sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O Mistério de Charles Dickens Parte I, de Dan Simmons

Muitos são os livros que abordam o mistério de Edwin Drood e Charles Dickens, e decidi conhecer mais sobre este tema através da leitura deste volume, que me disseram ser excelente e de um bom autor. Portanto, posso começar por referir que foi uma leitura interessante.



Sinopse:

A 9 de junho de 1865, quando viajava para Londres de comboio com a sua amante secreta, Charles Dickens – no pico da fama como o mais genial romancista do mundo – é vítima de um acidente que muda a sua vida para sempre. Obcecado com visões de um homem de nome Drood que avistara no local do acidente, inicia uma vida dupla onde se dedica à investigação de cadáveres, criptas, ópio e fantasmas e torna-se frequentador dos subterrâneos de Londres a que chama “a sua Babilónia”. Mas será tudo isto uma mera pesquisa para o seu próximo romance ou uma descida aos infernos da insanidade? Baseado nos detalhes históricos da vida de Charles Dickens narrados por Wilkie Collins, outro grande escritor da época – bem como amigo, colaborador de Dickens e também seu grande rival –, Dan Simmons explora os mistérios em torno dos últimos anos da vida de Charles Dickens e poderá providenciar a chave para o seu último romance inacabado: O Mistério de Edwin Drood. (in Saída de Emergência)


Opinião:

Para primeira impressão em relação à escrita do autor afirmo que gostei, uma vez que existe um humor bastante peculiar ao longo de toda a narrativa, sendo que o narrador, Wilkie Collins, também foi bem caracterizado e é cheio de personalidade, acabando por tornar-se facilmente na minha personagem favorita.

Gostei da forma sem tabus com que o autor apresentou as personagens, que são figuras reais, do âmbito literário da época, e de grande renome. A maneira como estas personagens são apresentadas, como interagem entre si e como atuam durante o enredo é deveras interessante e também é uma forma de o leitor ficar a conhecer um pouco da sua vida e dos seus relacionamentos, mesmo que de uma forma um tanto romanceada.

Achei as personagens interessantes, complexas, principalmente as principais. Gostei de Wilkie Collins, como já referi, e também gostei de Dickens, mas confesso que esta visão do autor em relação a Dickens, desmistificou um pouco a ideia que tinha de Dickens. A constante dúvida em relação à sanidade de Charles Dickens e à sua conduta são ingredientes muito presentes no enredo, que vão contribuir para o mistério em volta de Drood. Também gostei da relação entre Collins e o inspetor da polícia...aquela duplicidade é interessante.

Drood é uma personagem de um dos livros de Dickens: Edwin Drood. E toda a relação e mistério à volta da existência real ou ficcionada desta personagem na vida de Dickens está muito conseguida, e este é de facto um dos maiores mistérios do enredo, que espero que tenha uma resposta. É aqui que reside todo o enredo, pelo menos por agora.

No entanto, quanto ao enredo, estava à espera de algo mais...principalmente a nível do mistério e suspense que estava à espera de encontrar. Talvez por o livro estar dividido em dois é possível que a melhor parte tenha ficado reservada para o segundo volume, espero eu, porque nesta metade não encontrei aquele ambiente denso de mistério. Acabei por encontrar, durante a maior parte da história, uma alegre e sarcástica descrição/relato de situações do quotidiano das personagens. Houve alguns momentos muito bem conseguidos e deveras interessantes, em que consegui ficar submergida naquele ambiente de suspense, em especial nas cenas em que Drood aparece, bem como o Outro Wilkie. Ora, uma vez que isso aconteceu algumas vezes, e em especial na parte final desta parte, vou ficar na expectativa que a segunda parte promete ser recheada de momentos de suspense e mistério, que é o que eu estou à espera, tendo em conta o título do livro e a sua premissa, bem como todo o ambiente gótico, que só uma história vitoriana consegue, que lhe está subjacente, o que está muito bem conseguido.

Não posso referir muito mais, senão estarei a dar pistas e conjeturas, e isso, neste género de história, não soa muito bem. 

Em suma, gostei desta primeira parte, mas espero que a segunda seja melhor, mais frenética e menos descritiva no que refere ao quotidiano social das personagens...ou seja, mais mistério e suspense é o que espero da segunda parte desta história.

