domingo, 16 de julho de 2017

Uma Magia Mais Escura, de V. E. Schwab

Sinopse:

Kell é um dos últimos viajantes, magos com a capacidade rara e muito desejada de viajar entre universos paralelos, ligados através de uma cidade mágica.

Existe a Londres Cinzenta, suja e aborrecida, desprovida de qualquer magia e regida por um rei louco: George III.

Existe a Londres Vermelha, onde a vida e a magia são veneradas e onde Kell cresceu com Rhy Maresh, o herdeiro irreverente de um império próspero.

Existe a Londres Branca, um lugar onde as pessoas lutam para controlar a magia e a magia contra-ataca, consumindo a cidade até aos ossos.

Outrora, existiu a Londres Negra. Mas já ninguém fala dela.

Kell é oficialmente o viajante da Londres Vermelha, embaixador do império Maresh, guardião da correspondência mensal entre as realezas de cada Londres. Não oficialmente, é um contrabandista, servindo as pessoas dispostas a pagar pelo mais pequeno vislumbre de um mundo que nunca verão. É um passatempo difícil, cujas consequências perigosas Kell sofrerá em primeira mão. Fugitivo na Londres Cinzenta, conhece Delilah Bard, uma fora da lei com aspirações grandiosas. 

Primeira, rouba-o, depois, salva-o de um inimigo mortífero e, por fim, obriga-o a levá-la para outro mundo à procura de uma verdadeira aventura. Mas uma magia perigosa cresce e a traição está em todas as esquinas. Para salvar todos os mundos, têm, antes de mais, de sobreviver. (in Goodreads)



Opinião:

Aqui está um livro com uma história nova e que me fez sentir como da primeira vez que li Rowling, Tolkien, Hobb, Lynch, Clare, Martin. Não podia ser melhor! A história agarrou-me completamente, logo nas primeiras páginas e puxou-me para o seu interior e não me largou. Estava com expectativas bastante altas para este livro, mas foram ultrapassadas em grande escala, pois superou todas as expectativas. Tudo na história está perfeito, desde as personagens, aos acontecimentos...tudo! Assim, este é o primeiro de uma trilogia que promete muita magia e ação.

O livro conta a história de Kell, um dos dois últimos Antari nos Mundos, e das suas missões entre Londres, uma vez que ele tem a capacidade de criar portas para as diferentes Londres, de modo a viajar por cada uma. Ele é um viajante entre Mundos, um mago com a poder da magia de sangue, a mais forte de todas, bem como um olho de cada cor: um azul muito bonito e um completamente negro, em ter iris ou parte branca. Existem quatro Londres: a Cinzenta, a Vermelha, a Branca e a Negra. A Cinzenta é a Londres normal, a real, no tempo do Rei George III, em 1819. Nela não há magia. A Londres Vermelha é aquela onde há magia, é onde Kell mora, fazendo parte da família real. A Branca é uma Londres ressentida e cruel, onde todos têm fome de magia e onde é preciso lutar para ser rei, sendo governada pelos irmãos Dane, Athos e Astrid, cruéis e com capacidades mágicas imensas, tendo como ajudante Holland, o outro Antari existente. Depois, há a Londres Negra, que é uma espécie de lenda: consumida pela magia há séculos atrás, caiu em desgraçada, tendo sofrido uma grande catástrofe mágica. Todos os objetos vindos de lá, as relíquias, foram escondidos e destruídos, bem como pessoas com poderes mágicos, tendo sido aqui que muitos Antari foram mortos, não poque fossem maus, mas porque as pessoas tinham medo que eles fossem um género de peste de contágio de magia para as outras Londres. Sendo que, na ordem de posicionamento das Londres, a Branca era a mais próxima da Negra, foi ela que teve de criar mais defesas e lutar sozinha contra a força da magia negra que envolveu a Londres Negra, sendo esse o motivo do seu ódio para com a Londres Vermelha, que, estando mais distante, não teve de se preocupar tanto (isto na opinião da Branca). Todas elas são acessíveis para os Antari, excepto a Negra, na teoria, uma vez que todas as portas para ela foram seladas. Ou seja, Londres é um ponto fixo em vários mundos paralelos.

