Este é o terceiro livro da saga dos Cavalheiros Bastardos. Li o primeiro
em Português, o segundo e este em inglês uma vez que ambos não se
encontram editados em Português. Como fiquei apaixonada pelo primeiro e
depois pelo segundo, não estive para esperar mais e decidi avançar para a
leitura do terceiro. E que espectáculo!
Depois de ter deixado o Locke num estado bastante complicado no final do segundo livro (Red Seas Under Red Skies), foi com grande entusiasmo e curiosidade que iniciei esta leitura. No final do segundo livro, Locke e Jean veem-se a mãos com apenas um frasquinho de uma dose de antídoto contra um veneno latente e produto de alquimia negra. Jean acaba por tomar o antídoto sem saber (invenção do seu amigo)e quando vão discutir quem é que toma o quê, Locke informa-o que já o tinha tomado, uma vez que Locke o tinha misturado no copo de vinho do amigo. Deste modo, Jean vê-se na situação de tentar encontrar uma cura para Locke, que durante seis semanas de viagem pelo mar, começa a dar sinais da doença. Vêm-se em Lashain e com poucos recursos. Depois de vários médicos encontrarem-se com Locke, nenhum encontra uma cura ou um tratamento e os amigos começam a desesperar. Até que aparece uma misteriosa senhora de nome Patience (Paciência). Patience é uma Bondsmagi que promete curar Locke se este e Jean participarem nas eleições da República de Karthain. Duas fações, dois mestres por trás do jogo político de cada fação. Locke e Jean pelos Deep Roots (tradicionalistas) e alguém misterioso pelos Black Iris (mais inovadores). Estas duas fações são geridas (em segredo) pelos Bondsmagi, sendo que os mais tradicionalistas gerem os Deep Roots e os mais revolucionários, os Black Iris. Estes mais revolucionários seguem uma ideia de submeter os não-mágicos ao poder dos mágicos (dos Bondsmagi) e são liderados principalmente pelos mais jovens, nomeadamente o Falconer, o famoso assassino contratado pelo Capa Raza do primeiro livro.
História, lendas, intrigas, política, amor, passado, presente e futuro, entrelaçam-se ao longo desta história. O livro está dividido em partes, estando intercalado entre capítulos e interlúdios, havendo também outras partes (intersects) que se cruzam para mostrar acontecimentos que estão por detrás dos narrados nos capítulos. Nos capítulos temos o presente da narrativa. Nos interlúdios é apresentado a vida do Locke ao longo da sua infância (5 anos, mais ou menos) até à juventude (16 anos) ou mais concretamente desde que conheceu Sabetha Belacoros até ao desenrolar da sua relação com ela.
Sabetha aparece finalmente! Depois de ter "ouvido" falar dela durante dos livros, finalmente "vejo-a" em ação. Sabetha é uma personagem bem interessante. É inteligente, esperta, perspicaz, alerta, sempre pronta para arranjar um plano. A admiração e amor de Locke por ela é um fator muito rico ao longo da história, pois é o que sustenta muito do que acontece ao longo da narrativa. Locke sempre a amou e tudo o que fez e faz para o provar fez com que eu estivesse sempre na expectativa (será que vai dar certo? será que ele vai conseguir? oh não! ahh! e por aí fora) quanto as resoluções das duas personagens. Não é uma relação nada fácil. Sabetha é, para além dos adjetivos mencionados acima, teimosa e um tanto insegura. São características que fazem com que ela se torne mais humana. Não é perfeita, tal como Locke não é. A sua relação com Locke é muito ambígua e todo o percurso de ambos é bastante sinuoso.
Como a narrativa anda para trás, os irmãos Sanza, o padre Chains e outras personagens que apareceram no primeiro livro, voltam a aparecer. Gostei muito de os "rever". Também gostei de ver Jean tomar parte dos Cavalheiros Bastardos e como a sua relação com Locke progrediu durante a juventude de ambos.
Mas Sabetha não é o mais espectacular do livro! Não! O mais espectacular é algo que eu não vou aqui mencionar, mas que está relacionado diretamente com a identidade do Locke. Locke Lamora... já sabíamos que este não o seu verdadeiro nome. Então qual será? Quem é ele? De onde vem? Nunca se soube exatemente a sua origem, nem a sua idade, nem como sobreviveu à praga do bairro de Cathfire... Pois bem! O que posso dizer é que a história de Locke Lamora é mais complicado do que poderíamos supor. E é muito mais rica!
