sábado, 9 de dezembro de 2017

A Minha Prima Rachel, de Daphne de Maurier

Sinopse:

Sem sequer nunca se terem encontrado, Philip odeia Rachel, com quem Ambrose, seu primo, casou durante uma estadia em Itália. E quando este lhe escreve e lhe transmite a suspeita de que a mulher o quer envenenar, Philip não sente quaisquer dúvidas.

Ambrose morre em circunstâncias pouco claras e Philip jura vingar a sua morte. Semanas depois, Rachel visita-o na sua propriedade da Cornualha, e a animosidade que Philip sentia por ela vai dando lugar a um fascínio incontrolável. Quem é Rachel, afinal? Uma mulher realmente apaixonada? Ou movida por interesses pessoais? 

Daphne du Maurier confirma nesta obra o seu enorme talento para escrever histórias com uma grande riqueza narrativa, suspense intriga permanentes e uma apurada caracterização das personagens. Um romance clássico, cativante, com uma escrita belíssima. (in Goodreads)



Opinião:

Aqui está um livro que me surpreendeu. Não o conhecia, apesar de já ter lido sobre o filme, que acabei por ver enquanto o lia. Já tinha lido algumas opiniões sobre Rebecca, mas ainda não tinha tido aquele desejo de ler A Minha Prima Rachel. Mas ainda bem que o descobri, porque foi uma leitura sublime, cheia de emoção e surpresa. 

A Minha Prima Rachel conta a história da prima de Philip e do mistério que a envolve. Philip, um jovem rapaz da Inglaterra rural, ao cuidado do seu primo, Ambrose, tem uma bela casa para administrar e cuidar. O seu primo, depois de partir para a Itália em busca de uma saúde melhor por causa do clima, casa com Rachel, uma mulher com um passado escondido, cujo primeiro marido fora morto em duelo. Quando Philip começa a receber cartas de Ambrose cujo conteúdo é dúbio em relação a Rachel, Philip começa a desconfiar da prima. E quando Ambrose morre doente, Philip acredita que foi Rachel que o envenenou. Mas, quando Rachel aparece na sua casa, o que era certeza acaba por tornar-se nalgo mais complexo e Philip vê-se num complexo jogo do qual não sabe sair. 

Uma história muito bem contada, repleta de mistério, suspense, intriga, romance e com uma narrativa maravilhosamente orquestrada, cuja escrita é soberba e muitíssimo acutilante. A autora criou uma aura de mistério numa história aparentemente óbvia e plana. Pelos olhos e palavras de Philip, o leitor entra na vida daquelas personagens, torna-se parte do cenário e do enredo e consegue assim seguir os passos de Rachel, ou antes, aqueles que Philip acredita serem os seus interesses, porque Rachel começa e termina por ser uma das mais misteriosas personagens da Literatura, cujos segredos e razões são um mistério. 

Em relação às personagens, só tenho a referir que são todas maravilhosas. Por mais normais que sejam, por mais comuns, todas elas são de uma complexidade ínfima, sendo Rachel a mais complexa de todas. Philip também tem o seu fascínio. O seu amadurecimento tem muitos altos e baixos e não tem um crescimento linear. É confuso e complexo e nem ele mesmo se compreende muito bem, pois é bastante imaturo. Com mudanças de humor que fazem com que a leitura seja uma montanha russa de emoções, uma vez que é ele o narrador, Philip leva o leitor para um mundo de sombras e segredos. Começa por apresentar Rachel como uma bruxa, uma assassina, para depois se apaixonar por ela e dar a conhecer uma Rachel que pode ser verdadeira, mas que está bem escondida, terminando por mostrar uma Rachel que é um mistério maior do que aquilo que foi parecendo ao longo de toda a narrativa. 

A forma como ele narra a história permite criar um clima tenso, elétrico e sombrio, o que faz com que o leitor esteja sembre num sobressalto e na tentativa de descobrir o que aconteceu e quais são os motivos de Rachel. É uma história de mistério, e o mistério está muito bem criado e muito bem conseguido, pois não é linear, nem fácil de entender nem de esclarecer. Aliás, o que parece ser logo muito fácil, acaba por se ir enevoando ao longo da leitura, deixando o leitor na dúvida até depois de terminar o livro. E foi isso mesmo que me conquistou, para além das personagens, da narrativa, da escrita... foi a perfeita dúvida quanto a Rachel e como a autora conseguiu deixá-la ser um mistério. 

Com uma escrita simples, mas cheia de detalhes e com uma clareza excelente, a autora dá a conhecer aquilo que é importante para a história em si e aquilo que é importante para o lado sombrio do enredo. Descrições fortes, belas e poderosas, diálogos elevados e cheios de emoção, fazem de A Minha Prima Rachel um livro belíssimo, que, a nível da escrita, fez-me lembrar Longe da Multidão, de Thomas Hardy.  

Um dos melhores livros que li este ano, sem dúvida. O filme, apesar de ter um final um tudo diferente, não lhe chega nem perto. Está interessante, mas o livro é muito melhor, na minha opinião. Recomendo vivamente! Uma história para ler com calma e saborear, apesar da narrativa e da escrita em si darem vontade de o devorar. Um livro belíssimo, com personagens únicas, mistério, romance...tudo aquilo que faz de uma história, uma obra de arte. 

NOTA (0 a 10): 10

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