A Luz das Runas é a continuação de A Marca das Runas,
excelente livro da autora Joanne Harris, que muito me agradou. Este não se lhe
ficou atrás, nem por sombras. Para mim, A Luz das Runas mostrou-se um pouco
superior ao seu antecessor, especialmente por causa dos cenários do enredo, da
forma como este se foi desenvolvendo e também por causa da evolução das
personagens.
Passaram-se três anos desde os acontecimentos narrados no
livro anterior. Maddy vive com a sua família de deuses em Malbry, no antigo presbitério
dos Parson. Depois de algum tempo de calma, Loki é atacado por uma
cobra-mulher, um efémero nascido do sonho com um aspeto mortífero para Loki e
com o propósito de o matar. Maddy aparece para o salvar, mas depois desse
ataque, tudo muda na vida dela e dos deuses. Ethel/Frigg, Vidente, profetiza o
reconstrução de Asgard e o Fim dos Mundos, dentro de doze dias, e assim começa
a nova aventura pela sobrevivência, poder e vida dos Æsir e dos Vanir, a luta
entre a Ordem e o Caos. Porém, a demanda é mais perigosa do que se poderia
esperar, pois há uma força que tenta por tudo aniquilar o Povo do Fogo, força
essa que é controlada por Maggie, uma rapariga do Fim do Mundo, que viu a sua
família morrer depois da Bem-Aventurança (ou da guerra levada a cabo pelo
Inominável (Mimir) contra os deuses três anos antes) e da peste que se lhe
seguiu, bem como da queda da Ordem. Maggie viveu sozinha por três anos, apenas
do ordenado mísero a servir numa estalagem/bar, e do seu estudo através dos
milhares de livros (incluindo o Livro das Palavras) por ela descobertos nos
túneis da cidade e da Universidade.Todos os esforços são necessários e as mentiras e intrujices
são mais do que muitas, tornando as tarefas das personagens bastante árduas.
Gostei muito da narrativa. Apesar de a construção do enredo
ser bastante parecida com a do livro anterior, é possível constatar que existe
um maior amadurecimento, tanto a nível das personagens como da narrativa. A
história é mais complexa, torna-se mais adulta, mais negra. As viagens feitas
pelas personagens tornam-se mais complexas, por mais locais do que aqueles que
são apresentados no primeiro livro, o que faz com que se tenha uma ideia mais
alargada também e bastante mais profunda do ambiente em que as personagens
vivem e das suas diferentes culturas. Gostei bastante de ver a cidade do Fim do
Mundo, bem como a outra cidade por onde o grupo dos Æsir e dos Vanir passaram
aquando da sua viagem até ao Fim do Mundo, onde atuaram e jogaram um perigoso
jogo com um ser fantástico.
Como já referi anteriormente, as personagens mostraram um
maior amadurecimento. Depois de três anos isso seria de esperar, mas a
subtileza das alterações psicológicas das personagens está muito bem. Também
não há uma linearidade nas suas personalidades e nos seus pensamentos/emoções.
A autora conseguiu construir um leque de personagens onde a duplicidade está
sempre presente. Não digo duplicidade como algo negativo, mas como uma característica
de complexidade e interesse.
Também penso que a autora fez um bom estudo da personalidade
através das personagens. Afinal, nada é linear e as escolhas que têm de fazer são sempre difíceis. Tudo é mais complexo do que
aquilo que parece e nada é perfeito ou totalmente imperfeito. O bom e o mau estão
presentes em tudo e todos podem ser surpreendidos e surpreender, tanto por um
lado como pelo outro. É um bom estudo, subtil, mas presente.
Ao observar o
desenrolar da ação e das ações e pensamentos das personagens, consegui estar
sempre seguir os raciocínios e decisões delas, conseguindo também compreender a
ambiguidade das suas personalidades e os porquês das suas duplas condutas. Isto
é interessante. Por exemplo, Loki tem uma evolução fantástica e árdua, o que é
fantástico e que muito me agradou. Também Maddy e Maggie mostram uma grande
personalidade, mesmo que por vezes me tenham irritado, em especial Maggie (que
no início me estava a deixar um bocado chateada com ela mesma, desejando que
Maddy e os outros não se aliassem a ela), que acabou por me surpreender e por
ser uma mais-valia para o enredo.