Kell faz parte da família real desde os cinco anos, mas o seu passado é um mistério. Com cerca de vinte, não se recorda de onde veio nem quem eram os seus pais de verdade. Sendo que a magia Antari não segue nenhum vínculo de parentesco nem nada, aparecendo de forma aleatória, segundo os conhecimentos dos sábios, Kell não tem forma de saber as suas origens. Tem nos reis uns pais e no príncipe, um irmão. Rhy e Kell são unha e carne e uma bela dupla. Kell tem como funções as questões diplomáticas e o ensino de Rhy quanto à magia. Porém, nas horas vagas tem como passatempo negociar objetos das diferentes Londres com possíveis curiosos ou colecionadores, que o procuram para trocar objetos. 

Mas Kell não é a única personagem com maior relevo. A história também acompanha Lila, uma jovem ladra e aspirante a pirata, habitante da Londres Cinzenta, desconhecedora da existência das outras Londres. Quando os caminhos de Lila e Kell se cruzam, a aventura ganha asas. 

Kell e Lila estavam sossegados nas suas vidas, até que Kell vai à Londres Branca numa missão diplomática e quando se estava a preparar para regressar a casa, aparece uma mulher das sombras com um pedido para um irmão moribundo. Ela entrega uma carta a Kell e pede-lhe para a entregar ao irmão, dando-lhe também um pagamento, algo embrulhado num pano. Dentro desse pano está uma pedra mágica, com uma runa da mais antiga magia: Vitari, um objeto da Londres Negra. Depois de ser atacado e de chegar à conclusão que aquilo tinha sido uma cilada, Kell foge para a Londres Vermelha, onde volta a ser atacado e bastante ferido. Então, decide fugir para a Cinzenta. Assim que lá chega cai aos pés de Lila, que o vê aparecer do meio da parede. No meio da confusão, Lila acaba por roubar-lhe a pedra, sem ter noção do que é que estava a roubar. Assim começa uma grande aventura, onde a magia está presente em grande estilo e em que não param de acontecer grandes momentos de ação e emoção. 

Tudo no livro é bom. 

As personagens são fantásticas. Fiquei completamente apaixonada por Kell, pois ele é uma maravilha. Bastante bondoso, nunca quer fazer realmente mal durante as lutas por que vai passando, muitas delas terríveis e horrendas, acabando quase sempre bastante mal tratado. Lila é um ladra muito engraçada, valente e inteligente. Gostei muito da forma como ela apoiou Kell e de como a relação deles foi progredindo, sempre no meio de muitos perigos. Holland também é excelente e, sem ele, Kell não teria tido oportunidade de se revelar, uma vez que a força de Holland estava sempre num nível mais elevado que a de Kell. Athos e Astrid são uma bela dupla, vilões fortes e bastante alucinados, que trouxeram muita ação e momentos de loucura à história. Rhy também é engraçado, sempre a espalhar charme. Gostei muito da forma como os destinos das personagens se foram entrelaçando e de como a autora orquestrou todos os momentos, todos os detalhes que culminaram em desfechos brilhantes e grandes momentos de cortar a respiração ao longo da narrativa. 

A narrativa, por seu lado, também está excelente. Cheia de dinamismo, ousadia e brilho, a narrativa é bastante alucinante. A magia que a preenche e lhe dá vida e cor é algo novo no campo do Fantástico, pelo menos em relação ao que tenho lido. Se bem que a manipulação dos elementos naturais esteja sempre na base destes sistemas, o que acontece geralmente na Literatura, aqui também há a manipulação do sangue, que vai ligar à manipulação do interior do corpo humano e dos seus órgãos. Isso permitiu à autora descrever cenários de certas lutas onde o sangue aparece em grandes quantidades, mas que está feito de um modo bastante harmonioso. 

A existência de várias Londres pode parecer confusa no início, mas é um conceito bastante bem explorado e simplificado logo no começo da obra, o que permite uma familiarização com o contexto da história que permite uma compreensão total do mundo imaginado pela autora, que é bastante rico e complexo. Gostei muito da forma como a autora a contextualizou e como tornou tudo tão simples e normal. Toda a história por trás dos acontecimentos presentes na obra também está muito bem elaborada, com momentos bem definidos, sem serem forçados, aparecendo no decorrer da história, de diálogos entre as personagens e nas suas memórias, de modo a criar uma naturalidade e um contexto rico e interessante, uma história com a sua História.