Scott Lynch fez um trabalho notável com este livro. The Republic of Thieves consegue ser mais denso do que o anterior e também mais rico e mais contextualizado. Não é apenas uma continuação. Este livro dá-nos o contexto da vida das personagens, pois nos interlúdios é possível compreender e observar como é que as personagens cresceram e como se tornaram no que são atualmente. Deste modo, completa tudo o que foi apresentado n'As Mentiras de Locke Lamora. Dá-nos o background das personagens, das suas vivências, da sua história e de como se foram relacionando ao longo do tempo. Dá-nos ainda a perspetiva presente, relacionada com a passada. A mestria com que o autor organizou a obra é fundamental para a compreender, tanto em si, como às personagens e às suas resoluções e atitudes. Os intersects também são partes fundamentais, uma vez que nos abrem uma nesga na janela do que se passa do outro lado, ajudando-nos a compreender e a especular sobre o que vai acontecer e o que está, de facto, a acontecer.
Todo o aspeto político do livro está bastante bem caracterizado e bem enquadrado. Todas as explicações fazem sentido e tudo se une para compor o puzzle dos acontecimentos que vão decorrendo desde o início até ao final, havendo sempre algumas perguntas em aberto...para despertar curiosidade e para permitir o seguimento. Os Bondsmagi têm aqui grande relevo e Patience é bastante interessante. É uma personagem que só enriquece a história, pois o mistério e os seus diálogos e explicações sobre a História de Karthain, dos Bondsmagi e também dos Eldren.
Todos os aspetos que eu mencionei ao longo desta revisão fizeram com que eu gostasse muito muito muito do livro. Em parte gostei mais deste do que do anterior, pois o conteúdo histórico, bem como a contextualização que referi anteriormente, são pontos bastante fortes e bem construídos. São histórias diferentes. Todos os livros da saga dos Cavalheiros Bastardos têm aventuras diferentes e novos enredos, mostrando a versatilidade do escritor. Gostei imenso de rever o Locke, o Jean e todas as outras personagens e de conhecer a amada do Locke. Espero que o próximo não demore muito tempo a sair e que seja tão bom ou melhor do que este, pois o final deste é bastante promissor e curioso!
Excelente
livro, recomendo totalmente sem reservas. Maravilhoso. Uma leitura rica e
densa, que envolve o leitor durante todo o percurso.
"Don't talk. Just listen; you don't have much time left. There's a second reason. I can see now how ill you've been, and how you'll have to push yourself to keep up with me. I can't let you do it, Locke. I can't watch you do it. You'll kill yourself trying to best me, and you can't ask me to permit that. Not when I could stop it. I once cared for you a great deal. I care for you now. Remember that
and forgive me" p.300
"Tell me you never liked me," said Locke, advancing step by step. "Tell me you never found me worthwhile. Tell me we didn't have good years together. That's all it would take!"
"Stubborn, fixated-"
"Tell me you weren't pleased to see me!"
"...presumptuous-"
"Quit telling me things I already know!" They were suddenly less than a foot apart."Quit making excuses. Tell me you can't stand me. Otherwise-" p.389
"Of course I'm not alone," she said. "You're here."
(...)
If there were two, might there not be three? Patterns behind patterns, secrets behind secrets, new strings to dance on, and these ones leading all the way back to the Bondsmagi of Karthain. Another Locke, unknown even to himself. What would become of the Lockes she knew if that stranger inside them was real? If he woke up?
"Which one of you wrote this?" p. 522
NOTA (0 a 10): 10
Depois de ter deixado o Locke num estado bastante complicado no final do segundo livro (Red Seas Under Red Skies), foi com grande entusiasmo e curiosidade que iniciei esta leitura. No final do segundo livro, Locke e Jean veem-se a mãos com apenas um frasquinho de uma dose de antídoto contra um veneno latente e produto de alquimia negra. Jean acaba por tomar o antídoto sem saber (invenção do seu amigo)e quando vão discutir quem é que toma o quê, Locke informa-o que já o tinha tomado, uma vez que Locke o tinha misturado no copo de vinho do amigo. Deste modo, Jean vê-se na situação de tentar encontrar uma cura para Locke, que durante seis semanas de viagem pelo mar, começa a dar sinais da doença. Vêm-se em Lashain e com poucos recursos. Depois de vários médicos encontrarem-se com Locke, nenhum encontra uma cura ou um tratamento e os amigos começam a desesperar. Até que aparece uma misteriosa senhora de nome Patience (Paciência). Patience é uma Bondsmagi que promete curar Locke se este e Jean participarem nas eleições da República de Karthain. Duas fações, dois mestres por trás do jogo político de cada fação. Locke e Jean pelos Deep Roots (tradicionalistas) e alguém misterioso pelos Black Iris (mais inovadores). Estas duas fações são geridas (em segredo) pelos Bondsmagi, sendo que os mais tradicionalistas gerem os Deep Roots e os mais revolucionários, os Black Iris. Estes mais revolucionários seguem uma ideia de submeter os não-mágicos ao poder dos mágicos (dos Bondsmagi) e são liderados principalmente pelos mais jovens, nomeadamente o Falconer, o famoso assassino contratado pelo Capa Raza do primeiro livro.
