sábado, 21 de setembro de 2013

"O Homem Invisível", de H.G. Wells

Este é o terceiro livro que leio de H. G. Wells. O primeiro foi "A Guerra dos Mundos", por causa do filme;
o segundo foi "A Máquina do Tempo", por causa do livro "O Mapa do Tempo" de Félix J. Palma. Depois de ter gostado tanto desses dois livros, encontrei uma razão para conhecer melhor a obra do autor, uma vez que tinha gostado bastante dos que li. Por isso mesmo decidi ler "O Homem Invisível".

Este livro, tal como os dois que mencionei, tem uma forte componente de Ficção Científica e de Ciência. Nele está presente uma história bastante simples de um homem que, na ânsia de saber mais e de querer fazer algo famoso e fantástico a nível da Ciência, para ser um grande famoso deste meio, decide investigar a fundo a pigmentação e a transparência, de acordo com as leis da Física, nomeadamente da refração e reflexão da luz em objetos de diferentes cores e materiais. Então, devido à acontecimentos que não esperava, opta por aplicar as fórmulas e os instrumentos da sua experiência em si mesmo, tornando-se assim invisível. Ao tornar-se invisível, descobre que nada é como pensava, uma vez que como ninguém o pode ver, tudo o que ele faça junto das pessoas é aterrador para estas, pois pensam que é algo sobrenatural, uma vez que a probabilidade de alguém se tornar invisível é nula. Passando-se a história no século XIX, tendo em conta as descrições presentes e a época em que o escritor viveu, sendo que este livro foi publicado em 1897 (não está presente explicitamente nenhuma data ou época em que se passa o enredo), é completamente normal compreender o comportamento das pessoas face à presença de um homem invisível.

Existem vários aspetos presentes na obra que permitem uma leitura mais profunda. Tendo em conta a perspetiva da Ciência, podemos constatar aqui algo que é possível observar ao longo da História e algo importante nas descobertas Cientificas: a necessidade de comunicar as descobertas, de ter apoio, de estar numa comunidade. Griffin, o homem invisível, decide começar as suas investigações completamente sozinho, sem nada comunicar à comunidade científica, sem anda dizer aos seus colegas. Decide isolar-se e testar as suas hipóteses e conhecimentos, sem o conhecimento de ninguém e decide também não dar a conhecer os resultados da sua investigação, querendo ser ele o único homem invisível, o detentor supremo de tal saber. Ora, isto não está certo em Ciência, pois esta é um corpo, um sistema que não sobrevive e não prospera no isolamento, necessitando de todos os seus membros. 

Outro aspeto está relacionado com a sociedade. Ao isolar-se dos outros, Griffin começa a descartar-se das pessoas, pensando apenas nele mesmo e nas suas necessidades, tornando-se obcecado e solitário. Uma vez que ninguém sabia das suas investigações, não tinha ninguém para o ajudar. Ora, quando se viu em apuros, em vez de ter como solucionar os seus problemas, apenas os aprofundou mais, criando uma espiral de problemas e situações aterradoras que acabaram por ter culminar em tragédia. Griffin, na sua loucura pelo saber e pelo isolamento, tornou-se um ser humano isolado, perdendo a capacidade de viver em sociedade. Também ninguém o procurou ajudar, mesmo quando ele pediu, mais tarde, pois ninguém o compreendeu. Tal deveu-se ao facto da sua reputação enquanto algo perigoso, que cresceu com as suas atitudes perante as pessoas que foi encontrando e que se mostraram aterradas com a sua diferença, nunca entendendo porquê é que ele era diferente. Ou seja, depois de saberem que ele era invisível, ninguém se preocupou a saber o porquê, sendo que, quando tal acontece, junto do Doutor Kemp, um colega de Griffin, já é tarde. Isto porque Griffin já tinha criado para si uma reputação de perigosidade bastante grande e pela proposta que este fez ao Doutor Kemp: criar um reino do terror, em que Griffin seria o chefe. Aqui é possível constatar a loucura deste homem, que sucumbiu à loucura do poder, que lhe foi conferido pela invisibilidade. Deste modo é possível observar o que o medo do desconhecido e do que não se compreende e o não conseguir chegar a um debate verbal com as pessoas pode causar, levado ao extremo. 

Esta obra é como que uma metáfora que reflete sobre os prós e os contras das investigações científicas, sobre como estas se relacionam com as pessoas e como estas as compreendem (ou não, tendo em conta a época em que foi escrita). Reflete ainda a incapacidade do Homem para aceitar (ou não) o que não entende, preferindo chegar a ações extremas do que ao diálogo e ao entendimento. 

É interessante constatar, após a leitura de três livros deste autor, que a vertente científica, os seus prós e contras, está sempre presente. Tendo sido o século XIX, um século de grandes invenções e descobertas, é interessante observar a visão destes factos pela visão de um escritor bastante visionário. É bom constatar que a imaginação e a investigação andam sempre de mãos dadas. 

Quem disse que a invisibilidade é impossível? Quem disse que as máquinas do tempo são impossíveis? Quem disse que invasões alienígenas são impossíveis? Não sabemos, mas é interessante ler obras com estes temas, principalmente tendo sido escritas num século em que a tecnologia não é a que conhecemos hoje em dia, em que estes temas eram fantásticos e extraordinários. A imagem visionária deste autor é maravilhosa e  é com bastante gosto que leio as suas obras.

Recomendo vivamente!

NOTA (0 a 10): 8,5

8 comentários:

  1. Olá Maria Rita,

    Bem tenho A Guerra dos Mundos deste escritor por ler mas por falta de oportunidade ainda não o fiz.

    Gostei do teu comentário, por norma este tipo de livros de FC são uma agradável surpresa e que nos fazem reflectir....Como é possível na altura em que foi escrito o escritor ser tão visionário em relação ao futuro ?

    Estou a ver que estás a gostar de ler FC e há ai muita coisa boa :)

    Bjs

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    1. Olá Fiacha,

      tens de ler, assim que tiveres oportunidade. Invasões extraterrestres no século XIX é muito bom! O filme não tem nada a ver.

      Sim, gosto bastante dos livros de FC. Eu gosto muito de Ciências e invenções por isso é difícil não gostar de livros onde tais coisas entrem. Verdade, Wells foi um visionário. No livro "O Mapa do Tempo" de Félix J. Palma, Wells consegue mesmo ser um viajante do Tempo o que explicaria os seus Romances. Excelente livro também.

      Pois há =D sugestões são bem vindas!

      Bjs e boas leituras

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  2. De H.G.Wells só li a Ilha do Dr.Moreau. Apesar de ter gostado (arrepiou-me e fez-me reflectir) esperava melhor. Quero muito ler este e o "A máquina do tempo". Sem dúvida que era um autor visionário. Beijos

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    1. Aí está um livro que também quero ler. O facto de teres dito que te arrepiou e fez reflectir ainda me dá mais curiosidade para o ler.
      Fazes muito bem, tens boas aventuras pela frente e para reflectires. Verdade, bem visionário.
      Beijos

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  3. Nunca li nada do H. G. Wells. Esse vai para minha lista com certeza. Ótimo artigo.

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    1. Experimenta ler este. É excelente, tal como os que já li dele. Muito bem! Obrigada =)

      Bjs e boas leituras!

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  4. Deste autor apenas li "A Guerra dos mundos" há muito tempo atrás, e fiquei muito curiosa com este "Homem invísivel".
    Muito bom comentário
    :)
    Bjs e boas leituras

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    1. O primeiro que li e muito bom. Acho bem teres ficado curiosa e aconselho-te a ler.
      Muito obrigada =)

      Bjs e boas leituras!

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