A intriga também está bem presente no enredo, aliás, tudo nele é intriga. Todos os movimentos, todos as ações e motivações das personagens têm por base uma intriga muito maior, um conjunto de intrigas paralelas entre si, que vão culminar num grande momento de apoteose brilhante, muito bem conjurado pela autora, que faz um trabalho excelente de modo a interligar todos os acontecimentos e aspetos de modo a criar algo único, rico e complexo.

Outro aspeto que me conquistou foi a ação. A narrativa é repleta de ação, é como que uma montanha russa de emoções. Não existem momentos parados, mas sim uma completa aventura imensa, cheia de grandes duelos, perseguições e fugas, onde nem tudo o que parece o é. A magia é engenhosa e também as personagens, o que cria momentos de grande tensão e adrenalina. A constante ação, aliada a uma escrita fluída e cheia de ritmo e à curiosidade em saber como é que Kell e Lila se vão desenvencilhar dos problemas, promove uma leitura muito rápida e constante. Confesso que, por vezes, abrandei o ritmo da leitura para fazê-la durar mais tempo! 

Mas há algo mais para além da ação. Há os dilemas das personagens, os laços criados entre si, entre a família, o dever. Há ainda a luta entre a vontade e a submissão. Pode-se fazer uma leitura muito mais metafórica do que vai acontecendo às personagens, em especial a Kell, quando começa a usar a pedra mágica. Se bem que não seja novidade a possessão por parte de objetos mágicos na Literatura (o Anel e Frodo, em O Senhor dos Anéis, por exemplo), é sempre um momento de grande tensão acompanhar personagens em que tal acontece. O duelo entre Kell e e a pedra faz com que tudo se torne ainda mais negro e nebuloso, tornando-se numa metáfora para além de um perigo constante que tal oferece à personagem. Também gostei desta parte da história e acho que lhe deu um toque mais profundo e denso, criando ainda mais laços entre o leitor e Kell. 

Também gostei das descrições, sendo que estas são uma constante da história, criando uma imagem visual muito forte e real, o que permite ao leitor visualizar perfeitamente tudo o que está descrito, tanto a nível ambiental e das roupas e outros detalhes, como das ações das personagens e até dos duelos mágicos. 

Sem dúvida, uma das leituras do ano, que recomendo vivamente a todos os que gostam de uma bela aventura, repleta de ação, perigo, loucura, magia e muitas reviravoltas. O começo de uma trilogia que tem tudo para ser uma das melhores aventuras literárias, que já tem interesses para o cinema. 

NOTA (0 a 10): 10

domingo, 9 de julho de 2017

O Terceiro Desejo, de Andrzej Sapkowski

Sinopse:

"(...) uma perspetiva refrescante no género da fantasia." - Foundation

O seu nome é Geralt de Rivia. Dizem que é um bruxo e um assassino sem misericórdia que vagueia pelo mundo à caça de monstros e predadores. Mas na verdade vive de acordo com o seu próprio código de conduta. A sua espada serve, em troca de uma recompensa, poderosos reis amaldiçoados, mas também os mais desfavorecidos.

Ao longo das suas viagens, Geralt encontra todo o tipo de criaturas - algumas saídas da mitologia eslava e dos contos populares dos irmãos Grimm - como vampiros e lobisomens, elfos, quimeras e estriges, trolls e génios que o tentam, satisfazendo todos os desejos.

Mas este é apenas é o início das suas aventuras como viajante e feiticeiro que irá desafiar o destino num mundo em que criaturas de todas as raças coabitam numa paz precária prestes a despedaçar-se... (in Edições Saída de Emergência) 



Opinião:

Depois de ter lido grandes opiniões em relação a este livro não podia ficar indiferente. A saga que inspirou um dos jogos mais famosos de sempre (The Witcher), chegou à Edições Saída de Emergência. Decidi apostar e ainda bem, pois foi uma excelente experiência! Gostei imenso, foi uma lufada de ar fresco. Agradeço desde já a oportunidade de o ler em conjunto com a Edições Saída de Emergência.