NOTA (0 a 10): 8

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A Favorita do Rei, de Sandra Worth

Com uma das mais belas capas portuguesas, este livro despertou a minha atenção assim que saiu por cá. Anos depois, encontrei-o a um bom preço e decidi apostar. E verifiquei que ainda bem que a capa me atraiu...é um excelente romance histórico. 



Sinopse:

Uns estão destinados à grandeza, poucos mais do que Isabel de York. Apesar de ser a única rainha inglesa a ter sido mulher, filha, irmã, sobrinha e mãe de reis ingleses, o legado do seu espírito nobre e o amor do país ultrapassam muito a sua linhagem impressionante.

Neste romance avassalador, a autora premiada Sandra Worth dá-nos a primeira história completa da rainha do povo, Isabel, a Bondosa.

Ferozmente dedicada ao pai adorado e ao rei, Isabel de York, de dezassete anos, acredita que ele quis deixar a Inglaterra nas mãos de um dirigente justo e meritório. Como o jovem sucessor não está pronto para reinar, o poder passa para o tio de Isabel, Ricardo de Gloucester - um homem no qual a mãe nunca confiou. Pouco depois, Isabel receia que a sua própria confiança não se justifique. Após a subida de Ricardo ao trono, a família dela sofre desaires sucessivos e devastadores: o pai, já falecido, é exposto como um bígamo; ela e os irmãos são estigmatizados como bastardos; e os irmãos são presos pelo novo rei e, segundo consta, assassinados. Como pôde o pai acreditar num homem capaz de tamanha perfídia?

Mas numa noite fatídica, Isabel é levada a questionar todos os seus preconceitos. Através dos olhos da rainha consorte de Ricardo, que está doente, ela vê um homem digno de respeito e de uma adoração eterna. A dedicação dele ao povo inspira um amor proibido e acaba por dar a Isabel coragem para aceitar o seu destino, casar com Henrique Tudor e ser rainha.

Embora a sua alma pertença secretamente a outro, o seu coração pertence para sempre à Inglaterra...
(in Goodreads)

Opinião:

Um dos meus géneros literários favorito é o romance histórico e gosto sempre de ler um bom romance histórico, bem contextualizado, bem fundamentado, com personagens ricas e complexas, com uma linguagem apropriada e sem serem lamechas. Gosto de uma boa história, com emoção. E pude encontrar isso neste livro, o que me agradou bastante. Narrado na primeira pessoa, por Isabel de York, a primeira rainha Tudor, esposa de Henrique VII e mãe de Henrique VIII, este livro deu-me a conhecer vários aspetos da História de Inglaterra que eu desconhecia e é isso que eu também procuro quando leio este género: aprender algo sobre História. 

Isabel de York, a Rosa Branca de York, filha de Eduardo IV, viu a sua dinastia desmoronar-se e a sua família ser perseguida pelos Tudor, no final da Guerra das Rosas, que opôs York a Lancaster. Depois de Ricardo III ser morto por Henrique Tudor na batalha de Bosworth, a melhor forma de trazer paz à Inglaterra e também legitimar o trono de Henrique (que era bastardo) era casar com Isabel, uma descendente do antigo rei do ramo de York. No meio de uma enorme intriga política, Isabel vê-se no centro de tudo e tenta sempre fazer algo de bom. A força com que suportou o seu papel, como é referido ao longo do livro, fez-me ver nela uma rainha excelente, uma mulher forte, que tentou sempre influenciar o seu rei pelo melhor, num tempo conturbado e horrendo, onde as perseguições eram intensas e as traições também. Não conhecia a história de Isabel e gostei de a conhecer. Tendo conhecimento da história de Henrique VIII, Ana Bolena e Isabel I, foi com agrado que li esta obra, uma vez que foi no período retratado que se iniciou esse tempo, o tempo dos Tudor e depois da Idade do Ouro. 

Também gostei de conhecer Henrique VII e os outros reis que aparecem na história, apesar de aparecerem durante menos tempos. Penso que, tendo em conta tudo o que é referido, bem como as notas da autora e uma ligeira pesquisa que fiz depois de ler o livro, a autora conseguiu criar excelentes personagens, tendo o cuidado de as caracterizar de acordo com as suas personalidades reais. A relação personalidade-comportamentos-atitudes pareceu-me muito bem conseguida. 

O ambiente está muito bem descrito, tanto a nível das estruturas (castelos, espaços, corte...), como da época. A autora conseguiu criar um ambiente bem contextualizado, de acordo com a cultura e os modos daquele período. Também gostei muito das descrições das roupas que estão muito boas, sem serem maçudas. Aliás, nenhuma descrição é maçuda. Tudo é bastante fluído, a todos os níveis, tanto de diálogos, como de descrições. 

