sábado, 19 de setembro de 2015

The Museum of Extraordinary Things, de Alice Hoffman

Descobri este livro no Goodreads e fiquei muito encantada com a sua capa em que aparece uma espécie de RX de uma sereia (não da minha edição). Depois de ler a sinopse fiquei ainda mais interessada e quando o encontrei na Bertrand foi com gosto que o trouxe comigo, apesar de não ter aquela capa que havia chamado a minha atenção primeiramente. 



Sinopse: 

Duas personagens distintas. Nova Iorque e Brooklyn na década de 1910. Magia, Ciência, invenções, espetáculos e um grande fascínio por elementos estranhos, diferentes. Fotografia, família, ilusões. Estes são os pontos chave de uma história que prima pela subtileza, pela delicadeza e pela beleza com que é narrada a vida das duas personagens principais: Coralie Sardie e Eddie Cohen. 

Coralie é filha de um cientista e mágico francês que assentou o seu negócio em Coney Island: o Museu das Coisas Extraordinárias, museu com raridades, aberrações e seres e objetos estranhos e fascinantes, com atuações de indivíduos com alguma característica peculiar. Também ela com algo peculiar, cedo é afastada da sociedade e passa a ser apenas a filha de Sardie, sempre na sombra, sempre sujeita às ordens do seu pai, por mais estranhas que estas sejam, apenas a mais uma das exibições do seu pai. Apenas com a presença de Maureen, a empregada de Sardie, Coralie cresce e acaba por começar a por em causa toda a sua existência e a sua história. 

Eddie, de nome Ezekiel, é filho de um casal de judeus russos, que depois da sua aldeia ter sido incendiada, conseguiu fugir com o seu pai desde a Rússia até Nova Iorque. Sujeito ao trabalho numa fábrica de roupa desde pequeno, Eddie acaba por tentar ser algo mais do que um trabalhador numa fábrica em que a exploração é total e começa a frequentar outros locais, acabando por sair da fábrica e começar a trabalhar para um famoso mágico e depois para um fotografo, acabando por se tornar ele mesmo fotografo e abandonar o seu pai. A viver uma vida de riscos, Eddie começa a por também em causa as suas decisões e ações ao longo dos tempos. 

Duas personagens sofridas, com histórias distintas mas parecidas, Coralie e Eddie são a base desta história, que é muito mais do que uma simples história de amor ou de mistério. 

Opinião:

Esta história é muito especial. Dei por mim a atrasar a sua leitura, a ler aos bocadinhos e a saborear cada momento, cada linha e cada palavra. De uma beleza única, com uma fluência magnífica e mágica, esta narrativa é um conjunto de momentos da vida das personagens, intercaladas com acontecimentos e pessoas reais, que forma um padrão forte e repleto de beleza e também de emoção. 

Pode parecer um bocado lenta no início, mas esta narrativa tem um ritmo muito próprio e o leitor necessita de entrar nele para poder desfrutar totalmente da história. Pode também parecer um bocado a história de O Circo dos Sonhos, mas não é. É ainda mais especial e mais diferente. Talvez por ter sido baseada em factos verídicos ou por ter um cariz muito mais negro do que O Circo dos Sonhos, esta história é muito melhor. 

Não é uma história cor de rosa ou suave, antes pelo contrário. É um show de elementos estranhos e acontecimentos reais que foram terríveis e de acontecimentos fictícios que também foram bastante inquietantes e que são narrados com imensa mestria. O mistério e o suspense está presente em toda a obra e o desenrolar dos acontecimentos está muito bem elaborado, uma vez que a sequência da narração destes tendo em conta as perspetivas de Coralie e de Eddie (há POV'S duas duas personagens, em diferentes momentos, para uma excelente contextualização dos eventos) é perfeita. Excelente coerência e contextualização história também são factores de relevo e que demonstram a mestria da autora, que conseguiu criar uma história aparentemente simples, com um pano de fundo aparentemente simples também, mas que de simples nada tem, antes pelo contrário: é uma história densa, complexa, repleta de personagens com passados envoltos em sombras e mistério. 

Em relação às personagens, tanto Coralie como Eddie são excelentes. Gostei de ambos e não consigo escolher de qual gostei mais, por isso gostei dos dois na mesma medida. Complexos e cheios de dúvidas e segredos, Coralie e Eddie são excelentes narradores, que conseguem prender o leitor ao enredo de uma forma muito agradável. Acabei por estar sempre na expectativa em relação ao que viria a seguir, mas sempre sem querer ler muito de cada vez, para aumentar o suspense e prolongar a leitura deste livro, que foi um prazer. Quanto às outras personagens, também são todas interessantes e complexas, todas necessárias para o enredo. Gostei muito de Maureen, principalmente.

No que diz respeito ao enredo, gostei de todos os momentos, principalmente em relação ao mistério em volta do desaparecimento de Hannah Weiss, do museu em si e da relação entre Coralie e Eddie. Também gostei da forma como a História das cidades presentes no enredo está presente, mostrando a luta das classes trabalhadoras, principalmente da classe feminina e da luta por melhores condições a todos os níveis, sociais, económicos e de dignidade.

