Este é um livro diferente, com uma história diferente daquelas que costumo ler. É bom variar o género literário, para explorar novas paisagens e horizontes. Há bastante tempo que andava com este livro debaixo de olho, por isso, só tenho a agradecer à Editorial Bizâncio, que me proporcionou estes momentos.
Sinopse:
O Indesejado conta a história de Faraday, um médico rural de Warwickshire, no pós-guerra. Faraday começa a narrativa indo atrás no tempo, para a contextualizar. Filho de pessoas não muito ricas, Faraday sempre sentiu um enorme espanto e encanto pela mansão dos Ayres: Hundreds Hall, onde a sua mãe trabalhava. Certo dia de 1919, numa festa para entrega de medalhas a jovens escuteiros, na mansão, Faraday, com dez anos, vai até ao interior da casa e, maravilhado com os retoques do tecto, decide cortar uma das bolotas de pedra do rebordo. Mais tarde, acaba por ficar sem a bolota, mas o seu fascínio por Hundreds continua. Faraday acaba por ser chamado para uma urgência, na casa, alguns anos depois do final da Segunda Guerra. Depois desse dia, o seu convívio com a família começa a crescer, à medida que a casa continua a decair e a ficar cada vez mais decrepita. Roderick, Caroline e Mrs. Ayres também começam a ver em Faraday um amigo e este passa a ser um visitante assíduo de Hundreds.
Enquanto a amizade avança, muitas coisas começam a acontecer na casa, deixando antever algo de sobrenatural, apesar de Faraday afastar sempre essa hipótese, chegando a temer pela sanidade mental dos seus novos amigos.
Com uma casa arruinada, cheia de dívidas e assuntos misteriosos, a família Ayres, há séculos a viver no local, começa a por em causa a permanência na casa, à medida que se embrenha nos acontecimentos.
Opinião:
Faraday é um excelente narrador. Muito sincero, sempre a justificar as suas acções e a tentar ajudar os Ayres, acaba ser uma personagem bastante enigmática, à medida que a história avança. Cheguei muitas vezes a exasperar-me com Faraday, por causa da sua visão dos factos. Porém, com o final do livro, essa sensação acabou por tornar-se num entendimento sobre muita coisa relacionada com a história e os seus mistérios, apesar de não ficar nada concluído.
As outras personagens também são bastante interessantes. Todos os membros dos Ayres são bastante complexos. Toda a história que os envolve o é. Depois de uma história e riqueza e esplendor, duas guerras e as mudanças sociais relacionadas, Hundreds parece não ter força para resistir, apesar da relação que parece haver quanto à visita de Faraday pela primeira vez e o corte da bolota. Mas isto é apenas uma ideia.
Depois existem os criados da família, que são apenas dois: Betty, uma adolescente, e Mrs. Bazeley. Betty é a primeira a sentir e a contar a Faraday as estranhas presenças na casa. Mais tarde, Roderick também refere essas presenças, relatando a Faraday várias experiências. E depois Mrs. Ayres. Caroline parece ficar de parte, mas acaba por dedicar-se à pesquisa sobre o tema, descobrindo algumas teorias sobre o distanciamento do inconsciente de alguém perturbado ou com impulsos extremamente fortes em relação a algum desejo, que acaba por criar algo de sobrenatural que passa a agir na sombra (uma espécie de Mr. Hyde espectral ou psíquico).
Não é possível contar muito mais sobre o enredo, pois este é o género de livros que não faz sentido contar spoilers, para não estragar os suspense! Por isso, vou debruçar-me sobre alguns pontos que me agradaram.
A autora conseguiu criar um ambiente bastante gótico e, por vezes, assustador. Apesar do tom calmo e linear com que os acontecimentos são narrados, essa calma acaba por ser estilhaçada com grande estrondo com um crescente de terror que, apesar de ser suave e um tanto poético, se torna deveras assombroso. A narrativa é feita de diminuendos e crescendos, como que uma melodia. Todas as descrições, bastante vividas, contribuem para este ambiente, e estão bastante perfeitas.
É uma narrativa cujo ambiente não se altera muito. Tudo acontece à volta de Hundreds e o dia-a-dia das personagens também não se altera muito. E é isso que também faz com que o suspense e as cenas misteriosas só se tornem mais "grotescas".
Gostei muito da forma como a autora abordou os diferentes temas e como os relacionou. Todas as descrições e acontecimentos médicos estão muito bem retratados e descritos, mostrando bons conhecimentos da autora e uma boa contextualização. Depois, também nas partes relacionadas com o sobrenatural, existe esse cuidado.
