sábado, 31 de maio de 2014

A Filha da Floresta, de Juliet Marillier



Depois de vários anos há espera, consegui ler este livro. Já era para o ter lido há muito tempo, mas optei por comprar outro e o tempo foi passando e quando fui para comprar este livro descobri que estava esgotado, havendo apenas os dois seguintes da trilogia. Assim, encetei uma demanda para encontrar o livro e procurei em várias lojas mais pequenas e nas bibliotecas. Acabei por encontrá-lo numa biblioteca e foi com grande prazer que o trouxe comigo. Finalmente, podia lê-lo! 


A Filha da Floresta é a história de Sorcha, a sétima filha de um sétimo filho, irmã de seis rapazes, filha de Lorde Colum, governante de Sevenwaters, e de Niamh, sua amada esposa, que morreu depois do parto Sorcha. Sevenwaters fica em Erin (Irlanda). Sorcha é a narradora da sua história e da dos seus irmãos, Liam, Diarmid, Cormack, Conor, Finbar e Padriac. Criada praticamente pelos irmãos, na fortaleza e na floresta de Sevenwaters, Sorcha foi-se tornando numa menina independente, autónoma, inteligente, astuta, de grandes conhecimentos sobre ervas e curas, acabando por tornar-se curandeira. O seu pai parecia não lhe dar grande valor e isso fazia com que ela ainda sentisse mais amor pelos seus irmãos. Muito unidos, os sete filhos protegiam-se mutuamente e preservavam a memória da mãe, indo frequentemente junto ao seu vidoeiro, que tinha sido plantado por eles no momento da morte dela. Lá, refletiam, pensavam, brincavam e procuravam ajuda e conselho. 

Mas a guerra e as invasões de dinamarqueses e bretões, não dava descanso e as intrigas da guerra começaram a fazer os seus estragos na vida dos irmãos. À medida que cresciam iam juntar-se aos homens de armas e tinham de continuar o ódio contra os bretões, principalmente, que tinham, muito tempo atrás, conquistado as três ilhas mágicas dos irlandeses, começando assim uma luta sem tréguas durante muitas e muitas gerações. Quando um misterioso bretão é apanhado e levado para a fortaleza, Finbar, que era contra a guerra e contra a injustiça do não-diálogo entre os povos, pediu ajuda a Sorcha para ajudar a libertar o rapaz bretão. O plano acaba por vingar, mas Sorcha vê-se precisa perto do rapaz e parte para o ajudar. Acaba por simpatizar com ele, contando-lhe histórias e lendas. No entanto, os seus irmãos aparecem, tempos mais tarde, para a levar devido a um novo acontecimento: o noivado de Lorde Colum. Sorcha parte triste por abandonar Simon e, quando chega a sua casa, vê que o pior estava para vir. A madrasta dela, Lady Oonagh, acaba por revelar-se uma autêntica bruxa, cheia de ódio, acaba por transformar os seis rapazes em cisnes. Sorcha consegue fugir e mais tarde é visitada pela Dreidre, a Dama da Floresta, que lhe comunica a tarefa que tem pela frente: para conseguir trazer os seus irmãos de novo para a forma humana, terá de tecer e coser seis camisolas de morugem (uma planta espinhosa) e, quando todas tivessem terminadas, teria de as colocar aos pescoços dos cisnes. Durante todo o trabalho não poderia falar, nem gritar, nem chorar em voz alta. Não podia contar a sua tarefa por nenhum meio. E, durante esse tempo, poderia estar com os seus irmãos, em forma humana, apenas duas vezes por ano, no solstício de verão e no de inverno, durante o anoitecer e o amanhecer. 

E assim começa a provação, a jornada, o terror, a tristeza, o silêncio, a espera, a tortura, a privação. Assim começa a demanda de Sorcha pela liberdade dos seus irmãos, pelas suas vidas e pela sua própria vida.


É uma história muito bonita, triste em muitos momentos, mas muito bonita. A sua beleza reside na simplicidade de Sorcha, na sua determinação, na sua força de vontade, na sua angústia. É uma grande demanda, uma grande viagem cheia de perigos, intrigas, terrores e provações, mas é também uma história de amor, de coragem, de amizade, de perseverança, de virtude e de paciência. Emocionei-me por várias vezes, porque a história é muito comovente. Há momentos de grande brutalidade, de grande tristeza. E também me fez sorrir várias vezes. Porque nem tudo é escuro e a luz brilha onde menos se espera, onde por vezes nada é visível, onde por vezes a escuridão é total, quase eterna. Esta é uma história que nos diz que a luz está onde menos se espera, que é importante acreditar, continuar, não desistir, ter coragem para alcançar o que é necessário, mesmo que o caminho para lá chegar seja o mais tortuoso, mais hediondo, mais triste ou mais assustador. Sorcha é uma rapariga muito corajosa, que acompanhei desde pequena até aos 16 anos. Pude acompanhar um período extremamente rico da sua vida, um período cheio de desespero, mas também belo e alegre. Porque nada do que ela alcançou poderia ter sido alcançado sem o sofrimento do caminho por que teve de passar. Vi-a crescer, tornar-se mulher, vi como teve de se transformar, como foi doloroso, como foi confuso e como esteve sozinha. Vi como nunca deixou de acreditar, de lutar, de seguir em frente (sempre a caminhar...um pé à frente do outro..., como refere várias vezes). Mas não foi apenas Sorcha que me comoveu. Também me senti muito comovida com Finbar e Red, personagens tão ricas e profundas que me fizeram sentir uma grande empatia por elas. 