Neste primeiro livro da saga é nos apresentado Geralt de Rivia, o famoso bruxo que tem alcançado enormes feitos relativos à caça de seres mágicos e perigosos e outros assuntos relacionados com magia e sobrenatural. O livro está dividido como que em duas partes: presente e passado. No presente, os capítulos intitulados A Voz da Razão, é apresentado Geralt no período de convalescência após a primeira aventura narrada. Ao longo desses capítulos ou seja, ao longo desse período de calma, Geralt vai relembrando algumas das suas missões e aventuras enquanto conversa com outras personagens que vão aparecendo, como Jaskier, um poeta e trovador, muito engraçado e brincalhão. Confesso que quando Jaskier apareceu ainda tornou as aventuras de Geralt mais engraçadas e mirabolantes, fazendo com que gostasse mais do livro.

Geralt é uma personagem muito interessante. Com um passado misterioso, dei por mim a querer saber mais sobre ele, sobre como se tornou bruxo e como foram as suas aventuras que lhe deram a sua fama. A curiosidade, em conjunto com a forma como a prosa está encadeada, fizeram com que o livro fosse lido num ápice. Em relação às outras personagens, todas elas são encantadoras. Ou seja, todas tem um papel importante, muito divertidas e sombrias, ao mesmo tempo. O autor conseguiu criar um leque imenso de personagens, várias para cada aventura, praticamente, e todas elas são diferentes, todas elas são riquíssimas e dinâmicas. Jaskier foi a personagem que mais gostei, em conjunto com Geralt e Yennefer, que também é muito engraçada. 

O enredo é muito bom, repleto de aventuras e ação. O autor não se poupa nos acontecimentos e na forma como os narra, havendo de tudo. São várias aventuras que servem como pano de fundo para a fama de Geralt e todas elas são únicas e cheias de emoção. Gostei muito, tanto da narrativa em si, como da prosa, como das diferentes aventuras. Sempre com humor, ação e aventura, o autor criou algo novo dentro de um género onde há várias outras histórias. 

A existência de seres mágicos "tradicionais" (elfos, anões, vampiros...) e de outras personagens presentes nas histórias tradicionais recolhidas pelos Irmãos Grimm, fez com que tudo ainda se tornasse melhor. O autor deu um olhar totalmente novo e remodelado a histórias, personagens e seres já conhecidos. Achei este aspeto totalmente fantástico e inovador. 

As descrições também estão muito boas, elaboradas e sempre presentes para dar algo à história e à ação em si. Nunca são demasiadas nem exaustivas e têm sempre um quê de humor e diversão. Tal como a escrita. 

A escrita é excelente e, a meu ver, um dos maiores trunfos da história e do autor. Ela é fluída, dinâmica, mordaz e irreverente. O autor não tem problemas em usar determinados vocábulos e jogos de palavras, indo sempre ao cerne da questão e mostrando audácia tanto na escrita como na narrativa. 

Em suma, uma excelente aposta da editora e espero ler em breve o segundo volume, que já saiu por cá e tem como título A Espada do Destino. Recomendo totalmente a todos os que gostam de uma aventura sem limites! 

NOTA (0 a 10): 10  

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O Segredo da Casa de Riverton, de Kate Morton

Sinopse:

Verão de 1924
Na noite de um glamoroso evento social, um jovem poeta perde a vida junto ao lago de uma grande casa de campo inglesa. Depois desse trágico acontecimento, as suas únicas testemunhas, as irmãs Hannah e Emmeline Hartford, jamais se voltariam a falar. 

Inverno de 1999
Grace Bradley, de noventa e oito anos de idade, antiga empregada da casa de Riverton, recebe a visita de uma jovem realizadora que pretende fazer um filme sobre a morte trágica do poeta. 
Memórias antigas e fantasmas adormecidos, há muito remetidos para o esquecimento, começam a ser reavivados. Um segredo chocante ameaça ser revelado, algo que o tempo parece ter apagado mas que Grace tem bem presente. 

Passado numa Inglaterra destroçada pela primeira guerra e rendida aos loucos anos 20, O Segredo da Casa de Riverton é um romance misterioso e uma emocionante história de amor. (in Goodreads)


Opinião:

Mais um arrebatador romance escrito por uma das autoras que mais gosto de ler dentro deste género, que acaba por ser um misto de romance com mistério e thriller. Kate Morton tem-se mostrado como uma autora fantástica, dotada de uma escrita fabulosa e de um enorme poder para contar histórias, encadeando todos os detalhes, todos os momentos de modo a criar algo único e excelente. Este é o terceiro livro que leio dela e só tenho a referir aspetos positivos!