Tendo em conta que a narrativa abarca um longo período de anos, a autora mostrou grande poder de síntese, indo aos pontos cruciais, sem ser muito rápida e simplista. A escrita e a forma como a história é narrada contribui muito para o sucesso da narrativa e da sua coerência e coesão, porque é bastante fluída. 

Tenho só uma coisa a apontar que podia ter sido revisto, uma vez que é trabalho de revisão da Editora: existem nomes que estão umas vezes traduzidos para Português e noutras vezes estão em Inglês, como Ricardo e Richard. Soa um bocado estranho...

Em suma, aqui está mais um excelente romance histórico, que recomendo sem reservas, a todos os que gostam deste género literário e principalmente àqueles que gostam de saber mais sobre História de Inglaterra. Quero ainda voltar a referir o excelente design da capa, que a meu ver está maravilhoso. 

NOTA (0 a 10): 10

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A Elizabeth Desapareceu, de Emma Healey

Tive a oportunidade de ler este livro através da Editora Marcador e quero agradecer a experiência. Além da maravilhosa capa que tem, acabou por ser uma leitura diferente!


Sinopse:

Um mistério, um crime não resolvido e uma personagem inesquecível: Maud.

Maud está convencida de que a amiga desapareceu, mas ninguém acredita nela. Tem cerca de 80 anos e o seu contacto com a realidade não é o mesmo de outros tempos. Existem pedaços de papel por toda a casa: listas de compras e de receitas, números de telefone, notas sobre coisas que aconteceram. É a memória em papel que impede Maud de esquecer as coisas. De repente, nas mãos de Maud encontra-se uma nota com uma mensagem simples: «Elizabeth desapareceu.». É a sua letra, mas não se recorda de a ter escrito. O que aconteceu?

Maud está certa de que a amiga corre perigo.
(in Goodreads)


Opinião:

Gostei da história. Gostei da forma como Maud se apresenta e da forma como narra a história, entrelaçando os acontecimentos do presente com os do passado e que podem ser comparados. O ambiente de leve suspense que trespassa a obra deixou-me sempre a pensar na trama e dei por mim a ler o livro a uma grande velocidade. Uma excelente narradora, com um discurso fluído e simples, que a autora sobe moldar para dar carácter à personagem de Maud.

Maud é uma velhinha muito interessante. Com os seus 80 e tal anos, com problemas de memória e com uma história complicada por resolver no seu passado enquanto jovem, Maud consegue ser um enigma. Ela passa aproximadamente metade da história à procura de Elizabeth, outra senhora idosa, sua amiga, o que dá um certo mistério ao enredo, porque há a grande pergunta: o que aconteceu a Elizabeth?

No entanto, para mim, o grande mistério da história não foi esse e sim o do passado de Maud: a sua irmã, Sukey. No rescaldo da 2ª Guerra Mundial, Maud e a família vivem o dia-a-dia num ambiente que se vai tornando diferente a cada dia, devido ao final da guerra. Ainda com racionamento e com alguns problemas, Maud vê a sua irmã, Sukey, desaparecer. Casada com Frank, um homem amistoso mas com algumas questões mais negras, Sukey é feliz, mas tem alguns comportamentos estranhos, que mais tarde acabam por se manifestar através de conversas com vizinhos, quando Maud parte em busca de Sukey. Com a polícia a tentar descobrir o seu paradeiro e com as notícias de várias mulheres a fugir dos maridos regressados da guerra, bem como de uma assassino em série, Maud tenta descobrir por si mesma o que aconteceu com a sua irmã. 

Tudo o que se vai descobrindo sobre este episódio é transmitido por Maud, em pequenos trechos de pensamentos, que vão aparecendo em paralelo com a busca por Elizabeth, e a dado momento o mistério fica um tanto baralhado, o que faz parte do enredo e acaba por ser interessante, porque trás suspense à obra. 