Todas as personagens são excelentes e as centrais, bastante complexas e interessantes. Gostei muito de Sorcha, de Finbar, de Conor, de Padriac, de Red e de Simon, principalmente. Também gostei dos outros irmãos, mas senti mais empatia com estes. Todas as personagens vão sofrendo uma evolução bastante grande, o que dá força ao enredo. Como principais vilões, Lorde Richard e Lady Oonagh estão muito bem, apesar de não terem sido assim uns “super vilões”, não daqueles que por vezes me fazem odiar profundamente ou até gostar. Claro que odiei Lady Oonagh e também Lorde Richard, mas o forte da história não são os seus vilões, a meu ver, o forte da história é a sua magia, o amor e amizade entre Sorcha e os irmãos, a força da família, a coragem, a sobrevivência, o amor e a amizade, a força de acreditar e de não desistir, de lutar sempre e de continuar, independentemente do que aconteça. A força desta história é a sua mensagem, a beleza da história de Sorcha, dos seus irmãos, de Sevenwaters, de Harrowfield. A força da união, da descoberta do íntimo de cada um, a descoberta dos sentimentos, das emoções, da Vida. É aí que a história é verdadeiramente boa. É linda e é uma boa história para contar. Sorcha e outras personagens contaram muitas histórias e o poder das histórias, das lendas, é também muito forte ao longo da história. Muitos são os paralelismos entre histórias contadas pelas personagens e a própria história das personagens ao longo da narrativa. E é também muito parecida com um conto tradicional, pois têm vários elementos que fazem lembrar histórias de princesas e infelizes raparigas com tarefas para fazer e perigos para ultrapassar. Esta é uma história que poderia ter sido verdadeira, uma história que se tornaria numa lenda, uma lenda celta, cheia de magia, de beleza, de misticismo. Uma balada, tão perfeita, tão esplendorosa. Sim, A Filha da Floresta é uma maravilhosa balada celta, uma balada cheia de sentimento e de emoção.  

Outro aspeto que me agradou bastante foi o contexto da história. O contexto histórico. Sendo uma narrativa com grandes laivos fantásticos, o contexto é muito real, está muito bem definido e faz todo o sentido. É uma história de fantasia, cujo contexto é real: Irlanda e Bretanha, no tempo das invasões bárbaras. A autora aliou uma história de magia com acontecimentos reais. E, todos sabemos que naqueles locais havia magia de verdade. Quem pode dizer que não havia? Por isso, a parte fantástica da história também se mistura com a realidade, o que é muito interessante.


Gostei do ambiente. As descrições são soberbas, cheias de vida, e permitem que o leitor se imagine lá, onde Sorcha está, perto dela. Senti várias vezes que estava lá com ela. Penso que senti isso durante toda a narrativa. 

Não é o primeiro livro que leio da autora. Já li O Espelho Negro, Danças na Floresta e O Segredo de Cibele. Destes três, o que mais gostei foi Danças na Floresta. E agora A Filha da Floresta passou-lhe à frente, se bem que por pouco espaço. Há várias semelhanças entre os livros da autora, mas essa é a sua magia. Se Juliet escrevesse um livro com outros temas, todos nos espantaríamos e até podia não ser tão maravilhoso como os que a autora tem escrito. 

E este é o primeiro livro de Sevenwaters. Vê-se perfeitamente que é apenas o começo e espero que o que vem a seguir continue a ser tão bom, ou, quem sabe, melhor.

Sorcha é uma maravilhosa narradora. Penso que, até agora, ainda só li poucos livros cujos narradores me encantaram muito. Os do Fitz, do Kvothe, Óscar, em Marina, de Zafón, e este. Um bom narrador faz maravilhas, e Sorcha convenceu-me completamente. Penso que ela seria uma mulher à altura de FitzCavalaria Visionário. Sim! Pensei várias vezes neles juntos, ao longo da leitura. 

Pois é, A Filha da Floresta entrou para o meu grupo de favoritos e poderá ser um dos melhores do ano. É o começo de uma história, trilogia ou mais, e é um bom começo, um começo forte e marcante. Agora é ler os seguintes.

NOTA (0 a 10): 10

18 comentários:

  1. Olá miga,

    Confesso que estou de partida para a feira do livro e não li o comentário, mas obviamente que o vou fazer, mas vejo já que gostaste, teve direito a ilustrações, muito boas logo só posso estar feliz e no livro seguinte irás conhecer um corvo de nome fiacha ehehe

    Mas depois comento melhor, prometido ;)

    Bjs e boas leituras e agora quero ver O Olho do Mundo do Robert Jordan ihih

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    1. Olá amigo Fiacha,

      espero que te divirtas lá na feira e que encontres livros bons, a excelentes preços. Sim, gostei mesmo muito. E estou a fazer uma com os irmãos todos =) Obrigada!
      O corvo de nome Fiacha vai-me ser apresentado no próximo livro e eu estou curiosa =D

      Sim, fico à espera. Agora vou comentar a tua opinião nova! =)

      Bjs e boas leituras! Eheh, já voltou da prateleira e está à espera de começar a ser lido novamente!

