura para Locke, que durante seis semanas de viagem pelo mar, começa a dar sinais da doença. Vêm-se em Lashain e com poucos recursos. Depois de vários médicos encontrarem-se com Locke, nenhum encontra uma cura ou um tratamento e os amigos começam a desesperar. Até que aparece uma misteriosa senhora de nome Patience (Paciência). Patience é uma Bondsmagi que promete curar Locke se este e Jean participarem nas eleições da República de Karthain. Duas fações, dois mestres por trás do jogo político de cada fação. Locke e Jean pelos Deep Roots (tradicionalistas) e alguém misterioso pelos Black Iris (mais inovadores). Estas duas fações são geridas (em segredo) pelos Bondsmagi, sendo que os mais tradicionalistas gerem os Deep Roots e os mais revolucionários, os Black Iris. Estes mais revolucionários seguem uma ideia de submeter os não-mágicos ao poder dos mágicos (dos Bondsmagi) e são liderados principalmente pelos mais jovens, nomeadamente o Falconer, o famoso assassino contratado pelo Capa Raza do primeiro livro.

História, lendas, intrigas, política, amor, passado, presente e futuro, entrelaçam-se ao longo desta história. O livro está dividido em partes, estando intercalado entre capítulos e interlúdios, havendo também outras partes (intersects) que se cruzam para mostrar acontecimentos que estão por detrás dos narrados nos capítulos. Nos capítulos temos o presente da narrativa. Nos interlúdios é apresentado a vida do Locke ao longo da sua infância (5 anos, mais ou menos) até à juventude (16 anos) ou mais concretamente desde que conheceu Sabetha Belacoros até ao desenrolar da sua relação com ela.

Sabetha aparece finalmente! Depois de ter "ouvido" falar dela durante dos livros, finalmente "vejo-a" em ação. Sabetha é uma personagem bem interessante. É inteligente, esperta, perspicaz, alerta, sempre pronta para arranjar um plano. A admiração e amor de Locke por ela é um fator muito rico ao longo da história, pois é o que sustenta muito do que acontece ao longo da narrativa. Locke sempre a amou e tudo o que fez e faz para o provar fez com que eu estivesse sempre na expectativa (será que vai dar certo? será que ele vai conseguir? oh não! ahh! e por aí fora) quanto as resoluções das duas personagens. Não é uma relação nada fácil. Sabetha é, para além dos adjetivos mencionados acima, teimosa e um tanto insegura. São características que fazem com que ela se torne mais humana. Não é perfeita, tal como Locke não é. A sua relação com Locke é muito ambígua e todo o percurso de ambos é bastante sinuoso.

Como a narrativa anda para trás, os irmãos Sanza, o padre Chains e outras personagens que apareceram no primeiro livro, voltam a aparecer. Gostei muito de os "rever". Também gostei de ver Jean tomar parte dos Cavalheiros Bastardos e como a sua relação com Locke progrediu durante a juventude de ambos.

Mas Sabetha não é o mais espectacular do livro! Não! O mais espectacular é algo que eu não vou aqui mencionar, mas que está relacionado diretamente com a identidade do Locke. Locke Lamora... já sabíamos que este não o seu verdadeiro nome. Então qual será? Quem é ele? De onde vem? Nunca se soube exatemente a sua origem, nem a sua idade, nem como sobreviveu à praga do bairro de Cathfire... Pois bem! O que posso dizer é que a história de Locke Lamora é mais complicado do que poderíamos supor. E é muito mais rica!

Scott Lynch fez um trabalho notável com este livro. The Republic of Thieves consegue ser mais denso do que o anterior e também mais rico e mais contextualizado. Não é apenas uma continuação. Este livro dá-nos o contexto da vida das personagens, pois nos interlúdios é possível compreender e observar como é que as personagens cresceram e como se tornaram no que são atualmente. Deste modo, completa tudo o que foi apresentado n'As Mentiras de Locke Lamora. Dá-nos o background das personagens, das suas vivências, da sua história e de como se foram relacionando ao longo do tempo. Dá-nos ainda a perspetiva presente, relacionada com a passada. A mestria com que o autor organizou a obra é fundamental para a compreender, tanto em si, como às personagens e às suas resoluções e atitudes. Os intersects também são partes fundamentais, uma vez que nos abrem uma nesga na janela do que se passa do outro lado, ajudando-nos a compreender e a especular sobre o que vai acontecer e o que está, de facto, a acontecer.