As relações entre as personagens e os seus passadas também estão muito bem. O final é perfeito, para a história em si. Aquele último parágrafo diz muito sobre toda a história, mesmo que nada fique concluído. O próprio narrador refere isso...a inconclusão de toda a trama e de todo o mistério só serve para adensar o mistério em si. Mas há muito para compreender nas entrelinhas e a leitura torna-se imensamente rica quando todos os pormenores são tidos em conta. Apesar da conclusão que eu tirei poder estar errada, penso que não. Há sempre a hipótese de haver várias explicações, mas a que me sugeriu o desenlace foi a melhor para englobar todos os intervenientes e pormenores.
Existe em toda a obra uma beleza poética e misteriosa, que só encontrei em O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë: uma beleza extremamente romântica e um tanto bucólica e, por vezes, decadente.
É, sem dúvida, uma das leituras mais interessantes que já fiz. Recomendo a todos os que gostam de uma boa história de amor e mistério, em que o passado se cruza com o presente e com o futuro. É uma boa história e deve ser lida com uma mente aberta, sem ideias pré-feitas. Um livro muito bom! Vou querer ler mais obras desta escritora!
NOTA (0 a 10): 10
Sinopse:
O Indesejado conta a história de Faraday, um médico rural de Warwickshire, no pós-guerra. Faraday começa a narrativa indo atrás no tempo, para a contextualizar. Filho de pessoas não muito ricas, Faraday sempre sentiu um enorme espanto e encanto pela mansão dos Ayres: Hundreds Hall, onde a sua mãe trabalhava. Certo dia de 1919, numa festa para entrega de medalhas a jovens escuteiros, na mansão, Faraday, com dez anos, vai até ao interior da casa e, maravilhado com os retoques do tecto, decide cortar uma das bolotas de pedra do rebordo. Mais tarde, acaba por ficar sem a bolota, mas o seu fascínio por Hundreds continua. Faraday acaba por ser chamado para uma urgência, na casa, alguns anos depois do final da Segunda Guerra. Depois desse dia, o seu convívio com a família começa a crescer, à medida que a casa continua a decair e a ficar cada vez mais decrepita. Roderick, Caroline e Mrs. Ayres também começam a ver em Faraday um amigo e este passa a ser um visitante assíduo de Hundreds.
Enquanto a amizade avança, muitas coisas começam a acontecer na casa, deixando antever algo de sobrenatural, apesar de Faraday afastar sempre essa hipótese, chegando a temer pela sanidade mental dos seus novos amigos.
Com uma casa arruinada, cheia de dívidas e assuntos misteriosos, a família Ayres, há séculos a viver no local, começa a por em causa a permanência na casa, à medida que se embrenha nos acontecimentos.
Opinião:
Faraday é um excelente narrador. Muito sincero, sempre a justificar as suas acções e a tentar ajudar os Ayres, acaba ser uma personagem bastante enigmática, à medida que a história avança. Cheguei muitas vezes a exasperar-me com Faraday, por causa da sua visão dos factos. Porém, com o final do livro, essa sensação acabou por tornar-se num entendimento sobre muita coisa relacionada com a história e os seus mistérios, apesar de não ficar nada concluído.
As outras personagens também são bastante interessantes. Todos os membros dos Ayres são bastante complexos. Toda a história que os envolve o é. Depois de uma história e riqueza e esplendor, duas guerras e as mudanças sociais relacionadas, Hundreds parece não ter força para resistir, apesar da relação que parece haver quanto à visita de Faraday pela primeira vez e o corte da bolota. Mas isto é apenas uma ideia.
Depois existem os criados da família, que são apenas dois: Betty, uma adolescente, e Mrs. Bazeley. Betty é a primeira a sentir e a contar a Faraday as estranhas presenças na casa. Mais tarde, Roderick também refere essas presenças, relatando a Faraday várias experiências. E depois Mrs. Ayres. Caroline parece ficar de parte, mas acaba por dedicar-se à pesquisa sobre o tema, descobrindo algumas teorias sobre o distanciamento do inconsciente de alguém perturbado ou com impulsos extremamente fortes em relação a algum desejo, que acaba por criar algo de sobrenatural que passa a agir na sombra (uma espécie de Mr. Hyde espectral ou psíquico).
Não é possível contar muito mais sobre o enredo, pois este é o género de livros que não faz sentido contar spoilers, para não estragar os suspense! Por isso, vou debruçar-me sobre alguns pontos que me agradaram.