Achei que o tema foi bem explorado; o dia-a-dia e as dificuldades de uma pessoa que está a perder a memória está bastante explícito e bem trabalhado e esse tema acaba por sobressair mais do que o mistério em si, o que me deixou um bocadinho desiludida, porque estava à espera que houvesse mais suspense e que essa parte da história, o mistério do passado de Maud, estivesse mais desenvolvida. Porque, no final, o que interessa mesmo é saber de Sukey e não de Elizabeth, e o que é que acontece? A resposta ao mistério fica a meio. Há uma nuvem que encobre o que aconteceu e que só desaparece tenuemente, como que por um breve instante. Penso que, se o livro fosse maior, a história podia ter sido mais desenvolvida, a todos os níveis. 

Porém, gostei do que li e o facto do mistério ter ficado relegado para uma espécie de segundo plano, só frustrou um pouco as minhas expectativas, porque confesso que a dado momento me apeteceu atirar o livro contra a parede, tal não foi a raiva que senti em relação ao rumo que a história estava a tomar. Isto só mostra como a história mexe com o leitor, o que é algo excelente. Se eu não me entusiasmar com a história, não vou ter reação nenhuma destas ou pensar em fazer algo do género, por tanto, se querem ler algo que vos intrigue, já sabem, optem por este livro, que me deixou ainda mais intrigada no final do que no início! 

NOTA (0 a 10): 8

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Uma Questão de Atração, de David Nicholls

Há alguns anos que queria ler este livro. E antes disso queria ver o filme, que tem um dos meus atores favoritos (James McAvoy). Ainda não vi o filme, mas agora já li o livro e posso dizer que gostei imenso!


Sinopse:

Brian Jackson, estudante universitário, chegou à faculdade com um desejo mais forte do que o da aquisição de conhecimentos: ser uma estrela do concurso mais famoso da TV. Mas o seu avanço no Desafio Universitário é de certo modo travado pela sua atração crescente pela sedutora Alice Harbinson, que luta para deixar a sua marca como atriz. E, à medida que os obstáculos impedem a sua relação, Brian fica cada vez mais convencido de que só um sucesso esmagador no concurso o fará conquistá-la. (in Goodreads)

Opinião: 

Aqui está um livro que posso dizer que é diferente dos outros que tenho lido, devido ao seu humor. Não costumo ler muitos livros com um cariz mais divertido, a não ser aqueles em que existe humor em alguns momentos da trama. Dei por mim a soltar gargalhadas durante algumas partes do livro, especialmente durante algumas das situações caricatas em que Brian se coloca, como a situação em que foi passar uns dias na casa de campo de Alice, com os pais desta. 

No entanto, o livro em si não é uma comédia. A história tem momentos divertidos, mas a situação de Brian acaba por não ter nada de divertido na faculdade. E a questão do programa de televisão também acaba por ser um tanto estranha. 

Já antes tinha lido um livro do autor: Um Dia, e gostei muito. Este é diferente, mas tem um quê de semelhança, em especial em relação às personagens masculinas, aqui Brian, no outro, Dexter, no que diz respeito à forma deles funcionarem em relação às outras pessoas. 

Em relação às personagens, posso dizer que gostei bastante de todas. São uma bela "caricatura" da sociedade dos anos 80. Gostei de Brian e dei comigo a torcer por ele durante toda a história. Também gostei das outras personagens, em especial da Rebecca. Achei a Alice um bocado irritante, o que é sinal que a personagem desempenhou o seu papel. 

Gostei da forma como a história é narrada. O Brian é um excelente narrador, que consegue fazer piadas de si mesmo com uma facilidade incrível. Também gostei da forma como a história se relaciona com a realidade atual da época: as músicas, os livros, o próprio concurso de televisão. 
  
A história em si, é uma espécie de critica à sociedade daquele altura, em especial à juventude e à condição social desta. Os empregos, os salários, as noitadas, as festas, as amizades, as questões políticas e as diferenças entre as diferentes ideologias...tudo está presente, mesmo que de uma forma subtil. Não é uma critica direta, é antes uma forma de abordar esses temas, contextualizando-os de uma forma muito bem feita com as personagens e o enredo. O autor conseguiu-o muito bem.

Não há nada que posso dizer que não gostei ou que estivesse a mais ou a menos. A história superou as minhas expectativas, o que é excelente. Já antes tinha recomendado o autor, aquando da revisão de Um Dia. E agora volto a recomendar. 

Aqui está um livro que se lê num ápice. Com escrita fluída, corrente e com uma boa história, que acaba por ser uma excelente critica social, entrelaçada numa história de jovens. Recomendo vivamente, porque é um livro deveras interessante, divertido e emocionante. Muito bom!

NOTA (0 a 10): 10