Esta é uma história de procura de redenção, de procura da verdade, da procura da liberdade e da luta pelo amor, seja ele qual for. É uma história muito bonita, mas que também apresenta uma grande dose de outros elementos mais negros e sombrios, transformando-a num belo romance a chegar-se para o gótico. 

Sem dúvida um dos melhores livros que li até agora, recomendo totalmente. Espero que seja editado por cá, porque é maravilhoso e de certo que terá muitos leitores, porque é uma história deveras apaixonante, que transmite uma grande força e uma grande resistência em lutar por algo melhor e que tenha significado. 

NOTA (0 a 10): 10

sábado, 5 de setembro de 2015

Guerra e Paz Vol. I, de Lev Tolstoi

O muito aclamado romance de Tolstoi chegou agora à Saída de Emergência e tive a oportunidade de o ler. Considerado por muitos o melhor romance de sempre e adaptado por diversas vezes para o cinema e televisão, este é um livro que todos devemos de ler. 


Sinopse:

Guerra e Paz é o verdadeiro clássico da literatura universal. No início do século XIX, a Rússia é devastada pelos exércitos de Napoleão e as vidas de homens e mulheres cruzam-se num tecido narrativo deslumbrante. Tanto as vidas mais mundanas como os faustosos bailes, as tramas políticas ou as violentas campanhas bélicas do Czar Alexandre são trabalhadas com o realismo e limpidez que caracterizam o génio de Lev Tolstoi. Sempre presentes estão as desigualdades sociais e os caprichos de uma aristocracia vã e indiferente à miséria e ao sacrifício.

Esta é uma obra intemporal que condensa toda a condição humana, simultaneamente romance histórico, bélico e filosófico, e propõe acutilantes reflexões sobre os temas que nos movem e comovem: a vida, o sacrifício, a liberdade, a justiça, o amor e a honra.
(in Saída de Emergência)

Opinião:

Esta é a minha primeira experiência com Tolstoi; a primeira parte desta obra. Gostei bastante da escrita e do sarcasmo e ironia presentes em praticamente todas as frases do livro e isso foi um dos principais aspetos que mais me agradou. Escrito numa época conturbada, Guerra e Paz é o reflexo do seu tempo e uma crítica gigante a outra época conturbada: as Invasões Francesas.  E isso está extremamente bem retratado ao longo da obra. 

No entanto, a nível do enredo senti que existem alguns aspetos que estão em demasia, como, e principalmente, as extensas cenas de bailes e festas dadas pela faustosa nobreza presente na obra. Achei que existe uma grande incidência dessas cenas e que acabaram por tornar a leitura um pouco mais lenta em alguns momentos, porque não gosto muito deste tipo de cenas, com grandes descrições sociais e que só servem para mostrar e a hipocrisia e as mentiras que estes acontecimentos sociais escondem. E também porque essas cenas não apresentam muita ação e emoções. 

Estava à espera de uma maior pujança nas cenas de guerra e de romance e, a meu ver, isso acabou por não acontecer. As descrições são soberbas, belas; a ironia está sempre presente e dei por mim a sorrir quando os soldados estão mais preocupados com os seus uniformes do que com a sua sobrevivência e a estratégia, o que acaba por ajudar às derrotas por eles sofridas. 

Em relação às personagens, estas são interessantes e complexas, com um grande desenvolvimento, na maior parte, principalmente porque a história abrange um longo período de tempo. Gostei principalmente do príncipe André e de Peter, bem como do círculo de Rostov. Acabei por gostar mais das personagens masculinas do que das femininas, talvez pelo facto dos homens aparecem em mais cenas diferentes do que as mulheres, que aparecem quase sempre nas ocasiões sociais, fazendo com que pareçam apenas decorações e bastante fúteis. 

Gostei muito do livro enquanto reflexão e critica social, mas não consegui sentir uma grande empatia pelas personagens e isso acabou por fazer com que o livro não me tivesse "enchido as medidas". Porém, reconheço que é uma obras esplêndida e que as suas características são bastante idênticas às outras obras escritas naquele período histórico. 

Encontrei grande significado na forma como o autor ironizou a futilidade humana e a mesquinhez durante um período tão conturbado como o foi o "reinado" do Imperador Napoleão Bonaparte e como isso só contribui para deteriorar a sociedade e os seus valores. Nesta obra é retratado uma visão social bastante acutilante e uma crítica à hipocrisia de valores e atitudes da classe mais alta da sociedade, que vê tudo como um grande baile ou uma grande receção social, onde tudo está iluminado e brilhante para esconder a escuridão e a sujidade da nobreza e da riqueza. 

Em suma, Guerra e Paz é de facto uma grandiosa obra e um maravilhoso romance, que acaba por ser, principalmente uma reflexão e uma crítica que não deixa de estar atual em todos os momentos históricos. Um bom livro ou uma boa primeira parte do livro. Espero gostar mais da segunda parte. E ainda quero elogiar a maravilhosa capa e o design interior, que está cheio de requinte.

