segunda-feira, 28 de abril de 2014

Histórias de Mistério e Imaginação, de Edgar Allan Poe

Este é o segundo livro que leio do autor. Li As Extraordinárias Aventuras de Gordon Pym e agora li este, que é um livro de contos. Ao todo, este livro apresenta dez contos de Poe, todos com uma temática obscura em que o medo, o terror e a estranheza são presenças constantes.

Como são contos, vou fazer uma pequena opinião de cada um, uma vez que o livro não é todo sobre a mesma história.


A esfinge da caveira

Este conto é muito breve e retrata a estadia de dois indivíduos que partem da cidade de Nova Iorque para o campo para fugir da epidemia de cólera que assolara a cidade. Um desses indivíduos, o narrador, é mais sensível às emoções e mais dado à suscetibilidade, começando a temer a epidemia e o que lhe poderia acontecer. Assim, começando a sentir-se atormentado, certo dia, imagina ver um animal fantástico, aterrorizador, com uma caveira, a descer de um monte em direção à casa. Aterrorizado, pede ajuda ao amigo e os dois ficam a observar.

Pois bem, é um conto bastante simples, que serve como que aperitivo para os contos que se seguem. Achei interessante, no entanto não fiquei arrebatada pelo ambiente e pelas emoções vividas pelas personagens.
Nota: 7


O escaravelho de ouro

Neste conto é o narrador é amigo de um jovem homem, William Legrand, que está como que numa espécie de retiro, com o seu empregado antigo escravo de nome Júpiter. O narrador vê-se envolvido numa estranha demanda relacionada com a descoberta de um escaravelho de ouro, feita por William. Quando William aparentemente começa a enlouquecer, Júpiter pede auxílio ao amigo do seu patrão para o ajudar no que for preciso. 

Este conto apresenta uma história com um pano de fundo maior, mais complexo. As personagens têm uma complexidade maior. É mais virado para a aventura, se bem que sempre com um toque de escuridão. Gostei bastante, foi dos contos de que gostei mais. Fez-me lembrar A Ilha do Tesouro, livro esse que é dos meus favoritos.
Nota: 10


Silêncio - Uma fábula

Este conto é pequeno e tem uma componente bastante melancólica e introspetiva. Parece um poema em prosa. É quase todo ele uma descrição, tanto dos elementos naturais e de ambiente, como dos sentimentos.

Não foi dos que gostei mais, no entanto gostei da forma como está escrito: parece um poema em prosa, sendo bastante melodioso.
Nota: 5


A queda da Casa de Usher

Neste conto, o narrador é amigo de Roderick Usher e conta o que aconteceu quando foi ter com ele, à sua mansão vetusta e muito degradada: a Casa de Usher. O narrador, deveras incomodado com o aspeto da casa, logo começa por divisar um certo terror que está presente na casa e no seu amigo. Roderick, doente e sozinho, tenta que o amigo o ajude, especialmente com a irmã, Madeline. 

Gostei muito deste conto. Pelo ambiente que apresenta, pelas personagens e pela forma como estabelece o enredo. Tendo em conta que a maioria dos contos de Poe tem um cariz de terror, este foi dos que mais apresentou esse cariz, no meu entender. A casa é muito bem descrita, descrição essa que provoca emoções no leitor. Toda a descrição remete para o terror que habita a casa e, num momento, Roderick faz uma observação bastante interessante: a casa está viva e tanto ela como os seus habitantes (a linhagem de Usher) estão interligados, ou seja, o que acontece aos habitantes espelha-se na casa. Tendo em conta o que acontece na reta final e no final, esta observação torna-se deveras crucial para todo o conto.
Nota: 10


Ligeia

Ligeia era a esposa do narrador deste conto. O narrador apresenta-a com todo o esmero, com grande detalhe e com grande emoção. Bela, de cabelos compridos e negros como corvos, de olhos um bocadinho grandes de mais e também negros, de grande inteligência, mestre em Matemática, Física, todas as línguas clássicas e em assuntos transcendentes e místicos, Ligeia foi a sua companheira, a sua mestra, a sua amada. O narrador, nada sabe do seu passado, nem o seu sobrenome, apenas que a conheceu numa aldeia antiga nas margens do Reno (se sabe mais alguma coisa, não se recorda). 