De realçar também as outras personagens que apareceram neste
livro e que foram uma “lufada de ar fresco”: Angie (Angrboda), os Lobos, Sigyn,
os Corvos, Perth. Personagens muito interessantes, cujas ações estão muito bem
concretizadas, sendo bastante úteis, e necessárias, para a narrativa.
Outro aspeto que me agradou bastante foi o desenvolvimento
da narrativa. Estas histórias da autora não parecem apresentar um fio condutor
muito explícito no início, mas a dado momento tudo se começa a encaixar,
demonstrando assim a complexidade da história e de como os acontecimentos estão
intricadamente relacionados entre si. Isto é uma mais-valia para a história, a
meu ver. Também as profecias e antigas canções de embalar/infantis voltam a ter
grande importância, acabando por definir a história em si.
Também as descrições são bastante interessantes, no entanto
penso que poderiam haver mais. Por vezes, sente-se que o ritmo frenético da
história acaba por interferir com a imagem global do ambiente à volta. Algo que
não prejudica de modo algum a leitura, claro.
Bem, já tinha saudades de voltar a ver estas personagens,
principalmente o Loki. Sim, é o meu favorito e estava com algum receio de que
ele não aparecesse tanto na história, mas fiquei agradavelmente satisfeita com
a sua brilhante atuação ao longo de toda a narrativa, sentindo alguns momentos de
apreensão e outros de alegria. E gostei imenso de o ver com Angie e Sigyn.
Em suma, esta é uma história muito boa, divertida, complexa,
interessante e com momentos de pura fantasia. Pessoal que gosta de Fantasia,
não tenha medo de arriscar. Pessoal que gosta de qualquer outro género
literário, também não tenha medo, estes livros são excelentes! Joanne Harris
fez um bom trabalho com os deuses nórdicos e as suas aventuras prometem momentos
de grande emoção e umas boas gargalhadas. Recomendo vivamente!
NOTA (0 a 10): 10
- Querido - disse ela - Porque demoraste tanto? - Ela levantou-se e
beijou-o na boca. A sensação foi realmente bastante agradável, pensou
ele. Afinal, haviam passado mais de quinhentos anos desde que alguém
quisera ter alguma coisa a ver com a sua boca, exceto talvez para a
fechar de vez.
Fechou os olhos. As mão de Sigyn uniram-se no fundo das suas costas e apertaram-no...
Fechou os olhos. As mão de Sigyn uniram-se no fundo das suas costas e apertaram-no...
pág.589
NOTA (0 a 10): 10
Viva,
ResponderEliminarMitologia Nórdica agrada-me sem duvida e vejo que tudo o que diga respeito a Loki chama-te logo a atenção eheheh.
Estou a ficar surpreendido com a versatilidade desta escritora pelo que percebo safa-se e muito bem na Fantasia, não deixa de ser interessante.
Pelo que percebo falta mais um certo ? e que deve ser o melhor :D
Gostei muito do teu comentário, parabéns ;)
Bjs e boas leituras
PS: Claro que os Corvos vinham melhorar o enredo :P
Viva Fiacha!
EliminarA Mitologia Nórdica é fascinante e sempre acaba por ser menos divulgada que a grega ou a romana, o que me faz ainda mais interessar-me por ela. Os filmes da Marvel vieram instalar ainda mais a chama e agora com estes livros ainda fiquei mais fascinada. Verdade, eheh!!! O Loki é fantástico! Sempre com aquele ar de esperto, a arranjar planos e a tentar ser rebelde, no fundo não passa de um incompreendido =D (pelo menos nos filmes e aqui nestes livros).
Muito versátil. Apesar de ainda não ter lido nada dela sem ser estes dois livros, espero ler em breve. Já andei a ver e na biblioteca do Montijo já quase todos (exceto estes das Runas).
Há o The Gospel of Loki (que saiu este ano e ainda não foi traduzido por cá), mas acho que não é bem continuação deste. É mais um livro só sobre o Loki. Acho que a autora teve em conta o sucesso da personagem e o gosto dos fãs por ele e decidiu dar-lhe um livro só para ele! =D
E com o final deste segundo livro, espero que ela escreva a continuação! Terminou de modo a que está mesmo à espera de mais =)
Muito obrigada! =)
Com certeza! São um mimo e super importantes para o enredo, e misteriosos! =P
Bjs e boas leituras
Olá Maria,
ResponderEliminarAdorei estes dois livro de J. Harris e o Gospel of Loki,
excelemte escolha
boas leituras
excelente, shesh :(
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