quinta-feira, 13 de março de 2014

A Espuma dos Dias, de Boris Vian

Sinopse:

Obra-prima do escritor francês Boris Vian, A espuma dos dias faz uso de imagens poéticas e surreais para apresentar um universo absurdo. Trata-se da história dos amigos Colin, Chick, Nicolas, Chloé, Alise e Isis, que vivem em Paris num ambiente repleto de referências ao jazz e ao existencialismo dos anos 1950.
Colin, um jovem muito rico, se apaixona por Chloé e gasta toda a sua fortuna em flores para tratar justamente da flor que cresce no pulmão de Chloé e ameaça matá-la. A angústia de Colin ao tentar salvar sua esposa acaba por deformar tudo a sua volta.
Chick, grande amigo de Colin, se casa com Alise, mas parece mais preocupado com sua fixação pelo filósofo Jean Sol Partre, o que leva sua mulher à loucura. Nicolas, o chef de cozinha de Colin, vive aventuras ao apaixonar-se por Isis, amiga de Chloé e Alise.
A doença de Chloé, que progride conforme avança a leitura do romance, contamina o clima da história: o que de início era belo, claro e iluminado vai se tornado sombrio, triste e fúnebre. A leitura revela-se profunda sobre a vida e o amor, mesmo que sob uma aparente ingenuidade e simplicidade.
(in Goodreads)


Opinião:

Aqui está um livro difícil de descrever e de refletir sobre. E também de pontuar. Sinceramente, não tinha muitas expectativas sobre a história, uma vez que não sabia muito bem de que tratava (só assim por alto). Decidi ler este livro devido a ter visto o trailer do filme, que estreou há algumas semanas.

O melhor adjetivo para o caracterizar é "estranho". Sim, estranho. De facto, toda a história é estranha. Não é a história em si que o é, mas sim a narrativa e os vocábulos e conceitos empregues pelo autor. E é nessa estranheza que está o interesse, em alguns momentos. Por ser tão estranho, torna-se sedutor. Este é outro termo que define a história: "sedutora".

Escrito na década de 40 do século XX, no pós-guerra, esta obra parece ter alguma mensagem. Parece ser uma metáfora, pelo menos algumas das suas partes. É uma crítica à sociedade da época e, a bem ver, a todas as sociedades de todas as épocas. Muitos dos diálogos debocham mesmo de situações caricatas relacionadas com aspetos do quotidiano, como o trabalho e o dinheiro e a situação da mulher na sociedade. Também as situações em que as personagens se encontram em alguns momentos são uma sátira à sociedade. No conjunto, A Espuma dos Dias, é uma sátira à sociedade, aos seus membros, instituições, funções, atitudes e valores. A época em que foi escrita explica bastante bem o porquê de assim ser, bem como o país. O autor é francês, a França teve um grande abalo com a guerra. E, antes desse abalo, houve uma enorme efusividade. Os loucos anos vinte, as extravagâncias que aconteciam nessa altura, festas, dinheiro a rolar, relações mais livres, futilidades, exageros a todos os níveis. Ora, depois dessa "loucura" veio a decadência. A imagem do mundo e da vida que até então tinha sido vivida (mesmo já tendo havido uma guerra), foi destruída pela guerra. Penso que essa decadência está bem presente na obra e está muito bem abordada, de uma forma ora subtil ora devastadora. Mesmo que metaforicamente ou conceptualmente.

Fazendo outras analogias, deu-me a sensação que estava a ler sobre os excêntricos que habituam os livros dos Jogos da Fome. Em certos momentos, comparei as personagens, situações e imagens, com aquelas personagens, situações e imagens que aparecem no Capitólio. Claro que não há real comparação, e a haver teria de ser de inspiração nesta obra para os Jogos da Fome. O que quero realçar é o aspeto visual e de atitudes das personagens, tanto principais como secundárias e até figurantes. A estranheza e extravagância excessiva está bem marcada ao longo da história.

O autor consegue criar um mundo real em que a realidade é completamente alterada e alucinada. É um mundo dos sentidos, é um mundo surreal. Aqui está outra ponte: o surrealismo. Enquanto estava a ler, pareceu-me estar a observar uma pintura surrealista, cheia de cores, formas e dimensões espantosas e diferentes. É uma história surrealista.

Outro aspeto interessante são os jogos de palavras usados pelo autor, que dão todo o sentido à obra. No final, estão umas notas de tradução que exploram e ajudam o leitor a situar-se face ao sentido real ou parcial dos jogos de palavras criados pelo autor para satirizar e criticar atitudes e situações. Esta é uma obra sátira e crítica.

Agora, mais a nível das personagens e da história em si, do enredo. Gostei bastante. Todas as personagens são interessantes, com os seus ângulos e diferenças. As alterações que vão sofrendo ao longo da história são bastantes, o que permite observar a sua evolução/decadência. É uma forma de acompanhar as personagens. É também interessante observar a evolução do espaço envolvente. Achei muito interessante! É que o espaço muda consoante as pessoas que nele habitam, consoante as suas situações, emoções, estados de saúde, espírito e material. A história é bastante simples. É uma narrativa que parece básica, apesar de não o ser explicitamente, devido aos fatores já referidos anteriormente. É, também, uma história de amor.

Lê-se muito bem, apesar das descrições serem muitas. No entanto, são necessárias para a evolução da história, uma vez que o espaço está ligado intimamente ao desenvolvimento das personagens.

Em suma, é um livro interessante. Diferente, sem dúvida, mas bastante interessante. Deve ser lido sem barreiras, tal como a escrita do autor. A melhor forma de entrar na história é sentir a história, mais do que tentar compreender. Este é um livro para os sentidos e não tanto para a compreensão. Contudo, é muito importante estar atento e compreender as mensagens subjacentes à história em si. Ou seja, usar a compreensão através da sensação é a melhor forma de nos apropriarmos desta história. Muito interessante! 

Podem ver o trailer aqui:


NOTA (0 a 10): 7

2 comentários:

  1. Olá amiga,

    Bem mesmo tendo sido um livro que não te tenha enchido as medidas, dá perferitamente para ver que estamos na presença de um bom livro, complexo e que nos leva a refletir em muitos aspetos, gostei muito do teu comentário e dá para ver que tens uma excelente biblioteca perto de casa :)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá amigo,

      não encheu totalmente. No entanto é muito interessante e é uma boa crítica social, com humor, ironia e muita sátira. Gostei. Os livros complexos também são bons e fazem refletir e isso é muito importante.

      Obrigada! =) é muito fixe, tem vários livros interessantes e é bom para alargar os conhecimentos literários!

      Bjs e boas leituras

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