NOTA (0 a 10): 7

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Sozinhos na Ilha, de Tracey Gravis-Graves

 Recebi este livro e fiquei muito curiosa quando li a sinopse, porque a premissa é bastante boa e interessante e faz lembrar o A Lagoa Azul. Por isso, foi com grande entusiasmo que o comecei a ler.


Sinopse:

Uma ilha deserta plena de sol, vegetação luxuriante e mar cristalino é um cenário de sonho. Ou talvez não... Anna Emerson decide quebrar a sua rotina e deixar Chicago para dar aulas numa ilha tropical. Por seu lado, T. J. Callahan só quer voltar a ter uma vida normal após a sua luta contra o cancro. Mas os pais empurram-no para umas férias num destino exótico. Anna e T. J. estão a sobrevoar as ilhas das Maldivas a bordo de um pequeno avião quando o impensável acontece: o aparelho despenha-se no mar infestado de tubarões. Conseguem chegar a uma ilha deserta. Sãos e salvos, festejam e aguardam, convictos de que serão encontrados em breve. Ao início, preocupam-se apenas com a sobrevivência imediata e imaginam como será contar tamanha aventura aos amigos. Nunca a citadina Anna se imaginou a caçar para comer. T. J. dá por si a lutar com um tubarão e a ser acolhido por simpáticos golfinhos. Os dois jovens descobrem-se timidamente e exploram a ilha. Mas à medida que os dias se transformam em semanas, e depois em meses, as hipóteses de serem salvos são cada vez menores. Ambos têm sonhos por cumprir e vidas por retomar, e é cada vez mais difícil evitar a grande questão: conseguirão um dia sair daquela ilha? (in Goodreads)

Opinião:

Uma vez que a sinopse é bastante reveladora do enredo, não há muito mais que eu possa referir sem não omitir detalhes relevantes. Mas posso dizer que gostei muito da história. É uma história simples, que nos vai absorvendo até ao nosso âmago e que não nos larga. Dei por mim a querer ler mais e mais para saber o que acontecia no final, se eles conseguiam voltar para as suas terras ou se ficariam para sempre naquela ilha isolada de tudo e de todos. É uma bela história de sobrevivência, onde encontramos duas pessoas bastante diferentes a lutar pela Vida e pelo sonho de um ia sair daquele pesadelo em que se encontram. É uma história sobre como as relações se desenvolvem em condições extremas e de como se é capaz de tudo para sobreviver e é, sobretudo, uma história que podia retratar uma realidade, que é bastante desoladora, mas cheia de esperança e de luta. 

Gostei imenso das personagens. Tanto Anna como T.J. são fantásticos. Ela é bastante direta, inteligente e amorosa, sem ser lamechas. É uma verdadeira guerreira que faz tudo para passar o tempo naquela ilha até que venha alguém para a salvar, se vier. T.J. é um rapaz muito simpático, que consegue criar logo empatia com o leitor. Ao princípio, debilitado pela doença, T.J. consegue ter um desenvolvimento muito intenso e grande, que mostra a capacidade da autora em relação a estes temas. O livro está organizado por POV's, e cada um tem uma estrutura diferente: ambos são na primeira pessoa, mas os de Anna são mais profundos e mais longos, com uma linguagem cuidada, ao passo que os de T.J. são mais pequenos, com uma linguagem mais jovem e mais despreocupada, característica dos jovens, mas também tem a sua reflexão, que é bastante interessante por causa das suas opiniões e reflexões masculinas em relação a certos temas. Também existem outras personagens, que têm o seu interesse e que servem de apoio às principais. 

Em relação à escrita, posso referir que esta é bastante fluída e descomplicada. O livro é pequeno, com pequenos capítulos, o que proporciona uma leitura mais rápida e fluída. 

Depois, gostei muito da história em si. É um hino à sobrevivência e à luta para viver em condições inóspitas, em que uma pessoa depende de tanta coisa e de tão pouco. Depende de si, depende do outro (neste caso, uma vez que são duas pessoas na ilha), depende do clima, das condições do espaço, da comida que apanha e da água da chuva. Mas não tem praticamente nada para o salvar se precisar de cuidados médicos ou de outro tipo de assistência. Pode parecer uma história simples, tal como o filme da Lagoa Azul, mas o que está por trás e a mensagem que deixa, tal como o filme, é de uma profunda reflexão referente à batalha pela sobrevivência, que é travada todos os dias, em todos os locais, por todas as pessoas. A narrativa tem muitas peripécias, todas elas importantes para as personagens e para o desenvolvimento da história e há um pouco de tudo: aventura, amizade, tristeza, alegria, perigos, descontração. 

Recomendo vivamente a todos e que desfrutem da leitura, porque é uma boa história, sem sofismas, sem complexos, mas sim uma boa história, cheia de aventuras e emoções e que também acaba por servir de reflexão sobre diferentes temas sociais e humanos. Muito bom! 

NOTA (0 a 10): 10