sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Os Hóspedes, de Sarah Waters

Sinopse:

1922. Londres vive dias de tensão.

Numa casa de gente bem-nascida, no sul da cidade, cujos habitantes ainda não recuperaram das perdas devastadoras da Primeira Guerra Mundial, a vida está prestes a modificar-se. 

A senhora Wray, e a sua filha Frances - uma mulher com um passado interessante a caminho de se tornar uma solteirona - vêem-se obrigadas a alugar quartos. 

A chegada de Lilian e Leonard Barber, um jovem casal da "classe média", traz uma série de perturbações: a música do gramofone, o colorido, o divertimento. As portas abertas permitem a Frances conhecer os hábitos dos recém-chegados. 

À medida que ela e Lilian são empurradas para uma amizade inesperada, as lealdades começam a mudar. Confessam-se segredos e admitem-se desejos perigosos; a mais vulgar das vidas pode explodir de paixão e drama. 

A autora de Afinidade e Falsas Aparências, entre outros, surpreende-nos, uma vez mais, com esta história de amor que é também a história de um crime.

Esta é Sarah Waters no seu melhor: tensão permanente, ternura verdadeira, personagens autênticos e surpresas constantes. (in Goodreads)



Opinião;

Desde que li O Indesejado que fiquei fascinada pela mestria da autora. Mestria a todos os níveis necessários e desejados para que o livro seja uma obra prima...uma obra de arte. Assim, tendo gostado muitíssimo d' O Indesejado, esperei atentamente pela edição portuguesa de The Paying Guests ou Os Hóspedes. Quero agradecer à Editora por me ter dado a oportunidade de ler este maravilhoso livro e por me ter dado a conhecer esta autora, aquando da leitura do já mencionado O Indesejado

Neste livro, a autora dá-nos a conhecer personagens muito interessantes e complexas, envoltas numa trama quotidiana, mas cujo centro é bem denso e intrincado. 

Miss Frances é uma mulher forte, autónoma e senhora de si mesma. Quando põe a sua casa senhorial com para alugar uma parte da casa, não estava à espera de tanta diferença à sua volta, uma vez que o casal que para lá vai morar é bastante diferente dela e de sua mãe: um autêntico casal dos anos 20 ou seja, despreocupado, com algum sucesso e que fingem euforia para não mostrar os seus reais sentimentos e realidades. Frances acaba por ficar inebriada pela extraordinária Mrs. Lilian e um tanto na dúvida quanto a Leonard. E, à medida, que se vão conhecendo, vai crescendo uma amizade que é mais do que aquilo que parece...uma amizade pouco convencional para a época e que vai acabar por influenciar toda a história. 

Gostei muito da forma como a autora introduz a história e as personagens. Aparentemente, tudo é normal e do dia a dia. Nada é estranho ou está fora dos padrões de normalidade de uma vida quotidiana da classe média alta inglesa, a viver algumas dificuldades no pós-guerra. As tarefas do dia a dia são descritas e tratadas de uma forma bastante normal, mas que acaba por ter a sua própria melodia e a magia. São descritas e elaboradas de forma natural, mas têm no seu teor uma certa ironia muito bem disfarçada. 

Tal também está presente nas relações entre as personagens. Mais uma vez, é-nos apresentada um complexa rede de emoções e relações entre as personagens. Não que sejam muitas personagens! Nada disso. Aliás, são bastante poucas. Mas isso mesmo provoca uma enorme tensão entre elas, tensão essa que está tão vincada, tão vincada que é possível sentir as vibrações de tal tensão. Existe uma multitude de emoções vividas pelas personagens ao longo  que despoletam as mais diferentes ações e reações. O que parece ser algo de pouco acaba por ser como que uma onda gigante na teia que é o enredo onde as personagens habitam. A autora é, de facto, uma mestre nesta arte. 

Mas é também uma mestre em manipular as personagens, o enredo e o leitor. Apesar de a história ser um pouco previsível (coisa que O Indesejado não é!), até se chegar a tal momento tudo é imprevisível e estonteante. O que começa por ser calmo e trivial, transforma-se nalgo revolto e violento. 

As descrições são de grande beleza, beleza essa que não tem nada de grandioso, mas sim banal. E nessa sua banalidade mostra-nos a sua subtil beleza, a beleza do dia a dia e das tarefas rotineiras. É de facto muito inteligente. 

Mais uma vez fiquei rendida à autora e espero poder ler mais das suas obras, porque são maravilhosas e cada uma traz sempre momentos de grande emoção e admiração. Recomendo vivamente a todos os que gostam de uma história inteligente e poderosa, onde a amizade e o romance estão por trás de momentos muito marcantes. Uma excelente aposta da editora! 

NOTA (0 a 10): 9

6 comentários:

  1. Excelente review :) já tinham-me elogiado e recomendado este livro, mas fiquei na dúvida, mas depois de ler o post, vou dar um oportunidade ao livro. Parabéns pelo blog, tornei-me seguidor :)

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    1. Muito obrigada =)
      Acho que deves lê-lo. Se já estavas curioso e agora ficaste ainda mais, o melhor é lê-lo.

      Obrigada =D
      Também vou ver o teu!

      Bjs e boas leituras

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  2. Olá!
    Tenho mesmo que reler esta autora. Li há muitos anos o Vigilante a gostei muito. Há vontade de reler esta obra e de ler as que tu recomendas!
    Excelente opinião, como sempre!
    Beijinhos e leituras com muito sabor!

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    1. Olá!

      Pois tens, é excelente.
      Ainda não li esse, mas quero muito. O Indesejado é fantástico, dos melhores livros que já.

      Muito obrigada =)

      Beijinhos e boas leituras!

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  3. Oie,

    Subscrevo o teu comentário um grande livro, tenho mesmo que ler mais livros da escritora, adorei :)

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá,

      tens de ler O Indesejado! Este também é bom, mas aquele é melhor!

      Bjs e boas leituras

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