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    2. Viva,

      Estive a ler o teu comentário e está muito bom mais uma vez e estou de acordo com tudo o que referes, personagens complexas e cativantes um enredo bem planeado, uma mistura de fantasia com factos históricos, descreveste-o bem ;)

      E vais ter mais do mesmo, os seus livros são mágicos e ainda vais conhecer coisas muito boas e sim um corvo maluco ehehe.

      Pessoalmente da Juliet o que mais gostei foram as Cronicas de Bridei, mas quer Sevenwaters quer as Saga das Ilhas Brilhantes (explora mais os povos nórdicos e tem uma das mais complexas personagens criadas pela Juliet ;) ) estão a um nível muito alto e vais gostar :)

      Ai Finbar ainda o vais ver ;)

      Bjs

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    3. Olá!

      Muito obrigada. Gostei muito de tudo o que engloba a história e penso que quando isso acontece mais profundamente, também consigo escrever com maior profundidade =)

      Agora é ler os seguintes! Estou ansiosa para conhecer o corvo =P e também para saber o que aconteceu às personagens!

      Das Crónicas ainda só li o primeiro. Gostei bastante, mas gostei mais deste. No entanto é um excelente começo e fiquei curiosa para ler os restantes. Também tenho ali A Máscara da Raposa parte um. Comprei antes de comprar os do Thor xD
      Também acho que vou gostar =)

      O Finbar é o mais fixe dos irmãos e é aquele com quem eu mais me preocupei, tirando a Sorcha. Espero que esteja bem =)

      Bjs

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  2. Gostei deste, mas AMEI o próximo :D Ainda tenho o terceiro por ler :x

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    1. Oh, o que mais gostei neste foi o facto de se basear num fairytale de Andersen e o misturar com cultura celta

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    2. Agora tenho de ler os dois seguintes, que tenho ali na estante =D
      Todos me dizem que o segundo é ainda melhor! As expectativas estão a subir ainda mais, se tal é possível depois de ler este maravilhoso livro.

      Sim, há claramente referências e a mistura está linda =)

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  3. Um dos meus livros favoritos dela. Adorei-o mesmo.
    Para além disso, as tuas ilustrações ficaram muito bonitas. A Marillier foi uma boa inspiração :D

    Beijinhos!

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    1. Muito bom mesmo! Até agora, este e o Danças na Floresta foram os que mais gostei. E gostei mais deste, ligeiramente. Agora é ler o Filho das Sombras e depois a Filha da Profecia =)
      Muito obrigada! Foi uma excelente inspiração! =D

      Beijinhos

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  4. Oh Maria espera até leres os seguintes! Vais ficar vidrada... O meu favorito é o terceiro.:D
    Adoro o Fiacha e Ciáran.

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    1. Também acho que vou gostar muito dos próximos! Já tenho ali na estante. Depois de ler todos também devo ter um favorito, como acaba por acontecer quase sempre =D

      Estou muito curiosa para os conhecer!

      Bjs e boas leituras

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  5. Pelo que li no artigo parece ser uma história encantadora. Graças ao amigo Fiacha, o livro já está na minha lista. Agora é comprar e ler! Adorei a opinião. Bjos!

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    1. É mesmo uma história muito encantadora, cheia de beleza e emoção. Espero que gostes tanto como eu =)

      Muito obrigada!

      Bjs e boas leituras

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  6. Boa noite!
    Ofereceram-me os outros 2 livros da saga, mas o primeiro não... Estou a ter grande dificuldade em arranja-lo, mas nao vou ler os 2 sem ter lido o primeiro "A filha da floresta"
    Alguem mo pode vender ou conhece alguém que o tenha para vender?
    Obrigada
    xaninha170273@hotmail.com

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    1. Olá,

      pois o primeiro está esgotado. É muito difícil de encontrar. Tenta numa loja de livros em segunda mão ou nalguma biblioteca. Tenta perguntar no facebook, nos grupos de trocas e vendas.

      Boas leituras!

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  7. Acabei de ler o livro e estava procurando imagens para colocar em uma postagem que fiz no meu blog, citando partes do livro e acabei caindo aqui. Adorei o texto e as imagens, tomei a liberdade de coloca-la no meu blog(claro com as devidas referencias) espero que não se importe

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    1. Olá,

      tudo bem. Muito obrigada! Desde que tenha as referências, está certo =)
      Agora tenho de visitar o seu blog =)

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  8. Oi! Achei uma ilustração muito bonita de Filha da Floresta pela internet, e vi que o crédito era seu. Tomei a liberdade de usá-la dando-lhe os devidos créditos. Se quiser conferir: http://ninguemdeixababydelado.wordpress.com/2015/10/26/filha-da-floresta

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