A autora conseguiu criar um ambiente bastante gótico e, por vezes, assustador. Apesar do tom calmo e linear com que os acontecimentos são narrados, essa calma acaba por ser estilhaçada com grande estrondo com um crescente de terror que, apesar de ser suave e um tanto poético, se torna deveras assombroso. A narrativa é feita de diminuendos e crescendos, como que uma melodia. Todas as descrições, bastante vividas, contribuem para este ambiente, e estão bastante perfeitas.
É uma narrativa cujo ambiente não se altera muito. Tudo acontece à volta de Hundreds e o dia-a-dia das personagens também não se altera muito. E é isso que também faz com que o suspense e as cenas misteriosas só se tornem mais "grotescas".
Gostei muito da forma como a autora abordou os diferentes temas e como os relacionou. Todas as descrições e acontecimentos médicos estão muito bem retratados e descritos, mostrando bons conhecimentos da autora e uma boa contextualização. Depois, também nas partes relacionadas com o sobrenatural, existe esse cuidado.
As relações entre as personagens e os seus passadas também estão muito bem. O final é perfeito, para a história em si. Aquele último parágrafo diz muito sobre toda a história, mesmo que nada fique concluído. O próprio narrador refere isso...a inconclusão de toda a trama e de todo o mistério só serve para adensar o mistério em si. Mas há muito para compreender nas entrelinhas e a leitura torna-se imensamente rica quando todos os pormenores são tidos em conta. Apesar da conclusão que eu tirei poder estar errada, penso que não. Há sempre a hipótese de haver várias explicações, mas a que me sugeriu o desenlace foi a melhor para englobar todos os intervenientes e pormenores.
Existe em toda a obra uma beleza poética e misteriosa, que só encontrei em O Monte dos Vendavais, de Emily Brontë: uma beleza extremamente romântica e um tanto bucólica e, por vezes, decadente.
É, sem dúvida, uma das leituras mais interessantes que já fiz. Recomendo a todos os que gostam de uma boa história de amor e mistério, em que o passado se cruza com o presente e com o futuro. É uma boa história e deve ser lida com uma mente aberta, sem ideias pré-feitas. Um livro muito bom! Vou querer ler mais obras desta escritora!
NOTA (0 a 10): 10
Olá
ResponderEliminarDesconheço por completo esta autora e confesso que o livro me parece bastante estranho, mas percebo que possa ser por não quereres indicar spoilers :)
Por outro lado desperta a curiosidade e se lhe deste 10 é porque de facto é muito bom.
um livro a equacionar :)
beijinhos e boas leituras
Olá,
Eliminartambém desconhecia antes de ter descoberto esta obra. Fiquei muito agradada e espero poder acompanhar os outros livros da autora. Como o livro tem uma grande dose de mistério e suspense não quis estar a contar muito mais, mas é uma bela ghost story, o algo parecido com esse tema. A escrita é sublime =)
Ainda bem que consegui despertar a curiosidade e fico feliz com as tuas palavras. Obrigada!
Eu gostei muito. Espero que a equação dê positiva =)
Beijinhos e boas leituras
Oi Maria,
ResponderEliminarsua opinião é muito boa, e fez com q eu me interessasse pelo livro, mas acho q este não tem no Brasil, enfim parabéns mais um vez pela resenha, muito boa! Por curiosidade, esse livro é da SDE?
Abraços e boas leituras!!!
Olá Amanda,
Eliminarmuito obrigada! O livro em inglês tem o título: Little Stranger. Talvez assim consigas encontrar mais facilmente. É da Editorial Bizâncio!
Abraços e boas leituras
Ois,
ResponderEliminarJá tinha recomendações para ler esta escritora, aqui está a confirmação que estamos na presença de um excelente livro, tenho que tentar ler e divulgar :)
A Bizâncio tem bons livros sem duvida ;)
Bjs e boas leituras
Olá Fiacha,
Eliminaracho que deves aproveitar e ler este livro. Acho que vai ser uma experiência interessante! É uma leitura um tanto diferente e bastante envolvente. Sim, este é um excelente livro, sem dúvida. Concordo contigo e deves fazê-lo!
Muito bons =)
Bjs e boas leituras!
Até vai ao encontro dos meus objetivos, ler livros diferentes, mas estou na ideia de ler um livro que me recomendaste da Bizãncio que penso passar-se na Escócia :D
EliminarA Rosa Rebelde, de Janet Paisley. É muito bonito. Tem momentos de grande brutalidade e drama, mas a história é muito bonita.
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