Não posso referir mais nada da história, senão estaria a dizer o que acontece, mas posso afirmar que é um conto muito interessante. Encontrei-lhe beleza, uma beleza um tanto melancólica, mas uma beleza distinta. Ligeia é, deveras, uma personagem intrigante e toda a descrição que lhe é feita define-a bem, mesmo que fique sempre alguns detalhes no escuro. O narrador consegue estabelecer uma narrativa bastante densa, um tanto descritiva (mas necessária), que provoca diversas emoções ao leitor. Gostei bastante do final, porque foi inesperado e misterioso, uma vez que fica sempre uma ligeira dúvida no ar: foi mesmo assim ou não teria passado de um sonho ou induzido pelo ópio fumado pelo narrador? Um conto muito bom, com um ambiente bastante sombrio.
Nota: 10


O retrato oval

Outro conto bastante curto. O narrador, ferido durante um ataque, e o seu criado pernoitam numa casa antiga. Essa casa está cheia de quadros muito belos e diversos. Com a tempestade lá fora e com o ambiente sombrio da casa, o narrador passa a noite deitado a observar os quadros, muitos deles também um tanto sombrios. Ao encontrar um livro que descreve e comenta as obras expostas nas paredes, começa a lê-lo. A dado momento, vê um quadro que ainda não tinha visto: um retrato de uma jovem muito bela, numa moldura oval. Ao ficar muito intrigado e incomodado com o retrato, decide saber mais sobre ele e recorre ao livro. O que encontra é uma história bastante triste e solitária, que conta como foi que a jovem foi pintada no retrato e o que lhe aconteceu, a ela e ao pintor, que era seu amado.

Apesar de pequeno, é um conto bastante interessante. Gostei de como é narrado. Não tem tantos detalhes, nem mostra tanta emoção, uma vez que é narrado por uma pessoa “de fora”, não pela rapariga do quadro ou pelo pintor. O facto de ser o livro a contar o que aconteceu, pelas palavras do narrador, também faz com que a narração seja mais distante e não tanto emotiva. Apresenta uma história também sombria, mas não tanto, se bem que o que aconteceu entre a rapariga, o pintor e o retrato é bastante melancólico, mas de certa forma poético.
Nota: 9


O pipo do "Amontillado"

Um homem jura vingar-se de um amigo que o humilhou e decide armar uma situação para o fazer. Esta é a melhor descrição para este conto, pois de outro modo estaria a contar o que acontece. 

Gostei do conto, apesar de não ter sido dos meus favoritos. É um conto de vingança e a forma como esta é engendrada é bastante detalhada e “perfeita” na sua execução.
Nota: 7


O poço e o pêndulo

Um homem está preso numa cela. Foi preso e condenado pela Inquisição e espera a desfecho da sua pena. Na cela onde está existe um poço no centro, com algo de horrível no seu fundo. Quando ele não cai no seu interior, os seus algozes decidem-se por outra tortura. Amarrá-lo no chão com um pêndulo cortante a descer do teto a cada segundo, como um pêndulo de relógio a mover-se. 

O conto é narrado pelo prisioneiro e é narrado com extremo terror. É dos contos que mais explora este sentimento, uma vez que a situação em que a personagem se encontra é deveras aterrorizante. As emoções, sensações e terrores são muito bem narrados e a personagem é um grande sofredor. E também inteligente. É um conto com o seu interesse, apesar de não ser dos que gostei mais.
Nota: 7


O gato preto

Este conto é sobre um homem que era uma pessoa muito boa, que amava a sua esposa e os seus animais. No entanto, os seus sentimentos começaram a mudar e ele acaba por tornar-se num homem muito perverso e malvado, acabando por cometer atrocidades aos animais e à esposa. Eventualmente, acaba por matar o gato que tinha e depois disso começa a sentir que nada de bom lhe acontece depois disso. Arranja outro gato, bastante parecido com o anterior, mas também começa a sentir horror ao animal. 

