domingo, 11 de maio de 2014

A Marca das Runas, de Joanne Harris

Primeiro que tudo: FANTÁSTICO! 

Pois bem, A Marca das Runas, primeiro livro de dois, da autora Joanne Harris, é uma excelente obra de Fantasia. Tendo como base a mitologia Nórdica, este livro é uma janela para esse mundo, povoado por deuses, seres mágicos, magia, runas, a Ordem e o Caos. É um completo mergulho nestas lendas e serve-se extremamente bem delas para explorar a história.

Já há algum tempo que andava de olho nele, principalmente devido ao título e à sinopse, mas quando fiquei a saber que o Loki (e companhia) faziam parte do livro, não esperei mais. Tive de o ler! Sempre gostei das lendas nórdicas e muita da Fantasia que tanto gosto vai/foi lá beber. Então, quando vi os filmes do Thor, fiquei completamente apaixonada...pelo Loki, principalmente. Assim, foi com imensa curiosidade e entusiasmo que iniciei a leitura desta obra.

Depois do Ragnarók, os deuses caíram: foram presos ou mortos. Os Æsir foram destruídos, os Vanir banidos. A Ordem impôs-se, nasceu uma nova Ordem, feita de historiadores, clérigos, religiosos, que se uniram contra todo o conhecimento antigo, instaurando uma nova religião, única e verdadeira, baseada na Palavra e no culto ao Inominável. Tudo o que estava relacionado com magia foi banido e aqueles que, porventura nascessem com marcas de runas (humano ou animal) ou que a fizessem eram entregues para serem mortos, num processo inquisitório. A Ordem tinha a sua localidade grandiosa no Fim do Mundo, um tanto longe de Malbry, aldeia onde vivia Maddy Smith, filha do ferreiro da aldeia. Maddy nascera com uma marca numa das mãos e logo foi posta à margem. Era vista como bruxa e não tinha amigos. Mas Maddy não se importava muito, continuando a sua vida e o seu gosto pela magia que sabia poder fazer. Aos sete anos encontrou um velho zarolho na Colina do Cavalo Vermelho, lugar de superstição e magia, e viu que aquele homem sabia muitas coisas que ela quis aprender. A amizade entre eles foi crescendo, e todos os anos, por volta de Beltane, o Zarolho aparecia na Colina e Maddy ia ter com ele. O velho era um comerciante, que sabia muito dos Mundos e de magia e logo compreendeu que Maddy era especial e começou a treiná-la, mesmo sem que ela compreende-se na totalidade. Ensinou-lhe as histórias dos deuses e das guerras da Ordem e do Caos e alertou-a contra possíveis inimigos. Assim foi Maddy crescendo. Pelos seus 14 anos, o Zarolho deu-lhe uma tarefa: entrar na Colina e encontrar o Sibilo. Não lhe explicou nada mais, exceto conselhos contra o Impostor, apenas ajudando-a a entrar. Mas eles não estavam sozinhos: Adam Scatergood, um rapaz da aldeia, ajudante do padre e maldoso, ouvira tudo e logo foi contar ao padre, que depressa arranjou maneira de por o povo contra Maddy, acusando-a de bruxaria, guiando todos para um cerco à Colina e apelando para a Ordem, que enviou um Inspetor.

Sem nada para se orientar, Maddy viu-se dentro da Colina, num mundo de túneis, o Mundo Subterrâneo, sem saber o que fazer. Acabou por encontrar um conhecido seu, um goblin de nome Açúcar e Vinho, que a guiou durante um bocado, acabando por enganá-la. Depois de muito caminhar, acabou por ir ter a uma caverna com um poço de fogo, onde algo estava escondido.
Assim começa a aventura de Maddy pelos Mundos em busca de salvação para os deuses e para os Mundos, uma demanda perigosa, cheia de contratempos e de mudanças, onde nada parece o que é. É uma jornada pela sua vida, pelo conhecimento de quem é de verdade. E, sem saber o que fazer, acaba por ter de guiar-se pelas suas ideias, pela sua coragem e pelos seus companheiros, mesmo desconfiando deles.