História, lendas, intrigas, política, amor, passado, presente e futuro, entrelaçam-se ao longo desta história. O livro está dividido em partes, estando intercalado entre capítulos e interlúdios, havendo também outras partes (intersects) que se cruzam para mostrar acontecimentos que estão por detrás dos narrados nos capítulos. Nos capítulos temos o presente da narrativa. Nos interlúdios é apresentado a vida do Locke ao longo da sua infância (5 anos, mais ou menos) até à juventude (16 anos) ou mais concretamente desde que conheceu Sabetha Belacoros até ao desenrolar da sua relação com ela.
Sabetha aparece finalmente! Depois de ter "ouvido" falar dela durante dos livros, finalmente "vejo-a" em ação. Sabetha é uma personagem bem interessante. É inteligente, esperta, perspicaz, alerta, sempre pronta para arranjar um plano. A admiração e amor de Locke por ela é um fator muito rico ao longo da história, pois é o que sustenta muito do que acontece ao longo da narrativa. Locke sempre a amou e tudo o que fez e faz para o provar fez com que eu estivesse sempre na expectativa (será que vai dar certo? será que ele vai conseguir? oh não! ahh! e por aí fora) quanto as resoluções das duas personagens. Não é uma relação nada fácil. Sabetha é, para além dos adjetivos mencionados acima, teimosa e um tanto insegura. São características que fazem com que ela se torne mais humana. Não é perfeita, tal como Locke não é. A sua relação com Locke é muito ambígua e todo o percurso de ambos é bastante sinuoso.
Como a narrativa anda para trás, os irmãos Sanza, o padre Chains e outras personagens que apareceram no primeiro livro, voltam a aparecer. Gostei muito de os "rever". Também gostei de ver Jean tomar parte dos Cavalheiros Bastardos e como a sua relação com Locke progrediu durante a juventude de ambos.
Mas Sabetha não é o mais espectacular do livro! Não! O mais espectacular é algo que eu não vou aqui mencionar, mas que está relacionado diretamente com a identidade do Locke. Locke Lamora... já sabíamos que este não o seu verdadeiro nome. Então qual será? Quem é ele? De onde vem? Nunca se soube exatemente a sua origem, nem a sua idade, nem como sobreviveu à praga do bairro de Cathfire... Pois bem! O que posso dizer é que a história de Locke Lamora é mais complicado do que poderíamos supor. E é muito mais rica!
Scott Lynch fez um trabalho notável com este livro. The Republic of Thieves consegue ser mais denso do que o anterior e também mais rico e mais contextualizado. Não é apenas uma continuação. Este livro dá-nos o contexto da vida das personagens, pois nos interlúdios é possível compreender e observar como é que as personagens cresceram e como se tornaram no que são atualmente. Deste modo, completa tudo o que foi apresentado n'As Mentiras de Locke Lamora. Dá-nos o background das personagens, das suas vivências, da sua história e de como se foram relacionando ao longo do tempo. Dá-nos ainda a perspetiva presente, relacionada com a passada. A mestria com que o autor organizou a obra é fundamental para a compreender, tanto em si, como às personagens e às suas resoluções e atitudes. Os intersects também são partes fundamentais, uma vez que nos abrem uma nesga na janela do que se passa do outro lado, ajudando-nos a compreender e a especular sobre o que vai acontecer e o que está, de facto, a acontecer.
Todo o aspeto político do livro está bastante bem caracterizado e bem enquadrado. Todas as explicações fazem sentido e tudo se une para compor o puzzle dos acontecimentos que vão decorrendo desde o início até ao final, havendo sempre algumas perguntas em aberto...para despertar curiosidade e para permitir o seguimento. Os Bondsmagi têm aqui grande relevo e Patience é bastante interessante. É uma personagem que só enriquece a história, pois o mistério e os seus diálogos e explicações sobre a História de Karthain, dos Bondsmagi e também dos Eldren.
Todos os aspetos que eu mencionei ao longo desta revisão fizeram com que eu gostasse muito muito muito do livro. Em parte gostei mais deste do que do anterior, pois o conteúdo histórico, bem como a contextualização que referi anteriormente, são pontos bastante fortes e bem construídos. São histórias diferentes. Todos os livros da saga dos Cavalheiros Bastardos têm aventuras diferentes e novos enredos, mostrando a versatilidade do escritor. Gostei imenso de rever o Locke, o Jean e todas as outras personagens e de conhecer a amada do Locke. Espero que o próximo não demore muito tempo a sair e que seja tão bom ou melhor do que este, pois o final deste é bastante promissor e curioso!
