Comecei a ler
este livro sem grandes expectativas, pois não sabia muito sobre ele. Fiquei
bastante agradada com a história que se me deparou pela frente à medida que lia
este livro. Ao princípio não fiquei logo agarrada, mas a partir do encontro
entre Cecilia e a anciã Amalia, fiquei muito curiosa. A história começou a
adensar-se, as personagens a crescer, a multiplicarem-se e a expandirem as suas
raízes e o tempo foi passando. Passaram-se muitos anos para as personagens, as
famílias foram-se alterando e as relações entre estas começaram a tecer-se com
grande mestria. A juntar a isto, começou a aparecer referências a
casas-fantasma e a espíritos, dando um ambiente bastante misterioso à trama.
O livro começa
na década de 90 do século XX. Cecilia é uma jovem jornalista cubana que vive em
Miami. Vive uma vida pacata, mas demasiado solitária. Certa vez vai a uma casa
de espetáculos/bar com os seus dois amigos e acaba por conhecer uma anciã,
Amalia. Curiosa, pergunta à senhora o que está ela ali a fazer, ao que Amalia
responde que está à espera de alguém. Cecilia mostra-se interessada e começa a
perguntar por quem é que ela está à espera; a idosa responde que responder a
isso demoraria tempo. Cecilia pede à senhora que lhe conte a história e esta
começa a contar. Durante a sua narrativa, Cecilia fica a conhecer três famílias
de origens diferentes: chinesa, africana e espanhola. As personagens de cada
família vão vivendo as suas vidas, acabando por partir para Cuba, em determina
altura, devido a diferentes motivos. À medida que Amalia conta a história,
Cecilia vai conhecendo as personagens, descobrindo as suas vidas e os seus
passados, bem como a história do seu país. Também vai vivendo a sua vida,
nomeadamente, a busca de informação sobre uma casa-fantasma que aparece e
desaparece nas ruas de Miami, para escrever um artigo. Assim, Cecilia vai
vivendo a sua própria história à medida que conhece os passados das personagens
da história de Amalia, personagens de carne e osso, com histórias de luta,
sofrimento e amor.
Gostei bastante
da narrativa. A autora fez um trabalho notável na criação das relações entre os
membros das três famílias, recriando um facto histórico e o que este causou: as
migrações para Cuba, no final do século XIX (e antes, desde a sua descoberta),
levaram à mistura das culturas e das etnias, criando uma cultura e uma etnia
únicas, que não é possível dizer que é apenas uma, mas sim o conjunto de todas
as que se juntaram ao longo dos tempos. Isso está muito bem trabalhado neste
livro.
As personagens
são muito ricas, com um passado cheio de acontecimentos interessantes e
marcantes, o que me agradou muito. Gostei muito da forma como algumas delas
foram tomando as suas decisões ao longo da narrativa. São histórias fortes, nem
sempre felizes, mas onde o amor está sempre presente e onde este é o moinho que
faz mover o vento das suas vidas.
Também gostei do
contexto histórico. Ao longo do livro, e uma vez que a história acontece ao
longo de várias décadas, é possível acompanhar a “evolução” de Cuba, mais
especialmente de Havana. As migrações, a escravatura, o fim desta, a
prosperidade, a queda dos governos, as revoluções, as questões políticas, as
“intervenções”, o medo dos habitantes, as fugas e a crescente destruição do que
poderia ter sido uma espécie de sonho, são aspetos muito bem apresentados ao
longo da história e que lhe dão um cariz tremendamente desolador, mas muito
rico. De referir que há personagens reais, que existiram de verdade, e que
estão muito bem enquadradas na narrativa.
Depois, a autora
também optou por criar um ambiente onde o místico está sempre presente. É uma
história em que este tema é apresentado com destaque, mas sem grande alarido. É
algo natural para as personagens ao longo da história, estando presente como
outro qualquer fator. As crenças de cada cultura também estão bem presentes,
definindo as personagens e a trama em si mesma. São aspetos que a autora
explorou e interligou de uma forma interessante, acabando por dar um ar de
mistério ao enredo, em especial na parte de Cecilia.
No entanto,
acabei por sentir por várias vezes que a história merecia mais detalhe. O livro
é pequenino, tem cerca de 300 páginas. Podia ser maior, o que permitiria um
maior detalhe e trabalho em redor das vidas das personagens. Gostei tanto delas
que fiquei a sentir uma espécie de pena por a autora não se ter detido mais em
cada personagem. Passa-se por várias gerações das famílias de um modo, a meu
ver, um tanto apressado. E as personagens mereciam mais. A história merecia
mais conteúdo. O livro poderia ter ficado maior, mas a história teria ficado
mais sumarenta. Ela já é rica, mas poderia ter ficado ainda melhor.
Ao ler o livro
lembrei-me de outro livro em que é contada uma história a uma personagem do
presente sobre o passado. Estou a referir-me a O Regresso, de Victoria Hislop, que tanto gostei.
Em suma, foi uma
experiência muito boa. Um livro que me agradou bastante e que recomendo
vivamente. O título adequa-se perfeitamente, uma vez que faz todo o sentido
tendo em conta a narrativa de Amalia e a vida de Cecilia. Também gostei muito do
facto do livro vir munido das árvores genealógicas das famílias, o que permite
uma maior atenção às relações entre os membros destas e também às datas. É um
livro com uma escrita fluída, que se lê num ápice e que nos dá a conhecer um
pouco da história de Cuba, numa perspetiva um tanto diferente, recorrendo a
fatores não tão usuais. Um romance muito bom!
NOTA (0 a 10): 8
Olá,
ResponderEliminarExcelente comentário e sem duvida que estamos na presença de um romance que deve ser bem interessante.
Quantas vezes achamos que os livros tem demasiada palha e neste caso até era bom ter mais páginas :D
Bjs e boas leituras
Olá Fiacha,
Eliminarobrigada! É bem interessante, com uma abordagem bem diferente às personagens e às suas histórias.
Verdade, este podia ter mais umas páginas =D
Bjs e boas leituras