Muitos são os enredos paralelos ao longo da história: a demanda de Maddy, a demanda do padre Nat Parson, a demanda do Zarolho, a demanda do Sibilo, a demanda de Loki, a demanda dos Vanir e de Skadi... os objetivos das personagens são variados e as suas decisões afetam tudo e todos. É uma história sobre sobrevivência, poder, sacrifício, coragem. A demanda de Maddy é enorme e sem ela saber, tudo o que dela parte pode mudar os Mundos, literalmente. O fundo do enredo, o grande plot, é muito mais denso do que se imagina inicialmente e só à medida que se vai lendo é que se vai compreendendo verdadeiramente quais os objetivos das personagens, os seus desejos secretos, sendo que tudo está interligado com várias profecias proferidas pelo Oráculo (ou Sibilo), uma vez que estás estão diretamente relacionadas com a vida das personagens.

Ou seja, o enredo é feito de um choque de desejos, que não posso estar aqui a mencionar ou iria contar a história toda! E, acreditem, não vale spoilar, porque a história é fantástica e é ainda melhor saboreada se se for à descoberta!

Gostei imenso. É um dos melhores livros que li este ano, sem dúvida. Gostei muito da escrita: bastante fluída, concreta, terra-a-terra, explícita. Ainda não tinha lido nada da autora e fiquei bastante agradada. A narrativa é muito coerente, muito coesa: tudo se relaciona, tudo está interligado; nada falha, nada fica de fora; todos os pormenores são importantes, até aqueles que, à partida, não parecem sê-lo. Aprecio bastante quando tal acontece, pois, como já referi várias vezes, tal demonstra mestria da parte do escritor. Enredos básicos, onde tudo se descobre "à descarada", sem nenhuma complexidade, neste género de livros principalmente, é bastante monótono e chato. Gosto de histórias que me façam pensar, encontrar teorias, planos...isso dá-me vontade de ler mais, de descobrir, o que faz com que mergulhe completamente na história: é como se estivesse lá com as personagens. É isso que eu procuro, principalmente, nos livros. É bom quando acontece e aqui aconteceu. Muito, muito agradavelmente.

A visão dos Nove Mundos, tudo o que se lhes relaciona, as descrições mágicas e fantásticas, são aspetos que também ajudaram ao meu gosto pela história. A viagem feita pelas personagens também foi feita por mim. É como se estivesse lá...as descrições são tão boas, tão compreensíveis e ao mesmo tempo fantásticas e até impossíveis, que permitem que tal seja possível ao leitor. Senti-me muito próxima das personagens e dos locais. A relação muito próxima com as lendas da mitologia Nórdica está muito bem desenvolvida.

E por falar em personagens, não podia deixar de referir a minha preferida: o Loki! Sim, de todas as personagens, o Loki é a melhor. Ele é fantástico: cheio de charme, de humor, intrigante, escorregadiço, inteligente, mentiroso, mas também bastante nobre e até bondoso. Sim, porque lá no seu intimo, ele tem bondade. Isso é possível de observar ao longo do livro. Também ele ajudou ao meu gosto pela obra. O seu humor, as suas respostas secas, inteligentes, sarcásticas, e também os momentos de perigo porque que passa ao longo da aventura, as suas dores, inquietações, medos, fizeram com que eu sentisse algo por ele, aquele sentimento especial que acontece entre o leitor e certas personagens...carinho, interesse e apreço. Mesmo podendo ser considerado como vilão, eu não o vejo como vilão e se não fosse ele, as coisas por que passou, as suas decisões e do que abdicou, o final da história não teria sido aquele que foi. Sem dúvida, Loki é das melhores personagens da história. Para mim, é a melhor. Ele é fantástico e consegui passar umas boas horas na sua companhia, torcendo por ele em vários momentos, ficando apreensiva noutros, temendo, rindo e alegrando. Assim, é de referir que todas as personagens são interessantes e complexas, sendo ótimas companhias de aventura, sendo que delas, destaco o Loki (que aqui é ruivo).