Riverton. Uma casa antiga, com mais de 300 anos de história. Uma família nobre, famosa e ilustre. Uma época de mudança, guerra e paixão. Contada na perspetiva de Grace, criada da família, esta é a história que assombra as paredes de Riverton e que nunca foi contada verdadeiramente. Uma história forte, cheia de emoções e muitas surpresas, que faz com que a leitura seja feita de forma frenética e veloz, uma vez que o leitor está sempre na expectativa de descobrir mais...de descobrir o segredo de Riverton.

Gostei muito da história e das personagens.

Em relação às personagens, posso afirmar que gostei de todas. Se bem que tenha acabado por ter um tanto raiva de Emmeline, pela sua personalidade, pelos seus feitos..., todas elas estão excelentes. Grace acabou por ser a minha favorita: discreta, com uma história escondida e crucial nos momentos mais importantes, acabei por gostar muito dela. Hannah é a personagem mais interessante, mais sombria e misteriosa, excepto Robbie, que a ultrapassa. Gostei de todas elas, uma vez que é um leque muito heterogéneo e distinto, cada qual com a sua parte na trama, o seu papel definido e único.

A história está primorosamente contada por Grace, uma excelente narradora. Quase com 100 anos, a antiga criada da casa e depois criada pessoal de Hannah, Grace tem uma história para contar ao seu neto, história essa que a marcou e lhe cria remorsos no seu coração. O que à partida parece ser uma coisa, logo acaba por se mostrar outra. Este aspeto está sempre presente nos livros da autora, o que os faz serem tão bons e imprevisíveis. Este não é excepção. A história das irmãs Hartford é muito forte. A família, o amor e o dever. Eis as bases que as regem e que regem toda a trama. Aqui não há espaço para meias palavras, nem para momentos delicados. Tudo se passa com grande fulgor e paixão e ambas as irmãs têm que enfrentar grandes acontecimentos que acabam por por à prova a sua amizade e amor entre ambas.

Ser guiado por Grace desde os seus 14 anos, quando foi trabalhar para a mansão, até aos seus quase 100 anos é uma experiência interessante, uma vez que ela tem muitos segredos para desvendar e contar. Tendo acompanhado a vida de Hannah e Emmeline desde a sua juventude, sabe tudo sobre elas e sobre o que levou à loucura na famosa festa dada em Riverton em 1924, no auge dos loucos anos 20. O mistério está muito bem contado, as pistas são dadas em pequenas doses e o leitor pode seguir por esta história como se estivesse presente em todos os momentos, como se estivesse de mão dada com Grace através da história. 

O facto dos acontecimentos narrados atravessarem um longo período de tempo, cerca de 20 anos, também dá outras mais valias à história. A Primeira Guerra, as mudanças sociais e económicas, a entrada na década de 1920 e tudo o que estes anos trouxeram (música, emoções, modas...), a liberdade social e de costumes que se começou a viver na época...tudo está aqui presente e tudo faz parte do contexto da obra. Kate Morton, mais uma vez, usou todos esses aspetos para criar um contexto perfeito e único, em que tais aspetos servem a história, dando-lhe coerência e realidade, sendo parte viva das personagens e do enredo em si.

As descrições estão soberbas, magistrais. É como se o leitor estivesse defronte de tudo o que é descrito. Aliás, logo na primeira página é possível entrar na história, começar logo a fazer parte do quadro visual que é ali apresentado. Imaginar logo a primeira cena foi o que me fez entrar automaticamente na história. Assim, a vivacidade das descrições em conjunto com a poesia da forma de escrita, faz com que a leitura da obra seja um momento maravilhoso, onde se entra na trama e se acaba por fazer parte do enredo.

Já tinha acontecido isso nos livros anteriores. A autora consegue sempre dar tudo de si e de tudo o que cria para dar prazer ao leitor, através das variadas descrições das personagens, da ação, dos espaços, dos objetos..., passando pela história e acontecimentos, até chegar ao cerno do mistério que há para desvendar. Porque há sempre um mistério escondido, algo que tem de ser dito, que tem de ser descoberto.

Mais um maravilhoso livro de Kate Morton, que recomendo sem reservas. Romance, mistério e muita emoção numa história bem contada.

NOTA (0 a 10): 10