É um conto bastante sombrio e perverso. Acaba por ser um estudo interessante sobre as alterações que as pessoas podem sofrer e como isso modica os seus íntimos e os seus destinos. Não foi dos que mais gostei, mas é um conto interessante e com uma evolução bastante densa.
Nota: 7


Os crimes da Rue Morgue

O conto mais extenso do livro. O narrador e o seu amigo, Auguste Dupin, veem-se a braços com um estranho e misterioso caso de assassinato de duas mulheres. Sem solução à vista, a polícia começa a desesperar, o que faz com que Dupin se interesse pelo caso e comece a investigar, recorrendo a métodos dedutivos, de observação e de análise.

Um conto bastante interessante que me fez lembrar Sherlock Holmes. Uma vez que esta personagem é anterior a Sherlock, seria o Sherlock a fazer lembrar o Dupin. Mas como conheço Sherlock há mais tempo, compreende-se a minha associação cronológica. É um conto policial, que apresenta todos os ingredientes de uma boa história deste género. Gostei bastante.
Nota: 8

Em suma, gostei bastante destes contos de Poe e espero ler mais contos do autor.

6 comentários:

  1. Olá,

    Ora mais uma leitura que fazes deste escritor, que por estranho que pareça ainda não experimentei, mas que conto ainda faze-lo este ano :)

    Pelo que percebi do teu comentário, varia de contos muitos bons e contos menos bons digamos assim o que acaba por ser normal, pois nem todos podem agradar, se calhar se eu ler até posso gostar de alguns que tu nem tenhas gostado tanto.

    Mas fico com a ideia que se apanha aqui contos veradeiramente deliciosos e muito bons e isso só faz com que deseje ler o mais rápido possivel este escritor ;)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá Fiacha!

      Outra leitura muito boa. O do Gordon Pym é fantástico. Aquele final... nem tem palavras para ser descrito. E também não tinha graça, pois é uma das melhores partes do livro.
      Acho que fazes muito bem em ler Poe. Acho que vais gostar =)

      Sim, varia um bocadinho. Eles são todos bons, eu é que não gostei de todos na mesma medida, pelos temas e personagens. Claro, é isso mesmo. É uma questão de gosto e não de qualidade dos contos.

      E ficas com uma ideia correta. Assim que tiveres oportunidade, lê =)

      Bjs e boas leituras!

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  2. Olá Maria Rita
    Allan Poe é fantástico na minha opinião. já li alguns livros dele e recentemente comprei "Um homem na lua e outras histórias", mas ainda não li
    Este livro que leste, parece-me que se não é igual, tem muitas histórias comuns ao das "Histórias extraordinárias" pois há algumas de que falas que me lembro bem.
    Gostei muito do teu comentário como sempre :)
    beijinhos e boas leituras

    Ah só falta mesmo leres "os contos insólitos" do Guy de Maupassant, vê se tens na biblioteca e aposta nele :)

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    1. Olá Caminhante,

      completamente fantástico. Todos os seus contos conseguem ter uma atmosfera completamente densa, forte, misteriosa. Muito bom mesmo. Tenho de procurar mais contos deles para ler. Existem dois livros graaaandes na biblioteca. Acho que vou ver quais os contos que têm lá dentro.
      Há dois anos estive para comprar o Histórias Extraordinárias, mas acabei por comprar o do Gordon Pym. Tenho de o comprar. Penso que há uma edição bastante acessível nas feiras dos livros.
      Obrigada =)

      Pois falta! É o próximo que vou lá procurar =)

      Beijinhos e boas leituras

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  3. Respostas
    1. Fico satisfeita =D

      Depois quero ler a tua opinião!

      Beijinhos

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