Em suma, aconselho a todos, sem reservas. É um livro fantástico, de Fantasia, onde a Mitologia se mistura com a imaginação da autora, onde tudo se interliga, havendo momentos de grande intensidade emocional. As personagens são fantásticas, os ambientes também (há mapas cruciais e maravilhosamente elaborados no início do livro, tal como uma lista de personagens e de runas utilizadas ao longo da narrativa). Esta é uma viagem aos Nove Mundos que fica guardada no coração e na mente. Muito, muito bom! Agora, é ler o segundo.

Profecias:

Vejo um exército pronto para a batalha.
Vejo um General isolado.
Vejo um traidor no portal.
Vejo um sacrifício.

E os mortos despertarão nas cavernas do Hel.
E o Inominável erguer-se-à, e Nove Mundos serão perdidos,
A menos que os Sete Adormecidos despertem,
E o Trovejante seja libertado do Mundo Subterrâneo...

p. 268

Quando Odin e o Sábio Mimir se encontrarem, o Caos entrará nos Nove Mundos. Vejo um Freixo no portal aberto - disse o Sibilo. - Atingido por um raio, mas de rebento verde. Vejo um encontro na orla do Mundo da Maldição, do sábio e do não sábio. Vejo uma barca de morte nas margens do Hel… e o Filho de Bór com o seu cão aos pés.
p.286

Citações: 

- Um mar sem marés ficaria estagnado – acrescentou Loki. – Do mesmo modo, um mundo que deixasse de mudar entorpeceria e tenderia para a morte. A própria Ordem precisa de algum Caos. Odin sabia isso quando me levou com ele e quando fizemos um pacto de irmãos de sangue. OS outros não compreenderam. Ficaram de olho em mim desde o primeiro momento.
p. 114



Vinte e dois segundos. Já viam o portal. A entrada não parecia maior que uma ogiva pontiaguda e Thor segurava-a com ambas as mãos,  o rosto visivelmente contraído pelo esforço, os ombros curvados como os de um boi, enquanto eles passavam velozes pela fenda estreita.

Vinte segundos.

- Não te preocupes. Vamos conseguir…

- Maddy… não…

O coração de Maddy estava quase a rebentar quando se esgueirou pelo portal, arrastando atrás de si Loki, que continuava a debater-se.

- Ouve bem! O Sibilo mentiu. Eu sei o que ele quer. Vi-lhe a mente. Sei desde o primeiro dia da nossa viagem. Não te contei, menti, pensei que poderia utilizar esse conhecimento para me salvar.

Quinze segundos.

Maddy forçou o braço de Loki.

Naudr, a Amarra, cedeu com um estalido.
p. 440

Porque um contador de histórias não morre nunca, mantém-se sempre vivo nas suas histórias enquanto houver alguém para as ouvir.

Tudo o que pode ser sonhado é verdadeiro. Procura-me no sonho.

p. 518

NOTA (0 a 10): 10

4 comentários:

  1. Ois,

    Bem grande comentário e está excelente, fiquei curioso por ler o livro sem duvida.

    Nunca li nada da escritora e nem a fazia escrever neste genero literário, mas pelo que percebo saiu-se bem...tenho na estante para ler Chocolate e A Praia Roubada, mas ainda não li :D

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá,

      obrigada! Gostei muito do livro. Espero que leias brevemente, é uma boa história de fantasia.

      Eu também ainda não tinha lido nada. Para começo foi excelente! Agora é ler o dois =D
      Já tenho outro da autora para ler: The Gospel of Loki (O Gospel de Loki), que não consegui esperar que saísse em português.

      Vi o filme do Chocolate e gostei =D

      Bjs e boas leituras!

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  2. Eu adoro Harris mas ainda não li este :) mas se tem o Loki conta comigo!

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    1. Olá Jojo,

      tens de ler =D
      O Loki é fantástico, nunca deixa de surpreender, de divertir e de arreliar =D

      Bjs e boas leituras

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