Os Luminares ganhou um Man Booker Prize e conquistou muitos
leitores pelo mundo inteiro. Assim que foi traduzido por cá, decidi que seria
uma das minhas próximas leituras. Sabia que era algo novo, diferente, original
e com uma certa dose de misticismo, que me fascinou antes de saber mais sobre a
história. Quando peguei nele vi logo que ia ser uma jornada bastante
interessante...tinha à minha frente um livro que me iria trazer bastantes
emoções e deixar-me a pensar nele. E não me enganou. De facto, este é um livro
original, com uma estrutura fantástica, tanto a nível da linguagem, como da
narrativa, como da própria estrutura em si, em termos gráficos e de
estruturação de capítulos.
O livro conta a história de várias personagens que se
encontram em determinados momentos, todas relacionadas entre si, devido a algum
acontecimento. Com a corrida ao ouro na Nova Zelândia, no século XIX, tudo é
atraído para lá. Pessoas ingénuas, pessoas interesseiras, ladrões, mentirosos,
trabalhadores, pessoas sérias, amantes, foragidos, vingadores. E é com a
corrida ao ouro e tudo o que ela traz que as personagens se encontram e nós
também. A história começa com a chegada de Walter Moody, um jovem escocês, ao
hotel Crown, no meio de uma reunião secreta, que é interrompida pela sua
chegada. Todos os outros conspiradores se retraem com a chegada do forasteiro,
mas, à medida que o jovem vai contando a sua história, principalmente em
relação ao barco em que viajou e ao seu comandante, logo todos se apercebem que
podem confiar em Walter, e começam a contar o motivo pela sua reunião.
Este relato vai sendo feito pelas personagens, de uma forma
em que os acontecimentos diversos vão aparecendo de diferentes ângulos (tendo
em conta as perspectivas das diferentes personagens), de modo a que, todos
juntos, construam a história, ou seja, o que levou à reunião.
O povo de Hokitika sente-se curioso sobre um estranho
aparecimento de um eremita morto, Crosbie Wells, sobre o desaparecimento de um
jovem dono de uma concessão, bastante rico e afortunado, Emery Staines, e sobre
a estranha tentativa de suicídio de Anna Wetherell, prostituta querida dos
homens da cidade. E todos os homens reunidos no salão do hotel têm algo a ver
com o episódio e temem a justiça e o facto de poderem ser relacionados com
estes acontecimentos, uma vez que todos, ou quase todos, beneficiaram da morte
ou do desaparecimento das duas personagens masculinas. Numa tentativa de se
defenderem de possíveis ataques, eles juntam-se para partilhar o que sabem e
tentarem desvendar o mistério, com a ajuda de Moody.
Assim, a história vai avançando e recuando, de modo a deixar
conhecer o que realmente aconteceu ou a deixar subentendido ao leitor, através
da narração do narrador e também das acções das personagens.
Não posso escrever muito mais sobre o enredo, porque ia
tirar a graça à leitura. Por isso, vou-me debruçar sobre as minhas ideias sobre
o livro.
Pois bem, como já referi, este é um livro original. A autora
esmerou-se para criar uma história interessante, original, complexa, cheia de
símbolos e de simetrias (o livro tem doze capítulos, cuja extensão vai
diminuindo proporcionalmente), que se relacionam com a Astronomia e Astrologia.
E eu gostei muito do efeito que a leitura me provocou.
À medida que fui lendo, a história foi-se entranhando no meu
Ser, deixando-me curiosa, apreensiva, interessada. Criei afinidades com as
personagens e foi com grande prazer que fui desvendando as suas histórias e os
mistérios que vão aparecendo e que estão bem enraizados na trama. Aliás, estão
tão bem enraizados, que, ao chegar ao fim, fiquei com a impressão que muito
ficou por descobrir. Apesar de muito ficar subentendido, existem outros
aspectos que acabam por não serem esclarecidos, o que deixa um cheiro de
mistério no ar. Gosto quando isso acontece, pois permite uma certa abertura e
criação de alternativas narrativas.