Todo o aspeto político do livro está bastante bem caracterizado e bem enquadrado. Todas as explicações fazem sentido e tudo se une para compor o puzzle dos acontecimentos que vão decorrendo desde o início até ao final, havendo sempre algumas perguntas em aberto...para despertar curiosidade e para permitir o seguimento. Os Bondsmagi têm aqui grande relevo e Patience é bastante interessante. É uma personagem que só enriquece a história, pois o mistério e os seus diálogos e explicações sobre a História de Karthain, dos Bondsmagi e também dos Eldren.

Todos os aspetos que eu mencionei ao longo desta revisão fizeram com que eu gostasse muito muito muito do livro. Em parte gostei mais deste do que do anterior, pois o conteúdo histórico, bem como a contextualização que referi anteriormente, são pontos bastante fortes e bem construídos. São histórias diferentes. Todos os livros da saga dos Cavalheiros Bastardos têm aventuras diferentes e novos enredos, mostrando a versatilidade do escritor. Gostei imenso de rever o Locke, o Jean e todas as outras personagens e de conhecer a amada do Locke. Espero que o próximo não demore muito tempo a sair e que seja tão bom ou melhor do que este, pois o final deste é bastante promissor e curioso!

Excelente livro, recomendo totalmente sem reservas. Maravilhoso. Uma leitura rica e densa, que envolve o leitor durante todo o percurso.


"Don't talk. Just listen; you don't have much time left. There's a second reason. I can see now how ill you've been, and how you'll have to push yourself to keep up with me. I can't let you do it, Locke. I can't watch you do it. You'll kill yourself trying to best me, and you can't ask me to permit that. Not when I could stop it. I once cared for you a great deal. I care for you now. Remember that
and forgive me"
p.300


"Tell me you never liked me," said Locke, advancing step by step. "Tell me you never found me worthwhile. Tell me we didn't have good years together. That's all it would take!"
"Stubborn, fixated-"
"Tell me you weren't pleased to see me!"
"...presumptuous-"
"Quit telling me things I already know!" They were suddenly less than a foot apart."Quit making excuses. Tell me you can't stand me. Otherwise-"
p.389

"Of course I'm not alone," she said. "You're here."
(...)
If there were two, might there not be three? Patterns behind patterns, secrets behind secrets, new strings to dance on, and these ones leading all the way back to the Bondsmagi of Karthain. Another Locke, unknown even to himself. What would become of the Lockes she knew if that stranger inside them was real? If he woke up?
"Which one of you wrote this?"
p. 522

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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Chiado Editora - "A Imperatriz e a Rosa"

Hoje recebi a minha primeira encomenda da parceria com a Chiado Editora. Decidi escolher o livro A Imperatriz e a  Rosa, de Placídia Amaral.


Fica aqui a sinopse, como consta no site da Chiado Editora:

Aelia Galla Placidia, Imperatriz de Roma no século IV da nossa era, foi uma das poucas mulheres que governou de facto o lado ocidental do mundo, durante os 12 anos da menoridade do seu filho, o Imperador Valentiniano III. Esta Senhora do Ocidente, como lhe chamou o monge Jerónimo, teve uma vida cheia e aventurosa, que repercutiu nos quatro cantos do mundo conhecido à sua época. Vestindo a pele da Imperatriz, a autora faz aqui o retrato duma vida intensa e cheia de desafios, que desempenhou um importante papel na política do Império Romano Ocidental, na fase crítica inicial do seu declínio.
No limiar dessa derrocada, com o início das invasões bárbaras, e nos primórdios da sedimentação dos poderes espirituais e temporais da igreja católica, esta Senhora viveu as suas ambições, os seus amores e as suas contradições. Como se fora por sua própria mão, se deixa aqui contar o que viveu, e preencher assim lacunas históricas que têm suscitado a curiosidade e a imaginação de numerosos historiadores e biógrafos.
Citando Stewart I. Oost, Professor de História Antiga da Universidade de Chicago, no seu Ensaio Biográfico sobre Galla Placidia Augusta, sabe-se que
«muitos dos acontecimentos externos da vida de Galla Placidia Augusta são tão impressionantes e peculiares, que a nossa curiosidade é espicaçada, para além do que é habitual, a descobrir tudo o que possa ser conhecido sobre ela».

A capa é muito bonita e a sinopse convenceu-me!