"Don't talk. Just listen; you don't have much time left. There's a second reason. I can see now how ill you've been, and how you'll have to push yourself to keep up with me. I can't let you do it, Locke. I can't watch you do it. You'll kill yourself trying to best me, and you can't ask me to permit that. Not when I could stop it. I once cared for you a great deal. I care for you now. Remember that
and forgive me" p.300
"Tell me you never liked me," said Locke, advancing step by step. "Tell me you never found me worthwhile. Tell me we didn't have good years together. That's all it would take!"
"Stubborn, fixated-"
"Tell me you weren't pleased to see me!"
"...presumptuous-"
"Quit telling me things I already know!" They were suddenly less than a foot apart."Quit making excuses. Tell me you can't stand me. Otherwise-" p.389
"Of course I'm not alone," she said. "You're here."
(...)
If there were two, might there not be three? Patterns behind patterns, secrets behind secrets, new strings to dance on, and these ones leading all the way back to the Bondsmagi of Karthain. Another Locke, unknown even to himself. What would become of the Lockes she knew if that stranger inside them was real? If he woke up?
"Which one of you wrote this?" p. 522
NOTA (0 a 10): 10
Olá amiga Rainha do Sol,
ResponderEliminarSabes o quanto para mim foi torturoso ler este teu comentário não sabes ? És vil, má e só me torturas com este excelente comentário :D
Apenas penso que fazes um pequeno spoiler ao final do 2 volume, mas por acaso já sabia como tinha terminado (muito a estilo do Martin a deixar.nos e pensar e como vai ser agora :D )
Que posso dizer, são poucos os escritores que começam com um primeiro livro de uma saga com a qualidade que o Lynch conseguiu, que segundo penso até lhe trouxe problemas, pelo que percebo conseguiu ainda elevar mais a qualidade dos seus livros a um patamar bem alto e ou me engano muito ou este será um dos grandes nomes da literatura fantástica...ponto
Excelente comentario Maria Rita, importantes para divulgar o escritor e os seus livros e só desejo que a Editora que tanto gostamos continue a publicar os seus livros, isto sim +e qualidade ;)
Bjs e boas leituras
Olá amigo Fiacha,
Eliminarsei, mas tenho esperança que os livros ainda sejam editados por cá. E também, assim é uma forma de acompanhares esta saga! =)
Obrigada pelo elogio. Foi um prazer ler o livro e escrever este comentário. Tinha muito para dizer! Não entrei em mais detalhes para não spoilar mais. Sim, esse pequeno spoiler foi já a contar com o segundo livro e era algo que tinha de ser contado para contextualizar melhor esta revisão. Sim! É uma forma sempre boa de terminar os livros. Deixar o mistério a pairar!
Sim, muito poucos. O primeiro livro tem uma qualidade suprema que me fez render logo ao mundo criado pelo autor. Foi uma leitura fantástica que vai ter de ser repetida qualquer dia, num futuro mais ou menos próximo. Foi mesmo mágico. Eu também concordo contigo. Scott Lynch é um excelente autor!
Muito obrigada! Eu faço tudo o que for possível para ver esta saga cá em Portugal, em português!
Bjs e boas leituras também!
Sim compreendo o pequeno spoiler e vi logo pelo comentário que tinhas adorado.
EliminarFaço minha a tua vontade, espero que a Editora os publique por cá, é imperdoável não o publicarem, quem sabe se não será até melhor que George Martin ;)...a continuar desta maneira :D
Sei que compreendes =)
EliminarSim, não se sabe se será melhor. Vamos ver como decorre cada uma das sagas. São as duas fenomenais e é difícil comparar de modo a dizer que uma vai ser melhor do que a outra. São ambos diferentes e bons! Eheh =D
Eu gosto mais do Locke e desta saga, pessoalmente. Mas as Crónicas de Gelo e Fogo também são muito boas =D
Estás a deixar-me com água no bico acho que este escritor vai ter prioridade na minha extensa lista.
ResponderEliminarAcho muito bem que tenha prioridade! É um excelente escritor =D
EliminarVais ver que gostas!
Olá, Maria Rita! Como vc pode ver não resisti rsrs Adorei o artigo e adorei mais ainda em saber que o Scott explora algo na trama da série que eu estava louca para saber. Tomara que o quarto livro seja mesmo publicado neste ano. Bjos e excelentes leituras!
ResponderEliminarOlá Cassiana!
EliminarFez muito bem vir até aqui ler. Obrigada! Tinha de escrever algo sobre esse grande momento do livro em que o véu começa a ser levantado. Vai ficar espantada com o que vai acontecer no livro. E o final é brilhante!
Sim, espero que seja publicado este ano. Era muito bom!
Bjs, obrigada! Boas leituras!