As personagens são riquíssimas, complexas, completas e
cheias de um passado cheio de segredos e história. Todas elas têm algo a
esconder e todas elas são de grande importância para o todo. Gostei em especial
de Moody, Staines e Lydia. O primeiro pela perspectiva distante que traz aos
acontecimentos, o segundo pelo seu fascínio e mistério e a terceira pela sua
esperteza e misticismo. Ao longo da narrativa, o narrador dá-nos a conhecer a
natureza das personagens, os seus sentimentos, a sua forma de agir, o seu
passado e pensamentos, o que permite ao leitor um estudo sobre o carácter das
diferentes personagens, que são todas bastante distintas. Este aspecto
agradou-me bastante e elevou a narrativa a outra esfera.
Também o ambiente e as descrições estão muito bem. Não
existe descrição por aí além; apenas aquela necessária para visualizar o
ambiente. Isso faz com que a leitura seja bastante fluída. Mais uma vez, fiquei
fascinada com a Nova Zelândia. Uma vez que gostei muito do livro de Sarah Lark,
No País da Nuvem Branca, este livro fez-me ficar ainda mais curiosa sobre a
História deste país. Também aqui aparecem os nativos, os maoris, e a sua
cultura, o que permite a expansão dos conhecimentos sobre este povo. A cultura
chinesa também está bem presente ao longo da história, trazida a lume através
dos emigrantes chineses na cidade. E o relacionamento das diferentes culturas
está bastante de acordo com a verdade, infelizmente, uma vez que a prepotência
da cultura europeia é enorme em relação com as outras culturas presentes no
meio.
Outro aspecto que me agradou foi o facto da história mostrar
vários lados e todos os tipos de motivos. Há bondade, há maldade, há injustiça,
há justiça, há ódio, há amor. Há tudo. A teia vai sendo tecida e desenrolada,
de modo a que o leitor se confronte com tudo o que a humanidade têm. No fundo,
a história é sobre a humanidade, sobre o que os homens fazem pelos mais
diferentes motivos e aos extremos a que chegam para os alcançar.
Enfim, esta é uma grande viagem e uma viagem cheia de
história, de emoções e de grandes mistérios. Gostei da forma como a autora
guiou o enredo, gostei do narrador e da perspectiva exterior e interior que
vai-se intercalando à medida que a história avança. Deste modo, posso afirmar
que este é mais um excelente livro, merecedor do prémio que venceu e que deve
ser lido. Mesmo que por vezes possa parecer denso ou um bocadinho parado, isso
não é verdade. O livro tem um andamento próprio e não podia ser de outra
maneira. Não teria sido a mesma coisa. Todo o livro é como uma dança, que se
vai desenvolvendo e desenvolvendo até chegar ao desfecho, até os bailarinos
terminarem a sua dança, que não termina, antes, continua eternamente, repleta
de mistérios e de factos por explicar, que deixam no ar a magia que se imiscui
na realidade.
Aconselho a todos a leitura desta obra. É uma maravilha para
o nosso entendimento, para o cérebro e para o coração. É um hino à humanidade e
ao que esta tem de pior e de melhor. Um livro que faz pensar, que tem um pouco
de tudo. Com fluidez, sarcasmo, ironia, paixão e arrebatamento, a leitura desta
obra é marcante. Uma excelente leitura!
NOTA (0 a 10): 10
Olá,
ResponderEliminarBem temos livro sim senhor, fica registada a recomendação se tiver oportunidade de o ler já vi que está mais que recomendado, muito bem, excente comentário e com direito a desenho e tudo :D
Bjs e boas leituras
Olá,
Eliminartemos sim senhor. Espero que quando o leres, também gostes. Vale o dinheiro e pode ser que se aproveite em alguma promoção o que compensa ainda mais! Muito obrigada; tinha de ter um desenho =D
O próximo também terá!
Bjs e boas leituras
Os teus desenhos são tão bonitos :)
ResponderEliminarGostei do teu comentário, nota-se bem que gostaste do livro! Mas vou passar, a história não me cativou muito. Apesar da apresentação dos capítulos e as relações que têm me deixarem curiosa...
Beijinhos e boa semana!
Olá! Muito obrigada =)
EliminarGostei muito e fico feliz por ter transposto isso para a opinião. Há tanto para ler que há que tomar decisões. Mas sem dúvida que é uma excelente leitura e a obra mereceu os prémios que ganhou. Ter curiosidade é bom =D
Beijinhos e boa semana!